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Transmissão encerrada!!!!!!
sábado, 10 de abril de 2010
Discurso de José Serra em Brasília
Venho hoje, aqui, falar do meu amor pelo Brasil; falar da minha vida; falar da minha experiência; falar da minha fé; falar das minhas esperanças no Brasil. E mostrar minha disposição de assumir esta caminhada. Uma caminhada que vai ser longa e difícil mas que com a ajuda de Deus e com a força do povo brasileiro será com certeza vitoriosa.
Alguns dias atrás, terminei meu discurso de despedida do Governo de São Paulo afirmando minha convicção de que o Brasil pode mais. Quatro palavras, em meio a muitas outras. Mas que ganharam destaque porque traduzem de maneira simples e direta o sentimento de milhões de brasileiros: o de que o Brasil, de fato, pode mais. E é isto que está em jogo nesta hora crucial!
Nos últimos 25 anos, o povo brasileiro alcançou muitas conquistas: retomamos a Democracia, arrancamos nas ruas o direito de votar para presidente, vivemos hoje num país sem censura e com uma imprensa livre. Somos um Estado de Direito Democrático. Fizemos uma nova Constituição, escrita por representantes do povo. Com o Plano Real, o Brasil transformou sua economia a favor do povo, controlou a inflação, melhorou a renda e a vida dos mais pobres, inaugurou uma nova Era no Brasil. Também conquistamos a responsabilidade fiscal dos governos. Criamos uma agricultura mais forte, uma indústria eficiente e um sistema financeiro sólido. Fizemos o Sistema Único de Saúde, conseguimos colocar as crianças na escola, diminuímos a miséria, ampliamos o consumo e o crédito, principalmente para os brasileiros mais pobres. Tudo isso em 25 anos. Não foram conquistas de um só homem ou de um só Governo, muito menos de um único partido. Todas são resultado de 25 anos de estabilidade democrática, luta e trabalho. E nós somos militantes dessa transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para essa história de progresso e de avanços do nosso País. Nós podemos nos orgulhar disso.
Mas, se avançamos, também devemos admitir que ainda falta muito por fazer. E se considerarmos os avanços em outros países e o potencial do Brasil, uma conclusão é inevitável: o Brasil pode ser muito mais do que é hoje.
Mas para isso temos de enfrentar os problemas nacionais e resolvê-los, sem ceder à demagogia, às bravatas ou à politicagem. E esse é um bom momento para reafirmarmos nossos valores. Começando pelo apreço à Democracia Representativa, que foi fundamental para chegarmos aonde chegamos. Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la.
Democracia e Estado de Direito são valores universais, permanentes, insubstituíveis e inegociáveis. Mas não são únicos. Honestidade, verdade, caráter, honra, coragem, coerência, brio profissional, perseverança são essenciais ao exercício da política e do Poder. É nisso que eu acredito e é assim que eu ajo e continuarei agindo. Este é o momento de falar claro, para que ninguém se engane sobre as minhas crenças e valores. É com base neles que também reafirmo: o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais.
Governos, como as pessoas, têm que ter alma. E a alma que inspira nossas ações é a vontade de melhorar a vida das pessoas que dependem do estudo e do trabalho, da Saúde e da Segurança. Amparar os que estão desamparados.
Sabem quantas pessoas com alguma deficiência física existem no Brasil? Mais de 20 milhões - a esmagadora maioria sem o conforto da acessibilidade aos equipamentos públicos e a um tratamento de reabilitação. Os governos, como as pessoas, têm que ser solidários com todos e principalmente com aqueles que são mais vulneráveis.
Quem governa, deve acreditar no planejamento de suas ações. Cultivar a austeridade fiscal, que significa fazer melhor e mais com os mesmos recursos. Fazer mais do que repetir promessas. O governo deve ouvir a voz dos trabalhadores e dos desamparados, das mulheres e das famílias, dos servidores públicos e dos profissionais de todas as áreas, dos jovens e dos idosos, dos pequenos e dos grandes empresários, do mercado financeiro, mas também do mercado dos que produzem alimentos, matérias-primas, produtos industriais e serviços essenciais, que são o fundamento do nosso desenvolvimento, a máquina de gerar empregos, consumo e riqueza.
O governo deve servir ao povo, não a partidos e a corporações que não representam o interesse público. Um governo deve sempre procurar unir a nação. De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres contra ricos, ou de ricos contra pobres. Eu quero todos, lado a lado, na solidariedade necessária à construção de um país que seja realmente de todos.
Ninguém deve esperar que joguemos estados do Norte contra estados do Sul, cidades grandes contra cidades pequenas, o urbano contra o rural, a indústria contra os serviços, o comércio contra a agricultura, azuis contra vermelhos, amarelos contra verdes. Pode ser engraçado no futebol. Mas não é quando se fala de um País. E é deplorável que haja gente que, em nome da política, tente dividir o nosso Brasil.
Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma Nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros e não pela sua divisão. Pode haver uma desavença aqui outra acolá, como em qualquer família. Mas vamos trabalhar somando, agregando. Nunca dividindo. Nunca excluindo. O Brasil tem grandes carências. Não pode perder energia com disputas entre brasileiros. Nunca será um país desenvolvido se não promover um equilíbrio maior entre suas regiões. Entre a nossa Amazônia, o Centro Oeste e o Sudeste. Entre o Sul e o Nordeste. Por isso, conclamo: Vamos juntos. O Brasil pode mais. O desenvolvimento é uma escolha. E faremos essa escolha. Estamos preparados para isso.
Ninguém deve esperar que joguemos o governo contra a oposição, porque não o faremos. Jamais rotularemos os adversários como inimigos da pátria ou do povo. Em meio século de militância política nunca fiz isso. E não vou fazer. Eu quero todos juntos, cada um com sua identidade, em nome do bem comum.
Na Constituinte fiz a emenda que permitiu criar o FAT, financiar e fortalecer o BNDES e tirar do papel o seguro-desemprego - que hoje beneficia 10 milhões de trabalhadores. Todos os partidos e blocos a apoiaram. No ministério da Saúde do governo Fernando Henrique tomei a iniciativa de enviar ou refazer e impulsionar seis projetos de lei e uma emenda constitucional - a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e da Agência Nacional de Saúde, a implantação dos genéricos, a proibição do fumo nos aviões e da propaganda de cigarros, a regulamentação dos planos de saúde, o combate à falsificação de remédios e a PEC 29, que vinculou recursos à Saúde nas três esferas da Federação - todos, sem exceção, aprovados pelos parlamentares do governo e da oposição. É assim que eu trabalho: somando e unindo, visando ao bem comum. Os membros do Congresso que estão me ouvindo, podem testemunhar: suas emendas ao orçamento da Saúde eram acolhidas pela qualidade, nunca devido à sua filiação partidária.
Se o povo assim decidir, vamos governar com todas e com todos, sem discriminar ninguém. Juntar pessoas em vez de separá-las; convidá-las ao diálogo, em vez de segregá-las; explicar os nossos propósitos, em vez de hostilizá-las. Vamos valorizar o talento, a honestidade e o patriotismo em vez de indagar a filiação partidária.
Minha história de vida e minhas convicções pessoais sempre estiveram comprometidas com a unidade do país e com a unidade do seu povo. Sou filho de imigrantes, morei e cresci num bairro de trabalhadores que vinham de todas as partes, da Europa, do Nordeste, do Sul. Todos em busca de oportunidade e de esperança.
A liderança no movimento estudantil me fez conhecer e conviver com todo o Brasil logo ao final da minha adolescência. Aliás, na época, aprendi mesmo a fazer política no Rio, em Minas, na Bahia e em Pernambuco, aos 21 anos de idade. O longo exílio me levou sempre a enxergar e refletir sobre o nosso país como um todo.
Minha história pessoal está diretamente vinculada à valorização do trabalho, à valorização do esforço, à valorização da dedicação. Lembro-me do meu pai, um modesto comerciante de frutas no mercado municipal: doze horas de jornada de trabalho nos dias úteis, dez horas no sábado, cinco horas aos domingos. Só não trabalhava no dia 1 de janeiro. Férias? Um luxo, pois deixava de ganhar o dinheiro da nossa subsistência. Um homem austero, severo, digno. Seu exemplo me marcou na vida e na compreensão do que significa o amor familiar de um trabalhador: ele carregava caixas de frutas para que um dia eu pudesse carregar caixas de livros.
E eu me esforço para tornar digno o trabalho de todo homem e mulher, do ser humano como ele foi. Porque vejo a imagem de meu pai em cada trabalhador. Eu a vi outro dia, na inauguração do Rodoanel, quando um dos operários fez questão de me mostrar com orgulho seu nome no mural que eu mandei fazer para exibir a identidade de todos os trabalhadores que fizeram aquela obra espetacular. Por que o mural? Por justo reconhecimento e porque eu sabia que despertaria neles o orgulho de quem sabe exercer a profissão. Um momento de revelação a si mesmos de que eles são os verdadeiros construtores nesta nação.
Eu vejo em cada criança na escola o menino que eu fui, cheio de esperanças, com o peito cheio de crença no futuro. Quando prefeito e quando governador, passei anos indo às escolas para dar aula (de verdade) à criançada da quarta série. Ia reencontrar-me comigo mesmo. Porque tudo o que eu sou aprendi em duas escolas: a escola pública e a escola da vida pública. Aliás, e isto é um perigo dizer, com frequência uso senhas de computador baseadas no nome de minhas professoras no curso primário. E toda vez que escrevo lembro da sua fisionomia, da sua voz, do seu esforço, e até das broncas, de um puxão de orelhas, quando eu fazia alguma bagunça.
Mas é por isso tudo que sempre lutei e luto tanto pela educação dos milhões de filhos do Brasil. No país com que sonho para os meus netos, o melhor caminho para o sucesso e a prosperidade será a matrícula numa boa escola, e não a carteirinha de um partido político. E estou convencido de uma coisa: bons prédios, serviços adequados de merenda, transporte escolar, atividades esportivas e culturais, tudo é muito importante e deve ser aperfeiçoado. Mas a condição fundamental é a melhora do aprendizado na sala de aula, propósito bem declarado pelo governo, mas que praticamente não saiu do papel. Serão necessários mais recursos. Mas pensemos no custo para o Brasil de não ter essa nova Educação em que o filho do pobre frequente uma escola tão boa quanto a do filho do rico. Esse é um compromisso.
É preciso prestar atenção num retrocesso grave dos últimos anos: a estagnação da escolaridade entre os adolescentes. Para essa faixa de idade, embora não exclusivamente para ela, vamos turbinar o ensino técnico e profissional, aquele que vira emprego. Emprego para a juventude, que é castigada pela falta de oportunidades de subir na vida. E vamos fazer de forma descentralizada, em parcerias com estados e municípios, o que garante uma vinculação entre as escolas técnicas e os mercados locais, onde os empregos são gerados. Ensino de qualidade e de custos moderados, que nos permitirá multiplicar por dois ou três o número de alunos no país inteiro, num período de governo. Sim, meus amigos e amigas, o Brasil pode mais.
Podemos e devemos fazer mais pela saúde do nosso povo. O SUS foi um filho da Constituinte que nós consolidamos no governo passado, fortalecendo a integração entre União, Estados e Municípios; carreando mais recursos para o setor; reduzindo custos de medicamentos; enfrentando com sucesso a barreira das patentes, no Brasil e na Organização Mundial do Comércio; ampliando o sistema de atenção básica e o Programa Saúde da Família em todo o Brasil; prestigiando o setor filantrópico sério, com quem fizemos grandes parcerias, dos hospitais até a prevenção e promoção da Saúde, como a Pastoral da Criança; fazendo a melhor campanha contra a AIDS do mundo em desenvolvimento; organizando os mutirões; fazendo mais vacinações; ampliando a assistência às pessoas com deficiência; cerceando o abuso do incentivo ao cigarro e ao tabaco em geral. E muitas outras coisas mais. De fato, e mais pelo que aconteceu na primeira metade do governo, a Saúde estagnou ou avançou pouco. Mas a Saúde pode avançar muito mais. E nós sabemos como fazer isso acontecer.
Saúde é vida, Segurança também. Por isso, o governo federal deve assumir mais responsabilidades face à gravidade da situação. E não tirar o corpo fora porque a Constituição atribui aos governos estaduais a competência principal nessa área. Tenho visto gente criticar o Estado Mínimo, o Estado Omisso. Concordo. Por isso mesmo, se tem área em que o Estado não tem o direito de ser mínimo, de se omitir, é a segurança pública. As bases do crime organizado estão no contrabando de armas e de drogas, cujo combate efetivo cabe às autoridades federais . Ou o governo federal assume de vez, na prática, a coordenação efetiva dos esforços nacionalmente, ou o Brasil não tem como ganhar a guerra contra o crime e proteger nossa juventude.
Qual pai ou mãe de família não se sente ameaçado pela violência, pelo tráfico e pela difusão do uso das drogas? As drogas são hoje uma praga nacional. E aqui também o Governo tem de investir em clínicas e programas de recuperação para quem precisa e não pode ser tolerante com traficantes da morte. Mais ainda se o narcotráfico se esconde atrás da ideologia ou da política. Os jovens são as grandes vítimas. Por isso mesmo, ações preventivas, educativas, repressivas e de assistência precisam ser combinadas com a expansão da qualificação profissional e a oferta de empregos.
Uma coisa que precisa acabar é a falsa oposição entre construir escolas e construir presídios. Muitas vezes, essa é a conversa de quem não faz nem uma coisa nem outra. É verdade que nossos jovens necessitam de boas escolas e de bons empregos, mas se o indivíduo comete um crime ele deve ser punido. Existem propostas de impor penas mais duras aos criminosos. Não sou contra, mas talvez mais importante do que isso seja a garantia da punição. O problema principal no Brasil não são as penas supostamente leves. É a quase certeza da impunidade. Um país só tem mais chance de conseguir a paz quando existe a garantia de que a atitude criminosa não vai ficar sem castigo.
Eu quero que meus netos cresçam num país em que as leis sejam aplicadas para todos. Se o trabalhador precisa cumprir a lei, o prefeito, o governador e o presidente da República também tem essa obrigação. Em nosso país, nenhum brasileiro vai estar acima da lei, por mais poderoso que seja. Na Segurança e na Justiça, o Brasil também pode mais.
Lembro que os investimentos governamentais no Brasil, como proporção do PIB, ainda são dos mais baixos do mundo em desenvolvimento. Isso compromete ou encarece a produção, as exportações e o comércio. Há uma quase unanimidade a respeito das carências da infra-estrutura brasileira: no geral, as estradas não estão boas, faltam armazéns, os aeroportos vivem à beira do caos, os portos, por onde passam nossas exportações e importações, há muito deixaram de atender as necessidades. Tem gente que vê essas carências apenas como um desconforto, um incômodo. Mas essa é uma visão errada. O PIB brasileiro poderia crescer bem mais se a infra-estrutura fosse adequada, se funcionasse de acordo com o tamanho do nosso país, da população e da economia.
Um exemplo simples: hoje, custa mais caro transportar uma tonelada de soja do Mato Grosso ao porto de Paranaguá do que levar a mesma soja do porto brasileiro até a China. Um absurdo. A conseqüência é menos dinheiro no bolso do produtor, menos investimento e menos riqueza no interior do Brasil. E sobretudo menos empregos.
Temos inflação baixa, mais crédito e reservas elevadas, o que é bom, mas para que o crescimento seja sustentado nos próximos anos não podemos ter uma combinação perversa de falta de infra-estrutura, inadequações da política macroeconômica, aumento da rigidez fiscal e vertiginoso crescimento do déficit do balanço de pagamentos. Aliás, o valor de nossas exportações cresceu muito nesta década, devido à melhora dos preços e da demanda por nossas matérias primas. Mas vai ter de crescer mais. Temos de romper pontos de estrangulamento e atuar de forma mais agressiva na conquista de mercados. Vejam que dado impressionante: nos últimos anos, mais de 100 acordos de livre comércio foram assinados em todo o mundo. São um instrumento poderoso de abertura de mercados. Pois o Brasil, junto com o MERCOSUL, assinou apenas um novo acordo (com Israel), que ainda não entrou em vigência!
Da mesma forma, precisamos tratar com mais seriedade a preservação do meio-ambiente e o desenvolvimento sustentável. Repito aqui o que venho dizendo há anos: é possível, sim, fazer o país crescer e defender nosso meio ambiente, preservar as florestas, a qualidade do ar a contenção das emissões de gás carbônico. É dever urgente dar a todos os brasileiros saneamento básico, que também é meio ambiente. Água encanada de boa qualidade, esgoto coletado e tratado não são luxo. São essenciais. São Saúde. São cidadania. A economia verde é, ao contrário do que pensam alguns, uma possibilidade promissora para o Brasil. Temos muito por fazer e muito o que progredir, e vamos fazê-lo.
Também não são incompatíveis a proteção do meio ambiente e o dinamismo extraordinário de nossa agricultura, que tem sido a galinha de ovos de ouro do desenvolvimento do país, produzindo as alimentos para nosso povo, salvando nossas contas externas, contribuindo para segurar a inflação e ainda gerar energia! Estou convencido disso e vamos provar o acerto dessa convicção na prática de governo. Sabem por quê? Porque sabemos como fazer e porque o Brasil pode mais!
O Brasil está cada vez maior e mais forte. É uma voz ouvida com respeito e atenção. Vamos usar essa força para defender a autodeterminação dos povos e os direitos humanos, sem vacilações. Eu fui perseguido em dois golpes de estado, tive dois exílios simultâneos, do Brasil e do Chile. Sou sobrevivente do Estádio Nacional de Santiago, onde muitos morreram. Por algum motivo, Deus permitiu que eu saísse de lá com vida. Para mim, direitos humanos não são negociáveis. Não cultivemos ilusões: democracias não têm gente encarcerada ou condenada à forca por pensar diferente de quem está no governo. Democracias não têm operários morrendo por greve de fome quando discordam do regime.
Nossa presença no mundo exige que não descuidemos de nossas Forças Armadas e da defesa de nossas fronteiras. O mundo contemporâneo é desafiador. A existência de Forças Armadas treinadas, disciplinadas, respeitadoras da Constituição e das leis foi uma conquista da Nova República. Precisamos mantê-las bem equipadas, para que cumpram suas funções, na dissuasão de ameaças sem ter de recorrer diretamente ao uso da força e na contribuição ao desenvolvimento tecnológico do país.
Como falei no início, esta será uma caminhada longa e difícil. Mas manteremos nosso comportamento a favor do Brasil. Às provocações, vamos responder com serenidade; às falanges do ódio que insistem em dividir a nação vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no futuro. Vamos responder sempre dizendo a verdade. Aliás, quanto mais mentiras os adversários disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles.
