sábado, 11 de outubro de 2008

Revista Época desta semana

O jogo para 2010 está feito: será Dilma X Serra
Ricardo Amaral

Agora que a crise financeira mundial sentou praça no Brasil, nenhuma análise política com vistas a 2010 pode ser comprada por seu valor de face. Todos os prognósticos ficam sujeitos a deságio, dependendo do que vai acontecer com a economia nos próximos dois anos. Nem por isso desistiremos de analisar o primeiro turno das eleições municipais. A reversão de expectativas na reta final, em São Paulo e Belo Horizonte, nada tem a ver com os humores do mercado. Foi pura política.

A campanha começou difícil para o governador José Serra e parecia um passeio para seu concorrente Aécio Neves – os dois possíveis candidatos do PSDB à sucessão presidencial. O primeiro turno terminou com Serra e Aécio em situações opostas. O governador de São Paulo conseguiu levar seu candidato Gilberto Kassab (DEM) ao segundo turno, à frente de Marta Suplicy (PT), que era a favorita nas pesquisas.

A eleição não está encerrada, mas a diferença de votos entre Kassab e o candidato oficial do PSDB, Geraldo Alckmin, foi grande o bastante para confirmar a liderança política do governador. Serra conseguiu dirigir para Kassab o apoio da maior parte dos cabos eleitorais do PSDB paulistano. Agora, numa disputa contra o PT, espera reduzir a murmúrios o descontentamento dos derrotados. O resultado parcial serviu também para consolidar o apoio do DEM ao projeto presidencial de Serra. O antigo PFL não tem futuro longe de Serra. Nem em São Paulo nem em Brasília.

Em Minas, a manobra de Aécio na direção do PT falhou por insuficiência de votos. Duas semanas atrás estava escrito aqui que o candidato do PSB, Marcio Lacerda, deveria ser eleito prefeito de Belo Horizonte no primeiro turno. Era o que diziam as pesquisas e o que sugeriam as ruas – apáticas, como se não houvesse uma campanha em curso. Nas pesquisas e na TV, parecia tudo definido. Faltou combinar com o eleitor.

Com o apoio de Aécio e do prefeito petista Fernando Pimentel, Lacerda subiu como um foguete, mas não alcançou a lua. Chegou praticamente empatado com o jovem deputado Leonardo Quintão, do PMDB. O eleitor puniu o acordo de cúpula. Governador e prefeito acertaram-se por cima, mas não mobilizaram o eleitorado que há 16 anos dá vitórias à centro-esquerda em Belo Horizonte.

Para tentar conquistar esse eleitor, a campanha de Lacerda já se deslocou para a esquerda. Suas chances dependem cada vez mais do engajamento do PT. Não o PT do prefeito Pimentel, mas o do ministro Patrus Ananias, que foi contrário ao acordo com os tucanos e se ausentou da campanha no primeiro turno. Aécio quis fazer da eleição a vitrine de uma proposta alternativa à polarização entre PT e PSDB. A resposta do eleitor no primeiro turno comprometeu esse objetivo, qualquer que seja o resultado final.

A previsível radicalização das eleições em São Paulo deverá destruir as pontes entre os dois partidos. Antes que as eleições acabem, já ficou claro que José Serra caminha para disputar as eleições de 2010, apoiado pelo DEM. Do outro lado estará a candidata do presidente Lula, e a cada dia fica mais difícil imaginar que a escolhida não seja a ministra Dilma Rousseff. Principalmente se o segundo turno confirmar o favoritismo de Gilberto Kassab, liquidando os planos do PT paulista para apresentar o nome de Marta à sucessão presidencial.

Se havia expectativa de que as eleições municipais pudessem mudar o rumo da corrida ao Planalto, os eleitores de Belo Horizonte e de São Paulo trataram de frustrá-la. Além disso, o bloquinho PCdoB-PSB-PDT, formado em torno do ex-ministro Ciro Gomes, não marcou pontos na eleição. O próprio Ciro saiu derrotado em Fortaleza, seu reduto. E o PMDB continua sendo o maior partido político do país sem candidato à Presidência da República. Resta um ponto de interrogação no Rio, onde o deputado Fernando Gabeira faz o primeiro teste real de uma candidatura “verde”.

Encerradas as eleições, é pouco provável que fatos e articulações políticas consigam alterar o desenho de uma disputa polarizada entre Serra e Dilma em 2010. Qualquer mudança nesse quadro passa a depender da economia e suas incertezas.

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