quinta-feira, 30 de abril de 2009

O Globo: Planalto articulou anúncio da doença de Dilma

Gerson Camarotti

A partir do vazamento da notícia sobre o tratamento de saúde da ministra Dilma Rousseff no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o Palácio do Planalto montou uma estratégia de comunicação para divulgar o diagnóstico do câncer linfático da chefe da Casa Civil, que, a princípio, resistiu em expor seu tratamento médico. Segundo integrantes do núcleo do governo ouvidos pelo GLOBO, a decisão de dar ampla divulgação à doença foi decidida na noite de sextafeira.

Horas antes dessa decisão, parte da imprensa já tentava confirmar a notícia na Casa Civil e na Presidência da República, sem sucesso. A entrevista coletiva da ministra com os médicos foi realizada no sábado.

Informado do diagnóstico na manhã de sexta-feira, o presidente Lula reuniu-se à noite com Dilma e o ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação), depois de voltar de uma viagem a Itumbiara, no interior de Goiás, e foi enfático ao determinar que deveria ser dada ampla divulgação ao fato.

Lula avaliou que o vazamento de notícias, sem uma explicação oficial, geraria especulações não apenas sobre o real estado de saúde de Dilma, como também sobre seu papel no cenário político como pré-candidata do PT à Presidência da República.

No sábado, o jornal “Folha de S.Paulo” publicou na capa uma pequena nota afirmando que Dilma já havia colocado um cateter de longa permanência que facilita o tratamento quimioterápico. Caso a entrevista não tivesse sido convocada para o mesmo dia, observou um assessor palaciano, haveria uma forte boataria nos dois sentidos — pessoal e político.

No Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde está a sede provisória da Presidência da República, o episódio da doença de Dilma chegou a ser comparado ao problema do ex-presidente Tancredo Neves, que não tomou posse em 1985, depois de complicações com a sua saúde.

O presidente Lula já tinha conhecimento da primeira intervenção cirúrgica para a retirada de um gânglio linfático, feita três semanas antes. Mas o diagnóstico da biópsia com o resultado da malignidade só foi informado ao presidente na sexta-feira. Isso ocorreu numa conversa no CCBB entre Dilma e o presidente. Logo depois, ele viajou para Goiás. Só à noite, quando voltou da viagem, é que Lula bateu o martelo pela entrevista, depois da notícia de que alguns jornalistas já estavam com a informação.

A caminho de SP, Dilma e Franklin acertaram detalhes Segundo relatos, Dilma teve conhecimento do resultado da biópsia na quarta-feira, dia 22 de abril. Como o presidente estava em viagem à Argentina e só voltaria na noite de quinta-feira, a ministra pediu ao chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, um horário reservado com Lula na sexta-feira. Na primeira conversa, não houve definição de como o episódio seria divulgado — o que só foi tratado na noite daquele dia.

Já o tom da entrevista foi acertado na manhã do próprio sábado, entre Dilma e Franklin, que viajaram juntos no mesmo avião para São Paulo.

Ficou decidido que os médicos deveriam participar e esclarecer todas as dúvidas.

Também ficou definido que Dilma deveria enfatizar o necessidade do exame preventivo, para que seu drama pessoal servisse de exemplo à população.

Um interlocutor petista da ministra confirmou que a divulgação da notícia foi precipitada pelo vazamento de informações do hospital. O fato estava sendo guardado por Dilma com tanto sigilo que até mesmo petistas e ministros do núcleo do governo foram surpreendidos no sábado com a divulgação do tratamento.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Dois fantasmas

Miriam Leitão

O mundo não se recuperou da crise econômica e, agora, o fantasma de uma pandemia aflige os países. A gripe suína não poderia chegar em pior momento. Ela agrava a incerteza, diminui o comércio mundial, que este ano já está encolhendo, afeta preços das commodities e espalha o vírus do medo, o pior companheiro da economia. O México enfrenta várias calamidades.

Com medo, o consumidor, de qualquer país, paralisa decisões econômicas, posterga viagens e compras, adota posições defensivas que, em geral, têm efeito paralisante na economia. O mundo estava começando a ver sinais de luz no horizonte. A revista The Economist alerta, inclusive, que nem se pode ainda concluir desses sinais que “o pior passou”. A revista aconselha esquecer a expressão, porque ela desmobiliza os esforços governamentais e empresariais de superação da crise econômica.

Dois terços dos 42 mercados de capitais que a Economist acompanha registraram altas de mais de 20% nas últimas seis semanas.

Apesar disso, a crise bancária não foi resolvida, e o PIB mundial vai encolher pela primeira vez em 60 anos. O FMI alerta para a devastação que a crise vai provocar entre os pobres.

É sobre este corpo debilitado pela crise econômica que recai o risco de uma pandemia. Controlar e debelar este risco é um desafio de saúde pública e uma emergência econômica.

Num mundo globalizado, tudo se espalha como rastilho de pólvora: o pânico econômico, os vírus de uma doença.