O Brasil não tem dono. O Brasil pertence aos brasileiros que trabalham; aos brasileiros que estudam; aos brasileiros que querem subir na vida; aos brasileiros que acreditam no esforço; aos brasileiros que não se deixam corromper; aos brasileiros que não toleram os malfeitos; aos brasileiros que não dispõem de uma "boquinha"; aos brasileiros que exigem ética na vida pública porque são decentes; aos brasileiros que não contam com um partido ou com alguma maracutaia para subir na vida.
Este é o povo que devemos mobilizar para a nossa luta; este é o povo que devemos convocar para a nossa caminhada; este é o povo que quer, porque assim deve ser, conservar as suas conquistas, mas que anseia mais. Porque o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais. E, por isso, tem de estar unido. O Brasil é um só.
Pretendo apresentar ao Brasil minha história e minhas idéias. Minha biografia. Minhas crenças e meus valores. Meu entusiasmo e minha confiança. Minha experiência e minha vontade.
Vou lhes contar uma coisa. Desde cedo, quando entrei na vida pública, descobri qual era a motivação maior, a mola propulsora da atividade política. Para mim, a motivação é o prazer. A vida pública não é sacrifício, como tantos a pintam, mas sim um trabalho prazeroso. Só que não é o mero prazer do desfrute. É o prazer da frutificação. Não é um sonho de consumo. É um sonho de produção e de criação. Aprendi desde cedo que servir é bom, nos faz felizes, porque nos dá o sentido maior de nossas existências, porque nos traz uma sensação de bem estar muito mais profunda do que quaisquer confortos ou vantagens propiciados pelas posições de Poder. Aprendi que nada se compara à sensação de construir algo de bom e duradouro para a sociedade em que vivemos, de descobrir soluções para os problemas reais das pessoas, de fazer acontecer.
O grande escritor mineiro Guimarães Rosa, escreveu: O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Concordo. É da coragem que a vida quer que nós precisamos agora.
Coragem para fazer um projeto de País, com sonhos, convicções e com o apoio da maioria.
Juntos, vamos construir o Brasil que queremos, mais justo e mais generoso. Eleição é uma escolha sobre o futuro. Olhando pra frente, sem picuinhas, sem mesquinharias, eu me coloco diante do Brasil, hoje, com minha biografia, minha história política e com . esperança no nosso futuro. E, portanto, O BRASIL PODE MAIS!!!!!!!!!!!!
Alguns dias atrás, terminei meu discurso de despedida do Governo de São Paulo afirmando minha convicção de que o Brasil pode mais. Quatro palavras, em meio a muitas outras. Mas que ganharam destaque porque traduzem de maneira simples e direta o sentimento de milhões de brasileiros: o de que o Brasil, de fato, pode mais. E é isto que está em jogo nesta hora crucial!
Nos últimos 25 anos, o povo brasileiro alcançou muitas conquistas: retomamos a Democracia, arrancamos nas ruas o direito de votar para presidente, vivemos hoje num país sem censura e com uma imprensa livre. Somos um Estado de Direito Democrático. Fizemos uma nova Constituição, escrita por representantes do povo. Com o Plano Real, o Brasil transformou sua economia a favor do povo, controlou a inflação, melhorou a renda e a vida dos mais pobres, inaugurou uma nova Era no Brasil. Também conquistamos a responsabilidade fiscal dos governos. Criamos uma agricultura mais forte, uma indústria eficiente e um sistema financeiro sólido. Fizemos o Sistema Único de Saúde, conseguimos colocar as crianças na escola, diminuímos a miséria, ampliamos o consumo e o crédito, principalmente para os brasileiros mais pobres. Tudo isso em 25 anos. Não foram conquistas de um só homem ou de um só Governo, muito menos de um único partido. Todas são resultado de 25 anos de estabilidade democrática, luta e trabalho. E nós somos militantes dessa transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para essa história de progresso e de avanços do nosso País. Nós podemos nos orgulhar disso.
Mas, se avançamos, também devemos admitir que ainda falta muito por fazer. E se considerarmos os avanços em outros países e o potencial do Brasil, uma conclusão é inevitável: o Brasil pode ser muito mais do que é hoje.
Mas para isso temos de enfrentar os problemas nacionais e resolvê-los, sem ceder à demagogia, às bravatas ou à politicagem. E esse é um bom momento para reafirmarmos nossos valores. Começando pelo apreço à Democracia Representativa, que foi fundamental para chegarmos aonde chegamos. Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la.
Democracia e Estado de Direito são valores universais, permanentes, insubstituíveis e inegociáveis. Mas não são únicos. Honestidade, verdade, caráter, honra, coragem, coerência, brio profissional, perseverança são essenciais ao exercício da política e do Poder. É nisso que eu acredito e é assim que eu ajo e continuarei agindo. Este é o momento de falar claro, para que ninguém se engane sobre as minhas crenças e valores. É com base neles que também reafirmo: o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais.
Governos, como as pessoas, têm que ter alma. E a alma que inspira nossas ações é a vontade de melhorar a vida das pessoas que dependem do estudo e do trabalho, da Saúde e da Segurança. Amparar os que estão desamparados.
Sabem quantas pessoas com alguma deficiência física existem no Brasil? Mais de 20 milhões - a esmagadora maioria sem o conforto da acessibilidade aos equipamentos públicos e a um tratamento de reabilitação. Os governos, como as pessoas, têm que ser solidários com todos e principalmente com aqueles que são mais vulneráveis.
Quem governa, deve acreditar no planejamento de suas ações. Cultivar a austeridade fiscal, que significa fazer melhor e mais com os mesmos recursos. Fazer mais do que repetir promessas. O governo deve ouvir a voz dos trabalhadores e dos desamparados, das mulheres e das famílias, dos servidores públicos e dos profissionais de todas as áreas, dos jovens e dos idosos, dos pequenos e dos grandes empresários, do mercado financeiro, mas também do mercado dos que produzem alimentos, matérias-primas, produtos industriais e serviços essenciais, que são o fundamento do nosso desenvolvimento, a máquina de gerar empregos, consumo e riqueza.
O governo deve servir ao povo, não a partidos e a corporações que não representam o interesse público. Um governo deve sempre procurar unir a nação. De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres contra ricos, ou de ricos contra pobres. Eu quero todos, lado a lado, na solidariedade necessária à construção de um país que seja realmente de todos.
Ninguém deve esperar que joguemos estados do Norte contra estados do Sul, cidades grandes contra cidades pequenas, o urbano contra o rural, a indústria contra os serviços, o comércio contra a agricultura, azuis contra vermelhos, amarelos contra verdes. Pode ser engraçado no futebol. Mas não é quando se fala de um País. E é deplorável que haja gente que, em nome da política, tente dividir o nosso Brasil.
Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma Nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros e não pela sua divisão. Pode haver uma desavença aqui outra acolá, como em qualquer família. Mas vamos trabalhar somando, agregando. Nunca dividindo. Nunca excluindo. O Brasil tem grandes carências. Não pode perder energia com disputas entre brasileiros. Nunca será um país desenvolvido se não promover um equilíbrio maior entre suas regiões. Entre a nossa Amazônia, o Centro Oeste e o Sudeste. Entre o Sul e o Nordeste. Por isso, conclamo: Vamos juntos. O Brasil pode mais. O desenvolvimento é uma escolha. E faremos essa escolha. Estamos preparados para isso.
Ninguém deve esperar que joguemos o governo contra a oposição, porque não o faremos. Jamais rotularemos os adversários como inimigos da pátria ou do povo. Em meio século de militância política nunca fiz isso. E não vou fazer. Eu quero todos juntos, cada um com sua identidade, em nome do bem comum.
Na Constituinte fiz a emenda que permitiu criar o FAT, financiar e fortalecer o BNDES e tirar do papel o seguro-desemprego - que hoje beneficia 10 milhões de trabalhadores. Todos os partidos e blocos a apoiaram. No ministério da Saúde do governo Fernando Henrique tomei a iniciativa de enviar ou refazer e impulsionar seis projetos de lei e uma emenda constitucional - a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e da Agência Nacional de Saúde, a implantação dos genéricos, a proibição do fumo nos aviões e da propaganda de cigarros, a regulamentação dos planos de saúde, o combate à falsificação de remédios e a PEC 29, que vinculou recursos à Saúde nas três esferas da Federação - todos, sem exceção, aprovados pelos parlamentares do governo e da oposição. É assim que eu trabalho: somando e unindo, visando ao bem comum. Os membros do Congresso que estão me ouvindo, podem testemunhar: suas emendas ao orçamento da Saúde eram acolhidas pela qualidade, nunca devido à sua filiação partidária.
Se o povo assim decidir, vamos governar com todas e com todos, sem discriminar ninguém. Juntar pessoas em vez de separá-las; convidá-las ao diálogo, em vez de segregá-las; explicar os nossos propósitos, em vez de hostilizá-las. Vamos valorizar o talento, a honestidade e o patriotismo em vez de indagar a filiação partidária.
Minha história de vida e minhas convicções pessoais sempre estiveram comprometidas com a unidade do país e com a unidade do seu povo. Sou filho de imigrantes, morei e cresci num bairro de trabalhadores que vinham de todas as partes, da Europa, do Nordeste, do Sul. Todos em busca de oportunidade e de esperança.
A liderança no movimento estudantil me fez conhecer e conviver com todo o Brasil logo ao final da minha adolescência. Aliás, na época, aprendi mesmo a fazer política no Rio, em Minas, na Bahia e em Pernambuco, aos 21 anos de idade. O longo exílio me levou sempre a enxergar e refletir sobre o nosso país como um todo.
Minha história pessoal está diretamente vinculada à valorização do trabalho, à valorização do esforço, à valorização da dedicação. Lembro-me do meu pai, um modesto comerciante de frutas no mercado municipal: doze horas de jornada de trabalho nos dias úteis, dez horas no sábado, cinco horas aos domingos. Só não trabalhava no dia 1 de janeiro. Férias? Um luxo, pois deixava de ganhar o dinheiro da nossa subsistência. Um homem austero, severo, digno. Seu exemplo me marcou na vida e na compreensão do que significa o amor familiar de um trabalhador: ele carregava caixas de frutas para que um dia eu pudesse carregar caixas de livros.
E eu me esforço para tornar digno o trabalho de todo homem e mulher, do ser humano como ele foi. Porque vejo a imagem de meu pai em cada trabalhador. Eu a vi outro dia, na inauguração do Rodoanel, quando um dos operários fez questão de me mostrar com orgulho seu nome no mural que eu mandei fazer para exibir a identidade de todos os trabalhadores que fizeram aquela obra espetacular. Por que o mural? Por justo reconhecimento e porque eu sabia que despertaria neles o orgulho de quem sabe exercer a profissão. Um momento de revelação a si mesmos de que eles são os verdadeiros construtores nesta nação.
Eu vejo em cada criança na escola o menino que eu fui, cheio de esperanças, com o peito cheio de crença no futuro. Quando prefeito e quando governador, passei anos indo às escolas para dar aula (de verdade) à criançada da quarta série. Ia reencontrar-me comigo mesmo. Porque tudo o que eu sou aprendi em duas escolas: a escola pública e a escola da vida pública. Aliás, e isto é um perigo dizer, com frequência uso senhas de computador baseadas no nome de minhas professoras no curso primário. E toda vez que escrevo lembro da sua fisionomia, da sua voz, do seu esforço, e até das broncas, de um puxão de orelhas, quando eu fazia alguma bagunça.
Mas é por isso tudo que sempre lutei e luto tanto pela educação dos milhões de filhos do Brasil. No país com que sonho para os meus netos, o melhor caminho para o sucesso e a prosperidade será a matrícula numa boa escola, e não a carteirinha de um partido político. E estou convencido de uma coisa: bons prédios, serviços adequados de merenda, transporte escolar, atividades esportivas e culturais, tudo é muito importante e deve ser aperfeiçoado. Mas a condição fundamental é a melhora do aprendizado na sala de aula, propósito bem declarado pelo governo, mas que praticamente não saiu do papel. Serão necessários mais recursos. Mas pensemos no custo para o Brasil de não ter essa nova Educação em que o filho do pobre frequente uma escola tão boa quanto a do filho do rico. Esse é um compromisso.
É preciso prestar atenção num retrocesso grave dos últimos anos: a estagnação da escolaridade entre os adolescentes. Para essa faixa de idade, embora não exclusivamente para ela, vamos turbinar o ensino técnico e profissional, aquele que vira emprego. Emprego para a juventude, que é castigada pela falta de oportunidades de subir na vida. E vamos fazer de forma descentralizada, em parcerias com estados e municípios, o que garante uma vinculação entre as escolas técnicas e os mercados locais, onde os empregos são gerados. Ensino de qualidade e de custos moderados, que nos permitirá multiplicar por dois ou três o número de alunos no país inteiro, num período de governo. Sim, meus amigos e amigas, o Brasil pode mais.
Podemos e devemos fazer mais pela saúde do nosso povo. O SUS foi um filho da Constituinte que nós consolidamos no governo passado, fortalecendo a integração entre União, Estados e Municípios; carreando mais recursos para o setor; reduzindo custos de medicamentos; enfrentando com sucesso a barreira das patentes, no Brasil e na Organização Mundial do Comércio; ampliando o sistema de atenção básica e o Programa Saúde da Família em todo o Brasil; prestigiando o setor filantrópico sério, com quem fizemos grandes parcerias, dos hospitais até a prevenção e promoção da Saúde, como a Pastoral da Criança; fazendo a melhor campanha contra a AIDS do mundo em desenvolvimento; organizando os mutirões; fazendo mais vacinações; ampliando a assistência às pessoas com deficiência; cerceando o abuso do incentivo ao cigarro e ao tabaco em geral. E muitas outras coisas mais. De fato, e mais pelo que aconteceu na primeira metade do governo, a Saúde estagnou ou avançou pouco. Mas a Saúde pode avançar muito mais. E nós sabemos como fazer isso acontecer.
Saúde é vida, Segurança também. Por isso, o governo federal deve assumir mais responsabilidades face à gravidade da situação. E não tirar o corpo fora porque a Constituição atribui aos governos estaduais a competência principal nessa área. Tenho visto gente criticar o Estado Mínimo, o Estado Omisso. Concordo. Por isso mesmo, se tem área em que o Estado não tem o direito de ser mínimo, de se omitir, é a segurança pública. As bases do crime organizado estão no contrabando de armas e de drogas, cujo combate efetivo cabe às autoridades federais . Ou o governo federal assume de vez, na prática, a coordenação efetiva dos esforços nacionalmente, ou o Brasil não tem como ganhar a guerra contra o crime e proteger nossa juventude.
Qual pai ou mãe de família não se sente ameaçado pela violência, pelo tráfico e pela difusão do uso das drogas? As drogas são hoje uma praga nacional. E aqui também o Governo tem de investir em clínicas e programas de recuperação para quem precisa e não pode ser tolerante com traficantes da morte. Mais ainda se o narcotráfico se esconde atrás da ideologia ou da política. Os jovens são as grandes vítimas. Por isso mesmo, ações preventivas, educativas, repressivas e de assistência precisam ser combinadas com a expansão da qualificação profissional e a oferta de empregos.
Uma coisa que precisa acabar é a falsa oposição entre construir escolas e construir presídios. Muitas vezes, essa é a conversa de quem não faz nem uma coisa nem outra. É verdade que nossos jovens necessitam de boas escolas e de bons empregos, mas se o indivíduo comete um crime ele deve ser punido. Existem propostas de impor penas mais duras aos criminosos. Não sou contra, mas talvez mais importante do que isso seja a garantia da punição. O problema principal no Brasil não são as penas supostamente leves. É a quase certeza da impunidade. Um país só tem mais chance de conseguir a paz quando existe a garantia de que a atitude criminosa não vai ficar sem castigo.
Eu quero que meus netos cresçam num país em que as leis sejam aplicadas para todos. Se o trabalhador precisa cumprir a lei, o prefeito, o governador e o presidente da República também tem essa obrigação. Em nosso país, nenhum brasileiro vai estar acima da lei, por mais poderoso que seja. Na Segurança e na Justiça, o Brasil também pode mais.
Lembro que os investimentos governamentais no Brasil, como proporção do PIB, ainda são dos mais baixos do mundo em desenvolvimento. Isso compromete ou encarece a produção, as exportações e o comércio. Há uma quase unanimidade a respeito das carências da infra-estrutura brasileira: no geral, as estradas não estão boas, faltam armazéns, os aeroportos vivem à beira do caos, os portos, por onde passam nossas exportações e importações, há muito deixaram de atender as necessidades. Tem gente que vê essas carências apenas como um desconforto, um incômodo. Mas essa é uma visão errada. O PIB brasileiro poderia crescer bem mais se a infra-estrutura fosse adequada, se funcionasse de acordo com o tamanho do nosso país, da população e da economia.
Um exemplo simples: hoje, custa mais caro transportar uma tonelada de soja do Mato Grosso ao porto de Paranaguá do que levar a mesma soja do porto brasileiro até a China. Um absurdo. A conseqüência é menos dinheiro no bolso do produtor, menos investimento e menos riqueza no interior do Brasil. E sobretudo menos empregos.
Temos inflação baixa, mais crédito e reservas elevadas, o que é bom, mas para que o crescimento seja sustentado nos próximos anos não podemos ter uma combinação perversa de falta de infra-estrutura, inadequações da política macroeconômica, aumento da rigidez fiscal e vertiginoso crescimento do déficit do balanço de pagamentos. Aliás, o valor de nossas exportações cresceu muito nesta década, devido à melhora dos preços e da demanda por nossas matérias primas. Mas vai ter de crescer mais. Temos de romper pontos de estrangulamento e atuar de forma mais agressiva na conquista de mercados. Vejam que dado impressionante: nos últimos anos, mais de 100 acordos de livre comércio foram assinados em todo o mundo. São um instrumento poderoso de abertura de mercados. Pois o Brasil, junto com o MERCOSUL, assinou apenas um novo acordo (com Israel), que ainda não entrou em vigência!
Da mesma forma, precisamos tratar com mais seriedade a preservação do meio-ambiente e o desenvolvimento sustentável. Repito aqui o que venho dizendo há anos: é possível, sim, fazer o país crescer e defender nosso meio ambiente, preservar as florestas, a qualidade do ar a contenção das emissões de gás carbônico. É dever urgente dar a todos os brasileiros saneamento básico, que também é meio ambiente. Água encanada de boa qualidade, esgoto coletado e tratado não são luxo. São essenciais. São Saúde. São cidadania. A economia verde é, ao contrário do que pensam alguns, uma possibilidade promissora para o Brasil. Temos muito por fazer e muito o que progredir, e vamos fazê-lo.
