Ontem, o presidente Lula reuniu o Conselho Político e distribuiu pancadas a torto e a direito.
Relatos de participantes do encontro dão conta da irritação do presidente da República com o Congresso.
Segundo a maioria dos participantes, o presidente Lula “exige a aprovação do orçamento”.
Uma primeira leitura nos levaria à conclusão de que o presidente estaria interferindo indevidamente nas atividades do Poder Legislativo.
Duas semanas atrás, o presidente reclamou que o ministro Marco Aurélio Melo, do STF, estaria interferindo nos trabalhos do Poder Executivo.
Mas uma observação mais atenta pode ajudar a entender o atual momento político.
Afinal, o que disse o presidente da República?
Primeiro, que acabou a fase de distribuição de cargos e que está na hora de aprovar os temas de interesse do governo.
O presidente está coberto de razão. Para compor uma base aliada que conta com cerca de 380 deputados, o presidente negociou tudo e qualquer coisa.
Esquartejou a administração pública, subdividiu ministérios, criou secretarias absolutamente desnecessárias, entregou as jóias da coroa da máquina pública aos partidos aliados, permitiu o aparelhamento de ministérios e departamentos.
Cedeu à chantagem do baixo clero da Câmara e do Senado, acomodou companheiros inexperientes, quando não francamente incompetentes na administração pública brasileira.
Liberou emendas parlamentares para ONGs, fundações de parentes, pontes que ligam o nada a lugar nenhum.
Atendeu a tudo e a todos. Agora quer colher o que plantou.
O presidente Lula quer que a base aliada se comporte como base aliada.
Que vote os projetos de interesse do governo. Simples assim.
Segundo, o presidente declarou que é inaceitável o governo ter maioria e ficar a reboque da oposição.
Mais uma vez, ponto para o presidente Lula. Quem tem maioria, põe sua maioria no plenário e vota.
O que não pode acontecer é o governo permitir a rebelião de sua base e depois cobrar patriotismo da oposição.
Quem tem que votar com o governo é a base aliada, e não a oposição.
Nos palanques da vida, o presidente Lula pode esbravejar contra a oposição. É da vida política.
Mas em reunião com seu Conselho Político, o presidente sabe direitinho a quem endereçar sua bronca, seus pitos, seus puxões de orelha.
Claro que a atuação de seus articuladores políticos no Congresso continua muito ineficiente.
O ministro José Múcio é deputado e não lidera senadores. Os senadores da base aliada votam como querem, ausentam-se das votações para derrubar o quórum...
O senador Romero Jucá é acusado de só pensar no PMDB e a senadora Roseana Sarney, acusada de se ausentar nos momentos críticos.
Portanto, o presidente continua sozinho. Sem articuladores e à mercê da chantagem da base aliada.
Não surpreende a irritação do presidente Lula.
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