terça-feira, 17 de novembro de 2009

Caso Torós mostra que a crise não foi apenas uma marolinha

Miriam Leitão

A reportagem do "Valor Econômico" sobre os bastidores da crise mostrar aquilo que muitos disseram: o Brasil passava por uma crise séria. Tinha muita gente do governo dizendo que a imprensa estava a favor da crise. Não, apenas contávamos o que acontecia. O Banco Central fez um trabalho ágil, rápido e competente ao lidar com a especulação, o trabalho específico de tourear o mercado. Mas passou por um sufoco.

Henrique Meirelles disse hoje que ninguém mais sai do Banco Central (BC), após a demissão do diretor de política monetária, Mário Torós. Ele saiu depois da reportagem de Cristiano Romero e Alex Ribeiro. A reportagem mostra com a competência dos jornalistas os bastidores do que vimos acontecer, desde a quebra do banco Lehman Brother e com o Brasil foi atingido. Mostra que a situação estava grave. As medidas tomadas pelo Banco Central, que foram fortes, sempre indicaram que uma coisa grave estava acontecendo na economia brasileira.

Era, por exemplo, o caso das empresas exportadoras, que fizeram contratos de derivativos cambiais. Grandes empresas ameaçavam quebrar. Houve a operação da Aracruz com a Votorantim Celulose e Papel, a venda do banco Votorantim para o Banco do Brasil, a megafusão da Perdigão e a Sadia.

Não chegou a ser uma surpresa para quem acompanhava a crise, mas a reportagem apresenta detalhes reveladores. Clarifica e deixa para história que tudo o que aconteceu não foi uma marolinha. Foi muito grave e atingiu fortemente a economia. Graças a ação da autoridade monetária a situação não fugiu do controle.

A Rússia, por exemplo, perdeu US$ 60 bilhões de suas reservas cambiais. O Brasil também perdeu, mas depois voltou a acumular. Hoje, tem mais reserva do que antes da crise. Se a crise fosse apenas uma bobagem, não teriam sido tomadas todas aquelas medidas: liberar compulsórios, forçar bancos a financiar bancos pequenos.

O diretor Torós falou sobre isso. Tem ainda uma parte da reportagem, contada pelos repórteres, que o ministro Guido Mantega teria feito uma declaração indevida, algo que não deveria ter falado. O mercado apostava contra o real e havia dúvidas se o Brasil venderiam ou não suas reservas. Se o mercado soubesse que governo não venderia reservas, o jogo da especulação ficaria mais forte. Mantega disse que não venderia. Isso aumentou a pressão contra a moeda brasileira.

Torós disse que só é responsável pelo o que está entre aspas na reportagem. O resto é apuração dos repórteres, que estão dizendo ter apurado durante dois meses, falando com outros personagens.

Antes da saída de Torós, se falava da saída de Mário Mesquita, diretor de política econômica. Meirelles disse hoje que Mesquita ficará com ele. Existe também a discussão se Meirelles fica ou sai da presidência do Banco Central. Ele não bateu o martelo, mas disse que existe a possibilidade de ficar até o fim do governo Lula. Se ele sair para ser candidato, precisará deixar o cargo em março de 2010.

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