Também não são incompatíveis a proteção do meio ambiente e o dinamismo extraordinário de nossa agricultura, que tem sido a galinha de ovos de ouro do desenvolvimento do país, produzindo as alimentos para nosso povo, salvando nossas contas externas, contribuindo para segurar a inflação e ainda gerar energia! Estou convencido disso e vamos provar o acerto dessa convicção na prática de governo. Sabem por quê? Porque sabemos como fazer e porque o Brasil pode mais!
O Brasil está cada vez maior e mais forte. É uma voz ouvida com respeito e atenção. Vamos usar essa força para defender a autodeterminação dos povos e os direitos humanos, sem vacilações. Eu fui perseguido em dois golpes de estado, tive dois exílios simultâneos, do Brasil e do Chile. Sou sobrevivente do Estádio Nacional de Santiago, onde muitos morreram. Por algum motivo, Deus permitiu que eu saísse de lá com vida. Para mim, direitos humanos não são negociáveis. Não cultivemos ilusões: democracias não têm gente encarcerada ou condenada à forca por pensar diferente de quem está no governo. Democracias não têm operários morrendo por greve de fome quando discordam do regime.
Nossa presença no mundo exige que não descuidemos de nossas Forças Armadas e da defesa de nossas fronteiras. O mundo contemporâneo é desafiador. A existência de Forças Armadas treinadas, disciplinadas, respeitadoras da Constituição e das leis foi uma conquista da Nova República. Precisamos mantê-las bem equipadas, para que cumpram suas funções, na dissuasão de ameaças sem ter de recorrer diretamente ao uso da força e na contribuição ao desenvolvimento tecnológico do país.
Como falei no início, esta será uma caminhada longa e difícil. Mas manteremos nosso comportamento a favor do Brasil. Às provocações, vamos responder com serenidade; às falanges do ódio que insistem em dividir a nação vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no futuro. Vamos responder sempre dizendo a verdade. Aliás, quanto mais mentiras os adversários disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles.
O Brasil não tem dono. O Brasil pertence aos brasileiros que trabalham; aos brasileiros que estudam; aos brasileiros que querem subir na vida; aos brasileiros que acreditam no esforço; aos brasileiros que não se deixam corromper; aos brasileiros que não toleram os malfeitos; aos brasileiros que não dispõem de uma "boquinha"; aos brasileiros que exigem ética na vida pública porque são decentes; aos brasileiros que não contam com um partido ou com alguma maracutaia para subir na vida.
Este é o povo que devemos mobilizar para a nossa luta; este é o povo que devemos convocar para a nossa caminhada; este é o povo que quer, porque assim deve ser, conservar as suas conquistas, mas que anseia mais. Porque o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais. E, por isso, tem de estar unido. O Brasil é um só.
Pretendo apresentar ao Brasil minha história e minhas idéias. Minha biografia. Minhas crenças e meus valores. Meu entusiasmo e minha confiança. Minha experiência e minha vontade.
Vou lhes contar uma coisa. Desde cedo, quando entrei na vida pública, descobri qual era a motivação maior, a mola propulsora da atividade política. Para mim, a motivação é o prazer. A vida pública não é sacrifício, como tantos a pintam, mas sim um trabalho prazeroso. Só que não é o mero prazer do desfrute. É o prazer da frutificação. Não é um sonho de consumo. É um sonho de produção e de criação. Aprendi desde cedo que servir é bom, nos faz felizes, porque nos dá o sentido maior de nossas existências, porque nos traz uma sensação de bem estar muito mais profunda do que quaisquer confortos ou vantagens propiciados pelas posições de Poder. Aprendi que nada se compara à sensação de construir algo de bom e duradouro para a sociedade em que vivemos, de descobrir soluções para os problemas reais das pessoas, de fazer acontecer.
O grande escritor mineiro Guimarães Rosa, escreveu: O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Concordo. É da coragem que a vida quer que nós precisamos agora.
Coragem para fazer um projeto de País, com sonhos, convicções e com o apoio da maioria.
Juntos, vamos construir o Brasil que queremos, mais justo e mais generoso. Eleição é uma escolha sobre o futuro. Olhando pra frente, sem picuinhas, sem mesquinharias, eu me coloco diante do Brasil, hoje, com minha biografia, minha história política e com . esperança no nosso futuro. E, portanto, O BRASIL PODE MAIS!!!!!!!!!!!!
Sábado cheio!
Enquanto em São Bernardo do Campo, São Paulo, a ex-ministra Dilma Rousseff fala às centrais sindicais, o ex-governador de São Paulo, José Serra, lança sua pré-candidatura em Brasília.
E agora, José?
DORA KRAMER
Pronto. Como queriam oposicionistas de todos os costados, o tucano José Serra anuncia hoje que é candidato à Presidência da República e põe fim ao longo período de cobranças em que dificuldades da oposição e êxitos dos adversários eram postos no mesmo balaio e atribuídos à indefinição da candidatura.
Removido o obstáculo – real em muitos casos; em outros, mera fumaça – começa agora o mais difícil: a construção da candidatura, a articulação das alianças regionais, o grau de prioridade que partidos e personagens, principalmente os do PSDB, emprestarão ao projeto nacional, o índice de fidelidade à candidatura presidencial, o empenho a que se disporão ao trabalho e as escolhas que farão conveniências pessoais e o interesse partidário de representação de um campo de pensamento diferente do que está atualmente no poder.
Certo ou errado, o PT fez sua opção claríssima: apostou tudo na presidencial. Dos estados importantes onde não disputa a reeleição, só concorre no Rio Grande do Sul e insiste na candidatura em Minas Gerais.
No restante do país, abriu mão de eleger governadores, o que significa também se arriscar a reduzir as bancadas no Congresso, para investir na eleição de Dilma Rousseff. E ponto final, sem questionamentos.
Evidentemente que o PSDB sendo um partido de ações, conformação e personagens diferentes, não tem a obrigação de imitar o adversário. A citação ao PT serve só como referência.
No que concerne aos tucanos e área de influência, é de se conferir se a realidade das ações políticas corresponderá à ansiedade das cobranças para a definição da candidatura de José Serra, porque nas duas eleições presidenciais anteriores, 2002 e 2006, o desacerto e a inaptidão foram notáveis.
De parte a parte. Do candidato, das campanhas, dos aliados e vice-versa. Ninguém falava a mesma linguagem. Em 2006, havia estados, como Pernam buco, onde Geraldo Alckmin nem sequer contava com estrutura de campanha. Em 2002, José Serra conseguiu se coligar oficialmente com o PMDB – sua vice foi Rita Ca mata –, mas várias seções do partido se aliaram a Lula. Isso sem falar nas defecções explícitas dentro do PSDB, que se repetiram em 2006.
Se a desordem se repetir, não adianta definição de candidatura, qualidade de candidato nem a evidente desvantagem comparativa da adversária. Cam panha, óbvio, é um todo. Leva quem revela aptidão para a vitória. Muito mais que qualificação para governar.
Dilma Rousseff não é do ramo. Mas o partido dela é craque e o chefe, então, nem se fala.
José Serra, nem os adversários negam, preparou-se a vida toda para a Presidência. Mas o partido dele até agora só ga nhou como copiloto do Plano Real. No comando, perdeu as duas eleições nacionais que disputou. E por demérito próprio.
Tem agora a chance de mostrar se oito anos na oposição lhe deram disciplina e senso de direção ou se de novo prefere se dispersar nas lides da picuinha rumo a quatro anos, talvez oito, quiçá 16 anos de ostracismo.
Reparo
Depois de rever a descortesia de "esconder" Fernando Henrique Cardoso da campanha e incluir o ex-presidente na lista de oradores do ato de lançamento da candidatura de José Serra hoje, em Brasília, PSDB e aliados resolveram que não bastava.
FH será alvo de homenagens e citações nos pronunciamentos.
Programáticos
Os presidentes dos dois partidos da aliança com o PSDB, DEM e PPS preparavam para hoje discursos com as propostas que as duas legendas gostariam de ver incluídas no programa de governo de Serra, que, no entanto, só deverá ser apresentado na convenção oficial do PSDB em junho.
Rodrigo Maia (DEM) e Roberto Freire (PPS) decidiram antecipar suas propostas porque é a chance de que elas ganhem algum destaque para debate, pois em junho a atenção será toda do programa do candidato.
Pronto. Como queriam oposicionistas de todos os costados, o tucano José Serra anuncia hoje que é candidato à Presidência da República e põe fim ao longo período de cobranças em que dificuldades da oposição e êxitos dos adversários eram postos no mesmo balaio e atribuídos à indefinição da candidatura.
Removido o obstáculo – real em muitos casos; em outros, mera fumaça – começa agora o mais difícil: a construção da candidatura, a articulação das alianças regionais, o grau de prioridade que partidos e personagens, principalmente os do PSDB, emprestarão ao projeto nacional, o índice de fidelidade à candidatura presidencial, o empenho a que se disporão ao trabalho e as escolhas que farão conveniências pessoais e o interesse partidário de representação de um campo de pensamento diferente do que está atualmente no poder.
Certo ou errado, o PT fez sua opção claríssima: apostou tudo na presidencial. Dos estados importantes onde não disputa a reeleição, só concorre no Rio Grande do Sul e insiste na candidatura em Minas Gerais.
No restante do país, abriu mão de eleger governadores, o que significa também se arriscar a reduzir as bancadas no Congresso, para investir na eleição de Dilma Rousseff. E ponto final, sem questionamentos.
Evidentemente que o PSDB sendo um partido de ações, conformação e personagens diferentes, não tem a obrigação de imitar o adversário. A citação ao PT serve só como referência.
No que concerne aos tucanos e área de influência, é de se conferir se a realidade das ações políticas corresponderá à ansiedade das cobranças para a definição da candidatura de José Serra, porque nas duas eleições presidenciais anteriores, 2002 e 2006, o desacerto e a inaptidão foram notáveis.
De parte a parte. Do candidato, das campanhas, dos aliados e vice-versa. Ninguém falava a mesma linguagem. Em 2006, havia estados, como Pernam buco, onde Geraldo Alckmin nem sequer contava com estrutura de campanha. Em 2002, José Serra conseguiu se coligar oficialmente com o PMDB – sua vice foi Rita Ca mata –, mas várias seções do partido se aliaram a Lula. Isso sem falar nas defecções explícitas dentro do PSDB, que se repetiram em 2006.
Se a desordem se repetir, não adianta definição de candidatura, qualidade de candidato nem a evidente desvantagem comparativa da adversária. Cam panha, óbvio, é um todo. Leva quem revela aptidão para a vitória. Muito mais que qualificação para governar.
Dilma Rousseff não é do ramo. Mas o partido dela é craque e o chefe, então, nem se fala.
José Serra, nem os adversários negam, preparou-se a vida toda para a Presidência. Mas o partido dele até agora só ga nhou como copiloto do Plano Real. No comando, perdeu as duas eleições nacionais que disputou. E por demérito próprio.
Tem agora a chance de mostrar se oito anos na oposição lhe deram disciplina e senso de direção ou se de novo prefere se dispersar nas lides da picuinha rumo a quatro anos, talvez oito, quiçá 16 anos de ostracismo.
Reparo
Depois de rever a descortesia de "esconder" Fernando Henrique Cardoso da campanha e incluir o ex-presidente na lista de oradores do ato de lançamento da candidatura de José Serra hoje, em Brasília, PSDB e aliados resolveram que não bastava.
FH será alvo de homenagens e citações nos pronunciamentos.
Programáticos
Os presidentes dos dois partidos da aliança com o PSDB, DEM e PPS preparavam para hoje discursos com as propostas que as duas legendas gostariam de ver incluídas no programa de governo de Serra, que, no entanto, só deverá ser apresentado na convenção oficial do PSDB em junho.
Rodrigo Maia (DEM) e Roberto Freire (PPS) decidiram antecipar suas propostas porque é a chance de que elas ganhem algum destaque para debate, pois em junho a atenção será toda do programa do candidato.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
IPC-S - Índice de Preços ao Consumidor Semanal
O IPC-S de 07 de abril de 2010 registrou variação de 0,98%, 0,12 ponto percentual (p.p.) acima da taxa divulgada na última apuração. Cinco das sete capitais pesquisadas registraram acréscimos em suas taxas de variação. São elas: Brasília, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.
Este mede a evolução dos preços no varejo nas sete principais capitais (Brasília, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), para as classes de renda entre 01 e 33 salários mínimos.
A estrutura de ponderações, ou seja, a relação dos pesos dos grupos que compõem o IPC foi determinada com base nas despesas das famílias. A cesta básica do IPC é constituída de cerca de 480 mercadorias e serviços. A sistemática de coleta de preços é decendial, ou seja, a cada 10 dias, nos estabelecimentos.
O índice é atingido obtendo os preços médios geométricos de cada produto. Em sequência são calculados os relativos em níveis de produtos, subitens, itens, subgrupos, grupos e, por fim, o relativo municipal, cuja agregação conduz ao índice geral.
Este mede a evolução dos preços no varejo nas sete principais capitais (Brasília, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), para as classes de renda entre 01 e 33 salários mínimos.
A estrutura de ponderações, ou seja, a relação dos pesos dos grupos que compõem o IPC foi determinada com base nas despesas das famílias. A cesta básica do IPC é constituída de cerca de 480 mercadorias e serviços. A sistemática de coleta de preços é decendial, ou seja, a cada 10 dias, nos estabelecimentos.
O índice é atingido obtendo os preços médios geométricos de cada produto. Em sequência são calculados os relativos em níveis de produtos, subitens, itens, subgrupos, grupos e, por fim, o relativo municipal, cuja agregação conduz ao índice geral.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Resumo do dia 08/04/2010
Subiu para 182 o número de mortes por causa das chuvas no Rio de Janeiro, sendo 107 em Niterói, onde foi decretado estado de calamidade pública. A capital fluminense registra cinquenta e cinco mortes. Desde 31 de dezembro do ano passado, mais de duzentas e cinquenta pessoas morreram no Estado por causa das fortes chuvas.
A cidade do Rio de Janeiro continua em estado de atenção, com previsão de chuva moderada a forte em todas as regiões, de acordo com a Defesa Civil. Devido ao acúmulo de água em alguns bairros, ainda existe a possibilidade de deslizamentos de encostas. A Prefeitura do Rio disponibilizou 64 abrigos para os oradores que precisaram abandonar suas residências.
Segundo o prefeito de Niterói, José Roberto Silveira, não tem mais espaço físico para colocar os mortos nos hospitais da cidade. Niterói foi a cidade fluminense mais atingida com a chuva que atinge o estado desde a última segunda-feira, 05.
O plenário do TSE aprovou uma mudança na regra eleitoral que autoriza a realização de debates entre candidatos na internet sem o mesmo rigor aplicado ao rádio e a televisão. O entendimento do tribunal é que, como a internet não é uma concessão pública, não há como impor ao veículo as mesmas regras nas quais estão sujeitos o rádio e a TV. Com isso, os debates na internet poderão ser realizados, por exemplo, com qualquer número de candidatos.
O pedido de inclusão do presidente Lula como réu do processo que apura o mensalão foi negado por unanimidade pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. O requerimento foi apresentado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, que denunciou o suposto esquema de pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio ao governo em 2005.
Dezesseis dos 19 setores da indústria registraram aumento do uso da capacidade instalada em fevereiro, em relação ao mesmo período de 2009. Os segmentos de metalurgia básica e de veículos automotores apresentaram os melhores resultados, segundo a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria.
A cidade do Rio de Janeiro continua em estado de atenção, com previsão de chuva moderada a forte em todas as regiões, de acordo com a Defesa Civil. Devido ao acúmulo de água em alguns bairros, ainda existe a possibilidade de deslizamentos de encostas. A Prefeitura do Rio disponibilizou 64 abrigos para os oradores que precisaram abandonar suas residências.
Segundo o prefeito de Niterói, José Roberto Silveira, não tem mais espaço físico para colocar os mortos nos hospitais da cidade. Niterói foi a cidade fluminense mais atingida com a chuva que atinge o estado desde a última segunda-feira, 05.
O plenário do TSE aprovou uma mudança na regra eleitoral que autoriza a realização de debates entre candidatos na internet sem o mesmo rigor aplicado ao rádio e a televisão. O entendimento do tribunal é que, como a internet não é uma concessão pública, não há como impor ao veículo as mesmas regras nas quais estão sujeitos o rádio e a TV. Com isso, os debates na internet poderão ser realizados, por exemplo, com qualquer número de candidatos.
O pedido de inclusão do presidente Lula como réu do processo que apura o mensalão foi negado por unanimidade pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. O requerimento foi apresentado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, que denunciou o suposto esquema de pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio ao governo em 2005.
Dezesseis dos 19 setores da indústria registraram aumento do uso da capacidade instalada em fevereiro, em relação ao mesmo período de 2009. Os segmentos de metalurgia básica e de veículos automotores apresentaram os melhores resultados, segundo a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Nota aos alunos do 7º período de Administração da Uniabeu
Meus caríssimos alunos,
Não tenho conseguido entrar no portal (fora do ar) e, por isso, tomei a iniciativa de enviar diretamente a vocês um arquivo com textos e outro com uma apresentação.
Preparei esses dois arquivos para vocês, atendendo às observações feitas pelo Paulo Roberto, de que estava muito difícil estudar pelas indicações bibliográficas, tendo em vista o grande número de páginas.
Os dois dois arquivos anexados são: o arquivo ppt 97-2003 "2010-1 TGS slides versão final", sobre a teoria de sistemas aplicada; e o arquivo word 97-2003 "Conceitos Básicos Para Informatizar uma Empresa", com três pequenos textos sobre como propor um sistema de informações para uma empresa.
Esses dois arquivos contém toda a teoria que cairá na prova AV1. E seu conteúdo não será novidade para os que têm assitido às aulas.
Para os que não vieram às aulas, valerá a pena dar uma lida no material e anotar o que não entenderem para que as dúvidas sejam resolvidas comigo em sala, na terça próxima.
Não pude vir no dia 31/03. Sobre isso, receberam a tempo meu aviso,
que enviei pela Taisa no email ac3112007@gmail.com e pela Bruna da Coordenação, no dia anterior? Espero que tenham recebido a tempo.
Vocês podem marcar a aula de reposição e a aproveitarem para rever os pontos que vão ser solicitados na prova. Pode ser no dia 15/04 (quinta)
ou 17/04 (sábado), se for possível para vocês.
