terça-feira, 5 de agosto de 2008

Mantega finge que não existe

Duas declarações nos jornais de hoje que valem registro aqui no blog. A primeira do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que disse (só agora) que prefere elevar o superávit primário para acima de 4,3% do PIB, a ter que subir a taxa de juros.

A declaração de Mantega é uma surpresa positiva. É quase uma unanimidade entre os economistas que o governo poderia estar ajudando o Banco Central no combate aos preços se reduzisse os gastos. Com menos dinheiro circulando na economia, haveria uma pressão menor sobre o reajuste dos produtos.

Por um lado, a fala de Mantega mostra que ele está mais consciente, e por outro, demonstra que já não pensa mais que a inflação é apenas culpa do feijãozinho. O ministro entendeu que o BC vai subir os juros o quanto for necessário para que a inflação volte ao centro da meta em 2009. E Meirelles tem o apoio de Lula.

Ou Mantega ajuda, ou cruza os braços e assiste aos juros dispararem. Pelo visto, ele agora está preferindo cooperar.

Ontem também foi a vez de Meirelles dizer que ainda é cedo para comemorar a queda do IPCA, registrado no último indicador de junho (nesta sexta, o IBGE divulga a inflação de julho).

- É um pouco prematuro dizer até que ponto já existe reflexo da política monetária - disse ele.

É basicamente isso: o presidente do BC vai manter o discurso firme e objetivo para conter o aumento das expectativas. Ontem o Focus mostrou queda nas previsões para o IPCA de 2008 após 18 semanas seguidas de alta.

Resumindo:

Logo no início da escalada dos preços, Mantega disse que o problema estava restrito ao feijãozinho. Depois, mudou o discurso alegando que a alta dos preços não era preocupante. Logo mais, afirmou que o Brasil não deveria segurar o consumo interno porque ele era nossa pérola. Recentemente trocou de opinião sugerindo que o pior da inflação já tinha passado, e ontem concluiu que prefere subir o superávit primário a ter que aumentar os juros.

Desde que começou a escalada dos preços, Mantega não disse nada coerente. Alguém entende qual é a proposta do ministro? Eu não.

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