sábado, 12 de dezembro de 2009

Copenhague - Dinamarca

A última semana antes do início da 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o Clima (COP-15) foi marcada por uma informação do Ministério de Ciência e Tecnologia: o Brasil segue como o quinto maior emissor mundial de gases de efeito estufa, atrás apenas da China, Estados Unidos, União Europeia e Indonésia – prova de que apesar da meta voluntária de redução anunciada pelo governo, além da queda do desmatamento, falta muito para avançar.

E já que o assunto é governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na quinta-feira, 3 de dezembro, que o "acordo dos sonhos" não será fechado durante a COP-15. No entanto, o presidente ressaltou que o encontro em Copenhague será importante para definir as bases de uma possível nova ordem mundial para o clima do planeta.

O problema da desertificação, fenômeno provocado pela degradação dos solos, tem colocado as autoridades brasileiras em alerta. O tema será discutido em nível mundial durante a COP-15, mas os debates no Brasil já começaram. Em março de 2010, será realizado o Encontro Nacional de Enfrentamento da Desertificação, nas cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).

E de acordo com o consultor de Mudanças Climáticas da MGM, Stefan David, o polêmico mercado de carbono deverá crescer a partir de 2010. A princípio, havia dúvida sobre esse possível crescimento, já que China e Estados Unidos só anunciaram um comprometimento de redução das emissões dos gases de efeito estufa às vésperas da COP-15. No entanto, nomes respeitados que estudam o desenvolvimento sustentável questionam essa proposta.

Em Copenhague, palco da COP-15, 164 jovens de 44 países participaram do Fórum Crianças e Clima, no qual debateram sobre as mudanças climáticas e elaboraram um documento que será lido para os representantes mundiais durante a convenção da ONU, que começa na próxima semana.

Também merece destaque um projeto chamado “Hopenhaguen”: a cidade da esperança, no qual a proposta é saber a opinião das pessoas sobre os assuntos que serão discutidos em Copenhague, além de mantê-las informadas sobre os desdobramentos da COP-15. De que forma? Através do blog da organização.

Bem, agora o relógio parece seguir ainda mais rápido rumo a COP-15. O encontro terá início na segunda-feira, 7 de dezembro, e terminará no dia 18 deste mês. É claro que quem trouxe os resumos das informações que antecederam o evento não te deixará na mão durante ele. Por isso, você vai poder acompanhar os desdobramentos de tudo o que for definido (ou não) em Copenhague!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Vídeo - Classe Média



A face de um Brasil real!!

Tem que costurar!

O eleitor pode se perguntar: por que José Serra (PSDB), líder absoluto em todas as pesquisas, reluta tanto em se lançar candidato a presidente?

O governador tem bons motivos para ser cauteloso: tem mais a perder do que os demais presidenciáveis, tem dificuldade para encontrar um mote de campanha e conhece a história.

Serra sabe que intenção de voto a esta altura do campeonato não é garantia de voto na urna em 2010.

Como já dizia o Sr. Ulisses Guimarães: "Ninguém ganha ou perde eleição de véspera".

Muitos saíram e chegaram na frente.

Mas a história eleitoral brasileira está plena de exemplos de candidatos que largaram em primeiro lugar e nem apareceram na foto da chegada.

Só para recordar, em 1994, Lula (PT) manteve larga margem sobre Fernando Henrique Cardoso (PSDB) por meses.

Em junho, batia o ex-ministro da Fazenda por 41% a 19% (Datafolha) -vantagem bem semelhante à atual, de Serra sobre Dilma.

Aí veio o Plano Real, a inflação foi controlada, a popularidade do governo aumentou e FH foi subindo com ela, a cada semana: 21%, 29%, 36%, 45%. Terminou eleito no 1º turno. Lula acabou com metade dos votos do adversário.

Mesmo havendo diferenças, a começar da presença de Lula, o cenário da primeira eleição de FH é o mais próximo do pleito do próximo ano. Trata-se da única outra disputa eleitoral desde a redemocratização travada por um candidato situacionista que não era o próprio presidente mas que defendia um governo com popularidade.

Em 1989, diante da hiperinflação do governo Sarney, todos os candidatos fortes eram de oposição. Em 1998, o governo era bem aceito, mas o candidato da situação era o próprio presidente. Em 2002, a popularidade do governo estava em baixa, e deu oposição. Em 2006, o presidente foi reeleito graças à sua alta aprovação.

Por isso, tem que costurar as alianças com mais veemência.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Por dentro do blog - Vídeo

O desafio das drogas


Fernando Henrique Cardoso

Um dos temas mais difíceis do mundo contemporâneo é o que fazer com o uso de drogas.

Existem algumas comprovações bem estabelecidas sobre a questão. Se é verdade que sempre houve consumo de diferentes tipos de drogas em culturas muito diversas - embora não em todas -, não menos verdade é que ele no geral se deu em âmbito restrito e socialmente regulamentado, principalmente em cerimônias rituais.

Não é esse o caso contemporâneo: o uso de drogas se disseminou em vários níveis da sociedade, com motivações hedonísticas; no mais das vezes, sem aprovação social, embora, dependendo da droga, haja certa leniência quanto aos usuários.