Sobre o terceiro trabalho, combino com vocês na terça. Vamos aproveitá-lo, para revermos a matéria para a prova.
Bom estudo.
Aproveito para solicitar que repassem este email aos colegas da turma, pois de muitos não tenho o endereço eletrônico.
Com a esperança que se encontrem seguros das enchentes e com saúde
Com um grande abraço
Cládice - Docente da disciplina de Sistemas de Informação
Não tenho conseguido entrar no portal (fora do ar) e, por isso, tomei a iniciativa de enviar diretamente a vocês um arquivo com textos e outro com uma apresentação.
Preparei esses dois arquivos para vocês, atendendo às observações feitas pelo Paulo Roberto, de que estava muito difícil estudar pelas indicações bibliográficas, tendo em vista o grande número de páginas.
Os dois dois arquivos anexados são: o arquivo ppt 97-2003 "2010-1 TGS slides versão final", sobre a teoria de sistemas aplicada; e o arquivo word 97-2003 "Conceitos Básicos Para Informatizar uma Empresa", com três pequenos textos sobre como propor um sistema de informações para uma empresa.
Esses dois arquivos contém toda a teoria que cairá na prova AV1. E seu conteúdo não será novidade para os que têm assitido às aulas.
Para os que não vieram às aulas, valerá a pena dar uma lida no material e anotar o que não entenderem para que as dúvidas sejam resolvidas comigo em sala, na terça próxima.
Não pude vir no dia 31/03. Sobre isso, receberam a tempo meu aviso,
que enviei pela Taisa no email ac3112007@gmail.com e pela Bruna da Coordenação, no dia anterior? Espero que tenham recebido a tempo.
Vocês podem marcar a aula de reposição e a aproveitarem para rever os pontos que vão ser solicitados na prova. Pode ser no dia 15/04 (quinta)
ou 17/04 (sábado), se for possível para vocês.
Sobre o terceiro trabalho, combino com vocês na terça. Vamos aproveitá-lo, para revermos a matéria para a prova.
Bom estudo.
Aproveito para solicitar que repassem este email aos colegas da turma, pois de muitos não tenho o endereço eletrônico.
Com a esperança que se encontrem seguros das enchentes e com saúde
Com um grande abraço
Cládice - Docente da disciplina de Sistemas de Informação
terça-feira, 6 de abril de 2010
Caso Isabella
O juiz Maurício Fossen negou, hoje, o pedido de novo júri para o casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella.
Ambos foram condenados na madrugada do dia 27 de março por homicídio triplamente qualificado contra Isabella.
Ele foi condenado a 31 anos, 1 mês e 10 dias. Ela, 26 anos e 8 meses.
O crime aconteceu em março de 2008.
Ambos foram condenados na madrugada do dia 27 de março por homicídio triplamente qualificado contra Isabella.
Ele foi condenado a 31 anos, 1 mês e 10 dias. Ela, 26 anos e 8 meses.
O crime aconteceu em março de 2008.
Chuva no Rio
Apesar de um trânsito tranquilo, a situação é de emergência em todas as regiões do Estado do Rio de Janeiro.
São deslizamentos, desabamentos, gente debaixo de escombros, ruas enlameadas. Uma imagem de guerra!
Postei a pouco no meu orkut, fotos enviadas pelos ouvintes e veiculadas pela Rádio CBN.
São deslizamentos, desabamentos, gente debaixo de escombros, ruas enlameadas. Uma imagem de guerra!
Postei a pouco no meu orkut, fotos enviadas pelos ouvintes e veiculadas pela Rádio CBN.
Aulas na Uniabeu
Segundo informações da Coordenação Geral de Graduação, não haverá aula no dia de hoje, 06, na Faculdade Abeu, localizada em Belford Roxo.
O site está com problemas!!!!
O site está com problemas!!!!
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Dia difícil no Rio
Do site do RJ TV
Nas zonas Sul, Norte e no Centro, pistas alagadas e congestionamentos. A circulação de trens entre a Central e Bonsucesso foi interrompida nos dois sentidos. No metrô, os intervalos ficaram maiores.
A Estrada Grajaú-Jacarepaguá ficou às escuras. Pedras rolaram na pista, mas a via não está interditada. Os motoristas precisam ficar atentos por lá. A prefeitura emitiu um alerta para deslizamentos na região da Bacia de Jacarepaguá.
Na Avenida Maracanã, o Rio Maracanã transbordou no início da noite desta segunda-feira e alagou as pistas. Isso causou reflexos em outros pontos da Zona Norte, como na Avenida Vinte e Oito de Setembro, no cruzamento com a Rua São Francisco Xavier, e também na Radial Oeste, na altura da Praça da Bandeira, que ficou com muitas poças de água e trânsito lento.
Saiba mais
A água também subiu no Centro do Rio. A Rua Camerino registra pontos de alagamento. Na Avenida Presidente Vargas, na altura da Central do Brasil, as pistas em direção à Praça da Bandeira estavam paradas.
Na Zona Sul do Rio, a Rua Pacheco Leão, no Jardim Botânico, ficou completamente alagada. Os motoristas tinham dificuldades para passar. Na Lagoa Rodrigo de Freitas, também havia vários pontos de alagamento. O trânsito ficou bastante complicado no trecho perto do Clube Piraquê. A Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, na altura da Rua Real Grandeza, ficou com trânsito complicado e várias poças de água.
Chove forte também em Niterói. Há várias ruas alagadas no município. O canal da Rua Ari Parreiras, em Icaraí, transbordou. No Rio, há muitos bairros sem luz: trechos de São Conrado, Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Alto da Boa Vista e Ilha do Governador.
No fim da tarde, os trens do Ramal de Saracuruna só estavam indo até Bonsucesso. Segundo a Supervia, um alagamento na região de Manguinhos impede que as composições sigam até a Central do Brasil. Não há circulação entre a Central e Bonsucesso nos dois sentidos. Nos outros ramais, há atrasos porque a velocidade dos trens está reduzida. No metrô, os intervalos também estão maiores porque chove muito nos trechos onde as composições passam pela superfície.
O tempo feio no Rio e também em São Paulo provocou atrasos, cancelamentos e muita dor de cabeça no Aeroporto Santos Dumont. O saguão ficou lotado no Santos Dumont durante todo o dia.
Pela manhã, por causa do fechamento do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, mais da metade dos vôos programados sofreram atrasos, e pelo menos outros 13 foram cancelados. Foi o segundo dia de tumulto para os passageiros. No domingo, o Santos Dumont fechou três vezes por causa do mau tempo. As filas se estenderam até de madrugada.
Nas zonas Sul, Norte e no Centro, pistas alagadas e congestionamentos. A circulação de trens entre a Central e Bonsucesso foi interrompida nos dois sentidos. No metrô, os intervalos ficaram maiores.
A Estrada Grajaú-Jacarepaguá ficou às escuras. Pedras rolaram na pista, mas a via não está interditada. Os motoristas precisam ficar atentos por lá. A prefeitura emitiu um alerta para deslizamentos na região da Bacia de Jacarepaguá.
Na Avenida Maracanã, o Rio Maracanã transbordou no início da noite desta segunda-feira e alagou as pistas. Isso causou reflexos em outros pontos da Zona Norte, como na Avenida Vinte e Oito de Setembro, no cruzamento com a Rua São Francisco Xavier, e também na Radial Oeste, na altura da Praça da Bandeira, que ficou com muitas poças de água e trânsito lento.
Saiba mais
A água também subiu no Centro do Rio. A Rua Camerino registra pontos de alagamento. Na Avenida Presidente Vargas, na altura da Central do Brasil, as pistas em direção à Praça da Bandeira estavam paradas.
Na Zona Sul do Rio, a Rua Pacheco Leão, no Jardim Botânico, ficou completamente alagada. Os motoristas tinham dificuldades para passar. Na Lagoa Rodrigo de Freitas, também havia vários pontos de alagamento. O trânsito ficou bastante complicado no trecho perto do Clube Piraquê. A Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, na altura da Rua Real Grandeza, ficou com trânsito complicado e várias poças de água.
Chove forte também em Niterói. Há várias ruas alagadas no município. O canal da Rua Ari Parreiras, em Icaraí, transbordou. No Rio, há muitos bairros sem luz: trechos de São Conrado, Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Alto da Boa Vista e Ilha do Governador.
No fim da tarde, os trens do Ramal de Saracuruna só estavam indo até Bonsucesso. Segundo a Supervia, um alagamento na região de Manguinhos impede que as composições sigam até a Central do Brasil. Não há circulação entre a Central e Bonsucesso nos dois sentidos. Nos outros ramais, há atrasos porque a velocidade dos trens está reduzida. No metrô, os intervalos também estão maiores porque chove muito nos trechos onde as composições passam pela superfície.
O tempo feio no Rio e também em São Paulo provocou atrasos, cancelamentos e muita dor de cabeça no Aeroporto Santos Dumont. O saguão ficou lotado no Santos Dumont durante todo o dia.
Pela manhã, por causa do fechamento do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, mais da metade dos vôos programados sofreram atrasos, e pelo menos outros 13 foram cancelados. Foi o segundo dia de tumulto para os passageiros. No domingo, o Santos Dumont fechou três vezes por causa do mau tempo. As filas se estenderam até de madrugada.
Trecho do Livro Relembrando o que Escrevi – Da Reconquista da Democracia aos Desafios Globais
Autor: Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República
Apresentação
Fernando Henrique Cardoso
É difícil avaliar e selecionar o que alguém disse em entrevistas ou escreveu em textos de jornal publicados décadas atrás. As matérias em geral respondem a questões muito contextualizadas.
Tive a sorte de encontrar em Miguel Darcy a disposição de fazer a seleção dos textos com a sensibilidade, a amplitude de visão e a objetividade que eu dificilmente teria. A junção dos textos de maneira a dar-lhes significado que isoladamente talvez não tivessem foi proeza de Miguel, não minha. Tampouco haveria acesso a revistas, jornais e livros que publicaram essas entrevistas e artigos não fossem o critério, a dedicação e a persistência de Danielle Ardaillon que há cerca de trinta anos cuida de meus arquivos. A publicação não se concretizaria, por sua vez, se a Record e em especial Sergio Machado e Luciana Villas-Boas não me tivessem estimulado a remexer papéis desgastados pelo tempo e dar-lhes vida nova. Este livro é, portanto, tanto meu quanto deles, embora eu seja o único responsável por seu conteúdo.
Relendo o que disse nessas entrevistas e textos, que abrangem mais de trinta anos, de 1972 a 2006, confesso que me surpreendi.
É certo que muita coisa mudou e também eu mudei minha apreciação sobre algumas coisas. Mas as orientações gerais são as mesmas, os valores fundamentais continuam a ser os antigos. Se houve aggiornamento foi mais na forma do que no conteúdo, quando não na discussão de questões que a própria história foi colocando em novas bases.
Na década de 1970 e mesmo no começo dos anos 1980 o desafio era a redemocratização. Pode mesmo parecer de menor significação para quem não viveu no período a importância de dizer certas palavras: falar de tortura e de arbítrio, por exemplo. Hoje é fácil. Naquele tempo a menção poderia ter um custo imediato. Era preciso, embora temendo, arriscar-se. Sem riscos equivalentes, pois neste caso a discussão se dava no campo dos que se opunham à ditadura, tampouco era fácil pregar a necessidade de apoiar o MDB e propugnar por um amplo movimento da sociedade civil como forma de combate ao regime autoritário. Na época a esquerda que se julgava "verdadeira" empunhava armas e a intelectualidade progressista, mesmo sem sair de casa, torcia por ela e desconfiava de roteiros democráticos. Hoje somos todos democráticos, abominamos a violência e nos horrorizamos com os desmandos dos que comandaram o país no passado. Tanto assim que antigos apoiadores do regime militar são agora — sem que eu reprove suas mudanças de opinião nem os desqualifique — até mais entusiastas dos governos democráticos do que antigos militantes da esquerda.
Já as discussões sobre o relacionamento entre Estado e sociedade, sobre os movimentos sociais ou sobre o papel do Estado na economia são questões mais analíticas e às vezes instrumentais do que valorativas. Sujeitam-se, portanto, mais a nuances e mesmo mudanças de apreciação. Não obstante, relendo o que disse e escrevi, acho que modificaria muito pouca coisa hoje. Note-se que, sobretudo nas entrevistas, as opiniões aparecem despidas de academicismo e menos cuidadas do que em livros ou publicações científicas. Há, portanto, maiores possibilidades de imprecisão e deslizes intelectuais. Mesmo assim, não vejo necessidade, em geral, de dizer que hoje pensaria ou diria de outro modo.
Não quero escrever uma apresentação para justificar ou modificar as opiniões recolhidas neste livro. O que disse e escrevi, mesmo sendo marcado pelo momento histórico, expressa meu modo de ser, pouco preocupado com a permanência das coisas e, como Miguel Darcy notou, mais interessado em vislumbrar o "novo", ainda que as torres que tento construir para vê-lo estejam em andaimes. Não sinto necessidade de esquecer nada do que escrevi. A maioria dos que gostariam que eu tivesse querido esquecer o que pensava nunca ouviu ou leu o que disse ou escrevi. Este livro permite que quem esteja interessado em tais julgamentos verifique com mais acuidade se mudei muito, pouco ou nada, embora a última alternativa me condene a ser um intelectual propenso ao dogmatismo, o que espero não ser.
Para finalizar, quero dizer que fiquei surpreso com o que escrevi antes da crise do ano passado sobre o "capitalismo dos derivativos", sobre os riscos que ele acarretaria e sobre as medidas necessárias para regulá-lo. Escrevendo ou falando nos anos 1990 ou no início deste século parecia estar comentando a crise atual. Perspicácia de análise? Provavelmente nem tanto: é que as uvas já não estavam verdes havia muito tempo, mas apodrecidas. Como tantos outros não preguei no deserto, mas na floresta de interesses dos que estavam ganhando e não teriam vantagem em ouvir, e nada mudou. Desde suas origens é assim que funciona o sistema capitalista. Contém sempre um elemento de especulação e de irracionalidade, sem o qual talvez se estiole. Em dado momento parece que o cassino ocupa a cena principal do mercado e promove a felicidade geral até que... Bem, até que as bolhas estourem, ocorram as perdas, a recessão, o desemprego. Mas convém evitar ilusões de que as crises trazem por si modificações estruturais. Passado o susto, tudo volta à "normalidade", com ganhadores e perdedores, dando a impressão do eterno retorno. A cada reviravolta, contudo, a sociedade, o mercado e seu modo de se entrelaçar e de funcionar ganham novos contornos. Não fosse assim a História, que é quase sempre inesperada, perderia a graça e as pessoas perderiam as necessárias ilusões e motivações para construir um mundo melhor.
Posso ter estado certo ou errado na tomada de posições políticas ou na análise de situações. Embora pudesse estar iludido, minha motivação sempre foi a de que é possível lutar por um mundo melhor para as pessoas e as instituições. Mesmo quando parece que estamos dando murros em ponta de faca, como nos anos de chumbo do autoritarismo ou quando parece que estamos perdendo a onda do crescimento econômico, é preciso não perder as esperanças. Diga-se o mesmo sobre os dias que correm quando nova maré corporativista, novo horror a iniciativas que não sejam controladas pelo governo e novos estímulos à corrupção inerente a essas situações parecem avolumar-se. Se lutarmos, também esta onda passará.
Apresentação
Fernando Henrique Cardoso
É difícil avaliar e selecionar o que alguém disse em entrevistas ou escreveu em textos de jornal publicados décadas atrás. As matérias em geral respondem a questões muito contextualizadas.
Tive a sorte de encontrar em Miguel Darcy a disposição de fazer a seleção dos textos com a sensibilidade, a amplitude de visão e a objetividade que eu dificilmente teria. A junção dos textos de maneira a dar-lhes significado que isoladamente talvez não tivessem foi proeza de Miguel, não minha. Tampouco haveria acesso a revistas, jornais e livros que publicaram essas entrevistas e artigos não fossem o critério, a dedicação e a persistência de Danielle Ardaillon que há cerca de trinta anos cuida de meus arquivos. A publicação não se concretizaria, por sua vez, se a Record e em especial Sergio Machado e Luciana Villas-Boas não me tivessem estimulado a remexer papéis desgastados pelo tempo e dar-lhes vida nova. Este livro é, portanto, tanto meu quanto deles, embora eu seja o único responsável por seu conteúdo.
Relendo o que disse nessas entrevistas e textos, que abrangem mais de trinta anos, de 1972 a 2006, confesso que me surpreendi.
É certo que muita coisa mudou e também eu mudei minha apreciação sobre algumas coisas. Mas as orientações gerais são as mesmas, os valores fundamentais continuam a ser os antigos. Se houve aggiornamento foi mais na forma do que no conteúdo, quando não na discussão de questões que a própria história foi colocando em novas bases.
Na década de 1970 e mesmo no começo dos anos 1980 o desafio era a redemocratização. Pode mesmo parecer de menor significação para quem não viveu no período a importância de dizer certas palavras: falar de tortura e de arbítrio, por exemplo. Hoje é fácil. Naquele tempo a menção poderia ter um custo imediato. Era preciso, embora temendo, arriscar-se. Sem riscos equivalentes, pois neste caso a discussão se dava no campo dos que se opunham à ditadura, tampouco era fácil pregar a necessidade de apoiar o MDB e propugnar por um amplo movimento da sociedade civil como forma de combate ao regime autoritário. Na época a esquerda que se julgava "verdadeira" empunhava armas e a intelectualidade progressista, mesmo sem sair de casa, torcia por ela e desconfiava de roteiros democráticos. Hoje somos todos democráticos, abominamos a violência e nos horrorizamos com os desmandos dos que comandaram o país no passado. Tanto assim que antigos apoiadores do regime militar são agora — sem que eu reprove suas mudanças de opinião nem os desqualifique — até mais entusiastas dos governos democráticos do que antigos militantes da esquerda.
Já as discussões sobre o relacionamento entre Estado e sociedade, sobre os movimentos sociais ou sobre o papel do Estado na economia são questões mais analíticas e às vezes instrumentais do que valorativas. Sujeitam-se, portanto, mais a nuances e mesmo mudanças de apreciação. Não obstante, relendo o que disse e escrevi, acho que modificaria muito pouca coisa hoje. Note-se que, sobretudo nas entrevistas, as opiniões aparecem despidas de academicismo e menos cuidadas do que em livros ou publicações científicas. Há, portanto, maiores possibilidades de imprecisão e deslizes intelectuais. Mesmo assim, não vejo necessidade, em geral, de dizer que hoje pensaria ou diria de outro modo.
