terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sarney não apoiará Ulysses


Coisas da Política - Jornal do Brasil - 23/3/1989

Por Ricardo Noblat:

O Presidente José Sarney decidiu negar seu apoio à pretensão do Deputado Ulysses Guimarães de vir a sucedê-lo no cargo a partir de março do próximo ano.

Foi o próprio Sarney quem revelou isso ao Governador Moreira Franco, do Rio de Janeiro. O presidente conversou com Moreira na última sexta-feira quando esteve no Rio para a solenidade de formatura de 154 guardas-marinhas. O governador não se surpreendeu com o que ouviu.

Sarney não forneceu as razões que o levaram a tomar a decisão. Elas poderão ser encontradas no relacionamento pontilhado de conflitos que ele e Ulysses mantiveram ao longo dos últimos quatro anos.

"Ulysses me estragou a vida", desabafou o presidente, irritado, logo após as eleições municipais do ano passado. "O PMDB não assume a posição de quem é governo. Ulysses nunca quis se comprometer com a proposta de pacto social."

Na ocasião, Sarney foi mais longe: "Eu não tenho mais nada a perder".

Depois da convenção nacional do PMDB encerrada no último domingo dia 12, o presidente perdeu o apoio formal do partido, que preferiu adotar uma posição de independência em relação ao governo dele.

Na véspera do dia da eleição do novo Diretório do PMDB, Sarney ainda disparou um telefonema para Ulysses, com quem não falava há algumas semanas. Animou-se com as notícias que davam conta do crescimento dentro do partido da candidatura do Governador Waldir Pires. Desde então os dois [Sarney e Ulysses] não mais se falaram.

Ulysses fez e confirmou sua opção preferencial pela aliança com os setores de esquerda do PMDB. Sarney liberou o Ministro Íris Resende para que assumisse a condição de aspirante a candidato do partido à sucessão presidencial. Íris assumiu. Ao liberá-lo, [Sarney] já decidira largar Ulysses de mão.

Íris se reuniu nas últimas 24 horas com os governadores da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará. Não pediu o apoio de nenhum deles para sair candidato pelo PMDB. Ocupou-se em justificar o lançamento do seu nome. Lembrou que é um político que jamais perdeu uma eleição. Citou a boa imagem que acha que tem como Ministro da Agricultura.

Defendeu o governo que integra. Argumentou que Sarney assumiu o cargo para cumprir uma tarefa, essencialmente, política: a de promover a redemocratização do país.

Íris observou que a tarefa foi cumprida: os partidos comunistas foram legalizados, as restrições à liberdade de opiniões suspensas, a eleição direta para Presidente da República restabelecida e uma nova Constituição promulgada [em 1988].

A crise econômica que dificulta o crescimento do país foi gerada no governo anterior, desculpou-se o ministro. Sarney tudo tem feito para conjurá-la. Com o Plano Verão, poderá legar ao sucessor uma inflação sob controle.

O discurso franco, direto de Íris causou boa impressão junto aos três governadores. "Pelo menos, não é um discurso ambíguo, como tantos que tenho ouvido” , comentou o Governador Geraldo Melo, do Rio Grande do Norte. Mas só um deles — o da Paraíba — admitiu, desde logo, aderir ao nome do ministro.

A decisão de Sarney de não apoiar Ulysses, e a dos moderados do PMDB de sustentarem a candidatura de Íris, poderão servir para aparar as diferenças que impedem, até agora, a união das correntes que somaram 62% dos votos da convenção do PMDB em torno de um nome para candidato a presidente. Ou elas encontram um nome ou perderão a indicação do candidato.

Ulysses ainda poderá vir a ser esse nome. O que parece cada dia mais difícil é que o próximo presidente atenda pelo nome de Ulysses.

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