sábado, 24 de outubro de 2009
Crise de 1929, oitenta anos depois
Marcio Pochmann *
Neste mês de outubro, mais precisamente hoje, dia 24, registra-se 80 anos de ocorrência da mais grave crise do capitalismo de todo o século 20. O capitalismo que emergiu após a grande crise de 1929 jamais foi o mesmo. Por um lado, o radical abandono dos pressupostos liberais de condução das políticas econômicas e sociais. Diante da clara incapacidade da economia de mercado andar por si mesma, sem o aporte, a vigilância e a politização das forças extramercados, tornou-se evidente a ascensão da mão visível do Estado. Para as nações mais industrializadas, a saída da crise foi longa e diferenciada. Mas na maioria das vezes, somente a militarização da economia se mostrou suficientemente eficaz para superar o nível de produção verificado em 1929 (Alemanha, Itália, Japão, EUA, por exemplo). Também as reformas regulatórias sobre as estruturas de mercado (bancária-financeira e oligopólios em geral) contribuíram para redistribuir o excedente econômico gerado, bem como permitir que parcela significativa da população passasse a viver sem depender de sua inserção no mercado de trabalho (inatividade até os 16 anos de idade e garantia de renda a desempregados, idosos, doentes e portadores de deficiências físicas e mentais por meio de aposentaria e pensões). Simultaneamente ao fracasso das políticas liberais no enfrentamento da crise de 1929, assistiu-se ao sucesso da economia russa, por esta ter seguido crescendo continuamente. Enquanto o produto industrial dos Estados Unidos acumulava 38% de perda no ano de 1938 em relação a 1929, a produção industrial russa era 4,8 vezes maior no mesmo período de tempo.
Por outro lado, a redefinição de nova centralidade dá dinâmica ao mundo. Os sinais crescentes da decadência do Reino Unido em manter o velho padrão de hegemonia mundial mantiveram por mais tempo aberta a temporada de guerras pelo restabelecimento de uma nova liderança no centro capitalista: Alemanha ou EUA. Somente com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) os EUA assumem, de fato, a posição de centro dinâmico mundial, tendo no padrão monetário (ouro-dólar) o reflexo direto da inquestionável dominação econômica, militar, tecnológica e ideológica. Salvo pelo peso crescente do polo soviético, a hegemonia estadunidense não foi unívoca. Frente ao declínio relativo da Europa Ocidental, a antiga periferia do mundo organizado pelo Reino Unido sofreu forte transformação. Até então, o contingente de 2/3 da população mundial (1,4 bilhão de pessoas) associado ao desempenho de economias primário-exportadoras tinha nos preços das matérias-primas estabelecidas na bolsa de valores dos países ricos uma das poucas possibilidades internas de ascensão socioeconômica. A bipolaridade mundial que deu lugar no contexto da guerra-fria (1947-1991) descortinou novas oportunidades aos países submetidos à condição do subdesenvolvimento. Alguns poucos países, como a Argentina, Brasil, México, África do Sul, Coreia do Sul, China e Índia, avançaram consideravelmente nos seus processos nacionais de industrialização, com exitosos resultados em termos econômicos, nem sempre acompanhados do desenvolvimento social.
Tudo isso, contudo, sofreu forte indefinição desde a queda do muro de Berlim, quando os EUA ascenderam à condição de unipolaridade mundial. O avanço da globalização financeira fortalecida pela hegemonia do pensamento econômico único do neoliberalismo impôs retrocessos em vários países da periferia capitalista.
Países como o Brasil, que alcançaram o posto de oitava economia do mundo na década de 1980, retroagiram no tempo para a 14ª colocação. Ao mesmo tempo, as políticas governamentais de revisão no papel do Estado facilitaram a convergência de monopolização dos mercados por meio das grandes corporações transnacionais. Atualmente, somente 500 grandes empresas respondem por quase a metade do Produto Interno do mundo, o que as tornaram muito grandes para quebrarem, o que seria natural para o funcionamento livre das forças de mercado.
Como a crise internacional de 2008 demonstrou, o livre mercado não existe mais. A ultramonopolização privada atual está por exigir o aparecimento do superestado, capaz de fazer frente aos frequentes riscos de quebra da grande empresa e que podem levar à bancarrota de um país, quando não a uma crise internacional. Ao mesmo tempo, cabe ao superestado o desenho de novas políticas que possibilitem a reinvenção do mercado, especialmente para as micro e pequenas empresas, que se encontram, na maioria das vezes, completamente marginalizadas do acesso aos mercados. Não obstante os avanços governamentais recentes no fortalecimento dos pequenos negócios, que respondem por mais de 90% dos estabelecimentos econômicos brasileiros em termos de compras governamentais (Lei Geral da Micro e Pequena Empresa), organização empresarial (Lei do Micro Empreendedor Individual), crédito, entre outros, cabem ainda ações mais amplas. Não há razão técnica que justifique um país de dimensão continental e com quase 200 milhões de habitantes ter menos de 180 bancos. Países como EUA e Alemanha possuem, respectivamente, mais de 8 mil e 3 mil bancos. Seria perfeitamente factível ao Brasil possuir um banco para micro e pequeno negócio, conforme a experiência exitosa japonesa, bem como a presença de uma empresa pública de desenvolvimento tecnológico e assistência técnica específica ao andar de baixo da economia nacional.
Tudo isso é possível e se torna mais urgente frente à reestruturação que passa o mundo em virtude da atual crise internacional. O aumento da capacidade ociosa nas grandes corporações mundiais e o avanço para um mundo multipolar -- com os sinais de decadência relativa dos EUA - exigem não apenas um novo planejamento estratégico para o longo prazo, mas ações estruturantes a partir do êxito das políticas anticíclicas adotadas desde outubro de 2008 no Brasil.
Marcio Pochmann é professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas. Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O artigo foi publicado no jornal Valor Econômico.
