terça-feira, 4 de novembro de 2008

Auto-estima - não há idade

Ellyel dos Santos

“Como ficar rico em pouco tempo”, “Atrair a sorte para si”, “Galgar degraus no trabalho rapidamente”, são títulos de alguns livros que estão a cada dia sendo os mais vendidos das prateleiras das livrarias. Os manuais de auto-ajuda se incorporaram à vida moderna tanto quanto os telefones celulares ou a internet. Cada vez mais gente encontra inspiração em seus conselhos para perseguir uma vida melhor, seja do ponto de vista material, seja do espiritual. Se todos esses títulos fossem colocados em uma centrífuga, o conselho fundamental que daí resultaria seria: goste de você, tenha confiança em si mesmo, acredite em sua capacidade. Em suma, preserve sua auto-estima.

A auto-estima, segundo os psicólogos, é a principal ferramenta com que o ser humano conta para enfrentar os desafios do cotidiano, uma espécie de sistema imunológico emocional determinando, em última análise, a forma como nos relacionamos com o mundo.

O historiador inglês, Peter Burke, resume: “A auto-estima é o conceito mais estudado na psicologia social, e há um bom motivo para isso. Ela é a chave para a convivência harmônica no mundo civilizado”.

A auto-estima é vital não apenas para as pessoas, mas também para as famílias, os grupos, as empresas, as equipes esportivas e os países. Sem ela, não há terreno fértil para as grandes descobertas nem para o surgimento dos líderes. Desde o início da civilização, o mundo é movido a pessoas que confiam de tal forma nas próprias idéias que se sentem estimuladas a dividi-las com os outros. Isso vale tanto para cientistas quanto para poetas, tanto para artistas quanto para políticos. O filósofo grego Aristóteles já observava que a esperança e o entusiasmo, juntos, formam a centelha da autoconfiança, sem a qual os jovens não teriam futuro.

Antigamente, acreditava-se que o grau de auto-estima de uma pessoa era determinado na infância e se preservava intocado ao longo da vida. A boa notícia é que, nos últimos anos, a psicologia derrubou essa teoria. Hoje se sabe que é possível desenvolver a auto-estima em qualquer idade e mantê-la elevada para sempre. O sucesso dessa empreitada depende não apenas da visão que se tem de si mesmo, mas também da avaliação que se faz da sociedade em que se vive.

As pesquisas mais recentes sobre auto-estima apresentam duas novidades.

A primeira é que é possível ter auto-estima alta e baixa que se alternam. Por exemplo, um indivíduo pode ter confiança plena em si próprio no ambiente profissional, mas se sentir a última das criaturas no âmbito pessoal, e vice-versa. Com isso, para aumentar a auto-estima, não basta apenas ter pensamentos positivos generalizados. O ideal é concentrar-se nos pontos fracos que podem ser mudados e melhorados.

Agora, a segunda revelação da psicologia no terreno da auto-estima é que algumas das características que a compõem podem ser hereditárias. Essa descoberta enterra definitivamente a noção de que a auto-estima é formada apenas durante a infância, em casa, por influência dos pais.

O primeiro passo para melhorar a auto-estima, segundo médicos e psicólogos, é identificar os comportamentos e as crenças negativas que foram construídos durante a vida. Coisas como acreditar-se incapaz de realizar grandes projetos, de conseguir um bom marido ou esposa, e achar que subir na carreira e ganhar mais dinheiro é privilégio apenas das outras pessoas. A partir daí, é preciso questionar essas crenças. As que não contribuírem para uma vida harmoniosa devem ser limadas do comportamento do dia-a-dia. Segundo psicólogos, são os pensamentos e as atitudes próprios – e não os eventos externos – que moldam os sentimentos. Assim, se um indivíduo tem uma visão distorcida e negativa de si mesmo, terá auto-estima baixa. Ter baixa auto-estima não significa, necessariamente, ter depressão, mas uma coisa pode levar a outra. Portanto, uma pessoa com baixa auto-estima se enxerga de maneira negativa, mas consegue levar uma vida normal. Agora, quem tem depressão, além dessa visão negativa, perde a motivação para viver, isto é, um indivíduo com depressão sempre tem auto-estima baixa, pois essa sensação de incapacidade é um dos aspectos que podem torná-lo depressivo.

A partir do momento em que se decide identificar as crenças negativas e se trabalhar continuamente para modificá-las, cinco regras são básicas para elevar a auto-estima e ganhar confiança de maneira permanente. As regras são as seguintes: examinar o passado, achar um meio-termo, dar um sentido á vida, focar os aspectos positivos e comentar com a família e os amigos as realizações positivas.

Os brasileiros, em geral, são muito otimistas, apesar de possuírem auto-estima baixo em comparação com os americanos e os franceses.

Nós sempre achamos que hoje está ruim, mas amanhã irá melhorar.

Existe no Brasil uma cultura de condenar quem se vangloria das próprias realizações e de enaltecer a humildade. Isso acaba por minar a auto-estima das pessoas, que começam a acreditar que não são merecedoras de seus feitos mais ambiciosos, ou seja, a arrogância costuma ser confundida com auto-estima em excesso. Já dizia o poeta e escritor alemão Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832), que “um erro grave é tanto se julgar mais do que se é, quanto se estimar menos do que se merece”.

A moderna psicologia não aceita mais a idéia de que alguém possa ter auto-estima em excesso. Seria como ter saúde em excesso. Os complexos de superioridade e a arrogância pertencem a outra natureza.

Portanto, uma pessoa com auto-estima elevada acredita que tem o controle da própria vida, sente-se confiante em lidar com os contratempos e almeja alcançar o sucesso na vida pessoal e profissional.

Nenhum comentário: