segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Dois anos à frente

(leia a coluna publicada em O Globo por Míriam Leitão, neste domingo)

A ministra Dilma Rousseff é vista no governo como "a primeira da fila" para a sucessão do presidente Lula, mas, sobre ela, paira uma enorme dúvida: como suportaria o embate de uma campanha eleitoral? O PT tem poucas chances nas eleições em várias das grandes cidades, porém, no governo, a avaliação é de que o presidente Lula tem todos os candidatos da base. O fundamental para Lula é fazer o sucessor.

O ano que vem é considerado uma janela de oportunidade. Um ano sem eleição, em que podem ser aprovados projetos importantes. No governo, diz-se que o projeto mais importante é o da criação da nova estatal de petróleo, que teria o óleo do pré-sal. O formato da nova empresa não está certo, mas o projeto deve ser enviado ao Congresso ainda este ano, com chance de aprovação só no ano que vem. Outros dois na fila, para serem tocados em 2009, são a reforma tributária e uma reforma política da qual não se tem ainda o contorno. A única concordância é que ela é necessária, mas não se sabe o que conteria. Como sempre, cada cabeça tem um formato de reforma ideal.

Há, pela frente, já contratado, um agravamento da tensão econômica dentro do governo. Como se sabe, uma parte teme que a ação do Banco Central de elevação da taxa de juros reduza o crescimento econômico; no BC, a preocupação que se tem é com o aumento dos gastos, que vive mascarado pelo crescimento da arrecadação.

O temor na primeira ala é que o Banco Central exagere no aperto e dê novo aumento das taxas de juros de 0,75 p.p. só porque fez uma elevação neste percentual e ainda divulgou uma ata muito dura.

— Ele deveria esperar um pouco para ver o resultado do aperto já dado para não ocorrer o efeito da água quente no cano — disse-me uma fonte do governo.

Esse efeito foi explicado pelo próprio presidente do BC, Henrique Meirelles, na época em que os juros caiam bem devagar, e o país estava crescendo pouco. Ele dizia que a água quente — ou seja, o aquecimento da economia — estava vindo pelo cano, porque há uma defasagem entre a política monetária e seu impacto na economia. Portanto, se os juros fossem reduzidos mais drasticamente, a retomada poderia ser exagerada. Pois bem, esse argumento agora está nas mentes dos que temem que o Banco Central possa não estar tendo a mesma sabedoria de esperar a água fria vindo pelo cano. Se aumentar o jato de água fria, isso pode derrubar a economia mais que o necessário para conter a inflação.

A inflação baixa e o crescimento forte são fundamentais para o projeto do presidente Lula de fazer seu sucessor. Ele considera que seu governo terá sido bem sucedido se fizer o sucessor. Portanto se jogará na campanha presidencial confiante de que sua popularidade, num bom ambiente macroeconômico, garantirá a vitória do escolhido; ou da escolhida.

Como Lula está de olho é em 2010, ele não quer escolher entre os vários aliados que estão em disputa nas capitais. Participará da campanha em São Paulo e São Bernardo. No Rio, segundo ouvi no governo, são "candidatos do presidente" tanto Marcelo Crivella, Jandira Feghali, Alessandro Molon e Eduardo Paes. Da mesma forma que ele não se assusta com a dianteira que, em Belo Horizonte, Jô Moraes está dando em Márcio Lacerda. No Rio Grande do Sul, a avaliação é de que quem for para o segundo turno com José Fogaça, seja Maria do Rosário, do PT, seja Manuela D’Ávila, do PCdoB, tem chance de ganhar. O que definiria o pêndulo da eleição municipal seria uma vitória em São Paulo.

Ainda que no governo tenha se escolhido essa avaliação de que "todos são governistas", a verdade é que, fora São Paulo, os candidatos do PT estão mal em várias das grandes capitais. E em São Paulo, numa disputa de segundo turno, Marta Suplicy enfrentará uma dura luta para se eleger contra Geraldo Alckmin se houver uma recomposição das forças entre PSDB e DEM.

Belo Horizonte é um curioso enigma político. Mostra que dois políticos populares, bem avaliados, com bom desempenho administrativo, mesmo quando se juntam, não conseguem alavancar um candidato desconhecido. A idéia de que um político popular elege até poste está sendo colocada em cheque. A favor de Lacerda, que até agora amarga um terceiro lugar, e contra Jô Moraes, que disparou na frente, há o tempo de televisão. Jô tem muito pouco tempo, e isso pode ser decisivo na eleição.

De qualquer maneira, se Lacerda perder, fica derrubada a teoria do poste, aumentando o risco de que o candidato do presidente Lula, mesmo num cenário econômico benigno, que mantenha em alta a popularidade do presidente, perca a eleição. O que tranqüiliza as hostes governistas é a impressão de que a oposição vai dividida para a eleição, e que o DEM vai se sair muito mal na eleição municipal, com chances — talvez — de fazer Salvador, e pouquíssima chance de manter o Rio de Janeiro.

A ministra Dilma Rousseff é considerada a primeira da fila para uma possível candidatura governista em 2010. Em parte, porque ela saiu de traço para oito pontos de preferência. Teme-se a sua inexperiência numa campanha política. Ela nunca participou de uma; e a campanha presidencial — o presidente Lula, que participou de cinco, bem sabe — é um duro embate. A avaliação feita no governo é de que há o desejo de ver uma mulher presidente, mas não se sabe se o preconceito não será determinante na hora da disputa.

O ano de 2010 já começou para a política, antes dele, tem apenas a janela de 2009 para que alguma reforma ande em Brasília.

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