Não quero escrever uma apresentação para justificar ou modificar as opiniões recolhidas neste livro. O que disse e escrevi, mesmo sendo marcado pelo momento histórico, expressa meu modo de ser, pouco preocupado com a permanência das coisas e, como Miguel Darcy notou, mais interessado em vislumbrar o "novo", ainda que as torres que tento construir para vê-lo estejam em andaimes. Não sinto necessidade de esquecer nada do que escrevi. A maioria dos que gostariam que eu tivesse querido esquecer o que pensava nunca ouviu ou leu o que disse ou escrevi. Este livro permite que quem esteja interessado em tais julgamentos verifique com mais acuidade se mudei muito, pouco ou nada, embora a última alternativa me condene a ser um intelectual propenso ao dogmatismo, o que espero não ser.
Para finalizar, quero dizer que fiquei surpreso com o que escrevi antes da crise do ano passado sobre o "capitalismo dos derivativos", sobre os riscos que ele acarretaria e sobre as medidas necessárias para regulá-lo. Escrevendo ou falando nos anos 1990 ou no início deste século parecia estar comentando a crise atual. Perspicácia de análise? Provavelmente nem tanto: é que as uvas já não estavam verdes havia muito tempo, mas apodrecidas. Como tantos outros não preguei no deserto, mas na floresta de interesses dos que estavam ganhando e não teriam vantagem em ouvir, e nada mudou. Desde suas origens é assim que funciona o sistema capitalista. Contém sempre um elemento de especulação e de irracionalidade, sem o qual talvez se estiole. Em dado momento parece que o cassino ocupa a cena principal do mercado e promove a felicidade geral até que... Bem, até que as bolhas estourem, ocorram as perdas, a recessão, o desemprego. Mas convém evitar ilusões de que as crises trazem por si modificações estruturais. Passado o susto, tudo volta à "normalidade", com ganhadores e perdedores, dando a impressão do eterno retorno. A cada reviravolta, contudo, a sociedade, o mercado e seu modo de se entrelaçar e de funcionar ganham novos contornos. Não fosse assim a História, que é quase sempre inesperada, perderia a graça e as pessoas perderiam as necessárias ilusões e motivações para construir um mundo melhor.
Posso ter estado certo ou errado na tomada de posições políticas ou na análise de situações. Embora pudesse estar iludido, minha motivação sempre foi a de que é possível lutar por um mundo melhor para as pessoas e as instituições. Mesmo quando parece que estamos dando murros em ponta de faca, como nos anos de chumbo do autoritarismo ou quando parece que estamos perdendo a onda do crescimento econômico, é preciso não perder as esperanças. Diga-se o mesmo sobre os dias que correm quando nova maré corporativista, novo horror a iniciativas que não sejam controladas pelo governo e novos estímulos à corrupção inerente a essas situações parecem avolumar-se. Se lutarmos, também esta onda passará.
Reflexões de um presidente acidental
Democracia, liberalismo, esquerdas, fortuna e virtù na visão de FHC, o intelectual que não quer para si o silêncio dos monastérios
SÃO PAULO - "Esqueçam o que escrevi." A frase, atribuída ao então presidente Fernando Henrique Cardoso - que ele nega ter pronunciado -, serviu de mote para o bem-humorado título de seu novo livro. Editado pela Civilização Brasileira com organização de Miguel Darcy de Oliveira, Relembrando o que Escrevi: da Reconquista da Democracia aos Desafios Globais reúne artigos e entrevistas do sociólogo, político e intelectual público que ocupou o Planalto por dois mandatos consecutivos, de 1995 a 2002. Dividido em cinco grandes temas - liberdade e democracia, esquerda e política, sociedade e Estado, desenvolvimento e globalização, esperança e futuro -, o livro mapeia reflexões e questionamentos ao longo de três décadas, precisamente de 1972 a 2006. Segundo o próprio Fernando Henrique, o mundo mudou, ele mudou, mas a orientação geral de suas ideias, até que não: "Se houve aggiornamento foi mais na forma do que no conteúdo", escreve na apresentação do livro.
No mesmo dia em que sua ausência se fez sentir até por uma cadeira vazia na cerimônia de desligamento do governador paulista José Serra, no Palácio dos Bandeirantes - e quando Dilma Rousseff também deixava seu gabinete em Brasília rumo à campanha presidencial -, FHC aceitou o convite do caderno Aliás para conversar e debater, por mais de duas horas, com três renomados intelectuais: o sociólogo José de Souza Martins, o filósofo Renato Janine Ribeiro e o cientista político Renato Lessa.
O encontro, aberto ao público, ocorreu no Centro Universitário Maria Antônia, em São Paulo, no antigo salão nobre da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, onde FHC defendeu sua tese de doutorado, em 1961. A seguir, uma síntese da sabatina que enfrentou ao responder às perguntas de Martins, Janine Ribeiro e Lessa.
Burguesia de Estado
José de Souza Martins: Seu livro provoca discussão do que não tem sido discutido. Sobretudo nos textos relativos ao período da luta contra a ditadura, há destaque para a relevância dos movimentos sociais na construção da nova realidade política do País, realidade pós-ditatorial. A sociedade civil concorreu vigorosamente para o fim do regime militar. No entanto, temos nos deparado hoje com advertências em torno das ameaças representadas pelo autoritarismo popular. Boa parte desse autoritarismo se expressa justamente por meio de movimentos sociais. Como fica o ideal da democracia radical?
FHC: Quando voltei do Chile, da França, a preeminência da sociedade civil nos movimentos sociais chamava a atenção. A literatura sociológica mostrava, nos anos 60, sobretudo nos anos 70, as discussões de novas formas de poder. O conceito de sociedade civil reaparecia de uma forma diferente daquela que existia no passado. A sociedade civil era a sociedade não militar. Nela, contava muito mais a presença e a participação do que a estrutura. Tanto faz se as pessoas estivessem organizadas socialmente, hierarquicamente, classe média, classe não sei o quê, empresariado e tal. A questão era estar participando, juntos, daquilo - estar no movimento da sociedade civil, "do lado bom". Na época isso se confundiu com movimentação dos trabalhadores. Mas era tudo contra o regime. Eu, que naquela altura já havia escrito uns artigos soltos sobre o tema, disse: "Cuidado, de repente vamos ver uma relação se formar entre o líder do governo e a burocracia". Parecia não haver mais a dinâmica de poder forte, no sentido anterior, de grandes estruturas de classe, de dominação. Depois do regime autoritário, fiz um trabalho sobre os anéis burocráticos apontando que a política, nesse momento no Brasil, não passava pelas estruturas tradicionais, porque havia vínculos entre setores empresariais e setores da burocracia, constituindo esses anéis. Isso, ao contrário de uma sociedade com participação mais ativa, poderia levar a uma manipulação através dos grupos de poder. É a briga pelo poder. Foi até onde cheguei naquele momento, rico do ponto de vista intelectual, mas uma tragédia do ponto de vista político. Porque nós, intelectuais, tínhamos que reagir contra. E quando os intelectuais não têm como reagir, quando o sistema está fechado, eles vão para o monastério. O Cebrap era um monastério. Uma outra discussão que ganha pertinência nos dias de hoje é o que chamo de "burguesia de Estado". Tem que tomar cuidado: vivemos num sistema democrático, as empresas estatais estão crescendo, mas o que se presencia é a formação de uma burguesia de Estado. Olha a contradição dos termos... Mais tarde, (o sociólogo) Chico de Oliveira veio com uma crítica ainda mais radical sobre o funcionamento dos fundos sociais e fundos de pensão. Em síntese, mesmo em plena democracia, as forças reais de decisão no Brasil estão se constituindo num golpe de poder que une setores do Estado com setores empresariais e os fundos. Isso é algo que é preciso discutir.
A crítica às esquerdas
Renato Janine Ribeiro: Presidente, em seu livro, sua posição favorável à privatização não aparece. E o sr. já falava de uma esquerda arcaica, tradicional, em textos dos anos 70. Ocorre que, de lá para cá, a esquerda - que o sr. preza a ponto de dialogar com ela - mudou. Vejo uma mudança grande do PT dos anos 80 para o PT do governo, não sei se para melhor ou pior. Minha pergunta é: que mudanças ocorreram entre a esquerda dos anos 70 e a de hoje?
FHC: Excelente questão. De fato, lá atrás não estava colocada a questão da privatização. Ela só apareceu nos anos 80, no governo Sarney, e depois sob Collor e Itamar. Porque o mundo era outro, isso não se cogitava. Ao contrário, era preciso que o governo investisse em interesses do setor privado para garantir o desenvolvimento. Getúlio, quando fez Volta Redonda, tinha a ideia de que fosse uma empresa privada. Só que não houve interesse por parte do setor privado, houve até uma recusa formal. Daí o Estado entrou. Depois, isso foi mudando e veio a incapacidade do setor estatal em garantir recursos e tecnologia. Para mim, privatização não é ideal nem objetivo, é uma coisa pragmática. Também acho que transformar o monopólio público em monopólio privado não é progresso, porque o importante é haver competição. Com relação a sua pergunta sobre como vejo as esquerdas, nos anos 50, 60, o eixo fundamental que se tinha era a União Soviética. Esse era o paradigma. Havia ali uma transformação grande do pensamento original marxista para a ideia do partido que toma conta do Estado e socializa os bens de produção. Democracia não se discutia, não era tema. E passou esses anos todos sem ser discutida. Claro, houve uma crise da Europa, antes do final do regime soviético, introduzindo certa abertura para a ideia de democracia como valor, sobretudo entre os italianos. Tanto na Europa como aqui, líamos e falávamos em Gramsci, embora não fosse a linha dominante. Já no final dos anos 80 vem a queda da União Soviética e, antes mesmo disso, nos 70, a globalização já estava em marcha, com seus saltos tecnológicos, a comunicação, a internet, etc. Naquele momento, vi a formação do PT. Estava-se fazendo um partido de trabalhadores no sentido proletário, o que não se sustentava, pois a concepção de que aquela classe iria transformar a história estava desaparecendo. Por ter feito essa crítica, à época, me chamavam de "policlassista". A verdade é que o PT nasceu de três vertentes: a católica, que vinha dos movimentos sociais de base, a guerrilheira/ideológica e a dos sindicalistas. Hoje, prevalece a dos sindicalistas. A vertente católica foi se esvaecendo e a ideológica perdeu peso também. Na prática, o PT vira um partido social-democrata no governo, absorvendo as transformações do mundo. Mas por que mantenho a minha crítica? Porque permanece essa luta contra a ideia de globalização e contra o que se chama de "neoliberalismo". Hoje, o governo do PT se orgulha das multinacionais brasileiras que se globalizaram e até dá dinheiro para isso. Só que, na teoria, a coisa é diferente: os documentos do partido mantêm até hoje a mesma visão antiga. O fato é que o Brasil ganhou com a globalização. Virou Bric. O que precisa agora é haver uma crítica da própria elite da esquerda, uma crítica teórica, porque, na prática, essa esquerda no poder já está fazendo até demais (risos). Há também essa defesa da "democracia plebiscitária" do Chávez, essa ideia de que se você tiver o consenso da massa tudo se justifica. É risco para a democracia.
Visões da democracia
Renato Lessa: Vejo no livro uma contribuição importante para o debate sobre a teoria democrática. Traz expressões que caíram em desuso e acabaram voltando a nossa reflexão, como ‘democratização fundamental’ e ‘democracia substantiva’ - a ideia de que é possível pensar a democracia além da obrigatória adesão às dimensões formais. O sr. teria trocado uma perspectiva mais sociológica do fenômeno democrático por uma mais institucionalista? Penso que seria fundamental se nós ‘ressociologizássemos’ nossa percepção da política, para que ela não ficasse restrita ao jogo formal das instituições.
FHC: Como levar daqui para frente a democracia - essa é uma reflexão fundamental. Fiz recentemente uma conferência sobre Joaquim Nabuco, na Academia Brasileira de Letras, e me ocorreu levantar questões sobre a República, a organização política, as instituições e o processo social. Nós sempre tendemos a dissociar liberalismo e democracia em qualquer discussão. Por razão histórica há uma reação muito grande ao liberalismo no Brasil, tanto que quando alguém quer me xingar, me chama de neoliberal (risos), o que é um absurdo. Porque tomam o liberalismo como laissez-faire, simplesmente liberdade de mercado. Ora, não é isso. Hoje ninguém aqui é contra o capitalismo e sim contra o liberalismo. Mas não se pode recusar o liberalismo político, até porque a democracia substantiva não foi criada para isso. Não foi para dizer "democracia formal não vale, a representação não tem mais sentido". Não era uma volta a Rousseau. Há uma questão central: conseguiremos ou não certa convergência entre o pensamento democrático tradicional e as formas de participação direta no processo decisório? O equilíbrio é difícil. Em sociedades de massa como a nossa, e Nabuco e Tocqueville já tinham percebido isso lá nos Estados Unidos, há [PODE HAVER]o risco da demagogia. Nabuco temia que nos EUA, dada a forma republicana presidencialista, houvesse uma delegação total ao tutor, o presidente da república: "Parece que os americanos ficam felizes porque elegem o próprio tutor", disse, ironicamente. Hoje, em lugar de procurarmos combinar representação clássica com participação, corremos o risco de substituir tudo isso pela figura do tutor. É um perigo. Daniel Bell (professor de filosofia na Universidade Tsinghua, de Pequim) escreveu um artigo dizendo que os chineses têm uma ideia diferente dos ocidentais: com a generalização do voto e o desejo da massa de contar com uma figura simbólica, eles têm medo de não eleger os mais capazes e sim os de maior poder de comunicação. Por isso tendem a preservar os mecanismos meritocráticos do Partido Comunista. No Ocidente, onde se conseguiu fazer parlamentarismo houve maior possibilidade de equilíbrio institucional. Onde há presidencialismo, há risco maior de cesarismo. Vamos ter que pensar: na democracia, como compatibilizar o respeito às ideias de delegação com as de participação? Temos que voltar a discutir também o que é liberalismo político, não econômico. Ser contra o liberalismo político é estar a um passo de cair no lado autoritário.
Além do possível
Martins: Forte e insistente no livro é o tema do possível. Há uma frase dizendo que ‘o intelectual tem de estar na fronteira do possível’. Eu já fui malhado, falando nesse possível, por pessoas ligadas aos movimentos populares e da Igreja. ‘Não, nós temos que ir além do possível’, diziam. Mas esse possível não tem a ver necessariamente com o viável, é mais do que o viável. O possível ainda está no horizonte do governante? E na atual realidade brasileira? Segundo sua interpretação, por lidar com o possível, o intelectual é incômodo. Mas acho que os intelectuais deixaram de ser incômodos. Seria um retrocesso?
FHC: Sempre dizem que a política é a arte do possível. Não. Política é a arte de tornar possível o necessário, o desejável. Se não você não muda, é conservadorismo puro. Você tem que construir essa possibilidade. Não é qualquer coisa que é possível. Você tem que ter essa capacidade de construir os mecanismos que levem você à possibilidade de se aproximar de seu ideal. Não acredito que exista uma política forte sem alguma utopia. Recentemente, o (historiador inglês) Tony Judt deu uma entrevista dizendo: "Olha, o problema fundamental para o futuro é saber quais são nossos valores. Porque a economia vai andar sozinha". As economias são muito fortes. De vez em quando um país dá uma trombada, entra numa crise e tal, depois se recupera. É preciso voltar à questão clássica grega: qual é a boa sociedade? É uma questão de valores. O que queremos fazer na sociedade? Isso justamente implica alargar o limite do possível. Não é voluntarismo, basta querer que acontece. Quando dizem "falta vontade política" me dá um arrepio. (É como se dissessem) "a culpa é dele, está lá em cima e não faz". Como se a vontade fosse o decisivo na história. Ela não é decisiva! Tem que ter alguma vontade e ser competente para tornar possível seu ideal. Acho que estamos muito viciados no economicismo do pensamento. Pensamos tudo em termos do que é possível na economia. A gente só se preocupa com "cresceu o PIB". Eu vou repetir o que disse há poucos dias a um repórter americano do Miami Herald. Ele me perguntou: "O senhor acha que o Brasil vai ser mesmo a quinta potência do mundo?" Eu disse: "Pode ser, mas o que você chama de potência? Produto interno bruto? Então talvez seja". Mas não é essa a pergunta correta. Tem que perguntar: "O senhor acha que o Brasil vai ser uma sociedade mais decente, mais digna, mais solidária, mais coesa, melhor para o seu povo, com mais igualdade?" Aí eu tenho dúvidas. Do ponto de vista econômico o Brasil vai continuar crescendo. Haverá seus ciclos, depende um pouco do governo, mas não só dele, depende de conjuntura... Mas nós já temos nos motores da nossa economia máquinas muito poderosas. Vamos levantar voo. O resto eu tenho muita dúvida. O possível para mim é você deslocar dessa fixação meramente economicista para um pensamento de valores. Como é que vamos ter realmente uma sociedade decente? Como vamos fazer para dar uma educação que permita ao Brasil avançar mais? Há muitos anos eu digo que no dia em que o País tiver telefonista ou empregada doméstica capazes de anotar um recado, então terá se desenvolvido. Não só aprendemos a voar como a fazer avião. Mas como é difícil desembarcar no Brasil! Difícil chegar à porta do avião. Se vier do exterior, passar pela aduana é uma coisa dificílima. Não se faz a fila direito. Essas coisas contam. Como é que você vai tornar o comportamento do dia a dia compatível com o comportamento que já podemos ter? Eu disse há muitos anos que o Brasil não é mais um país subdesenvolvido, é um país injusto. Fui criticado. Hoje digo que, economicamente, o Brasil já teve um desenvolvimento que lhe permitiria ser um país mais justo. Mas continua sendo um país que não avançou suficientemente nos termos fundamentais de igualdade, justiça, equidade. Aqueles que vão liderar o Brasil daqui para frente terão de colocar ênfase nesse tipo de questão. Não é só fazer políticas sociais que mitiguem a desigualdade. É muito mais. Nem conseguimos ainda fazer com que todos acreditemos que somos iguais perante a lei, por exemplo. E não somos. Como é que se faz democracia onde você não tem igualdade perante a lei? Joaquim Nabuco dizia que a Inglaterra era o único país do mundo onde o duque de Westminster e seu mordomo, se fossem chamados pelo juiz, teriam o mesmo temor, e o juiz decidiria independentemente da condição social deles. Aqui não acontece isso. Não é por causa do juiz. É por causa da legislação e é por nossa causa. A sociedade brasileira aceita a desigualdade. E é indulgente com a corrupção.