Neste mês de outubro, mais precisamente hoje, dia 24, registra-se 80 anos de ocorrência da mais grave crise do capitalismo de todo o século 20. O capitalismo que emergiu após a grande crise de 1929 jamais foi o mesmo. Por um lado, o radical abandono dos pressupostos liberais de condução das políticas econômicas e sociais. Diante da clara incapacidade da economia de mercado andar por si mesma, sem o aporte, a vigilância e a politização das forças extramercados, tornou-se evidente a ascensão da mão visível do Estado. Para as nações mais industrializadas, a saída da crise foi longa e diferenciada. Mas na maioria das vezes, somente a militarização da economia se mostrou suficientemente eficaz para superar o nível de produção verificado em 1929 (Alemanha, Itália, Japão, EUA, por exemplo). Também as reformas regulatórias sobre as estruturas de mercado (bancária-financeira e oligopólios em geral) contribuíram para redistribuir o excedente econômico gerado, bem como permitir que parcela significativa da população passasse a viver sem depender de sua inserção no mercado de trabalho (inatividade até os 16 anos de idade e garantia de renda a desempregados, idosos, doentes e portadores de deficiências físicas e mentais por meio de aposentaria e pensões). Simultaneamente ao fracasso das políticas liberais no enfrentamento da crise de 1929, assistiu-se ao sucesso da economia russa, por esta ter seguido crescendo continuamente. Enquanto o produto industrial dos Estados Unidos acumulava 38% de perda no ano de 1938 em relação a 1929, a produção industrial russa era 4,8 vezes maior no mesmo período de tempo.
Por outro lado, a redefinição de nova centralidade dá dinâmica ao mundo. Os sinais crescentes da decadência do Reino Unido em manter o velho padrão de hegemonia mundial mantiveram por mais tempo aberta a temporada de guerras pelo restabelecimento de uma nova liderança no centro capitalista: Alemanha ou EUA. Somente com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) os EUA assumem, de fato, a posição de centro dinâmico mundial, tendo no padrão monetário (ouro-dólar) o reflexo direto da inquestionável dominação econômica, militar, tecnológica e ideológica. Salvo pelo peso crescente do polo soviético, a hegemonia estadunidense não foi unívoca. Frente ao declínio relativo da Europa Ocidental, a antiga periferia do mundo organizado pelo Reino Unido sofreu forte transformação. Até então, o contingente de 2/3 da população mundial (1,4 bilhão de pessoas) associado ao desempenho de economias primário-exportadoras tinha nos preços das matérias-primas estabelecidas na bolsa de valores dos países ricos uma das poucas possibilidades internas de ascensão socioeconômica. A bipolaridade mundial que deu lugar no contexto da guerra-fria (1947-1991) descortinou novas oportunidades aos países submetidos à condição do subdesenvolvimento. Alguns poucos países, como a Argentina, Brasil, México, África do Sul, Coreia do Sul, China e Índia, avançaram consideravelmente nos seus processos nacionais de industrialização, com exitosos resultados em termos econômicos, nem sempre acompanhados do desenvolvimento social.
Tudo isso, contudo, sofreu forte indefinição desde a queda do muro de Berlim, quando os EUA ascenderam à condição de unipolaridade mundial. O avanço da globalização financeira fortalecida pela hegemonia do pensamento econômico único do neoliberalismo impôs retrocessos em vários países da periferia capitalista.
Países como o Brasil, que alcançaram o posto de oitava economia do mundo na década de 1980, retroagiram no tempo para a 14ª colocação. Ao mesmo tempo, as políticas governamentais de revisão no papel do Estado facilitaram a convergência de monopolização dos mercados por meio das grandes corporações transnacionais. Atualmente, somente 500 grandes empresas respondem por quase a metade do Produto Interno do mundo, o que as tornaram muito grandes para quebrarem, o que seria natural para o funcionamento livre das forças de mercado.
Como a crise internacional de 2008 demonstrou, o livre mercado não existe mais. A ultramonopolização privada atual está por exigir o aparecimento do superestado, capaz de fazer frente aos frequentes riscos de quebra da grande empresa e que podem levar à bancarrota de um país, quando não a uma crise internacional. Ao mesmo tempo, cabe ao superestado o desenho de novas políticas que possibilitem a reinvenção do mercado, especialmente para as micro e pequenas empresas, que se encontram, na maioria das vezes, completamente marginalizadas do acesso aos mercados. Não obstante os avanços governamentais recentes no fortalecimento dos pequenos negócios, que respondem por mais de 90% dos estabelecimentos econômicos brasileiros em termos de compras governamentais (Lei Geral da Micro e Pequena Empresa), organização empresarial (Lei do Micro Empreendedor Individual), crédito, entre outros, cabem ainda ações mais amplas. Não há razão técnica que justifique um país de dimensão continental e com quase 200 milhões de habitantes ter menos de 180 bancos. Países como EUA e Alemanha possuem, respectivamente, mais de 8 mil e 3 mil bancos. Seria perfeitamente factível ao Brasil possuir um banco para micro e pequeno negócio, conforme a experiência exitosa japonesa, bem como a presença de uma empresa pública de desenvolvimento tecnológico e assistência técnica específica ao andar de baixo da economia nacional.
Tudo isso é possível e se torna mais urgente frente à reestruturação que passa o mundo em virtude da atual crise internacional. O aumento da capacidade ociosa nas grandes corporações mundiais e o avanço para um mundo multipolar -- com os sinais de decadência relativa dos EUA - exigem não apenas um novo planejamento estratégico para o longo prazo, mas ações estruturantes a partir do êxito das políticas anticíclicas adotadas desde outubro de 2008 no Brasil.
Marcio Pochmann é professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas. Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O artigo foi publicado no jornal Valor Econômico.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Brasil: um país maduro (4)
Com informações do Bom Dia Brasil
O Brasil com mais de 60 tem inúmeras oportunidades de bons negócios. É um tipo de consumidor especial, fiel a marcas, disposto a fazer compras sempre nos mesmos lugares e com dinheiro no bolso.
Se eles deixaram os velhos clichês sobre a velhice de lado, a publicidade acompanha. Uma agência resolveu apostar em modelos de terceira idade.
“Me senti uma rainha por um dia”, comenta uma das “novas” modelos.
Senhores e senhoras empolgados com a descoberta de uma nova profissão. “Fiquei entusiasmado e resolvi fazer um teste. Ronaldo Fraga ficou meu amigo”, conta um dos modelos.
