quinta-feira, 27 de março de 2008

Muito bate-boca, ontem, na CPI dos Cartões Corporativos

Houve muito barulho também no Congresso brasileiro. Governo e oposição se trataram aos gritos. Eram berros de lado a lado. Só que aqui não teve panela.

Teve de tudo: sorvete de tapioca, bate-boca, dedo em riste, troca de acusações e, como previsto, a derrota da oposição. Com maioria folgada na CPI, por 14 votos a 7, os governistas conseguiram barrar a convocação da ministra Dilma Rousseff. O descontrole foi total.

- Senador, respeite!- Eu estou no microfone!- O senhor está fazendo molequeira. O senhor está fazendo molequeira.

Houve provocação.

“Eu gostaria de, quebrando um pouquinho essa sisudez aqui, saber se a senhora gostou do sorvete de tapioca que eu trouxe do meu estado para a senhora, para todos os meus colegas e para a imprensa também. É do Pará, tapioca da boa”, disse o deputado Vic Pires (DEM-PA).

Foi uma brincadeira por causa da tapioca que o ministro dos Esportes, Orlando Silva, comprou com cartão corporativo.

“Nós não podemos aqui estar de brincadeirinha de deputado menino, menino de calça curta trazendo sorvete de tapioca aqui para vulgarizar a CPI”, criticou o deputado Sílvio Costa (PMN-PE).

Era quase impossível comandar a sessão.

“Eu gostaria, senador Almeida Lima, que o senhor mantivesse a calma, Vossa Excelência está inscrito”, pediu a presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS).

“Eu estou calmo. Estou extremamente calmo”, respondeu o senador Almeida Lima (PMDB-SE).
Na confusão, uma voz falou mais alto: a do governo, que conseguiu evitar que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, fosse convocada. A oposição queria que ela explicasse à CPI o vazamento de informações sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique e da mulher dele, Ruth Cardoso.

“É terminantemente contra a convocação da ministra Dilma Rousseff, pelo que ela representa hoje e talvez – porque esse talvez seja o grande motivo de trazê-la – pelo que ela poderá representar em 2010”, afirmou a líder do PT no Senado, senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

Balanço final: nada mais foi decidido. Para a presidente da cpi, a sessão “não foi só não produtiva. Foi péssima”, opinou a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), que desabafou: “Essa casa hoje viveu momentos ruins e que eu não gostaria de ter vivido”.

O clima de batalha entre governo e oposição continuou fora do Congresso. O ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que abriu mão do sigilo das contas do governo dele, desafiou o presidente Lula a fazer o mesmo.

“Eu, se eu se fosse o presidente Lula, eu diria o que eu disse: ‘Olhem, venham ver o que eu fiz com o dinheiro, como foi gasto esse dinheiro’. Isso não tem problema nenhum, abre. É melhor”, declarou o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.

“Essa questão dos dados sigilosos não pertence à vontade dos dois presidentes. É uma questão de Estado. Por acaso, o presidente Lula é o presidente neste momento, mas a segurança de Estado pertence à instituição, ao governo brasileiro”, disse o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

O PSDB quer agora que a procuradoria-geral da República investigue a responsabilidade pelo vazamento do suposto dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique.

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