sábado, 11 de outubro de 2008

Revista Época desta semana

O ano da reeleição

Nunca foi tão fácil se reeleger ou eleger um sucessor. Esse fenômeno ocorreu em todo o Brasil
Ricardo Mendonça

A principal marca das eleições municipais de 2008 foi a continuidade. O sinal mais forte disso é o que ocorreu nas capitais. Dos 20 prefeitos que concorreram à reeleição, 13 venceram no primeiro turno. Os outros sete disputam segundo turno. No país, 3.357 candidatos disputaram a reeleição e 67% deles foram reconduzidos ao cargo. Um recorde, segundo a Confederação Nacional dos Municípios.

Outra característica foi a evolução dos partidos que compõem a base aliada do presidente Lula. Juntos, eles garantiram 4.046 prefeituras.

Entre os partidos grandes, os destaques foram PMDB e PT. Em números absolutos, o PMDB foi o campeão de votos e de total de prefeituras conquistadas. O PT neste ano não apresentou candidatos em algumas cidades grandes, como Belo Horizonte e Aracaju, em Sergipe. Avançou pouco no número de votos, mas cresceu 33% no total de prefeituras. O DEM foi o maior derrotado. Perdeu 294 prefeituras, quase um PSB inteiro.

Revista Época desta semana

O jogo para 2010 está feito: será Dilma X Serra
Ricardo Amaral

Agora que a crise financeira mundial sentou praça no Brasil, nenhuma análise política com vistas a 2010 pode ser comprada por seu valor de face. Todos os prognósticos ficam sujeitos a deságio, dependendo do que vai acontecer com a economia nos próximos dois anos. Nem por isso desistiremos de analisar o primeiro turno das eleições municipais. A reversão de expectativas na reta final, em São Paulo e Belo Horizonte, nada tem a ver com os humores do mercado. Foi pura política.

A campanha começou difícil para o governador José Serra e parecia um passeio para seu concorrente Aécio Neves – os dois possíveis candidatos do PSDB à sucessão presidencial. O primeiro turno terminou com Serra e Aécio em situações opostas. O governador de São Paulo conseguiu levar seu candidato Gilberto Kassab (DEM) ao segundo turno, à frente de Marta Suplicy (PT), que era a favorita nas pesquisas.

A eleição não está encerrada, mas a diferença de votos entre Kassab e o candidato oficial do PSDB, Geraldo Alckmin, foi grande o bastante para confirmar a liderança política do governador. Serra conseguiu dirigir para Kassab o apoio da maior parte dos cabos eleitorais do PSDB paulistano. Agora, numa disputa contra o PT, espera reduzir a murmúrios o descontentamento dos derrotados. O resultado parcial serviu também para consolidar o apoio do DEM ao projeto presidencial de Serra. O antigo PFL não tem futuro longe de Serra. Nem em São Paulo nem em Brasília.

Em Minas, a manobra de Aécio na direção do PT falhou por insuficiência de votos. Duas semanas atrás estava escrito aqui que o candidato do PSB, Marcio Lacerda, deveria ser eleito prefeito de Belo Horizonte no primeiro turno. Era o que diziam as pesquisas e o que sugeriam as ruas – apáticas, como se não houvesse uma campanha em curso. Nas pesquisas e na TV, parecia tudo definido. Faltou combinar com o eleitor.

Com o apoio de Aécio e do prefeito petista Fernando Pimentel, Lacerda subiu como um foguete, mas não alcançou a lua. Chegou praticamente empatado com o jovem deputado Leonardo Quintão, do PMDB. O eleitor puniu o acordo de cúpula. Governador e prefeito acertaram-se por cima, mas não mobilizaram o eleitorado que há 16 anos dá vitórias à centro-esquerda em Belo Horizonte.