No início do ano, foram convidados para fazer um desfile da grife do estilista Ronaldo Fraga. Um momento emocionante de reverência: “Tudo requer uma certa experiência, uma certa liberdade. O ambiente estava muito gostoso, legal, nos deixou À vontade”, conta um idoso.
Eles se portam com mais distinção, ponderam antes de agir. Mas são firmes. Se há mais tempo e disposição para aproveitar a vida, por que não aproveitar o mundo? Jovens de idade avançada não perdem um minuto do resto de suas vidas. Pelo menos quatro vezes ao ano, a aposentada Ana Fraraccio vai a uma agência organizar roteiros de viagem para fazer com as amigas: “Tem uma programação boa, estou indo”.
A agente de viagens Marília Figueiredo é agente há 22 anos. Especialista em vender pacotes para esse público, diz que mostrar confiança é fundamental para os passageiros com mais de 60 anos: “O principal é a segurança, tanto na empresa em que estão comprando e o que compram também”.
Os idosos representam 50% do faturamento da agência. Para o diretor comercial, Salomão Barros Costa, que está há 35 anos no mercado, é um bom negócio: “É um povo maravilhoso, uma gente fácil de lidar, pessoas educadas, divertidas. A inadimplência é zero”.
Os prestadores de serviço, a indústria e o comércio já perceberam. O chamado mercado maduro tem enorme potencial de negócios: representa 10,5% da população brasileira. São chefes de família de 25% dos domicílios do país, quase 20 milhões de pessoas que precisam de serviços e produtos diferenciados. Um cliente que está disposto a gastar com responsabilidade.
Segundo uma pesquisa de perfis e hábitos de consumo do programa de pesquisas do varejo da faculdade de administração da USP, uma vez satisfeitos com a loja, os idosos voltam sempre: 78% visitam supermercados pelo menos uma vez por semana.
“A relação com os funcionários, com as pessoas que lá estão e que o recepcionam de uma maneira que ele considera calorosa ou aconchegante”, avalia o presidente do PROVAR Claudio Felisoni de Araújo.
A maturidade vem acompanhada de exigências. A maior delas é por qualidade. Conservador ou moderno, questionador ou festeiro, o novo idoso está provocando mudanças nos produtos e, principalmente, no atendimento.
Em várias atividades é possível desenvolver um projeto diferenciado, específico para os idosos, como em uma academia de ginástica. A aula foi feita para eles. Alguns profissionais já entenderam que este é um grande filão.
A professora de Educação Física Patrícia Albertini é especialista na fisiologia do exercício, na saúde, na doença, no envelhecimento. É uma espécie de anjo da guarda da turma. “Para trabalhar com idoso, tem que ter o dom, amor, paixão. Se não tiver, não vai”, diz.
Com a ajuda de Patrícia, eles desafiam os limites do corpo de forma saudável.
A aposentada Zilda Chiavone teve um derrame. Nem parece. Ela se emociona com a própria recuperação: “Fiquei um mês fora. Voltei. Exercício traz autoestima, você tem uma qualidade de vida muito melhor, tem condições de frequentar lugares onde jovens frequentam”
A aposentada Francis Medina da Silveira tem 82 anos e uma vitalidade invejável: “Elas dão aula para a gente raciocinar. Você se sente bem, maravilhosa”.
O Brasil com mais de 60 tem inúmeras oportunidades de bons negócios. É um tipo de consumidor especial, fiel a marcas, disposto a fazer compras sempre nos mesmos lugares e com dinheiro no bolso.
Se eles deixaram os velhos clichês sobre a velhice de lado, a publicidade acompanha. Uma agência resolveu apostar em modelos de terceira idade.
“Me senti uma rainha por um dia”, comenta uma das “novas” modelos.
Senhores e senhoras empolgados com a descoberta de uma nova profissão. “Fiquei entusiasmado e resolvi fazer um teste. Ronaldo Fraga ficou meu amigo”, conta um dos modelos.
No início do ano, foram convidados para fazer um desfile da grife do estilista Ronaldo Fraga. Um momento emocionante de reverência: “Tudo requer uma certa experiência, uma certa liberdade. O ambiente estava muito gostoso, legal, nos deixou À vontade”, conta um idoso.
Eles se portam com mais distinção, ponderam antes de agir. Mas são firmes. Se há mais tempo e disposição para aproveitar a vida, por que não aproveitar o mundo? Jovens de idade avançada não perdem um minuto do resto de suas vidas. Pelo menos quatro vezes ao ano, a aposentada Ana Fraraccio vai a uma agência organizar roteiros de viagem para fazer com as amigas: “Tem uma programação boa, estou indo”.
A agente de viagens Marília Figueiredo é agente há 22 anos. Especialista em vender pacotes para esse público, diz que mostrar confiança é fundamental para os passageiros com mais de 60 anos: “O principal é a segurança, tanto na empresa em que estão comprando e o que compram também”.
Os idosos representam 50% do faturamento da agência. Para o diretor comercial, Salomão Barros Costa, que está há 35 anos no mercado, é um bom negócio: “É um povo maravilhoso, uma gente fácil de lidar, pessoas educadas, divertidas. A inadimplência é zero”.
Os prestadores de serviço, a indústria e o comércio já perceberam. O chamado mercado maduro tem enorme potencial de negócios: representa 10,5% da população brasileira. São chefes de família de 25% dos domicílios do país, quase 20 milhões de pessoas que precisam de serviços e produtos diferenciados. Um cliente que está disposto a gastar com responsabilidade.
Segundo uma pesquisa de perfis e hábitos de consumo do programa de pesquisas do varejo da faculdade de administração da USP, uma vez satisfeitos com a loja, os idosos voltam sempre: 78% visitam supermercados pelo menos uma vez por semana.
“A relação com os funcionários, com as pessoas que lá estão e que o recepcionam de uma maneira que ele considera calorosa ou aconchegante”, avalia o presidente do PROVAR Claudio Felisoni de Araújo.
A maturidade vem acompanhada de exigências. A maior delas é por qualidade. Conservador ou moderno, questionador ou festeiro, o novo idoso está provocando mudanças nos produtos e, principalmente, no atendimento.
