quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Globo Online

Mesa Diretora do Senado volta atrás e arquiva criação de 97 cargos sem concurso em gabinetes e lideranças

Integrantes da Mesa Diretora do Senado decidiram nesta terça-feira, por unanimidade, recuar da decisão, tomada na última quarta-feira, de criar 97 novos cargos de confiança, com salário bruto de R$ 9.979,24, sem concurso, para gabinetes dos senadores e nas lideranças partidárias. O concurso público para preenchimento de 150 vagas em diversos cargos, no entanto, está mantido. A data do concurso ainda não está marcada e dependerá da divulgação do edital.

(Saiba mais sobre quanto pode gastar um senador e um deputado)

- A repercussão foi negativa, ninguém pode negar, tapar o sol com a peneira. E entendeu a Mesa de cancelar. A pressão da opinião pública pesou e agora vamos realizar um concurso público para 50 vagas a partir de setembro - informou o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que foi comunicado por telefone da decisão. - Na hora em que não houve unanimidade, se afastou a possibilidade de se ter a decisão. Quem sai fortalecido é o Senado, que soube reconhecer que a medida não era oportuna - completou.

O presidente do Senado leu uma nota informando que "após consulta aos demais membros da Mesa, houve por bem cancelar a convocação da mesma para a data de hoje, face o assunto em pauta ter sido objeto de entendimento pela sua não-efetivação, considerando a ausência de unanimidade em torno do assunto".

Apesar de todos os líderes partidários terem assinado, em abril, a proposta de criação dos cargos, o senador Efraim Morais (DEM-PB) acabou ficando sozinho na defesa da proposta. Diplomático, o presidente do Senado evitou criticar os colegas.

- Também não acho que a posição deles seja tão equivocada, que eles estejam tão na contramão. Não quero criar esse tipo de polêmica dentro de uma Mesa que eu presido.

Num Senado quase vazio às vésperas do recesso que começa nesta quinta, parte dos parlamentares fez autocrítica. Alguns, como o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), classificaram o episódio de "trapalhada".

- A impressão que eu tenho é que isso foi uma grande trapalhada, deplorável trapalhada, que só compromete a instituição e os senadores. Tem que haver convicção: se é para criar cargo, que tenha razão e fundamento e defenda isso o tempo todo; se não é para criar cargo, que não o crie.
O que não pode é criar hoje e deixar de criar amanhã, sem explicação nem para um gesto, nem para o outro - disse Sérgio Guerra.

- Não tem porque ter medo, ficar (tratando do assunto) pelos corredores. Se errar, admite (publicamente) - afirmou o vice-presidente do Senado e integrante da Mesa, Tião Viana (PT-AC).

Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), ele recebeu telefonema do senador César Borges (PTB-BA) propondo o recuo da Mesa e o cancelamento da reunião. Álvaro Dias, que já era contra a idéia, disse que assim se evitou um "desgaste maior".

Quanto ao esforço concentrado no período pré-eleitoral, Garibaldi disse que o calendário de votações só será estabelecido em agosto.

Diante das críticas, líderes partidários e até integrantes da Mesa defendiam ainda na segunda-feira que a Mesa mudasse de posição. Garibaldi, que foi contra a criação dos cargos desde o início, negou que os gabinetes estejam enfrentando problema com a falta de servidores, como alguns alegam.

Para analistas políticos, a medida era desnecessária, uma vez que até está previsto concurso para 156 vagas no segundo semestre, e só não prejudica ainda mais a imagem do Senado porque ela já está bastante desgastada. A decisão do Senado também foi condenada por leitores. (Leia aqui)

Ainda no dia de ontem o Congresso aprova LDO e antecipa recesso .

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