Sabe-se também que todas as drogas são nocivas à saúde, mesmo as lícitas, como o álcool e o tabaco. E que algumas são mais nocivas do que outras, como a heroína e o crack.

A discussão sobre se o consumo de drogas mais fracas induz ao de outras mais fortes é questão médica sobre a qual não há consenso.

Para fins de política pública o importante a reter é que as drogas produzem consequências negativas tanto para o usuário quanto para a sociedade e que reduzir ao máximo o seu consumo deve ser o principal objetivo.

A discussão, portanto, é sobre diferentes estratégias para atingir o mesmo objetivo. Até agora a estratégia dominante tem sido a chamada "guerra às drogas".

Foi sob a sua égide, sustentada fundamentalmente pelos Estados Unidos, que as Nações Unidas firmaram convênios para generalizar a criminalização do uso e a repressão da produção e do tráfico de drogas.

Decorridos dez anos, a agência da ONU dedicada às drogas reuniu-se este ano em Viena para avaliar os resultados obtidos pela política de "guerra às drogas".

Simultaneamente, na Europa e na América Latina, comissões de personalidades independentes fizeram o mesmo, apoiando-se em análises preparadas por especialistas.

Eu copresidi com os ex-presidentes da Colômbia e do México, respectivamente César Gaviria e Ernesto Zedillo, a comissão latino-americana.

Nossa conclusão foi simples e direta: estamos perdendo a guerra contra as drogas e, a continuarmos com a mesma estratégia, conseguiremos apenas deslocar campos de cultivos e sedes de cartéis de umas para outras regiões, sem redução da violência e da corrupção que a indústria da droga produz.

Logo, em lugar de teimar irrefletidamente na mesma estratégia, que não tem conseguido reduzir a lucratividade e, consequentemente, o poderio da indústria da droga, por que não mudar a abordagem?

Por que não concentrar nossos esforços na redução do consumo e na diminuição dos danos causados pelo flagelo pessoal e social das drogas? Isso sem descuidar da repressão, mas dando-lhe foco: combater o crime organizado e a corrupção, em vez de botar nas cadeias muitos milhares de usuários de drogas.

Em todo o mundo se observa um afastamento do modelo puramente coercitivo, inclusive em alguns Estados americanos.

Em Portugal, onde desde 2001 vigora um modelo calcado na prevenção, na assistência e na reabilitação, diziam os críticos que o consumo de drogas explodiria. Não foi o que se verificou.

Ao contrário, houve redução, em especial entre jovens de 15 a 19 anos. Seria simplista, porém, propor que imitássemos aqui as experiências de outros países, sem maiores considerações.

No Brasil, não há produção de drogas em grande escala, exceto maconha. O que existe é o controle territorial por traficantes abastecidos principalmente do exterior.

Dada a miserabilidade e a falta de emprego nas cidades, formam-se amplas redes de traficantes, distribuidores e consumidores que recrutam seus aderentes com facilidade.

O País tornou-se um grande mercado consumidor, alimentado principalmente pelas classes de renda média e alta, e não apenas rota de passagem do tráfico.

Enquanto houver demanda e lucratividade em alta será difícil deter a atração que o tráfico exerce para uma massa de jovens, muitos quase crianças, das camadas pobres da população.

A situação é apavorante. O medo impera nas favelas do Rio. Os chefões do tráfico impõem regras próprias e "sentenciam", mesmo à morte, quem as desrespeita.

A polícia, com as exceções, ou se "ajeita" com o tráfico ou, quando entra, é para matar. A "bala perdida" pode ter saído da pistola de um bandido ou de um policial.

Para a mãe da vítima, muitas vezes inocente, dá no mesmo. E quanto à Justiça, não chega a tomar conhecimento do assassinato.

Quando o usuário é preso, seja ou não um distribuidor, passa um bom tempo na cadeia, pois a alegação policial será sempre a de que portava mais droga do que o permitido para consumo individual.

Resultado: o usuário será condenado como "avião" e tanto quanto este, ao sair, estigmatizado e sem oferta de emprego, voltará à rede das drogas.

É diante dessa situação que se impõem mudanças.

Primeiro: o reconhecimento de que, se há droga no morro e nos mocós das cidades, o comércio rentável da droga é obtido no asfalto.

É o consumo das classes médias e altas que fornece o dinheiro para o crime e a corrupção. Somos todos responsáveis.

Segundo: por que não "abrir o jogo", como fizemos com a aids e o tabaco, não só por intermédio de campanhas públicas pela TV, mas na conversa cotidiana nas famílias, no trabalho e nas escolas?

Por que não utilizar as experiências dos que, na cadeia ou fora dela, podem testemunhar as ilusões da euforia das drogas? Não há receitas ou respostas fáceis.

Pode-se descriminalizar o consumo, deixando o usuário livre da prisão. As experiências mais bem-sucedidas têm sido as que vêm em nome da paz, e não da guerra: é a polícia pacificadora do Rio de Janeiro, não a matadora, que leva esperança às vítimas das redes de droga.

Há projetos no governo e no Congresso para evitar a extorsão do usuário e para distinguir gradações de pena entre os bandidos e suas vítimas, mesmo quando "aviões", desde que sejam réus primários. Vamos discuti-los e alertar o País.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República