Em várias atividades é possível desenvolver um projeto diferenciado, específico para os idosos, como em uma academia de ginástica. A aula foi feita para eles. Alguns profissionais já entenderam que este é um grande filão.
A professora de Educação Física Patrícia Albertini é especialista na fisiologia do exercício, na saúde, na doença, no envelhecimento. É uma espécie de anjo da guarda da turma. “Para trabalhar com idoso, tem que ter o dom, amor, paixão. Se não tiver, não vai”, diz.
Com a ajuda de Patrícia, eles desafiam os limites do corpo de forma saudável.
A aposentada Zilda Chiavone teve um derrame. Nem parece. Ela se emociona com a própria recuperação: “Fiquei um mês fora. Voltei. Exercício traz autoestima, você tem uma qualidade de vida muito melhor, tem condições de frequentar lugares onde jovens frequentam”
A aposentada Francis Medina da Silveira tem 82 anos e uma vitalidade invejável: “Elas dão aula para a gente raciocinar. Você se sente bem, maravilhosa”.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Brasil: um país maduro (3)
Com informações do Bom Dia Brasil de hoje
Otimismo, disposição para se divertir, namorar, recomeçar a vida. Os novos velhos estão revolucionando a ideia de inatividade.
“Tai” é o caminho, “chi”, a energia, “chuan”, o movimento. Os gestos lentos revelam que a silhueta ganhou novos contornos com o tempo. Os passos seguem o ritmo de corpos que já atravessaram boa parte do caminho. Esse exercício paciente é fonte de vida.
A praia é só um atrativo - e que atrativo - do bairro com maior concentração de idosos do país: 40 mil deles escolheram Copacabana para morar.
Em relação aos idosos, Copacabana é quase uma sociedade oriental. De cada dez pessoas que vivem aqui, três têm mais de 65 anos. Um índice igual ao do Japão e o dobro do restante do Brasil. Copacabana é a capital brasileira dos cabelos brancos.
O motivo é o mesmo que levou 81% da população brasileira de idosos a se concentrar em áreas urbanas: a proximidade dos filhos, dos serviços de saúde e de outras facilidades para o dia a dia. Como os filhos já cresceram, há apartamentos menores, mais práticos e baratos de manter.
“Aqui nós temos infraestrutura para as pessoas da nossa idade. Temos tudo: temos hospital, tudo que você quer. “Tem pessoas que pagam milhares de dólares para tomar banho em Copacabana, eu tomo todo dia de graça. Que tal? É bom ou não é bom?”, elogia um senhor.
Se envelhecer em Copacabana, ao som do mar e à luz do céu, torna mais suaves as limitações da velhice, ficar velho, claro, não é nenhum parque de diversões. Uma pesquisa feita com idosos de todo o Brasil mostra que a maioria dos idosos (80%) se diz realizada na vida. E não se sente velha.
“Idoso é sempre o outro, isso porque eles renegam, repudiam a imagem que a sociedade faz do idoso”, explica o coordenador da pesquisa José Carlos Libânio
“Faço tudo que a minha filha faz. Faço ginástica, eu canto, eu ando. Tudo que uma jovem faz”, compara uma senhora.
Uma das maiores preocupações é a solidão, que atinge principalmente as mulheres. Com filhos criados...
“Cada qual vai, soltando os laços, vão para uma certa distância e você fica querendo, mas eles têm que viver a vida deles e nós, a nossa. Se você correr atrás, consegue envelhecer com qualidade de vida e alegria, que é isso que importa. Mas não pode é parar. Se por acaso faltar o chão, vou para a academia, fazer ginástica, ioga. Se parar, morre. Que nem bicicleta: se não pedala, vai virar”, analisa a advogada Julita Mourão, de 72 anos.
A aposentada Marly Figueira da Costa decidiu voltar a estudar piano depois de viúva.
De acordo com a pesquisa, as mulheres envelhecem melhor do que os homens.
“As mulheres dão de dez porque não só são mais capazes de manter amigas e amigos que fizeram ao longo da vida, porque lidam com o afeto sempre muito melhor do que os homens, como têm mais capacidade de fazer novos amigos”, compara o sociólogo José Carlos Libânio.
Marly confessa: um namorado não faria nada mal: “Ainda estou em uma busca”.
“Manter a vida sexual ativa apesar do avanço da idade é um indicador de saúde. Elas estão interessadas porque se cuidam, a saúde delas é melhor do que foi a saúde das sexagenárias de algumas décadas atrás”, compara a psiquiatra Carmita Abdo.
Luis resolveu aprender artes marciais. Fernando, caminha na praia, faz trabalhos comunitários. Os dois concordam: o sexo não é o mesmo da juventude, mas sempre dá para entrar em campo e mostrar algum tipo de jogo.
“Não é, naturalmente, aquele dos 30, 40 anos. Mas, está de acordo com a idade. É bom”, avalia Luiz.
“Sem dúvida, o impacto do advento de medicamentos que favorecem a ereção foi muito positivo, porque os homens e as mulheres recuperaram a vida sexual que estava interrompida pela dificuldade de ereção desse homem, que levava a um grande constrangimento na intimidade com sua parceira”, comenta a psiquiatra Carmita Abdo.
“O otimismo é essencial. Pessimismo não faz parte do meu dicionário de vida”, garante Fernando Polônia, da Associação Comercial de Copacabana.
Otimismo, bom astral, energia, cada um chama de um jeito, mas gostar da vida é o melhor ingrediente da fórmula.
Otimismo, disposição para se divertir, namorar, recomeçar a vida. Os novos velhos estão revolucionando a ideia de inatividade.
“Tai” é o caminho, “chi”, a energia, “chuan”, o movimento. Os gestos lentos revelam que a silhueta ganhou novos contornos com o tempo. Os passos seguem o ritmo de corpos que já atravessaram boa parte do caminho. Esse exercício paciente é fonte de vida.
A praia é só um atrativo - e que atrativo - do bairro com maior concentração de idosos do país: 40 mil deles escolheram Copacabana para morar.
Em relação aos idosos, Copacabana é quase uma sociedade oriental. De cada dez pessoas que vivem aqui, três têm mais de 65 anos. Um índice igual ao do Japão e o dobro do restante do Brasil. Copacabana é a capital brasileira dos cabelos brancos.