Um intelectual popular
Janine Ribeiro: Seu livro é o relato de um intelectual que se tornou governante, o que é extremamente raro. Na história do País, talvez o único intelectual de seu porte que tenha chegado ao poder seja José Bonifácio - e em curto espaço de tempo, por um capricho do imperador. Mas a figura do intelectual não é propriamente popular no País. Em compensação, no Big Brother Brasil, acaba de vencer a disputa um rapaz que havia dito que 'homem que é homem não pega aids', o que levou a Justiça a intervir no programa. No dia seguinte, esse indivíduo teve 60% de votos. Como foi possível para o sr. converter o gap que há entre o intelectual e a sociedade, de modo a transformar a possível impopularidade em liderança?
FHC: O título de um livro que escrevi e só saiu em inglês é The Accidental President of Brazil. Porque foi um acidente, de certa maneira. Uma pessoa com a minha biografia e carreira não tinha como ter voto e ser presidente da República. Ganhei do Lula duas vezes no primeiro turno, o que não é fácil, já não era. Claro que no meu caso teve uma coisa específica: o Real. Se não fosse o Plano Real eu não teria sido presidente. Podia continuar ministro, senador. Talvez nem isso. Percebi que iria ser eleito em Santa Maria da Vitória, na Bahia, no dia 11 ou 12 de junho. Cheguei por lá num avião monomotor vagabundo e pousamos na pista de terra. Estávamos atrasados e o Antônio Carlos (Magalhães), que era o dono da Bahia na época, nos esperava irritado. Quando chegamos na praça, a população tinha notas de Real na mão e gritava, feliz da vida: "Vale mais que o dólar! Vale mais que o dólar!" Vi que seria eleito. E o que fiz? Falei. Muitos se esquecem, mas eu falava todo dia. Quando houve a decisão final do plano, em fevereiro, passei horas na televisão explicando o que era e o que iria acontecer com a vida das pessoas. Então, não cheguei à Presidência porque sou intelectual, mas porque fui ministro, fiz o Real e não sou, nem nunca fui, complicado para falar. Eu me lembro que quando entrei na política, vários amigos diziam: "Ah, não vai ter voto. É intelectual". Não vou entrar em detalhes, mas figuras importantes afirmavam que eu sabia falar melhor o francês do que o português... Falo francês mal e porcamente! Diziam: "Nunca viu um pobre, só nas ruas de Paris". Isso foi dito por um grande milionário de São Paulo. Esqueceram que eu me formei aqui e, aos 29 anos, defendi tese sobre negros. Pesquisei nas favelas e cortiços do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Nunca tive dificuldade em falar com o povo. E, em política, o desempenho é fundamental. Quando numa eleição os candidatos não são bons de conversa, vêm os marqueteiros e projetam imagens. Mas em alguma hora aparece a pessoa. E se ela não é capaz de falar de modo que os outros entendam, não tem caminho na política. Pode ser eleito primeiro-ministro num regime parlamentarista, mas não chefe de Estado num presidencialismo de massas. Isso não ocorre só no Brasil. Eu estava em Brown, nos Estados Unidos, no ano anterior às primárias da última corrida presidencial, e telefonei para o Bill Clinton. Na conversa, disse: "Aqui me parece que a Hillary está bem". Ele respondeu: "Não só aí, no país inteiro". Isso foi em outubro. Quando voltei para dar aula em fevereiro, todo o mundo era Obama. A Hillary teve a máquina do Partido Democrata, era conhecida, competente, mulher, mas Obama desempenhou melhor. Obama pode não ser grande intelectual, mas tem formação sólida. Mais sólida, talvez, do que a Hillary. E desempenhou melhor.
Olhares fragmentados
Lessa: Quero falar ainda do intelectual público. Tenho a impressão de que vivemos um tempo de profunda desativação de hábitos do pensamento. Conversando com um jovem colega sobre política, fiquei perplexo ao ver com que convicção defendia o 'bicameralismo com voto distrital misto'. Na minha época éramos de esquerda, de direita ou de centro, brigávamos por isso, e hoje esse sujeito está disposto a bater nas pessoas pelo bicameralismo. Seu livro convida a um debate mais universalizado, a se pensar a política como atividade humana. Como evitar a fragmentação e reagir à perda do hábito do pensamento?
FHC: Um bom exemplo disso é a universidade. Aqui nesta sala, quando eu era representante dos alunos e depois dos doutores, se discutiam coisas de interesse da cidade e do País. Havia uma ligação direta entre estar na universidade e estar dialogando com o governo, com o poder e a sociedade. Depois, a universidade foi ficando mais ensimesmada e a vida, mais fragmentada. A qualidade do ensino não foi perdida, ao contrário, melhorou, houve mais especialização. Só que perde-se a ideia de intelectual público, de alguém que se apresenta perante a sociedade e a nação para debater ideias. Isso foi encolhendo, desaparecendo. E sobra a briga interna, que é isso mesmo: sou favorável ao bicameralismo ou não (risos). Acho que a grande força da universidade americana é exatamente o oposto disso. Ela é tão forte e se sente tão segura que não tem medo de chegar perto nem das empresas, nem do governo. No Brasil evita-se o governo por medo da cooptação. E as empresas, por medo da privatização. Às vezes recebo estudantes lá no instituto e um deles me provocou: "O que o sr. acha da privatização das universidades públicas?" Ora, alguém compra uma universidade pública? É inviável, isso é uma bobagem. A universidade tem que ser pública e vai continuar assim. Mas é preciso perder o temor do mercado. E considerar que o Estado também gera pensamento - o Ipea gera pensamento, a Petrobrás gera pensamento técnico, mas há outros setores do Estado que avançaram muito sem qualquer conexão com a universidade. Mas voltando ao intelectual público, hoje ele certamente precisa da mídia para exercer um papel e ter relevância. É uma maneira de sair do casulo e manter uma relação com a sociedade. Problema: a mídia escolhe seus interlocutores. É preciso aumentar essas escolhas, abrindo espaço para um número maior de intelectuais, para incrementar o debate público. A função do intelectual não é só resolver, mas provocar, criar caso. Por que eu brigo tanto com a esquerda? Porque eu a levo a sério - e provoco. Temos que ampliar os nossos canais de fala. Não adianta querer penetrar por dentro dos partidos, porque eles são surdos a esse tipo de debate. E nem pensar que de uma campanha eleitoral vá surgir a luz.
Candomblé com Descartes
Martins: Hoje os dois principais candidatos à Presidência da República se desincompatibilizaram. Estão abertamente na campanha. A minha tendência é ver em José Serra a personificação do Iluminismo e a reafirmação dos valores da Renascença. E vejo em Dilma Rousseff a personificação das tensões do Romantismo. Nessa eleição vamos nos defrontar com a dicotomia esquerda-direita por meio dessa modalidade de polarização?
FHC: Dá para ver que foi meu aluno e hoje me encosta na parede... (risos). Eu fiquei muito impactado com o que aconteceu na União Soviética. E muito com Gorbachev, especialmente. Porque, sendo chefe do Partido Comunista da URSS, ele recolocou a questão da humanidade. Quando disse que não dava para continuar daquele jeito, que a bomba atômica levaria à morte dos dois lados, disse coisas além da classe e do Estado. Humanidade era a grande discussão filosófica do Hegel. E lá vinha Marx criticando, dizendo que só poderia ver o universal concreto, só o proletariado, sem falar de humanidade. Gorbachev disse "cuidado, já avançamos tanto no campo tecnológico e na guerra que não dá para falar só dos extremos, nem só de classe e Estado-nação". Essa é a grande confusão que está aí até hoje. Tem classe, tem Estado-nação e tem a globalização que nos leva a um pensamento mais universal. Estamos podendo ver o homem de uma maneira mais ampla sob todas suas dimensões. De fato, somos herdeiros do Renascimento, do Iluminismo. Até Marx dizia isso. No entanto, com o pós-modernismo tudo ficou mais complicado. A fragmentação dificultou muito. Daí esse retorno do Romantismo, uma espécie de angústia de não saber como se juntam as peças. Pelo menos o Serra acha que sabe juntar as peças. E a Dilma poderá perder-se porque vem de uma tradição na qual não se misturam as peças, terá que aprender. De fato, a Dilma pode ter uma visão menos racional e mais romântica sobre as coisas. E o Serra vai numa tradição mais racional. No fundo é isso: quem vai valorizar mais o elemento da razão ou da emoção no futuro. Digo valorizar mais porque não há vida ou política sem emoção. Espero que o Serra entenda um pouco mais de candomblé. E a Dilma leia um pouco mais de Descartes.
Bazófias de ACM
Janine Ribeiro: Não posso esquecer que, conforme suas palavras, o sr. foi um presidente acidental, um presidente improvável. Então, agora, penso nos termos de Maquiavel: fortuna e virtù. Se fôssemos utilizar esses termos, diríamos que o sr. foi levado à Presidência pela fortuna. Foi ministro da Fazenda, fez o Plano Real e, portanto, se elegeu. Agora, conquistar o poder pelas armas alheias, como diz Maquiavel, coloca um problema sério, que é o de a pessoa conseguir depois enfeixar o poder nas mãos. Lembro Maria Conceição Tavares, num debate na televisão, em que dizia do senhor: ‘Ele acha que vai conseguir dominar Antônio Carlos Magalhães?’ No entanto, antes do final do seu primeiro mandato as cartas tinham mudado por completo, o sr. havia controlado as circunstâncias. Como foi essa passagem de uma situação de fortuna para uma de virtù?
FHC: Ninguém se mantém no poder sem virtù, sem capacidade política. Claro que estamos falando na democracia. No sistema fechado é diferente. Que eu saiba, o grande líder brasileiro, Getúlio Vargas, não era de falar. Ele apenas lia o discurso: "Boa noite, trabalhadores do Brasil". A democracia requer mais do que isso. Requer um convencimento quase diário. É o que o Lula faz. O líder tem que estar o tempo todo tratando de exercer sua liderança, porque ter obtido voto não garante a legitimidade de sua ação depois. Garante legitimidade formal, mas não apoio. No dia seguinte você não tem mais voto nenhum. Você tem que ganhar de novo. No caso do Real, eu tive virtù antes, senão nem chagaríamos ao plano. O Antônio Carlos nunca teve assento em nenhuma decisão do meu governo. Friso: nenhuma. Ele tinha poder na Câmara e no Senado. E isso fascina, dá a impressão que vai comandar tudo. Não era assim. Nunca imaginou que eu fosse mexer com ele. Antônio Carlos foi para Miami e disse na televisão umas bobagens de que não gostei. Pois eu mesmo escrevi as cartas de demissão dos dois ministros ligados a ele. Tem que ter coragem. Ninguém governa sem ela. Mas essa coragem não deve ser bazófia. Tem que ser coragem moral. E outra coisa; as decisões mais importantes são solitárias. Se eu fosse perguntar aos meus amigos e partidários se deveria demitir ou não os ministros ligados ao Antônio Carlos eles iam dizer que não, porque aquilo criaria uma crise no Senado. Então você tem que ir lá dentro de você, sozinho, tomar a decisão e atuar. Líder precisa ter a capacidade de se isolar e de ouvir o outro. Muitos perguntavam como é que eu recebia certos políticos, mas tem que receber. Mesmo os que são abandidados, até para compreender o jogo deles. Eu sempre procurei manter o olhar do sociólogo, dar espaço. Então o sujeito saía de lá feliz: "Conquistei o presidente". Conquistou coisa nenhuma. Você deu elementos para o presidente, depois, no isolamento, julgar o que dá para fazer e o que não dá para fazer. Esse exercício é permanente. Maquiavel tem absoluta razão. Tem que ter sorte, mas não basta. Tem que ter virtù. E a virtù não é um dom, você a desenvolve. Veja o Lula e eu em 1970. Você acha que nós já éramos o que somos hoje? Não. Fomos desenvolvendo certas habilidades. O mais difícil é lidar com os que estão próximos. Como é que você controla os seus? Questão que vai se colocar se a Dilma se eleger. O Lula a controla. Ele é maior, e sabe como controlar. A pressão maior que o presidente sofre é dos que estão com ele, não é dos que são contra. Dos que são contra ele lê no jornal.
Utopias regressivas
Lessa: Os movimentos sociais aparecem nos seus textos em chave dupla: uma delas é o reconhecimento de que eles limitam os autoritarismos. Outra, de que são a expressão de identidades parciais e fragmentadas. Para além de um debate sobre dois gerentes na campanha presidencial, acho que há outro tema, da maior gravidade, subjacente à democratização brasileira: a reestruturação do espaço público. Temos um Poder Executivo forte, um problema de representação no Legislativo e o hiperativismo do Judiciário. Ocorre que todos se ajustaram à situação. Sabem procurar o juiz, mas não conhecem o caminho dos partidos e da representação. Como resolver isso?
FHC: Para te dizer em termos não abstratos, mas práticos: o que fazer com o MST, por exemplo? Houve momentos, em 1997, que dava a impressão de que ou se fazia a reforma agrária ou o Brasil estava perdido. Ninguém percebia, na época, a grande transformação que estava havendo no agrobusiness. Todo o foco era o MST. Em 1997 houve uma imensa mobilização em Brasília. E repleta de palavras de ordem inacreditáveis, como se estivéssemos próximos de fazer a Revolução Soviética. Como criar um espaço público que permitisse um diálogo democrático? Eu recebi o MST várias vezes. Algumas estão gravadas até. Estive com o João Pedro Stédile. Com o José Rainha, nem se fale: esse ia à noite ao Palácio da Alvorada. Mas era difícil a relação, pela razão de que os valores deles são inegociáveis. É uma negociação falsa: eles não vão para discutir a política pública, vão para botar o presidente, ou o ministro, contra a parede. Aqui em São Paulo, hoje, está havendo uma manifestação (de professores) para botar o governador contra a parede. Não há pauta de negociação. É só pressão. Não existe em um movimento como o MST a ideia de passar pelos canais institucionalizados, partidos, etc. Existe é pressão. E valores impossíveis, arcaicos, que chamo de "utopias regressivas". Como se fosse possível ao Brasil voltar à Idade Média. Com o tempo esses movimentos vão esquecendo a utopia, e querendo pequenas vantagens, o que é mais triste ainda. Realmente, a fragmentação é enorme. A teoria democrática no Brasil vai ter que absorver isso e discutir como incorporá-los ampliando o espaço público. Quando falo do risco de um subperonismo no Brasil é a isso que me refiro. Como não há canais públicos de integração e de aceitação - e alguns acham que sua razão é a única, o que é um fundamentalismo -, isso acaba facilitando um certo cesarismo, aquela ideia de que há alguém capaz de resolver tudo. Temos problemas com a democracia no Brasil, mas não é que vá haver outro golpe militar ou fraude nas eleições. É uma coisa mais substantiva mesmo. São problemas nossos, da sociedade, não só dos partidos.
SÃO PAULO - "Esqueçam o que escrevi." A frase, atribuída ao então presidente Fernando Henrique Cardoso - que ele nega ter pronunciado -, serviu de mote para o bem-humorado título de seu novo livro. Editado pela Civilização Brasileira com organização de Miguel Darcy de Oliveira, Relembrando o que Escrevi: da Reconquista da Democracia aos Desafios Globais reúne artigos e entrevistas do sociólogo, político e intelectual público que ocupou o Planalto por dois mandatos consecutivos, de 1995 a 2002. Dividido em cinco grandes temas - liberdade e democracia, esquerda e política, sociedade e Estado, desenvolvimento e globalização, esperança e futuro -, o livro mapeia reflexões e questionamentos ao longo de três décadas, precisamente de 1972 a 2006. Segundo o próprio Fernando Henrique, o mundo mudou, ele mudou, mas a orientação geral de suas ideias, até que não: "Se houve aggiornamento foi mais na forma do que no conteúdo", escreve na apresentação do livro.
No mesmo dia em que sua ausência se fez sentir até por uma cadeira vazia na cerimônia de desligamento do governador paulista José Serra, no Palácio dos Bandeirantes - e quando Dilma Rousseff também deixava seu gabinete em Brasília rumo à campanha presidencial -, FHC aceitou o convite do caderno Aliás para conversar e debater, por mais de duas horas, com três renomados intelectuais: o sociólogo José de Souza Martins, o filósofo Renato Janine Ribeiro e o cientista político Renato Lessa.
O encontro, aberto ao público, ocorreu no Centro Universitário Maria Antônia, em São Paulo, no antigo salão nobre da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, onde FHC defendeu sua tese de doutorado, em 1961. A seguir, uma síntese da sabatina que enfrentou ao responder às perguntas de Martins, Janine Ribeiro e Lessa.
Burguesia de Estado
José de Souza Martins: Seu livro provoca discussão do que não tem sido discutido. Sobretudo nos textos relativos ao período da luta contra a ditadura, há destaque para a relevância dos movimentos sociais na construção da nova realidade política do País, realidade pós-ditatorial. A sociedade civil concorreu vigorosamente para o fim do regime militar. No entanto, temos nos deparado hoje com advertências em torno das ameaças representadas pelo autoritarismo popular. Boa parte desse autoritarismo se expressa justamente por meio de movimentos sociais. Como fica o ideal da democracia radical?
FHC: Quando voltei do Chile, da França, a preeminência da sociedade civil nos movimentos sociais chamava a atenção. A literatura sociológica mostrava, nos anos 60, sobretudo nos anos 70, as discussões de novas formas de poder. O conceito de sociedade civil reaparecia de uma forma diferente daquela que existia no passado. A sociedade civil era a sociedade não militar. Nela, contava muito mais a presença e a participação do que a estrutura. Tanto faz se as pessoas estivessem organizadas socialmente, hierarquicamente, classe média, classe não sei o quê, empresariado e tal. A questão era estar participando, juntos, daquilo - estar no movimento da sociedade civil, "do lado bom". Na época isso se confundiu com movimentação dos trabalhadores. Mas era tudo contra o regime. Eu, que naquela altura já havia escrito uns artigos soltos sobre o tema, disse: "Cuidado, de repente vamos ver uma relação se formar entre o líder do governo e a burocracia". Parecia não haver mais a dinâmica de poder forte, no sentido anterior, de grandes estruturas de classe, de dominação. Depois do regime autoritário, fiz um trabalho sobre os anéis burocráticos apontando que a política, nesse momento no Brasil, não passava pelas estruturas tradicionais, porque havia vínculos entre setores empresariais e setores da burocracia, constituindo esses anéis. Isso, ao contrário de uma sociedade com participação mais ativa, poderia levar a uma manipulação através dos grupos de poder. É a briga pelo poder. Foi até onde cheguei naquele momento, rico do ponto de vista intelectual, mas uma tragédia do ponto de vista político. Porque nós, intelectuais, tínhamos que reagir contra. E quando os intelectuais não têm como reagir, quando o sistema está fechado, eles vão para o monastério. O Cebrap era um monastério. Uma outra discussão que ganha pertinência nos dias de hoje é o que chamo de "burguesia de Estado". Tem que tomar cuidado: vivemos num sistema democrático, as empresas estatais estão crescendo, mas o que se presencia é a formação de uma burguesia de Estado. Olha a contradição dos termos... Mais tarde, (o sociólogo) Chico de Oliveira veio com uma crítica ainda mais radical sobre o funcionamento dos fundos sociais e fundos de pensão. Em síntese, mesmo em plena democracia, as forças reais de decisão no Brasil estão se constituindo num golpe de poder que une setores do Estado com setores empresariais e os fundos. Isso é algo que é preciso discutir.