Para tentar conquistar esse eleitor, a campanha de Lacerda já se deslocou para a esquerda. Suas chances dependem cada vez mais do engajamento do PT. Não o PT do prefeito Pimentel, mas o do ministro Patrus Ananias, que foi contrário ao acordo com os tucanos e se ausentou da campanha no primeiro turno. Aécio quis fazer da eleição a vitrine de uma proposta alternativa à polarização entre PT e PSDB. A resposta do eleitor no primeiro turno comprometeu esse objetivo, qualquer que seja o resultado final.

A previsível radicalização das eleições em São Paulo deverá destruir as pontes entre os dois partidos. Antes que as eleições acabem, já ficou claro que José Serra caminha para disputar as eleições de 2010, apoiado pelo DEM. Do outro lado estará a candidata do presidente Lula, e a cada dia fica mais difícil imaginar que a escolhida não seja a ministra Dilma Rousseff. Principalmente se o segundo turno confirmar o favoritismo de Gilberto Kassab, liquidando os planos do PT paulista para apresentar o nome de Marta à sucessão presidencial.

Se havia expectativa de que as eleições municipais pudessem mudar o rumo da corrida ao Planalto, os eleitores de Belo Horizonte e de São Paulo trataram de frustrá-la. Além disso, o bloquinho PCdoB-PSB-PDT, formado em torno do ex-ministro Ciro Gomes, não marcou pontos na eleição. O próprio Ciro saiu derrotado em Fortaleza, seu reduto. E o PMDB continua sendo o maior partido político do país sem candidato à Presidência da República. Resta um ponto de interrogação no Rio, onde o deputado Fernando Gabeira faz o primeiro teste real de uma candidatura “verde”.

Encerradas as eleições, é pouco provável que fatos e articulações políticas consigam alterar o desenho de uma disputa polarizada entre Serra e Dilma em 2010. Qualquer mudança nesse quadro passa a depender da economia e suas incertezas.

Espaço Aberto - Globo News

Cenário político

O Espaço Aberto desta sexta falou sobre o cenário político depois do primeiro turno das eleições municipais.

Quem perdeu? Quem ganhou? Os resultados podem já dar uma direção para como será a disputa presidencial, daqui a dois anos? E quais as possibilidades de alianças para o segundo turno?

Participaram Lucio Rennó Junior e Alberto Carlos Almeida.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Bandinha do Jornal da CBN 1ª Edição

38 questões sobre a crise

A Revista Época, na edição dessa semana, trouxe uma série de perguntas fundamentando esta crise que afeta toda a economia mundial.

Segue, na íntegra, as perguntas e as referidas explicações.

Bolha imobiliária? Créditos podres? Colapso de crédito? A crise financeira é tão complexa que deixa perplexos mesmo economistas de primeira linha, acostumados ao jargão quase impenetrável dos mercados. Iniciada nos Estados Unidos, ela contagiou outros países, chegou ao Brasil e terá efeitos em todo o planeta. Para que você saiba o que está acontecendo no mundo, como a crise nos mercados poderá afetar sua vida e o que fazer com o seu dinheiro, ÉPOCA preparou um manual com as principais questões para entender este momento de grandes incertezas.

1. Como a crise começou?
Desde o século XVII, todas as crises financeiras são precedidas por bolhas. Desta vez, a bolha de crédito começou a se formar em 2001, depois da crise das empresas de internet. Sob Alan Greenspan, num período de 24 meses o Federal Reserve, banco central americano, derrubou a taxa de juros de 6% ao ano para 1% ao ano, para estimular a economia. Esse dinheiro fácil inundou o mercado, fez dobrar o valor das moradias e estimulou as empresas a emprestar sem critérios e sem garantias, com base em inovações do mercado financeiro. Wall Street aprendeu a empacotar hipotecas e outros débitos dos consumidores em títulos vendidos no mercado financeiro como papéis de primeira linha. Essa ficção financeira movimentou US$ 1,5 trilhão e ajudou os bancos de investimento a movimentar muito mais dinheiro do que poderiam em circunstâncias normais. Quando o preço das casas começou a cair e os endividados deixaram de pagar as prestações dos imóveis, tudo ruiu. As instituições financeiras com carteiras podres começaram a quebrar em abril de 2007 e não pararam mais. De lá para cá, o mercado tenta, sem sucesso, avaliar o tamanho do rombo coletivo e decidir quem é digno de confiança. Essa interrogação paralisou o mercado mundial de crédito e transformou a crise financeira americana numa crise da economia real.