O motivo é o mesmo que levou 81% da população brasileira de idosos a se concentrar em áreas urbanas: a proximidade dos filhos, dos serviços de saúde e de outras facilidades para o dia a dia. Como os filhos já cresceram, há apartamentos menores, mais práticos e baratos de manter.
“Aqui nós temos infraestrutura para as pessoas da nossa idade. Temos tudo: temos hospital, tudo que você quer. “Tem pessoas que pagam milhares de dólares para tomar banho em Copacabana, eu tomo todo dia de graça. Que tal? É bom ou não é bom?”, elogia um senhor.
Se envelhecer em Copacabana, ao som do mar e à luz do céu, torna mais suaves as limitações da velhice, ficar velho, claro, não é nenhum parque de diversões. Uma pesquisa feita com idosos de todo o Brasil mostra que a maioria dos idosos (80%) se diz realizada na vida. E não se sente velha.
“Idoso é sempre o outro, isso porque eles renegam, repudiam a imagem que a sociedade faz do idoso”, explica o coordenador da pesquisa José Carlos Libânio
“Faço tudo que a minha filha faz. Faço ginástica, eu canto, eu ando. Tudo que uma jovem faz”, compara uma senhora.
Uma das maiores preocupações é a solidão, que atinge principalmente as mulheres. Com filhos criados...
“Cada qual vai, soltando os laços, vão para uma certa distância e você fica querendo, mas eles têm que viver a vida deles e nós, a nossa. Se você correr atrás, consegue envelhecer com qualidade de vida e alegria, que é isso que importa. Mas não pode é parar. Se por acaso faltar o chão, vou para a academia, fazer ginástica, ioga. Se parar, morre. Que nem bicicleta: se não pedala, vai virar”, analisa a advogada Julita Mourão, de 72 anos.
A aposentada Marly Figueira da Costa decidiu voltar a estudar piano depois de viúva.
De acordo com a pesquisa, as mulheres envelhecem melhor do que os homens.
“As mulheres dão de dez porque não só são mais capazes de manter amigas e amigos que fizeram ao longo da vida, porque lidam com o afeto sempre muito melhor do que os homens, como têm mais capacidade de fazer novos amigos”, compara o sociólogo José Carlos Libânio.
Marly confessa: um namorado não faria nada mal: “Ainda estou em uma busca”.
“Manter a vida sexual ativa apesar do avanço da idade é um indicador de saúde. Elas estão interessadas porque se cuidam, a saúde delas é melhor do que foi a saúde das sexagenárias de algumas décadas atrás”, compara a psiquiatra Carmita Abdo.
Luis resolveu aprender artes marciais. Fernando, caminha na praia, faz trabalhos comunitários. Os dois concordam: o sexo não é o mesmo da juventude, mas sempre dá para entrar em campo e mostrar algum tipo de jogo.
“Não é, naturalmente, aquele dos 30, 40 anos. Mas, está de acordo com a idade. É bom”, avalia Luiz.
“Sem dúvida, o impacto do advento de medicamentos que favorecem a ereção foi muito positivo, porque os homens e as mulheres recuperaram a vida sexual que estava interrompida pela dificuldade de ereção desse homem, que levava a um grande constrangimento na intimidade com sua parceira”, comenta a psiquiatra Carmita Abdo.
“O otimismo é essencial. Pessimismo não faz parte do meu dicionário de vida”, garante Fernando Polônia, da Associação Comercial de Copacabana.
Otimismo, bom astral, energia, cada um chama de um jeito, mas gostar da vida é o melhor ingrediente da fórmula.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Brasil: um país maduro (2)
Com informações do Bom Dia Brasil
O Brasil com mais de 60 anos é o grupo da população que mais cresce e que, em uma década, passou a ter importante participação no mercado de trabalho. São homens e mulheres que sustentam famílias e ainda têm muito talento e energia.
Quem foi que disse que a vida fica mais calma na terceira idade? Seu Geraldo segue desafiando o tempo. Aos 73 anos, está firme no batente. Educado, com cara de bom velhinho, ele conquistou a freguesia do supermercado.
“Ele é quem leva as minhas compras em casa. Toma um cafezinho, bate um papo”, conta uma cliente.
“É bom demais”, concorda Geraldo.
A rotina faz bem. Ele acorda todo dia às 5h e trabalha seis horas por dia, de segunda a sábado.
Quem frequenta as lojas da rede de supermercado percebe que entre os funcionários tem um ou outro com uma idade mais avançada. A ideia de contratar idosos surgiu 10 anos atrás, por causa de um cliente idoso que gostava de passear todas as tardes em uma das lojas e ficava ali perguntando: "O senhor foi bem atendido? Faltou alguma coisa?"
O gerente percebeu e resolveu contratar aquele senhor. Depois de 10 anos de trabalho esse cliente que virou funcionário não está mais no supermercado, mas a ideia que ele plantou, vingou.
Quem é calouro, nesta loja, tem que passar por Dona Neuza. Ela ensina aos mais jovens a arte de conquistar o cliente.
“Eu acho maravilhoso. Eu estava falando que ela é assim bonita porque trabalha e é ela que faz a vida dela. Ela não se deixa levar pela vida. Ela que conduz a vida”, elogia a administradora de empresas Silvia Romeiro.
Seu Antônio resolver mudar de rumo, depois de dois anos de chinelo e pijama: “Nesse período, minha cabeça estava horrível, porque a pessoa se sente inútil. Na medida em que você sai para trabalhar, mesmo que você tenha problemas, os problemas você deixa em casa”.
Assim, o aposentado aborrecido virou o melhor empacotador da loja: “Ganho exatamente o mesmo salário que os meninos, nem menos, nem mais. Eu faço o que eles fazem, nada mais justo”.
A multidão de cabelos brancos ganhou muito mais. Ganhou espaço no mercado. É só olhar os números. São mais de três milhões trabalhando.
