sábado, 27 de março de 2010

O Globo: Condenados

SÃO PAULO - Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram condenados pela morte de Isabella Nardoni, 5 anos, e não poderão recorrer em liberdade à sentença. Alexandre cumprirá 31 anos, um mês e 10 dias de prisão em regime fechado. Por ser o pai de Isabella - praticou o crime contra descendente - teve pena maior do que a da mulher. Anna Carolina Jatobá foi condenada a 26 anos e oito meses de prisão. Pela fraude processual, os dois cumprirão ainda 8 meses de prisão em regime semiaberto e pagarão 24 dias multa. A defesa informou que já recorreu da sentença, mas não deu detalhes.

Os jurados concluíram que o casal praticou o crime (homicídio triplamente qualificado) usando meio cruel e que dificultou a defesa da vítima. O crime é agravado ainda por tratar-se de uma menor de 14 anos de idade. A sentença foi comemorada com fogos, palmas e gritos pela multidão que aguardava o anúncio do lado de fora do Fórum de Santana. A queima de fogos durou pelo menos três minutos. O pai de Alexandre, Antonio Nardoni, sentado ao lado da filha na primeira fila, chorou bastante.

- O brilho da noite é do promotor Francisco Cembranelli - reconheceu o advogado de defesa do casal, Roberto Podval, que disse já ter recorrido da sentença, mas não deu detalhes do tipo de recurso.

O promotor Cembranelli saiu sorrindo e foi aplaudido .

- Sempre estive confiante. Sempre me senti pronto para participar do julgamento - disse o promotor, acrescentando que nada o abalou e que sempre teve certeza do resultado.

Alexandre Nardoni foi levado ao plenário algemado. Tanto ele quanto Anna Carolina Jatobá choraram, mas um choro sem desespero, de quem já esperava pela condenação. A família de Ana Carolina Oliveira se abraçou assim que a sentença foi anunciada, mas funcionários do fórum pediram para que eles não se manifestassem.

A mãe de Isabella foi avisada do resultado por uma mensagem por celular. Segundo o site G1, por viva voz ela agradeceu aos jurados pela condenação. Pouco depois, saiu na sacada de sua casa para acenar para a multidão que comemorava a condenação do lado de fora.

Logo após o anúncio da sentença, o casal Nardoni foi levado de volta à prisão no carro oficial da Secretaria de Administração Penitenciária. A avenida diante do Fórum de Santana teve de ser interditada, pois foi ocupada pela multidão. A PM chegou a utilizar gás de pimenta para dispersar as pessoas que cercaram um carro na saída do fórum. Os carros fechados da SAP tiveram grande escolta policial. Na saída, ainda se ouviam fogos e a multidão eufórica gritava.

Com um discurso contundente e baseado em provas levantadas pela perícia, o promotor Francisco Cembranelli convenceu os sete jurados - quatro mulheres e três homens - de que Anna Carolina Jatobá agrediu e esganou a menina Isabella e o pai a jogou do sexto andar do edifício London, na zona norte de São Paulo.

A tentativa da defesa, de desqualificar as provas, não deu certo. O advogado Roberto Podval reconheceu diante do júri não conhecer o processo e disse que foi procurado "por um pai desesperado". Disse ainda que se sentiu intimidado pela experiência do promotor , que tem 22 anos de Tribunal de Júri e mais de mil julgamentos no currículo.

Diante do júri, Cembranelli disse que a defesa fez um trabalho "pífio", acusou a perita Roselle Soglio de ser uma "perita trapalhona" e lembrou que a defesa dos Nardoni começou chamando 20 testemunhas e acabou só levando duas para falar a favor do casal diante dos jurados.

Veja as perguntas que os jurados responderam
- O promotor não está de todo errado. Ele dizia ' você não conhece o processo'. Ele estava desde o início, eu não. Me chega um pai desesperado e pede que eu abrace a causa. O que é que eu fiz? Arrolo todas as testemunhas e depois vejo o que eu faço - justificou-se Podval, que um dia antes havia afirmado que uma condenação não o surpreenderia e que não tinha "falsa expectativa de absolvição".

Cembranelli foi duro também com o casal.

Disse que a madrasta de Isabella 'era um barril de pólvora prestes a explodir'. Para ele, Jatobá tem rompantes. .

- Quando ela xinga, xinga mesmo. Quando agride, agride mesmo - resumiu o promotor.

O promotor disse que todas as brigas do casal tinham o mesmo motivo: o ciúme doentio que Anna Jatobá sentia da mãe da menina. Cembranelli disse que a madrasta só se referia a Ana Carolina Oliveira como 'aquela vagabunda'.

- Como uma criança de cinco anos pode conviver com uma mulher que se refere à mãe dela como aquela vagabunda? - questionou Cembranelli.

Cembranelli chamou Isabella de 'cópia em miniatura' de Ana Carolina Oliveira.

Cembranelli chegou a citar o caso do jornalista Antonio Pimenta Neves, que matou a tiros a ex-namorada. a também jornalista Sandra Gomide, para exemplificar pessoas que cometem crimes sem premeditação.

- Nunca disse que o crime é premeditado, 75% dos crimes levados a grande júri não são premeditados. São de criminosos ocasionais - disse o promotor.

- Ela (Anna Jatobá) nunca planejou esmurrar um vidro, jogar um bebê no chão. Achar que pais não cometem violência contra os filhos é desconhecer as estatísticas.

Para comprovar que o casal estava dentro do apartamento quando a menina foi jogada, o promotor explicou a crononologia dos fatos no dia da morte e a sequência dos telefonemas ocorridos para comunicar a Polícia e a família de Alexandre Nardoni no momento em que o corpo da criança caiu do sexto andar do prédio.

- As informações dos telefonemas, todas cruzadas, demonstram que o casal estava no apartamento no momento do crime - disse o promotor aos jurados, que não desgrudaram os olhos de Cembranelli durante toda a sua argumentação.

Para o promotor, a tese de uma terceira pessoa na cena do crime nunca foi factível.

- A inocência do casal seria absurda - afirmou.

Segundo Cembranelli, o tempo que Alexandre levou para descer até o térreo foi o mesmo que o porteiro levou para avisar o vizinho Antônio Lúcio, morador do 1º andar do edifício London, e que o vizinho demorou para pedir socorro. Para ele, o casal estava estava no apartamento no momento em que a menina Isabella foi jogada do apartamento 62 do Edifício London.

A cronologia mostrou que a sequência de fatos apresentada pelo casal Nardoni não poderia ter verdadeira. Alexandre Nardoni diz que subiu com a filha no colo até o apartamento, a colocou na cama e voltou à garagem para pegar os outros dois filhos, que estavam com a mulher, no carro. Ao chegar, disse o casal, é que ele foi ao quarto e viu que a menina havia sido jogada.

O promotor questionou ainda o porquê de Alexandre Nardoni não ter ligado para o resgate. A primeira ligação de pedido de socorro foi feita pelo morador do 1º andar, que viu a menina caída.

- Ele fez o que qualquer um de nós faria, menos o pai: ligar para o resgate. É isso que se faz em uma situação de emergência. Eu pularia pela janela para defender meu filho, desceria as escadas, não ficaria apertando botão, esperando - disse.

O promotor Cembranelli lembrou que Isabella tinha características de asfixia mecânica típicas de esganadura no pescoço e que a menina não poderia ter sozinha se esganado. Disse ainda que uma testemunhas ouviu uma discussão entre um casal momentos antes da queda de Isabella e reconheceu que a voz era de Anna Jatobá.

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