sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Marina Silva no CBN Rio

Na manhã de hoje, às 10h04min, a senadora Marina Silva (PV) deu uma entrevista ao CBN Rio.

Ela defendeu o pacto pela liberdade e criticou a postura do Brasil à Venezuela e Cuba.

Ouça a íntegra da entrevista aqui.

Do Jornal O Globo

A senadora Marina Silva, pré-candidata do PV à sucessão presidencial a falta de diálogo entre o PT e o PSDB, o que teria levado, segundo ela, os dois partidos a ficarem "reféns do PMDB e do DEM", respectivamente.

- Cada um que ganhou a eleição, seja um sociólogo ou um operário, ficou refém das maiorias que, na sua totalidade, tem pessoas muito boas, mas existe um grupo fisiológico que acaba tisnando (maculando) todo o esforço desses partidos - disse ela, durante a entrevista à âncora Lucia Hippolito.

- Agora, não conversando, o presidente Fernando Henrique ficou refém dos Democratas, e o presidente Lula ficou refém do PMDB e não qualificou sua base de sustentação na sua totalidade. O que eu proponho é que, conquistada a democracia, oito anos de conquistas importantes na área econômica e social, é o momento de termos maturidade política, avançarmos rumo a um Brasil mais amadurecido em termos políticos - completou.

A senadora também falou de sua adversária na disputa, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT. Ela lembrou as divergências com a Casa Civil quando ocupava a pasta do Meio Ambiente, e disse que não se vê como "vitima nos embates".

- Não sou inimiga da Dilma, do Serra, do Ciro. Aliás, eu convivi durante cinco anos, cinco meses e 14 dias com a ministra Dilma Rousseff como colegas de trabalho e em algumas coisa divergíamos claramente. c. Ela tinha as posições dela, eu tinha as minhas e quem decidia era o presidente Lula - afirmou ela, lembrando a saída do governo, em 2008: - Quando eu vi que as coisas não estavam sendo propícias à minha opinião, eu pedi para sair do governo. Acho que sai de cabeça erguida, então quero ir para o debate.

A senadora defendeu ainda uma prática política "sem a lógica do enfrentamento". Ela defendeu a discussão de de propostas e condenou o "ódio na política".

- O governador Serra foi meu colega no Senado - lembrou Marina. - Ele, inclusive, me ajudou em vários projetos importantes. Temos visões diferentes de mundo? Obviamente que temos, mas isso não significa que tenhamos que nos tratar como se fôssemos inimigos.

Marina acrescentou que pretende reconhecer os avanços dos governos anteriores, do PSDB e do PT:

- A minha cultura política vai ser de reconhecer as conquistas do presidente Lula, que ajudei em algumas delas ainda que modestamente, as conquistas do presidente Fernando Henrique e mostrar que existem erros que precisam ser corrigidos. É um dever de casa a ser aprofundado, que faz parte dos novos desafios.

Durante a entrevista, Marina teceu ainda críticas aos partidos políticos em geral, que classificou como "máquinas de ganhar eleição". A senadora reconheceu que sua campanha não terá tantos recursos quanto a dos adversários e defendeu uma captação de verba aos moldes do que fez o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

- Queremos fazer uma inversão no processo da realidade brasileira. Queremos fazer um processo semelhante ao que fez o presidente Obama, que seja muitos contribuindo com pouco, em que o cidadão se sinta responsável pela campanha, pelo processo e não uma meia dúzia que, às vezes, acaba querendo se tornar dono do próprio processo político e da gestão pública - destacou.

A senadora, que levanta a bandeira do Meio Ambiente, voltou a negar que que o carro-chefe de sua campanha seja um "samba de uma nota só".

- Eu tenho dito que o meu esforço é o de mostrar para as pessoas de que o meio ambiente é longe de ser um samba de uma nota só. O que se precisa de fato é constituir uma sinfonia em que todos possam fazer parte desta orquestra e vai mudar a forma de produzir, de consumir, a forma do homem se relacionar com a natureza e consigo mesmo. (...) Só os que não entendem da agenda acham que isso é um samba de uma nota só - destacou.

Questionada sobre quem será o vice em sua chapa, a senadora disse que a decisão está nas mãos do partido. Mas deu a entender que torce pela escolha do presidente da Natura, Guilherme Leal.

- Obviamente, para governar, não deve governar apenas com os seus, mas com todos. Para governar com todos, o PV busca com alguém do grupo empresarial, que possa ter uma inserção política voltada para o desafio que sempre tivemos, que é o do desenvolvimento sustentável - afirmou.

Marina Silva, que professa a fé evangélica, também falou na entrevista sobre aborto, casamento gay e descriminalização da maconha. Sobre a interrupção da gravidez, a senadora disse não concordar com a redução do debate a questão pessoal, de "ser contra" ou "ser a favor".
- Eu gostei muito de uma coisa que o Gabeira me disse: num debate difícil como esse, antes de colocar o foco nas divergências, vamos tentar centrar na convergência - disse ela. - Existe um debate que ainda não foi feito na sua profundidade. Com isso, todos concordamos. Segundo convergência: de que ainda não temos todas as informações necessárias para um processo de tomada de decisão, ainda que já tenhamos uma série de elementos e argumentos que mostram que é dramática a situação das mulheres, principalmente daquelas que são pobres, que, no desespero, procuram meios que arriscam suas vidas e que ainda correm o risco de um processo penal pela criminalização.

A ministra defendeu ainda que o debate não se restrinja ao Congresso:

- O que é o grande debate no meu entendimento? É sairmos da esfera da esfera puramente do Congresso e fazermos aquilo que eu chamo de um plebiscito para que se possa discutir com profundidade.

Ela disse que no caso da descriminalização da maconha, a situação é parecida, havendo também falta de informação.

- As pessoas que advogam a posição da descriminalização são sérias, não estão fazendo um discurso de apologia das drogas e eu sou muito cuidadosa em relação a isso. (...) Se esse debate for dicotomizado entre apenas quem é contra e a favor, nós não vamos encontrar a solução porque continuar como está não é a solução, descriminalizar sem o acolhimento, o atendimento e o tratamento também não é a solução. Vamos buscar os meios conjuntamente, essa é a minha posição.

Marina também acredita que as posições pessoais não devem se sobrepor às de Estado no caso do casamento gay.

- As pessoas não podem confundir sua posição como indivíduo, porque se alguém me pergunta minha posição de fé, eu vou dizer, mas no contexto da realidade do Estado, ninguém vai discriminar a pessoa por ser ou não homossexual. Ela é uma portadora de direitos. Eu pessoalmente tenho minha posição, mas ela não se reflete numa posição do Estado. O Estado é laico e aí tem a posição de cada sujeito e como ele se põe diante de um debate complexo como esse.

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