“Estamos observando isso há uns seis, sete anos. O crescimento da parcela que tem 55, 60, 65 anos e até mais no mercado de trabalho, como empregado e também trabalhando por conta própria, como empreendedor, informal, às vezes trabalhando em atividades muito simples, mas uma atividade econômica efetiva”, informa o especialista em trabalho José Pastore, de 74 anos.
Não é à toa. Dos mais de 26 milhões de brasileiros aposentados, a maioria ganha mais que um salário-mínimo. O benefício médio é de R$ 638, em valores de julho deste ano. Maior até que a média dos salários dos trabalhadores da ativa.
É dos R$ 980 da aposentadoria de Dona Palmira e de Seu Orlando que nove pessoas, entre filhos e netos, vivem em Taboão da Serra, Grande São Paulo.
“A gente estica. Compra de terceira, em vez de comprar de segunda compra de terceira. Arroz de terceira, feijão de terceira, vai comprando mais baratinho para poder comer. E muito ovo”, descreve Palmira.
Só mesmo com bom humor para enfrentar horas na máquina de costura, todos os dias. Ou puxando uma carroça pelas ruas, como Seu Orlando, de 78 anos: “Peço para Deus me ajudar e vou embora. Tem dia que ganho R$ 5, R$ 10”
Os filhos, desempregados, sofrem.
“Você não sabe como a gente fica. Às vezes eu levanto cedo e saio andando, para ver se consigo um bico aqui outro ali”, diz uma filha do casal.
“Era para eles estarem sossegados e eu ali colocando tudo dentro de casa. É o que eu mais quero”, confessa uma filha do casal, aponta Manuel Vagner de Souza Machado.
O engenheiro Luiz Antonio Fadel afirma: estar na ativa aos 63 anos, numa multinacional, é um prêmio: “É muito mais do que eu poderia ter esperado. Em 1969, quando entrei nessa companhia, com certeza”.
Os colegas, de todas as idades, apóiam.
“Eu vejo nos olhos dessa pessoa o entusiasmo, o interesse e também a capacidade de conhecimento que é muito maior que nós”, elogia a secretária Marlene Vidot.
Idoso rouba emprego do jovem?
“Essa controvérsia é superada quando você tem uma taxa de crescimento robusta, o que não tem sido o nosso caso. Nós ficamos décadas com taxas de crescimento muito acanhadas”, comenta José Partore. “Tenho 74 anos, dou palestras nos Estados Unidos, no Brasil, na Europa. Vou até onde Deus me der vontade de fazer as coisas que eu gosto e também a condição de fazer as coisas que eu gosto. Dizem que quando uma pessoa faz o que gosta, não trabalha. É o meu caso. Isso é a minha vida”.
Entre os idosos, há os que voltam ao mercado de trabalho porque querem, para manter a cabeça ocupada e continuar produzindo, e há os que voltam a trabalhar por necessidade. Só que aí eles enfrentam um problema: como tudo evolui com muita rapidez muitas vezes o conhecimento daquela pessoa com mais idade já esta ultrapassado. É necessário fazer um curso, uma atualização,
“É um pessoal que sabe o que quer, que já tem vida construída. Não quer ficar pra trás”, comenta o instrutor Ilari Kozemekinas.
Com o conhecimento, eles esperam superar barreiras e conseguir uma colocação.
“O que pega é principalmente a idade. Quando falo a minha idade, já tem esse problema de imediato”, diz um aluno do curso.
Novo emprego, novo negócio, não importa. Eles já provaram que a tal terceira idade é uma idade ativa.
O Brasil com mais de 60 anos é o grupo da população que mais cresce e que, em uma década, passou a ter importante participação no mercado de trabalho. São homens e mulheres que sustentam famílias e ainda têm muito talento e energia.
Quem foi que disse que a vida fica mais calma na terceira idade? Seu Geraldo segue desafiando o tempo. Aos 73 anos, está firme no batente. Educado, com cara de bom velhinho, ele conquistou a freguesia do supermercado.
“Ele é quem leva as minhas compras em casa. Toma um cafezinho, bate um papo”, conta uma cliente.
“É bom demais”, concorda Geraldo.
A rotina faz bem. Ele acorda todo dia às 5h e trabalha seis horas por dia, de segunda a sábado.
Quem frequenta as lojas da rede de supermercado percebe que entre os funcionários tem um ou outro com uma idade mais avançada. A ideia de contratar idosos surgiu 10 anos atrás, por causa de um cliente idoso que gostava de passear todas as tardes em uma das lojas e ficava ali perguntando: "O senhor foi bem atendido? Faltou alguma coisa?"
O gerente percebeu e resolveu contratar aquele senhor. Depois de 10 anos de trabalho esse cliente que virou funcionário não está mais no supermercado, mas a ideia que ele plantou, vingou.
Quem é calouro, nesta loja, tem que passar por Dona Neuza. Ela ensina aos mais jovens a arte de conquistar o cliente.
“Eu acho maravilhoso. Eu estava falando que ela é assim bonita porque trabalha e é ela que faz a vida dela. Ela não se deixa levar pela vida. Ela que conduz a vida”, elogia a administradora de empresas Silvia Romeiro.
Seu Antônio resolver mudar de rumo, depois de dois anos de chinelo e pijama: “Nesse período, minha cabeça estava horrível, porque a pessoa se sente inútil. Na medida em que você sai para trabalhar, mesmo que você tenha problemas, os problemas você deixa em casa”.
Assim, o aposentado aborrecido virou o melhor empacotador da loja: “Ganho exatamente o mesmo salário que os meninos, nem menos, nem mais. Eu faço o que eles fazem, nada mais justo”.
A multidão de cabelos brancos ganhou muito mais. Ganhou espaço no mercado. É só olhar os números. São mais de três milhões trabalhando.
“Estamos observando isso há uns seis, sete anos. O crescimento da parcela que tem 55, 60, 65 anos e até mais no mercado de trabalho, como empregado e também trabalhando por conta própria, como empreendedor, informal, às vezes trabalhando em atividades muito simples, mas uma atividade econômica efetiva”, informa o especialista em trabalho José Pastore, de 74 anos.
Não é à toa. Dos mais de 26 milhões de brasileiros aposentados, a maioria ganha mais que um salário-mínimo. O benefício médio é de R$ 638, em valores de julho deste ano. Maior até que a média dos salários dos trabalhadores da ativa.