2. Por que ela é tão grave?
Porque atingiu em cheio o coração do sistema financeiro, cada vez mais central no capitalismo. Sem o fluxo normal de crédito, a máquina da economia global fica asfixiada. “Tudo depende de crédito e confiança no sistema financeiro. Neste momento não vejo nem crédito nem confiança”, disse a ÉPOCA o economista americano Thomas Trebat, da Universidade Colúmbia, de Nova York. A revista The Economist compara o sistema financeiro ao encanamento de um edifício. Quando ele funciona, ninguém percebe. Quando entope, o mau cheiro é insuportável. Esta é a situação atual: o sistema parou, mesmo com os governos dos Estados Unidos, da Europa e do Japão injetando US$ 1,4 trilhão na tubulação. O custo dos empréstimos entre os bancos cresceu 16 vezes nos últimos 18 meses, porque as instituições financeiras não confiam uma nas outras e preferem ter dinheiro em caixa. Se os bancos não emprestam dinheiro entre si, também não emprestam para as indústrias, para os serviços e para os consumidores. “É seguro dizer que, enquanto os mercados financeiros não funcionarem normalmente, a crise financeira não vai terminar”, diz a Economist. “Até que a crise financeira acabe, a economia global não vai se recuperar”.

3. Qual é o tamanho da crise?
Em agosto de 2007, quando o Fed foi obrigado a injetar US$ 64 bilhões no mercado financeiro americano para desfazer o gargalo de confiança que paralisava os empréstimos entre os bancos, percebeu-se que a crise hipotecária tomara uma proporção dramática. Deste então se tenta dimensioná-la. O Fundo Monetário Internacional falou de imediato em custos de US$ 1,5 trilhão. O que então parecia um exagero hoje parece uma avaliação otimista. Só o governo americano já empenhou US$ 1,58 trilhão para tentar conter o desastre. E pode não ser suficiente. Calcula-se que a crise tenha pulverizado US$ 17 trilhões das Bolsas de Valores no mundo todo até a semana passada. É muito dinheiro – equivale a aproximadamente 13 vezes a economia brasileira e é mais do que a dos Estados Unidos e a do Japão juntos.

Essa é uma medida do problema. Outra, menos abstrata, é que já faliram 13 bancos neste ano nos Estados Unidos. Desapareceu um setor inteiro do mercado financeiro – os centenários bancos de investimento –, tragado por dívidas e incertezas. Se tivesse parado por aí, a crise já seria histórica. Mas ela foi além: secou o mercado de crédito mundial, derrubou o consumo nos Estados Unidos e congelou planos de investimento em todos os países. A economia global travou.

Empresas como Ford, Toyota e Honda enfrentam quedas de venda da ordem de 30% nos Estados Unidos. A General Electric não consegue rolar sua dívida de US$ 90 bilhões. Foi obrigada a pedir uma injeção de capital de US$ 3 bilhões ao investidor Warren Buffett. A Microsoft estava no Congresso americano na semana passada fazendo lobby pró-pacote, porque via que seus clientes no mercado financeiro estavam sumindo. Além de multissetorial, a crise é internacional. A Europa está socorrendo seus bancos na Inglaterra, na Irlanda e na Bélgica e se prepara para enfrentar uma forte desaceleração da economia. A China cortou a taxa de juros pela primeira vez em cinco anos para manter seu espetacular crescimento. O preço das commodities desabou, com a expectativa de recessão. O financiamento internacional às exportações desapareceu, ameaçando o comércio internacional e o equilíbrio financeiro de países emergentes como o Brasil.