A crítica às esquerdas
Renato Janine Ribeiro: Presidente, em seu livro, sua posição favorável à privatização não aparece. E o sr. já falava de uma esquerda arcaica, tradicional, em textos dos anos 70. Ocorre que, de lá para cá, a esquerda - que o sr. preza a ponto de dialogar com ela - mudou. Vejo uma mudança grande do PT dos anos 80 para o PT do governo, não sei se para melhor ou pior. Minha pergunta é: que mudanças ocorreram entre a esquerda dos anos 70 e a de hoje?
FHC: Excelente questão. De fato, lá atrás não estava colocada a questão da privatização. Ela só apareceu nos anos 80, no governo Sarney, e depois sob Collor e Itamar. Porque o mundo era outro, isso não se cogitava. Ao contrário, era preciso que o governo investisse em interesses do setor privado para garantir o desenvolvimento. Getúlio, quando fez Volta Redonda, tinha a ideia de que fosse uma empresa privada. Só que não houve interesse por parte do setor privado, houve até uma recusa formal. Daí o Estado entrou. Depois, isso foi mudando e veio a incapacidade do setor estatal em garantir recursos e tecnologia. Para mim, privatização não é ideal nem objetivo, é uma coisa pragmática. Também acho que transformar o monopólio público em monopólio privado não é progresso, porque o importante é haver competição. Com relação a sua pergunta sobre como vejo as esquerdas, nos anos 50, 60, o eixo fundamental que se tinha era a União Soviética. Esse era o paradigma. Havia ali uma transformação grande do pensamento original marxista para a ideia do partido que toma conta do Estado e socializa os bens de produção. Democracia não se discutia, não era tema. E passou esses anos todos sem ser discutida. Claro, houve uma crise da Europa, antes do final do regime soviético, introduzindo certa abertura para a ideia de democracia como valor, sobretudo entre os italianos. Tanto na Europa como aqui, líamos e falávamos em Gramsci, embora não fosse a linha dominante. Já no final dos anos 80 vem a queda da União Soviética e, antes mesmo disso, nos 70, a globalização já estava em marcha, com seus saltos tecnológicos, a comunicação, a internet, etc. Naquele momento, vi a formação do PT. Estava-se fazendo um partido de trabalhadores no sentido proletário, o que não se sustentava, pois a concepção de que aquela classe iria transformar a história estava desaparecendo. Por ter feito essa crítica, à época, me chamavam de "policlassista". A verdade é que o PT nasceu de três vertentes: a católica, que vinha dos movimentos sociais de base, a guerrilheira/ideológica e a dos sindicalistas. Hoje, prevalece a dos sindicalistas. A vertente católica foi se esvaecendo e a ideológica perdeu peso também. Na prática, o PT vira um partido social-democrata no governo, absorvendo as transformações do mundo. Mas por que mantenho a minha crítica? Porque permanece essa luta contra a ideia de globalização e contra o que se chama de "neoliberalismo". Hoje, o governo do PT se orgulha das multinacionais brasileiras que se globalizaram e até dá dinheiro para isso. Só que, na teoria, a coisa é diferente: os documentos do partido mantêm até hoje a mesma visão antiga. O fato é que o Brasil ganhou com a globalização. Virou Bric. O que precisa agora é haver uma crítica da própria elite da esquerda, uma crítica teórica, porque, na prática, essa esquerda no poder já está fazendo até demais (risos). Há também essa defesa da "democracia plebiscitária" do Chávez, essa ideia de que se você tiver o consenso da massa tudo se justifica. É risco para a democracia.
Visões da democracia
Renato Lessa: Vejo no livro uma contribuição importante para o debate sobre a teoria democrática. Traz expressões que caíram em desuso e acabaram voltando a nossa reflexão, como ‘democratização fundamental’ e ‘democracia substantiva’ - a ideia de que é possível pensar a democracia além da obrigatória adesão às dimensões formais. O sr. teria trocado uma perspectiva mais sociológica do fenômeno democrático por uma mais institucionalista? Penso que seria fundamental se nós ‘ressociologizássemos’ nossa percepção da política, para que ela não ficasse restrita ao jogo formal das instituições.
FHC: Como levar daqui para frente a democracia - essa é uma reflexão fundamental. Fiz recentemente uma conferência sobre Joaquim Nabuco, na Academia Brasileira de Letras, e me ocorreu levantar questões sobre a República, a organização política, as instituições e o processo social. Nós sempre tendemos a dissociar liberalismo e democracia em qualquer discussão. Por razão histórica há uma reação muito grande ao liberalismo no Brasil, tanto que quando alguém quer me xingar, me chama de neoliberal (risos), o que é um absurdo. Porque tomam o liberalismo como laissez-faire, simplesmente liberdade de mercado. Ora, não é isso. Hoje ninguém aqui é contra o capitalismo e sim contra o liberalismo. Mas não se pode recusar o liberalismo político, até porque a democracia substantiva não foi criada para isso. Não foi para dizer "democracia formal não vale, a representação não tem mais sentido". Não era uma volta a Rousseau. Há uma questão central: conseguiremos ou não certa convergência entre o pensamento democrático tradicional e as formas de participação direta no processo decisório? O equilíbrio é difícil. Em sociedades de massa como a nossa, e Nabuco e Tocqueville já tinham percebido isso lá nos Estados Unidos, há [PODE HAVER]o risco da demagogia. Nabuco temia que nos EUA, dada a forma republicana presidencialista, houvesse uma delegação total ao tutor, o presidente da república: "Parece que os americanos ficam felizes porque elegem o próprio tutor", disse, ironicamente. Hoje, em lugar de procurarmos combinar representação clássica com participação, corremos o risco de substituir tudo isso pela figura do tutor. É um perigo. Daniel Bell (professor de filosofia na Universidade Tsinghua, de Pequim) escreveu um artigo dizendo que os chineses têm uma ideia diferente dos ocidentais: com a generalização do voto e o desejo da massa de contar com uma figura simbólica, eles têm medo de não eleger os mais capazes e sim os de maior poder de comunicação. Por isso tendem a preservar os mecanismos meritocráticos do Partido Comunista. No Ocidente, onde se conseguiu fazer parlamentarismo houve maior possibilidade de equilíbrio institucional. Onde há presidencialismo, há risco maior de cesarismo. Vamos ter que pensar: na democracia, como compatibilizar o respeito às ideias de delegação com as de participação? Temos que voltar a discutir também o que é liberalismo político, não econômico. Ser contra o liberalismo político é estar a um passo de cair no lado autoritário.
Além do possível
Martins: Forte e insistente no livro é o tema do possível. Há uma frase dizendo que ‘o intelectual tem de estar na fronteira do possível’. Eu já fui malhado, falando nesse possível, por pessoas ligadas aos movimentos populares e da Igreja. ‘Não, nós temos que ir além do possível’, diziam. Mas esse possível não tem a ver necessariamente com o viável, é mais do que o viável. O possível ainda está no horizonte do governante? E na atual realidade brasileira? Segundo sua interpretação, por lidar com o possível, o intelectual é incômodo. Mas acho que os intelectuais deixaram de ser incômodos. Seria um retrocesso?
FHC: Sempre dizem que a política é a arte do possível. Não. Política é a arte de tornar possível o necessário, o desejável. Se não você não muda, é conservadorismo puro. Você tem que construir essa possibilidade. Não é qualquer coisa que é possível. Você tem que ter essa capacidade de construir os mecanismos que levem você à possibilidade de se aproximar de seu ideal. Não acredito que exista uma política forte sem alguma utopia. Recentemente, o (historiador inglês) Tony Judt deu uma entrevista dizendo: "Olha, o problema fundamental para o futuro é saber quais são nossos valores. Porque a economia vai andar sozinha". As economias são muito fortes. De vez em quando um país dá uma trombada, entra numa crise e tal, depois se recupera. É preciso voltar à questão clássica grega: qual é a boa sociedade? É uma questão de valores. O que queremos fazer na sociedade? Isso justamente implica alargar o limite do possível. Não é voluntarismo, basta querer que acontece. Quando dizem "falta vontade política" me dá um arrepio. (É como se dissessem) "a culpa é dele, está lá em cima e não faz". Como se a vontade fosse o decisivo na história. Ela não é decisiva! Tem que ter alguma vontade e ser competente para tornar possível seu ideal. Acho que estamos muito viciados no economicismo do pensamento. Pensamos tudo em termos do que é possível na economia. A gente só se preocupa com "cresceu o PIB". Eu vou repetir o que disse há poucos dias a um repórter americano do Miami Herald. Ele me perguntou: "O senhor acha que o Brasil vai ser mesmo a quinta potência do mundo?" Eu disse: "Pode ser, mas o que você chama de potência? Produto interno bruto? Então talvez seja". Mas não é essa a pergunta correta. Tem que perguntar: "O senhor acha que o Brasil vai ser uma sociedade mais decente, mais digna, mais solidária, mais coesa, melhor para o seu povo, com mais igualdade?" Aí eu tenho dúvidas. Do ponto de vista econômico o Brasil vai continuar crescendo. Haverá seus ciclos, depende um pouco do governo, mas não só dele, depende de conjuntura... Mas nós já temos nos motores da nossa economia máquinas muito poderosas. Vamos levantar voo. O resto eu tenho muita dúvida. O possível para mim é você deslocar dessa fixação meramente economicista para um pensamento de valores. Como é que vamos ter realmente uma sociedade decente? Como vamos fazer para dar uma educação que permita ao Brasil avançar mais? Há muitos anos eu digo que no dia em que o País tiver telefonista ou empregada doméstica capazes de anotar um recado, então terá se desenvolvido. Não só aprendemos a voar como a fazer avião. Mas como é difícil desembarcar no Brasil! Difícil chegar à porta do avião. Se vier do exterior, passar pela aduana é uma coisa dificílima. Não se faz a fila direito. Essas coisas contam. Como é que você vai tornar o comportamento do dia a dia compatível com o comportamento que já podemos ter? Eu disse há muitos anos que o Brasil não é mais um país subdesenvolvido, é um país injusto. Fui criticado. Hoje digo que, economicamente, o Brasil já teve um desenvolvimento que lhe permitiria ser um país mais justo. Mas continua sendo um país que não avançou suficientemente nos termos fundamentais de igualdade, justiça, equidade. Aqueles que vão liderar o Brasil daqui para frente terão de colocar ênfase nesse tipo de questão. Não é só fazer políticas sociais que mitiguem a desigualdade. É muito mais. Nem conseguimos ainda fazer com que todos acreditemos que somos iguais perante a lei, por exemplo. E não somos. Como é que se faz democracia onde você não tem igualdade perante a lei? Joaquim Nabuco dizia que a Inglaterra era o único país do mundo onde o duque de Westminster e seu mordomo, se fossem chamados pelo juiz, teriam o mesmo temor, e o juiz decidiria independentemente da condição social deles. Aqui não acontece isso. Não é por causa do juiz. É por causa da legislação e é por nossa causa. A sociedade brasileira aceita a desigualdade. E é indulgente com a corrupção.
Um intelectual popular
Janine Ribeiro: Seu livro é o relato de um intelectual que se tornou governante, o que é extremamente raro. Na história do País, talvez o único intelectual de seu porte que tenha chegado ao poder seja José Bonifácio - e em curto espaço de tempo, por um capricho do imperador. Mas a figura do intelectual não é propriamente popular no País. Em compensação, no Big Brother Brasil, acaba de vencer a disputa um rapaz que havia dito que 'homem que é homem não pega aids', o que levou a Justiça a intervir no programa. No dia seguinte, esse indivíduo teve 60% de votos. Como foi possível para o sr. converter o gap que há entre o intelectual e a sociedade, de modo a transformar a possível impopularidade em liderança?
FHC: O título de um livro que escrevi e só saiu em inglês é The Accidental President of Brazil. Porque foi um acidente, de certa maneira. Uma pessoa com a minha biografia e carreira não tinha como ter voto e ser presidente da República. Ganhei do Lula duas vezes no primeiro turno, o que não é fácil, já não era. Claro que no meu caso teve uma coisa específica: o Real. Se não fosse o Plano Real eu não teria sido presidente. Podia continuar ministro, senador. Talvez nem isso. Percebi que iria ser eleito em Santa Maria da Vitória, na Bahia, no dia 11 ou 12 de junho. Cheguei por lá num avião monomotor vagabundo e pousamos na pista de terra. Estávamos atrasados e o Antônio Carlos (Magalhães), que era o dono da Bahia na época, nos esperava irritado. Quando chegamos na praça, a população tinha notas de Real na mão e gritava, feliz da vida: "Vale mais que o dólar! Vale mais que o dólar!" Vi que seria eleito. E o que fiz? Falei. Muitos se esquecem, mas eu falava todo dia. Quando houve a decisão final do plano, em fevereiro, passei horas na televisão explicando o que era e o que iria acontecer com a vida das pessoas. Então, não cheguei à Presidência porque sou intelectual, mas porque fui ministro, fiz o Real e não sou, nem nunca fui, complicado para falar. Eu me lembro que quando entrei na política, vários amigos diziam: "Ah, não vai ter voto. É intelectual". Não vou entrar em detalhes, mas figuras importantes afirmavam que eu sabia falar melhor o francês do que o português... Falo francês mal e porcamente! Diziam: "Nunca viu um pobre, só nas ruas de Paris". Isso foi dito por um grande milionário de São Paulo. Esqueceram que eu me formei aqui e, aos 29 anos, defendi tese sobre negros. Pesquisei nas favelas e cortiços do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Nunca tive dificuldade em falar com o povo. E, em política, o desempenho é fundamental. Quando numa eleição os candidatos não são bons de conversa, vêm os marqueteiros e projetam imagens. Mas em alguma hora aparece a pessoa. E se ela não é capaz de falar de modo que os outros entendam, não tem caminho na política. Pode ser eleito primeiro-ministro num regime parlamentarista, mas não chefe de Estado num presidencialismo de massas. Isso não ocorre só no Brasil. Eu estava em Brown, nos Estados Unidos, no ano anterior às primárias da última corrida presidencial, e telefonei para o Bill Clinton. Na conversa, disse: "Aqui me parece que a Hillary está bem". Ele respondeu: "Não só aí, no país inteiro". Isso foi em outubro. Quando voltei para dar aula em fevereiro, todo o mundo era Obama. A Hillary teve a máquina do Partido Democrata, era conhecida, competente, mulher, mas Obama desempenhou melhor. Obama pode não ser grande intelectual, mas tem formação sólida. Mais sólida, talvez, do que a Hillary. E desempenhou melhor.
Olhares fragmentados
Lessa: Quero falar ainda do intelectual público. Tenho a impressão de que vivemos um tempo de profunda desativação de hábitos do pensamento. Conversando com um jovem colega sobre política, fiquei perplexo ao ver com que convicção defendia o 'bicameralismo com voto distrital misto'. Na minha época éramos de esquerda, de direita ou de centro, brigávamos por isso, e hoje esse sujeito está disposto a bater nas pessoas pelo bicameralismo. Seu livro convida a um debate mais universalizado, a se pensar a política como atividade humana. Como evitar a fragmentação e reagir à perda do hábito do pensamento?
FHC: Um bom exemplo disso é a universidade. Aqui nesta sala, quando eu era representante dos alunos e depois dos doutores, se discutiam coisas de interesse da cidade e do País. Havia uma ligação direta entre estar na universidade e estar dialogando com o governo, com o poder e a sociedade. Depois, a universidade foi ficando mais ensimesmada e a vida, mais fragmentada. A qualidade do ensino não foi perdida, ao contrário, melhorou, houve mais especialização. Só que perde-se a ideia de intelectual público, de alguém que se apresenta perante a sociedade e a nação para debater ideias. Isso foi encolhendo, desaparecendo. E sobra a briga interna, que é isso mesmo: sou favorável ao bicameralismo ou não (risos). Acho que a grande força da universidade americana é exatamente o oposto disso. Ela é tão forte e se sente tão segura que não tem medo de chegar perto nem das empresas, nem do governo. No Brasil evita-se o governo por medo da cooptação. E as empresas, por medo da privatização. Às vezes recebo estudantes lá no instituto e um deles me provocou: "O que o sr. acha da privatização das universidades públicas?" Ora, alguém compra uma universidade pública? É inviável, isso é uma bobagem. A universidade tem que ser pública e vai continuar assim. Mas é preciso perder o temor do mercado. E considerar que o Estado também gera pensamento - o Ipea gera pensamento, a Petrobrás gera pensamento técnico, mas há outros setores do Estado que avançaram muito sem qualquer conexão com a universidade. Mas voltando ao intelectual público, hoje ele certamente precisa da mídia para exercer um papel e ter relevância. É uma maneira de sair do casulo e manter uma relação com a sociedade. Problema: a mídia escolhe seus interlocutores. É preciso aumentar essas escolhas, abrindo espaço para um número maior de intelectuais, para incrementar o debate público. A função do intelectual não é só resolver, mas provocar, criar caso. Por que eu brigo tanto com a esquerda? Porque eu a levo a sério - e provoco. Temos que ampliar os nossos canais de fala. Não adianta querer penetrar por dentro dos partidos, porque eles são surdos a esse tipo de debate. E nem pensar que de uma campanha eleitoral vá surgir a luz.
Candomblé com Descartes
Martins: Hoje os dois principais candidatos à Presidência da República se desincompatibilizaram. Estão abertamente na campanha. A minha tendência é ver em José Serra a personificação do Iluminismo e a reafirmação dos valores da Renascença. E vejo em Dilma Rousseff a personificação das tensões do Romantismo. Nessa eleição vamos nos defrontar com a dicotomia esquerda-direita por meio dessa modalidade de polarização?