É dos R$ 980 da aposentadoria de Dona Palmira e de Seu Orlando que nove pessoas, entre filhos e netos, vivem em Taboão da Serra, Grande São Paulo.
“A gente estica. Compra de terceira, em vez de comprar de segunda compra de terceira. Arroz de terceira, feijão de terceira, vai comprando mais baratinho para poder comer. E muito ovo”, descreve Palmira.
Só mesmo com bom humor para enfrentar horas na máquina de costura, todos os dias. Ou puxando uma carroça pelas ruas, como Seu Orlando, de 78 anos: “Peço para Deus me ajudar e vou embora. Tem dia que ganho R$ 5, R$ 10”
Os filhos, desempregados, sofrem.
“Você não sabe como a gente fica. Às vezes eu levanto cedo e saio andando, para ver se consigo um bico aqui outro ali”, diz uma filha do casal.
“Era para eles estarem sossegados e eu ali colocando tudo dentro de casa. É o que eu mais quero”, confessa uma filha do casal, aponta Manuel Vagner de Souza Machado.
O engenheiro Luiz Antonio Fadel afirma: estar na ativa aos 63 anos, numa multinacional, é um prêmio: “É muito mais do que eu poderia ter esperado. Em 1969, quando entrei nessa companhia, com certeza”.
Os colegas, de todas as idades, apóiam.
“Eu vejo nos olhos dessa pessoa o entusiasmo, o interesse e também a capacidade de conhecimento que é muito maior que nós”, elogia a secretária Marlene Vidot.
Idoso rouba emprego do jovem?
“Essa controvérsia é superada quando você tem uma taxa de crescimento robusta, o que não tem sido o nosso caso. Nós ficamos décadas com taxas de crescimento muito acanhadas”, comenta José Partore. “Tenho 74 anos, dou palestras nos Estados Unidos, no Brasil, na Europa. Vou até onde Deus me der vontade de fazer as coisas que eu gosto e também a condição de fazer as coisas que eu gosto. Dizem que quando uma pessoa faz o que gosta, não trabalha. É o meu caso. Isso é a minha vida”.
Entre os idosos, há os que voltam ao mercado de trabalho porque querem, para manter a cabeça ocupada e continuar produzindo, e há os que voltam a trabalhar por necessidade. Só que aí eles enfrentam um problema: como tudo evolui com muita rapidez muitas vezes o conhecimento daquela pessoa com mais idade já esta ultrapassado. É necessário fazer um curso, uma atualização,
“É um pessoal que sabe o que quer, que já tem vida construída. Não quer ficar pra trás”, comenta o instrutor Ilari Kozemekinas.
Com o conhecimento, eles esperam superar barreiras e conseguir uma colocação.
“O que pega é principalmente a idade. Quando falo a minha idade, já tem esse problema de imediato”, diz um aluno do curso.
Novo emprego, novo negócio, não importa. Eles já provaram que a tal terceira idade é uma idade ativa.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Brasil: um país maduro
Com informações do Bom Dia Brasil, de hoje
O Brasil já foi um país do futuro, um país de jovens. Mudou. Está maduro, caminhando depressa para o envelhecimento e isso é boa notícia.
Hoje, 21 milhões de brasileiros são o que se convencionou chamar de idosos. Mas esses novos velhos deixaram de lado as convenções há muito tempo. É o que o Bom Dia vai mostrar, ao longo desta semana, em mais uma série especial: o Brasil com mais de 60. As mulheres têm um papel importante nessa transformação.
Tainá é uma brasileira recém-nascida. Saudável, forte, veio ao mundo com pouco mais de três quilos. “Meu grande sonho é que ela seja alguém na vida, estude”, diz a mãe de Tainá, Lessandra Alves.
Tainá é parte de uma transformação. No Brasil de hoje, as pessoas vivem mais. Na última década, a população cresceu 21%. Mas o número de pessoas com mais de 60 anos cresceu o dobro. O grupo com mais de 80 anos subiu ainda mais. Nos últimos 40 anos, a cada nova pesquisa, o Brasil aparece com uma nova cara.
De volta aos anos 1960, um outro país. Éramos 66 milhões de brasileiros. Quem nasceu nesta década, diziam as estatísticas, viveria no máximo até os 54,6 anos. Bebês como Tainá vão chegar aos 72 anos, pelo menos. Para os meninos, a expectativa cai 7,5 anos, principalmente por causa de mortes violentas - no trânsito ou no crime.
“O Brasil está deixando de ser um país de jovens e a população está envelhecendo. Isso se deve, em primeiro lugar, porque a partir dos anos 70 as mulheres estão tendo menos e menos filhos”, explica a pesquisadora do IPEA Ana Amélia Camarano.
Mudou a cabeça da mulher, mudaram as estatísticas.
“As mulheres passaram a se casar mais tarde, ou a estabelecer uma relação estável mais tarde, por volta dos 28 anos. Querem investir na sua carreira. Querem primeiro ganhar uma estabilidade para depois pensarem na maternidade”, destaca a psiquiatra Carmita Abdo.
Quem tem filhos, tem poucos. A taxa de natalidade caiu de 6,3 filhos por mulher em 1960 para menos de dois filhos. Em números de 2008, 1,89 filho por mulher. Tão importante quando o menor número de nascimentos foi a queda na mortalidade infantil. De 124 por mil crianças nascidas, para 23,5 por mil, em 2008.
O saneamento básico ainda precisa ser ampliado, mas já fez a diferença. As condições de moradia também. Por último, os avanços na saúde, que começam com a vacinação em massa das crianças e os novos tratamentos.
“Quando nós comparamos o ar, a água, a comida do início do século para agora, obviamente, as condições são muito melhores. As novas doenças hoje em dia são atacadas com maior rapidez, o que permite esse alongamento do tempo de vida”, compara o diretor-geral da UnaTI/UERJ Renato Veras.
Essa soma de fatores leva ao que se costuma chamar de envelhecimento. É uma boa notícia. Até porque a vida mudou, os tempos mudaram. Agora é o tempo dos novos velhos.