4. Qual será seu custo?
A conta final para a economia planetária poderá chegar a astronômicos US$ 4,5 trilhões, ou quase 8% do PIB global. Os primeiros a perder são os sistemas bancários americano e europeus. Eles podem ver desaparecer US$ 3 trilhões, se forem contabilizados a redução das linhas de crédito das montadoras, o colapso dos cartões de crédito, a redução de crédito entre os bancos e outros prejuízos não precificados. Também perderão os bancos centrais com títulos dolarizados, basicamente China, Hong Kong e Japão. Como a aprovação do pacote econômico de emergência significará um aumento do déficit fiscal americano, estudos prevêem uma possível desvalorização do dólar. Esses bancos centrais deverão amargar, assim, um prejuízo de US$ 500 bilhões nos títulos referenciados em dólares. Some-se a isso o pacote aprovado pelos Estados Unidos, num total de US$ 850 bilhões – conta que será paga pelos contribuintes –, e chega-se à absurda soma de US$ 4,35 trilhões, o custo estimado da turbulência. Detalhe: ele não leva em conta os prejuízos decorrentes das perdas de empregos, vendas, encomendas, exportações, enfim, da freada que a economia mundial poderá sofrer em virtude desse caos.

5. Faz sentido comparar esta crise com a de 1929?
Medida pelas suas conseqüências até o momento, a crise hipotecária não faz sombra aos eventos da década de 30. A Grande Depressão quebrou 1.800 bancos nos Estados Unidos, derrubou em 20% o PIB das sete maiores economias do mundo, provocou desemprego de até 33% nos EUA e na Alemanha e fez o comércio mundial encolher em dois terços. A crise de 29 foi uma tragédia social e econômica sem paralelo.

Hoje, o cenário é outro. Os governos dos EUA e da União Européia estão agindo com rapidez e energia para debelar a crise financeira. Há disposição em evitar que ela se transforme em crise social. Calcula-se que, desde julho de 2007, o governo dos EUA já tenha lançado US$ 2 trilhões na economia, na tentativa de evitar que ela mergulhe em depressão. Em 29, a primeira medida do governo americano para aumentar a liquidez veio três anos depois da explosão da Bolsa.

Mesmo assim, há semelhanças. A crise atual começou nos EUA e está se espalhando. Surgiu como crise financeira localizada e ganhou a economia real. Parecia controlável com interferências pontuais do governo, mas já engoliu montanhas de dinheiro sem dar sinal de arrefecer. É possível que o mundo esteja presenciando o início de algo maior. O ajuste no mercado financeiro pode fugir ao controle, ferindo o sistema bancário e as empresas que dele dependem. Se essa engrenagem de destruição de valor entrar em movimento, estará montado o cenário para o que a revista Time chamou de Depressão 2.0 – uma crise em escala global capaz de rivalizar com a hecatombe dos anos 30.

6. Quanto tempo ela vai durar?
O estrangulamento de crédito no mercado internacional e a falta de confiança entre bancos podem ser atenuados em poucas semanas. “Isso acontecerá se o pacote americano de socorro for bem-aceito pelo mercado”, afirma o economista Fernando Sotelino, ex-presidente do Unibanco e professor da Universidade Colúmbia, de Nova York. Mas a retomada da atividade a pleno vapor levará mais tempo. “O problema vai durar no mínimo até meados do ano que vem”, diz o economista americano Nouriel Roubini. Voltar ao crescimento econômico em níveis elevados pode levar mais de um ano. Setores considerados motores da economia, como a construção civil e o automobilístico, dependem de crédito e atravessam forte desaceleração. Como os Estados Unidos são a maior economia do mundo, a diminuição do consumo de sua população provocará queda nas importações provenientes de países como China, Índia e Brasil.

