quarta-feira, 12 de março de 2008

Governo Lula precisa articular a base aliada

Ontem, o presidente Lula reuniu o Conselho Político e distribuiu pancadas a torto e a direito.

Relatos de participantes do encontro dão conta da irritação do presidente da República com o Congresso.

Segundo a maioria dos participantes, o presidente Lula “exige a aprovação do orçamento”.

Uma primeira leitura nos levaria à conclusão de que o presidente estaria interferindo indevidamente nas atividades do Poder Legislativo.

Duas semanas atrás, o presidente reclamou que o ministro Marco Aurélio Melo, do STF, estaria interferindo nos trabalhos do Poder Executivo.

Mas uma observação mais atenta pode ajudar a entender o atual momento político.

Afinal, o que disse o presidente da República?

Primeiro, que acabou a fase de distribuição de cargos e que está na hora de aprovar os temas de interesse do governo.

O presidente está coberto de razão. Para compor uma base aliada que conta com cerca de 380 deputados, o presidente negociou tudo e qualquer coisa.

Esquartejou a administração pública, subdividiu ministérios, criou secretarias absolutamente desnecessárias, entregou as jóias da coroa da máquina pública aos partidos aliados, permitiu o aparelhamento de ministérios e departamentos.

Cedeu à chantagem do baixo clero da Câmara e do Senado, acomodou companheiros inexperientes, quando não francamente incompetentes na administração pública brasileira.

Liberou emendas parlamentares para ONGs, fundações de parentes, pontes que ligam o nada a lugar nenhum.

Atendeu a tudo e a todos. Agora quer colher o que plantou.

O presidente Lula quer que a base aliada se comporte como base aliada.

Que vote os projetos de interesse do governo. Simples assim.

Segundo, o presidente declarou que é inaceitável o governo ter maioria e ficar a reboque da oposição.

Mais uma vez, ponto para o presidente Lula. Quem tem maioria, põe sua maioria no plenário e vota.

O que não pode acontecer é o governo permitir a rebelião de sua base e depois cobrar patriotismo da oposição.

Quem tem que votar com o governo é a base aliada, e não a oposição.

Nos palanques da vida, o presidente Lula pode esbravejar contra a oposição. É da vida política.

Mas em reunião com seu Conselho Político, o presidente sabe direitinho a quem endereçar sua bronca, seus pitos, seus puxões de orelha.

Claro que a atuação de seus articuladores políticos no Congresso continua muito ineficiente.

O ministro José Múcio é deputado e não lidera senadores. Os senadores da base aliada votam como querem, ausentam-se das votações para derrubar o quórum...

O senador Romero Jucá é acusado de só pensar no PMDB e a senadora Roseana Sarney, acusada de se ausentar nos momentos críticos.

Portanto, o presidente continua sozinho. Sem articuladores e à mercê da chantagem da base aliada.

Não surpreende a irritação do presidente Lula.

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