quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A economia e a política dos banqueiros Serra e Lula

Carlos Alberto Sardenberg

Do ponto de vista econômico, a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil faz sentido.

No mercado concentrado, a Nossa Caixa não tinha muito futuro. Era um banco de varejo, de agências, mas sem o porte necessário para competir com os grandes. Por outro lado, também não era pequeno o suficiente para ser um banco especializado, um banco de nicho, focado num determinado mercado. Estava atravessado.

Para o Banco do Brasil, que reage ao crescimento dos grandes privados, também é um bom negócio. Amplia a atuação do BB no estado de São Paulo, ponto importante. Além disso, a Nossa Caixa vem com duas fontes de renda expressivas: a folha de pagamento do governo paulista, os programas do estado e os depósitos judiciais.

Em circunstâncias normais, a folha do governo paulista, por exemplo, teria de ser leiloada. Mas o governador Serra havia entregue à Nossa Caixa, que agora a leva para o BB.

A questão política
O que nos leva para o lado político da história.

O governador Serra sabia que a coisa mais sensata a fazer era vender a Nossa Caixa e usar o dinheiro para investimentos, para construir outros ativos ou mesmo para reduzir endividamento e diminuir o pagamento de juros.

Como vender?
O normal seria uma privatização. Prepara-se o banco com avaliações e consultorias, define-se um preço mínimo e abre o leilão. Possivelmente, a Nossa Caixa cairia nas mãos do Bradesco, Itaú Unibanco ou Santander – e possivelmente por um preço
maior do que foi pago pelo BB.

O BB até poderia entrar na licitação, com as novas regras, mas dificilmente teria a flexibilidade dos privados para entrar na disputa.

Mas a privatização teria forte oposição do sindicato de bancários, controlados pelo PT ou mesmo do próprio PT, que ainda espetariam na conta de Serra as prováveis demissões e fechamento de agências feitas pelo comprador privado.

Agora, como os sindicatos e o PT podem reclamar da venda para o BB, que é do governo do PT? E se o BB entender que precisa demitir e fechar agências, a conta é de Lula, não de Serra. O governador trocou o leilão por um problema político evitado.

Fica a questão: o estado, o contribuinte paulista, teria obtido mais com a venda em leilão?

É possível, mas como nunca se poderá provar…

A versão de Lula
E Lula? Vai acabar fazendo discurso para dizer que está turbinando o BB para enfrentar a banca privada.

Mantega disse que a crise recente mostrou como é importantes ter grandes bancos públicos para intervir no mercado.

É mesmo? O governo americano não tinha nenhum bancão e interveio muito mais. Idem para o governo da Inglaterra.

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