7) Qual é o efeito da globalização?
A globalização criou canais de comunicação entre todos os países e setores econômicos. Fez do isolamento e da blindagem uma quimera. Os países serão mais afetados quão maior for a sua conexão ao sistema financeiro americano, quão mais ampla for a abertura da sua economia e quão maior for o grau de endividamento do seu sistema financeiro. A Europa tem ligações umbilicais com Wall Strett. Em países como o Reino Unido se opera em graus elevados de endividamento. Aí a crise vai ser severa. A Ásia é dependente do mercado de consumo americano. O sistema financeiro de alguns países – como o Japão – funciona em íntima sintonia com Nova York, mas com grau de endividamento menor. A crise será menos intensa. No mundo emergente, misturam-se realidades distintas. A China está perigosamente vinculada ao mercado financeiro americano: um quinto das reservas do país está em títulos dos gigantes falidos das hipotecas, Fannie Mae e Freddie Mac. Nenhum país tem tanto a perder com um eventual colapso do mercado financeiro. Na América Latina, países como o Brasil vão sofrer com a falta de crédito e o encolhimento do mercado de commodities.

Para ter uma idéia da extensão da atual crise financeira, já “evaporaram” do mercado acionário global cerca de US$ 12 trilhões do fim de 2007 até o fim de agosto, último dado oficial disponível, segundo a Federação Mundial de Bolsas de Valores. Nesse período, o valor de mercado de todas as ações negociadas no mundo caiu de US$ 61 trilhões para US$ 49 trilhões. Em setembro, é provável que outros US$ 4 trilhões ou US$ 5 trilhões tenham virado pó nos pregões em todo o planeta. É o equivalente a mais de duas vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, de R$ 1,9 trilhão em 2007.

8. Qual será o efeito no Brasil?
O comércio internacional deverá perder vigor e nenhum país ficará livre de sofrer algum impacto no ano que vem. “Nos últimos anos, o Brasil foi muito favorecido pelo forte crescimento da economia mundial”, diz o economista José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central. “É evidente que, se a economia mundial piorar, a situação por aqui vai piorar também”. No começo, os problemas estiveram confinados ao campo financeiro, castigando principalmente quem investe em ações. Nas últimas semanas, a crise começou a contagiar o setor produtivo, atingindo duas das principais alavancas do crescimento brasileiro: as exportações e o crédito externo. Com a crise, tanto as exportações quanto o crédito encolherão. Para amenizar a situação, nos últimos dias o governo adotou algumas medidas. Liberou R$ 5 bilhões para financiar os agricultores. O Banco Central injetou mais de R$ 36 bilhões na economia para ajudar bancos pequenos e médios que antes buscavam crédito barato no exterior. “A janela externa para eles fechou”, afirma o economista Alexandre Póvoa, da Modal Asset Management.

9. Haverá muito estrago?
Neste momento, ninguém sabe dizer. Todos os analistas afirmam que, ao contrário do que pode acontecer com outros países, o Brasil não deverá passar por uma recessão. Haverá, sim, uma freada no ritmo de crescimento da economia. Depois de avançar algo em torno de 5% neste ano, o crescimento econômico deverá sofrer uma desaceleração e ficar em torno de 3% no ano que vem.

10. Por que o Brasil está mais protegido hoje?
A economia brasileira hoje é mais sólida do que até poucos anos atrás. A maior parte da expansão do PIB brasileiro vem do mercado interno. Apenas cerca de 15% vêm das exportações, área mais afetada pela crise. “O Brasil é muito voltado para o mercado interno”, afirma o economista Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central. “Isso torna o país menos sensível aos efeitos desta crise”. A confiança do investidor estrangeiro no Brasil, que sempre causou instabilidade, não é mais um problema grave. O país tem US$ 206 bilhões em reservas, volume suficiente para pagar suas dívidas. “Não vai haver desconfiança sobre a capacidade do Brasil de pagar algum débito”, diz Goldfajn. “Nas crises anteriores, as reservas do Brasil equivaliam a lutar com uma espingarda. Agora, o Brasil tem uma metralhadora M-16”, afirma um economista de um dos maiores bancos do país. Além de ter como pagar, o Brasil deve menos. Anos atrás, crises como essa provocavam uma disparada no preço do dólar e da dívida. Hoje, a dívida em dólar não só está zerada, como o Brasil mudou de lado – é credor em dólares. “Em outros tempos, a esta hora o Brasil estaria um pandemônio”, diz um economista.