O México está em recessão, teve ontem um terremoto e enfrenta o pânico da gripe suína cancelando a vida normal: foram fechados cinemas, museus, teatros, escolas. Mas o problema não é mexicano. Houve reflexos e tensão no mundo inteiro.

Como isso afeta a economia brasileira? Os especialistas divergiam ontem.

Os produtores de carne suína se esforçavam para esclarecer que a doença está sendo transmitida de pessoa a pessoa, não através da carne do animal. Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, acredita que o preço da carne suína não deve ser impactado e se irrita até com o nome da doença.

— Esse é um erro grosseiro para ser reparado. Este é um problema muito sério de saúde pública, mas a propagação é de homem a homem.

É um equívoco esta denominação e as coisas vão se esclarecer. É um problema de saúde pública, não dos rebanhos. A preocupação é não infectar pessoas.

O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de carne suína e amarga uma queda de 20% no preço por causa da crise econômica.

Em termos de volume exportado, a situação estava começando a se normalizar.

Outra reação instantânea, que pode nos afetar, é nos preços das commodities, que ontem reverteram o movimento de recuperação dos últimos tempos. Fábio Silveira, da RC Consultores, não se surpreendeu com o movimento.

— A reação instantânea, óbvia, é a queda no preço e nas exportações de suínos.

O maior prejudicado deve ser o estado de Santa Catarina, o maior produtor nacional de carne suína. Outra queda óbvia é nos preços dos grãos. Isto porque cerca de 80% do custo de produção dos suínos é com os grãos, grande parte com farelo de milho e outra parte com soja. Então, a demanda desses produtos deve ceder momentaneamente, pela restrição ao consumo de suínos, que deve ser global.

David Kirby, jornalista que está escrevendo um livro sobre produção animal em escala industrial, descreveu no blog HuffingtonPost as condições de produção de carne suína no México. É uma produção em confinamento, em galpões enormes, com milhares de porcos criados em condições sanitárias precárias, com muita circulação de trabalhadores. Como os galpões são abertos, pássaros entram e criam-se as condições ideais para a mistura de vírus de gripes humana, aviária e suína. Há uma região no sul do México em que a gripe suína é endêmica, e o que aconteceu agora foi a mistura dos patogênicos. Kirby entrevistou especialistas, como Ellen Silbergeld, professora da Johns Hopkins, e ela disse que esses galpões de criação, chamados “cafos”, não são “biosseguros”.

O especialista em comércio exterior Joseph Tutundjian disse que não acredita que isso terá grande impacto na exportação brasileira.

— O Brasil já acumula US$ 5 bilhões de superávit comercial e nem entraram ainda os grãos, que só entram em maio. O preço da soja está caindo hoje, mas os preços das commodities têm recuperado seu valor. É uma reação momentânea. Acho que essa preocupação não vai afetar tanto o comércio como se imagina. Mas confesso que se tivesse que pegar hoje um avião para fazer negócio no México, eu não iria. Aliás, uma viagem longa, dentro de um avião, neste momento, parece mesmo perigosa — admitiu.

As empresas aéreas e de turismo, o comércio de alimentos, são áreas econômicas sob grande incerteza e, por isso, as ações de empresas como a Friboi e a Tam caíram ontem. Laboratórios que têm remédios que já se provaram efetivos em conter a enfermidade estão com a demanda explodindo em todo o mundo. Tudo o que não precisava acontecer, aconteceu. O mundo vive o medo de dois fantasmas.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A batalha das previsões

Carlos Alberto Sardenberg


--- O PIB virou questão política ---

O governo Lula não gostou nem um pouco do relatório do FMI que prevê uma recessão forte para o Brasil neste ano. Segundo o Fundo, o Produto Interno Bruto brasileiro vai encolher 1,3%, um resultado pior do que a opinião média verificada entre economistas locais.

Na verdade, há hoje, e não apenas no Brasil, uma dispersão muito grande nos cenários. Isso porque a crise é inédita, um evento cujos contornos essenciais não se encontram nos livros nem na experiência recente. Além disso, os governos mundo afora continuam lutando contra a crise, com programas e pacotes que podem ou não mudar o curso das coisas.

Há aí uma dimensão propriamente econômica, mas também um lado político, especialmente para o presidente Lula, que leva tudo para o plano eleitoral. Se confirmada a previsão do FMI, seu governo terá obtido uma recessão pior do que a ocorrida na administração FHC.

É muito provável que o ano de 2010 seja de recuperação, mas moderada, de modo que, nessa hipótese, Lula e Dilma chegarão às eleições presidenciais com um desempenho econômico mediano. E o plano deles era chegar ao pleito no auge do espetáculo do crescimento.

Como a crise tem uma origem externa, Lula poderia ter escapado desse problema. Entretanto, ao colocar como um objetivo de governo o crescimento de 2% neste ano e de 4,5% em 2010, o presidente assume a responsabilidade integral pelo PIB.