“Eu digo que a gente não está envelhecendo. Nós estamos rejuvenescendo. A população está envelhecendo, a sociedade, mas as pessoas estão rejuvenescendo. Você chega aos 60 anos, hoje se convencionou que é idoso, mas em plena condição de saúde, com condições cognitivas. Você pode ainda ter um tempo produtivo pela frente”, explica a pesquisadora do IPEA Ana Amélia Camarano.
“Faço consultoria na área de relações públicas, faço seminários, estou sempre em atividade”, enumera um senhor.
“Se parar, enferruja. É igual a um carro. Você coloca na garagem, no dia que vai tirar está sem bateria”, compara um homem.
O problema do Brasil é que muita gente se aposentou cedo. O afastamento precoce de tantas pessoas vai pesar por muito tempo nas contas públicas. Daqui para frente, haverá menos trabalhadores para pagar a Previdência e cada vez mais gente recebendo.
Basta olhar para a nossa pirâmide etária. A previsão é de que a população pare de crescer em 2030 ou antes. Em 2050, 20% da população brasileira vão estar acima de 60 anos.
Segundo o IBGE, a proporção pode ser ainda maior. Em quatro décadas, os idosos representariam 29% da população. Menos jovens, mais velhos e um sistema de Previdência em colapso.
“A cada ano que passa são mais de 650 mil idosos que entram na nossa pirâmide populacional”, alerta o diretor-geral da UnaTI/UERJ Renato Veras.
O Brasil com mais de 60 anos tem tantos novos desafios, que a nossa equipe saiu aqui da redação e foi às ruas, em diversas partes do país.
O Brasil já foi um país do futuro, um país de jovens. Mudou. Está maduro, caminhando depressa para o envelhecimento e isso é boa notícia.
Hoje, 21 milhões de brasileiros são o que se convencionou chamar de idosos. Mas esses novos velhos deixaram de lado as convenções há muito tempo. É o que o Bom Dia vai mostrar, ao longo desta semana, em mais uma série especial: o Brasil com mais de 60. As mulheres têm um papel importante nessa transformação.
Tainá é uma brasileira recém-nascida. Saudável, forte, veio ao mundo com pouco mais de três quilos. “Meu grande sonho é que ela seja alguém na vida, estude”, diz a mãe de Tainá, Lessandra Alves.
Tainá é parte de uma transformação. No Brasil de hoje, as pessoas vivem mais. Na última década, a população cresceu 21%. Mas o número de pessoas com mais de 60 anos cresceu o dobro. O grupo com mais de 80 anos subiu ainda mais. Nos últimos 40 anos, a cada nova pesquisa, o Brasil aparece com uma nova cara.
De volta aos anos 1960, um outro país. Éramos 66 milhões de brasileiros. Quem nasceu nesta década, diziam as estatísticas, viveria no máximo até os 54,6 anos. Bebês como Tainá vão chegar aos 72 anos, pelo menos. Para os meninos, a expectativa cai 7,5 anos, principalmente por causa de mortes violentas - no trânsito ou no crime.
“O Brasil está deixando de ser um país de jovens e a população está envelhecendo. Isso se deve, em primeiro lugar, porque a partir dos anos 70 as mulheres estão tendo menos e menos filhos”, explica a pesquisadora do IPEA Ana Amélia Camarano.
Mudou a cabeça da mulher, mudaram as estatísticas.
“As mulheres passaram a se casar mais tarde, ou a estabelecer uma relação estável mais tarde, por volta dos 28 anos. Querem investir na sua carreira. Querem primeiro ganhar uma estabilidade para depois pensarem na maternidade”, destaca a psiquiatra Carmita Abdo.
Quem tem filhos, tem poucos. A taxa de natalidade caiu de 6,3 filhos por mulher em 1960 para menos de dois filhos. Em números de 2008, 1,89 filho por mulher. Tão importante quando o menor número de nascimentos foi a queda na mortalidade infantil. De 124 por mil crianças nascidas, para 23,5 por mil, em 2008.
O saneamento básico ainda precisa ser ampliado, mas já fez a diferença. As condições de moradia também. Por último, os avanços na saúde, que começam com a vacinação em massa das crianças e os novos tratamentos.
“Quando nós comparamos o ar, a água, a comida do início do século para agora, obviamente, as condições são muito melhores. As novas doenças hoje em dia são atacadas com maior rapidez, o que permite esse alongamento do tempo de vida”, compara o diretor-geral da UnaTI/UERJ Renato Veras.
Essa soma de fatores leva ao que se costuma chamar de envelhecimento. É uma boa notícia. Até porque a vida mudou, os tempos mudaram. Agora é o tempo dos novos velhos.
“Eu digo que a gente não está envelhecendo. Nós estamos rejuvenescendo. A população está envelhecendo, a sociedade, mas as pessoas estão rejuvenescendo. Você chega aos 60 anos, hoje se convencionou que é idoso, mas em plena condição de saúde, com condições cognitivas. Você pode ainda ter um tempo produtivo pela frente”, explica a pesquisadora do IPEA Ana Amélia Camarano.
“Faço consultoria na área de relações públicas, faço seminários, estou sempre em atividade”, enumera um senhor.
“Se parar, enferruja. É igual a um carro. Você coloca na garagem, no dia que vai tirar está sem bateria”, compara um homem.
O problema do Brasil é que muita gente se aposentou cedo. O afastamento precoce de tantas pessoas vai pesar por muito tempo nas contas públicas. Daqui para frente, haverá menos trabalhadores para pagar a Previdência e cada vez mais gente recebendo.
Basta olhar para a nossa pirâmide etária. A previsão é de que a população pare de crescer em 2030 ou antes. Em 2050, 20% da população brasileira vão estar acima de 60 anos.
Segundo o IBGE, a proporção pode ser ainda maior. Em quatro décadas, os idosos representariam 29% da população. Menos jovens, mais velhos e um sistema de Previdência em colapso.
“A cada ano que passa são mais de 650 mil idosos que entram na nossa pirâmide populacional”, alerta o diretor-geral da UnaTI/UERJ Renato Veras.
O Brasil com mais de 60 anos tem tantos novos desafios, que a nossa equipe saiu aqui da redação e foi às ruas, em diversas partes do país.
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