FHC: Dá para ver que foi meu aluno e hoje me encosta na parede... (risos). Eu fiquei muito impactado com o que aconteceu na União Soviética. E muito com Gorbachev, especialmente. Porque, sendo chefe do Partido Comunista da URSS, ele recolocou a questão da humanidade. Quando disse que não dava para continuar daquele jeito, que a bomba atômica levaria à morte dos dois lados, disse coisas além da classe e do Estado. Humanidade era a grande discussão filosófica do Hegel. E lá vinha Marx criticando, dizendo que só poderia ver o universal concreto, só o proletariado, sem falar de humanidade. Gorbachev disse "cuidado, já avançamos tanto no campo tecnológico e na guerra que não dá para falar só dos extremos, nem só de classe e Estado-nação". Essa é a grande confusão que está aí até hoje. Tem classe, tem Estado-nação e tem a globalização que nos leva a um pensamento mais universal. Estamos podendo ver o homem de uma maneira mais ampla sob todas suas dimensões. De fato, somos herdeiros do Renascimento, do Iluminismo. Até Marx dizia isso. No entanto, com o pós-modernismo tudo ficou mais complicado. A fragmentação dificultou muito. Daí esse retorno do Romantismo, uma espécie de angústia de não saber como se juntam as peças. Pelo menos o Serra acha que sabe juntar as peças. E a Dilma poderá perder-se porque vem de uma tradição na qual não se misturam as peças, terá que aprender. De fato, a Dilma pode ter uma visão menos racional e mais romântica sobre as coisas. E o Serra vai numa tradição mais racional. No fundo é isso: quem vai valorizar mais o elemento da razão ou da emoção no futuro. Digo valorizar mais porque não há vida ou política sem emoção. Espero que o Serra entenda um pouco mais de candomblé. E a Dilma leia um pouco mais de Descartes.
Bazófias de ACM
Janine Ribeiro: Não posso esquecer que, conforme suas palavras, o sr. foi um presidente acidental, um presidente improvável. Então, agora, penso nos termos de Maquiavel: fortuna e virtù. Se fôssemos utilizar esses termos, diríamos que o sr. foi levado à Presidência pela fortuna. Foi ministro da Fazenda, fez o Plano Real e, portanto, se elegeu. Agora, conquistar o poder pelas armas alheias, como diz Maquiavel, coloca um problema sério, que é o de a pessoa conseguir depois enfeixar o poder nas mãos. Lembro Maria Conceição Tavares, num debate na televisão, em que dizia do senhor: ‘Ele acha que vai conseguir dominar Antônio Carlos Magalhães?’ No entanto, antes do final do seu primeiro mandato as cartas tinham mudado por completo, o sr. havia controlado as circunstâncias. Como foi essa passagem de uma situação de fortuna para uma de virtù?
FHC: Ninguém se mantém no poder sem virtù, sem capacidade política. Claro que estamos falando na democracia. No sistema fechado é diferente. Que eu saiba, o grande líder brasileiro, Getúlio Vargas, não era de falar. Ele apenas lia o discurso: "Boa noite, trabalhadores do Brasil". A democracia requer mais do que isso. Requer um convencimento quase diário. É o que o Lula faz. O líder tem que estar o tempo todo tratando de exercer sua liderança, porque ter obtido voto não garante a legitimidade de sua ação depois. Garante legitimidade formal, mas não apoio. No dia seguinte você não tem mais voto nenhum. Você tem que ganhar de novo. No caso do Real, eu tive virtù antes, senão nem chagaríamos ao plano. O Antônio Carlos nunca teve assento em nenhuma decisão do meu governo. Friso: nenhuma. Ele tinha poder na Câmara e no Senado. E isso fascina, dá a impressão que vai comandar tudo. Não era assim. Nunca imaginou que eu fosse mexer com ele. Antônio Carlos foi para Miami e disse na televisão umas bobagens de que não gostei. Pois eu mesmo escrevi as cartas de demissão dos dois ministros ligados a ele. Tem que ter coragem. Ninguém governa sem ela. Mas essa coragem não deve ser bazófia. Tem que ser coragem moral. E outra coisa; as decisões mais importantes são solitárias. Se eu fosse perguntar aos meus amigos e partidários se deveria demitir ou não os ministros ligados ao Antônio Carlos eles iam dizer que não, porque aquilo criaria uma crise no Senado. Então você tem que ir lá dentro de você, sozinho, tomar a decisão e atuar. Líder precisa ter a capacidade de se isolar e de ouvir o outro. Muitos perguntavam como é que eu recebia certos políticos, mas tem que receber. Mesmo os que são abandidados, até para compreender o jogo deles. Eu sempre procurei manter o olhar do sociólogo, dar espaço. Então o sujeito saía de lá feliz: "Conquistei o presidente". Conquistou coisa nenhuma. Você deu elementos para o presidente, depois, no isolamento, julgar o que dá para fazer e o que não dá para fazer. Esse exercício é permanente. Maquiavel tem absoluta razão. Tem que ter sorte, mas não basta. Tem que ter virtù. E a virtù não é um dom, você a desenvolve. Veja o Lula e eu em 1970. Você acha que nós já éramos o que somos hoje? Não. Fomos desenvolvendo certas habilidades. O mais difícil é lidar com os que estão próximos. Como é que você controla os seus? Questão que vai se colocar se a Dilma se eleger. O Lula a controla. Ele é maior, e sabe como controlar. A pressão maior que o presidente sofre é dos que estão com ele, não é dos que são contra. Dos que são contra ele lê no jornal.
Utopias regressivas
Lessa: Os movimentos sociais aparecem nos seus textos em chave dupla: uma delas é o reconhecimento de que eles limitam os autoritarismos. Outra, de que são a expressão de identidades parciais e fragmentadas. Para além de um debate sobre dois gerentes na campanha presidencial, acho que há outro tema, da maior gravidade, subjacente à democratização brasileira: a reestruturação do espaço público. Temos um Poder Executivo forte, um problema de representação no Legislativo e o hiperativismo do Judiciário. Ocorre que todos se ajustaram à situação. Sabem procurar o juiz, mas não conhecem o caminho dos partidos e da representação. Como resolver isso?
FHC: Para te dizer em termos não abstratos, mas práticos: o que fazer com o MST, por exemplo? Houve momentos, em 1997, que dava a impressão de que ou se fazia a reforma agrária ou o Brasil estava perdido. Ninguém percebia, na época, a grande transformação que estava havendo no agrobusiness. Todo o foco era o MST. Em 1997 houve uma imensa mobilização em Brasília. E repleta de palavras de ordem inacreditáveis, como se estivéssemos próximos de fazer a Revolução Soviética. Como criar um espaço público que permitisse um diálogo democrático? Eu recebi o MST várias vezes. Algumas estão gravadas até. Estive com o João Pedro Stédile. Com o José Rainha, nem se fale: esse ia à noite ao Palácio da Alvorada. Mas era difícil a relação, pela razão de que os valores deles são inegociáveis. É uma negociação falsa: eles não vão para discutir a política pública, vão para botar o presidente, ou o ministro, contra a parede. Aqui em São Paulo, hoje, está havendo uma manifestação (de professores) para botar o governador contra a parede. Não há pauta de negociação. É só pressão. Não existe em um movimento como o MST a ideia de passar pelos canais institucionalizados, partidos, etc. Existe é pressão. E valores impossíveis, arcaicos, que chamo de "utopias regressivas". Como se fosse possível ao Brasil voltar à Idade Média. Com o tempo esses movimentos vão esquecendo a utopia, e querendo pequenas vantagens, o que é mais triste ainda. Realmente, a fragmentação é enorme. A teoria democrática no Brasil vai ter que absorver isso e discutir como incorporá-los ampliando o espaço público. Quando falo do risco de um subperonismo no Brasil é a isso que me refiro. Como não há canais públicos de integração e de aceitação - e alguns acham que sua razão é a única, o que é um fundamentalismo -, isso acaba facilitando um certo cesarismo, aquela ideia de que há alguém capaz de resolver tudo. Temos problemas com a democracia no Brasil, mas não é que vá haver outro golpe militar ou fraude nas eleições. É uma coisa mais substantiva mesmo. São problemas nossos, da sociedade, não só dos partidos.
domingo, 4 de abril de 2010
Continuidade e Mudança
MERVAL PEREIRA
O grande mistério dessa eleição presidencial que se avizinha é saber qual a estratégia eficiente para derrotar um governo tão popular quanto o do presidente Lula. Enquanto o presidente joga todo o seu prestígio na continuidade, que estaria assegurada com a eleição de Dilma, a oposição tem que passar a sensação ao eleitor de que tem melhores condições de garantir essa continuidade, o que é insólito em política, pois o papel da oposição seria o de promover a mudança.
O cientista político Alberto Carlos de Almeida, especialista em análise da opinião pública, autor do best seller "A cabeça do brasileiro", acha que uma das maneiras de desconstruir a imagem da candidata oficial Dilma Rousseff é incutir na cabeça do eleitor que Lula não sabe escolher seus assessores.
Seria uma maneira de voltar a tocar no escândalo do mensalão, para atingir também a candidata oficial no que ela tem de mais vulnerável: a falta de experiência política.
O economista político Alexandre Marinis, da consultoria Mosaico, tem uma análise que pega os resultados das quatro últimas eleições presidenciais — que mostra uma forte correlação entre o índice de popularidade do presidente e o de votos válidos conseguidos por seu candidato — e vai muito mais fundo, até as eleições municipais e estaduais.
Pegando duas vertentes de análises diferentes, ele cruza o resultado concreto de eleição, seja a nível nacional, estadual ou municipal, com as pesquisas de opinião, e avalia como elas caminham ao longo das campanhas. "Dá para constatar que as oscilações dos candidatos acompanham muito de perto a taxa de aprovação dos governantes", garante.
A principal consequência disso, na opinião de Marinis, é que seria insuficiente a estratégia da oposição de não confrontação com o governo.
"Se você quiser desconstruir a Dilma, mas o governo permanecer extremamente forte, você pode afetar a taxa de transferência de popularidade mas ainda assim garantir a vitória da candidata oficial", analisa Marinis.
Ele exemplifica: se a popularidade de Lula se mantiver tão alta, ainda que você reduza a efetividade dessa transferência, digamos para 60%, ainda assim sua candidata terá quase metade dos votos. "Isso implica que não basta trabalhar na desconstrução da imagem da Dilma, tem que também encarar as deficiências do governo Lula. Não adianta você fugir desse debate".
Alexandre Marinis acha que "na cabeça do eleitor típico do Lula, que também é eleitor típico da Dilma, se eu desejo continuidade e não quero mudar nada, por que vou arriscar e votar num candidato de oposição?".
Para vencer a eleição, o candidato oposicionista precisa encarar as deficiências do governo Lula. "Você pode desconstruir a imagem da Dilma, mas tem que reduzir também a popularidade do Lula. O fato concreto é que a popularidade de Lula é o principal ativo que a candidatura da Dilma tem".
Até mesmo Ciro Gomes, do PSB, que luta para manter sua candidatura à Presidência, está cometendo o que seria um erro, na opinião de Marinis: critica Dilma, dizendo-se mais preparado que ela, critica a aliança entre o PT e o PMDB, mas poupa Lula e seu governo.
O cientista político Alberto Carlos de Almeida, especialista em análise do eleitor brasileiro e da opinião pública, acha que a luta de José Serra vai ter que ser para manter o eleitorado que, apesar de considerar o governo Lula ótimo ou bom, vota nele.
A mais recente pesquisa de opinião do Datafolha informou que 33% desses eleitores de Lula estão com Serra, o mesmo contingente que apoia Dilma.
Para o candidato da oposição atingir os pobres, ele terá que falar sobre redução de imposto sobre consumo, diz Alberto Carlos de Almeida.
Os cidadãos da classe baixa já teriam entendido que pagam imposto indireto sobre os bens de consumo, como alimentação.
E como a sociedade é muito desigual, a população acha que só pobre paga imposto. A percepção é de que há uma exploração na cobrança de impostos, que prejudica a vida dos mais pobres. E como a nova classe C quer cada vez consumir mais, a alta carga tributária é um flanco do governo que pode ser atacado.
Nesse sentido, o Democratas está mais afinado com o sentimento popular, pois comanda uma campanha em São Paulo, com Afif Domingues, para denunciar quanto de imposto está embutido nos preços, e foi devido a uma campanha do deputado Paulo Bornhausen que a oposição conseguiu derrubar a CPMF.
Nas entrevistas qualitativas, Alberto Carlos de Almeida diz que o que aparece quando se discute o fim da CPMF é que ela é uma prova de que o imposto não melhorava a vida das pessoas: "Tinha a CPMF e a saúde era muito ruim. Acabou o imposto e a saúde continuou igual", resumem os entrevistados.
Mas Alberto Carlos de Almeida considera que as iniciativas oposicionistas nesse campo ainda são tímidas, faltaria-lhes a ousadia que sobra em Lula: "Uma atuação mais decidida nesse campo embaralharia o jogo eleitoral", analisa.
Ele considera as campanhas realizadas até agora pouco populares. "Quando o outro lado está muito forte, como é o caso do governo atual, você tem que inovar na sua mensagem", adverte o cientista político.
Ele adverte, também, que o combate à corrupção não pode ser levado para um lado moralista, pois o cidadão brasileiro, ao contrário do americano, não é moralista.
"Ele já entendeu que a corrupção ajuda a piorar a vida das pessoas, e acha que, se houver menos impostos, haverá menos corrupção."
O grande mistério dessa eleição presidencial que se avizinha é saber qual a estratégia eficiente para derrotar um governo tão popular quanto o do presidente Lula. Enquanto o presidente joga todo o seu prestígio na continuidade, que estaria assegurada com a eleição de Dilma, a oposição tem que passar a sensação ao eleitor de que tem melhores condições de garantir essa continuidade, o que é insólito em política, pois o papel da oposição seria o de promover a mudança.
O cientista político Alberto Carlos de Almeida, especialista em análise da opinião pública, autor do best seller "A cabeça do brasileiro", acha que uma das maneiras de desconstruir a imagem da candidata oficial Dilma Rousseff é incutir na cabeça do eleitor que Lula não sabe escolher seus assessores.
Seria uma maneira de voltar a tocar no escândalo do mensalão, para atingir também a candidata oficial no que ela tem de mais vulnerável: a falta de experiência política.
O economista político Alexandre Marinis, da consultoria Mosaico, tem uma análise que pega os resultados das quatro últimas eleições presidenciais — que mostra uma forte correlação entre o índice de popularidade do presidente e o de votos válidos conseguidos por seu candidato — e vai muito mais fundo, até as eleições municipais e estaduais.
Pegando duas vertentes de análises diferentes, ele cruza o resultado concreto de eleição, seja a nível nacional, estadual ou municipal, com as pesquisas de opinião, e avalia como elas caminham ao longo das campanhas. "Dá para constatar que as oscilações dos candidatos acompanham muito de perto a taxa de aprovação dos governantes", garante.
A principal consequência disso, na opinião de Marinis, é que seria insuficiente a estratégia da oposição de não confrontação com o governo.
"Se você quiser desconstruir a Dilma, mas o governo permanecer extremamente forte, você pode afetar a taxa de transferência de popularidade mas ainda assim garantir a vitória da candidata oficial", analisa Marinis.
Ele exemplifica: se a popularidade de Lula se mantiver tão alta, ainda que você reduza a efetividade dessa transferência, digamos para 60%, ainda assim sua candidata terá quase metade dos votos. "Isso implica que não basta trabalhar na desconstrução da imagem da Dilma, tem que também encarar as deficiências do governo Lula. Não adianta você fugir desse debate".
Alexandre Marinis acha que "na cabeça do eleitor típico do Lula, que também é eleitor típico da Dilma, se eu desejo continuidade e não quero mudar nada, por que vou arriscar e votar num candidato de oposição?".
Para vencer a eleição, o candidato oposicionista precisa encarar as deficiências do governo Lula. "Você pode desconstruir a imagem da Dilma, mas tem que reduzir também a popularidade do Lula. O fato concreto é que a popularidade de Lula é o principal ativo que a candidatura da Dilma tem".
Até mesmo Ciro Gomes, do PSB, que luta para manter sua candidatura à Presidência, está cometendo o que seria um erro, na opinião de Marinis: critica Dilma, dizendo-se mais preparado que ela, critica a aliança entre o PT e o PMDB, mas poupa Lula e seu governo.
O cientista político Alberto Carlos de Almeida, especialista em análise do eleitor brasileiro e da opinião pública, acha que a luta de José Serra vai ter que ser para manter o eleitorado que, apesar de considerar o governo Lula ótimo ou bom, vota nele.
A mais recente pesquisa de opinião do Datafolha informou que 33% desses eleitores de Lula estão com Serra, o mesmo contingente que apoia Dilma.
Para o candidato da oposição atingir os pobres, ele terá que falar sobre redução de imposto sobre consumo, diz Alberto Carlos de Almeida.
Os cidadãos da classe baixa já teriam entendido que pagam imposto indireto sobre os bens de consumo, como alimentação.
E como a sociedade é muito desigual, a população acha que só pobre paga imposto. A percepção é de que há uma exploração na cobrança de impostos, que prejudica a vida dos mais pobres. E como a nova classe C quer cada vez consumir mais, a alta carga tributária é um flanco do governo que pode ser atacado.
Nesse sentido, o Democratas está mais afinado com o sentimento popular, pois comanda uma campanha em São Paulo, com Afif Domingues, para denunciar quanto de imposto está embutido nos preços, e foi devido a uma campanha do deputado Paulo Bornhausen que a oposição conseguiu derrubar a CPMF.
Nas entrevistas qualitativas, Alberto Carlos de Almeida diz que o que aparece quando se discute o fim da CPMF é que ela é uma prova de que o imposto não melhorava a vida das pessoas: "Tinha a CPMF e a saúde era muito ruim. Acabou o imposto e a saúde continuou igual", resumem os entrevistados.
Mas Alberto Carlos de Almeida considera que as iniciativas oposicionistas nesse campo ainda são tímidas, faltaria-lhes a ousadia que sobra em Lula: "Uma atuação mais decidida nesse campo embaralharia o jogo eleitoral", analisa.
Ele considera as campanhas realizadas até agora pouco populares. "Quando o outro lado está muito forte, como é o caso do governo atual, você tem que inovar na sua mensagem", adverte o cientista político.
Ele adverte, também, que o combate à corrupção não pode ser levado para um lado moralista, pois o cidadão brasileiro, ao contrário do americano, não é moralista.
"Ele já entendeu que a corrupção ajuda a piorar a vida das pessoas, e acha que, se houver menos impostos, haverá menos corrupção."
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