Fica claro que Lula acredita de fato na capacidade do governo de interferir na realidade econômica de um modo decisivo. Pode ser um equívoco, mas vem de longe. O presidente sempre acreditou que o recente crescimento brasileiro decorreu essencialmente de suas políticas e quase nada da boa onda mundial. Agora que a onda tornou-se um refluxo, Lula acha, do mesmo modo, que pode escapar.

O peso da influência mundial está subestimado nos dois lados da história. Uma das principais viradas do Brasil foi nas contas externas. E como isso ocorreu? Primeiro, pelo forte crescimento das exportações, que trouxeram dólares abundantes para o Brasil – dólares que foram comprados pelo Banco Central para compor as reservas de mais de US$ 200 bilhões, o maior seguro anti-crise.

Ora, as exportações decolaram porque o mundo estava em forte crescimento e assim demandou produtos brasileiros. Além disso, o Brasil se beneficiou da abundância de capitais baratos, trazidos para cá pela ciranda financeira. Em 2007, por exemplo, as empresas brasileiras captaram mais de R$ 70 bilhões vendendo ações na Bovespa, recursos utilizados para investimentos e novos negócios. E a maior parte desse dinheiro veio de fora.

Além dessas captações, as empresas e bancos brasileiros tiveram enorme facilidade para obter financiamentos externos bem baratinhos.

A crise atinge o Brasil por esses dois canais: encolhe o mercado de exportação, seca o mercado de capitais. Não há como escapar de uma redução expressiva na atividade econômica, considerando-se que, antes da crise, o Brasil crescia a um ritmo de 6% ao ano.

Uma redução de quanto? – essa é a questão. Dentro do governo, a melhor análise econômica, disparado, está no Banco Central. Conforme o último Relatório de Inflação, o cenário dominante do BC indica um crescimento de 1,2% para este ano. E o BC, registre-se, tem um belo repertório de acertos.

Fora do governo, há muita variação. Affonso Celso Pastore, um dos mais respeitados economistas brasileiros, escreveu na semana passada no jornal Valor Econômico que o PIB deste ano deve ter uma contração de 1,5%, um prognóstico próximo ao do FMI.

Mas há consultorias de prestígio que estão mais próximas do Banco Central, esperando um resultado positivo.

Já a economista-chefe do Bradesco Asset Management, Ana Cristina Boicenco, acredita que o PIB terá uma queda de 0,2% a 0,5% - e se trata de uma boa referência. A economista acaba de ganhar o prêmio da Agência Estado por ter obtido, em 2008, a maior margem de acerto nas previsões para PIB, inflação, dólar, juros, comércio externo e dívida pública.

As previsões para 2009 da campeã de previsões em 2008 são as seguintes, além do PIB, citado acima: inflação (IPCA), em torno de 4% taxa básica de juros no final do ano, de 8,75% a 9% dólar médio em R$ 2,38, esperando, pois, uma desvalorização do real daqui em diante e a relação dívida líquida do setor público/PIB subindo um pouco para 37,3%.

E para 2010? Ana Cristina Boicenco espera uma moderada recuperação, com o PIB crescendo em torno dos 2%.

Para todo esse cenário, a economista considera que os programas do governo para estimular a economia vão, sim, produzir seus efeitos.

Tudo considerado, ninguém está esperando um desastre para o Brasil. Ao contrário do que ocorria em crises externas anteriores, o país não vai quebrar pelas contas externas, não vai ao FMI. Ao contrário, vai emprestar dinheiro para o Fundo.

A reação brasileira será a de um país com estabilidade macroeconômica. Sofre com a perda de mercados e de crédito, reduz a atividade econômica, com a conseqüente alta do desemprego, mas tudo sendo uma “crise normal”, digamos assim. Comparando com o resto do mundo, é um desempenho mais que razoável.

Mas, politizando a questão, Lula corre o risco de uma derrota onde poderia ter no mínimo um bom empate. Ou não está bem informado sobre a crise ou, de novo, confia no seu discurso para mudar não as coisas, mas a aparência delas.

Sua sorte é que a oposição parece não ter a menor noção do que ocorre e de como lidar com os efeitos da crise.

Publicado em O Estado de S.Paulo, 27 de abril de 2009

domingo, 26 de abril de 2009

A doença vai atrapalhar?

Todos os brasileiros ficaram chocados com a notícia divulgada ontem sobre o estado de saúde da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, principal candidata do presidente Lula ao posto de Presidenta do Brasil em 2010.

Ela está em tratamento depois de diagnosticado um tumor no lado esquerdo da axila, chamado de linfoma não-Hodgkin.

Espera-se que o problema não interfira no planejamento do Palácio do Planalto. Mas uma coisa é certa: o fantasma do terceiro mandato vai começar a assombrar os corredores do Congresso, mais uma vez.

A Dilma "engessou" o panorama político brasileiro.

Ela paralisou os adversários e os aliados porque sua doença é grave.

Entretanto, vale a pena perguntar:

O PT vai mantê-la?

O terceiro mandato volta com força?

Pois se ela é realmente a candidata, esse assunto vai ser sempre uma espada em sua cabeça.