11. O que é preciso fazer para resolver a crise?
A palavra-chave em qualquer crise financeira é confiança. Se o pacote do governo americano for bem-sucedido, ele pode destravar os empréstimos no sistema bancário e permitir que a economia volte a respirar e caminhar. Será o primeiro passo. O próximo, mais demorado, será fazer com que empresas e governos ajustem suas operações aos padrões mais limitados de financiamento. O sistema terá de expurgar suas dívidas e papéis ruins, para descobrir qual é o tamanho real da economia no início do século XXI. Tudo isso terá de ser monitorado de perto pelos governos. De carteira na mão, eles devem estar dispostos a intervir para resgatar os afogados e evitar o pior – uma quebradeira desordenada, desemprego e recessão profunda. O desastre pode custar mais caro que o socorro.

12. Qual é a lógica do plano de salvamento americano?
Com o plano, o governo americano pretende comprar os papéis podres no mercado e injetar dinheiro novo nos bancos. A aposta é que a confiança, aos poucos, retorne ao sistema financeiro. Numa analogia, o crédito exerce para o funcionamento da economia a mesma função que o oxigênio cumpre para o bom funcionamento do corpo humano. No momento, as veias estão bloqueadas, e o sistema econômico sofreu uma parada cardíaca. O pacote é como um balão de oxigênio para que o sistema, aos poucos, volte a respirar normalmente.

13. Ele vai acabar com a crise?
O mais provável é que o pacote ajude a atenuar a crise, mas não acabe com ela. Um dos motivos é que a crise não é apenas mais americana, mas passou a ser global. Na semana passada, houve intervenções de governos de sete países da Europa para salvar ou nacionalizar bancos. O pânico nos mercados financeiros atingiu também Rússia, Ásia e Índia. Outro motivo é a que crise financeira também já se alastrou para a economia real. Os EUA estão à beira de uma recessão. Em setembro, o índice que mede a atividade industrial no país caiu para o menor patamar desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. O ideal é que os bancos que tiveram lucros altíssimos durante a fase de exuberância dos mercados financeiros e correram riscos exagerados paguem por seus erros. Mas é ingenuidade imaginar que um colapso dos bancos não vai atingir a economia real e o cidadão comum. Por isso, é necessária certa dose de pragmatismo. Quando os mercados financeiros falham, a melhor atitude é uma intervenção rápida do governo para que eles voltem a funcionar. Na crise de 1929, não houve essa intervenção, os bancos entraram em falência em massa e o mundo entrou numa depressão profunda.

14. Por que houve tamanha resistência à aprovação do pacote?
Lá nos EUA, como no Brasil, é impopular socorrer bancos. Para 84% dos americanos, os responsáveis pela crise são os executivos de bancos e seus bônus estratosféricos. Como o pacote original não propunha medidas punitivas a esses executivos, milhões de americanos se sentiram injustiçados. A impopularidade da ajuda a Wall Street foi agravada pelo fato de o plano ter sido concebido pelo governo Bush, o mais impopular da história americana. Outro complicador foi a discussão do pacote durante um ano eleitoral.

15. O plano americano é igual ao Proer brasileiro?
Não. Há uma diferença fundamental entre o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), implementado pelo governo Fernando Henrique Cardoso entre 1995 e 1997, e o plano americano. O Proer tinha um alvo preciso: bancos cuja principal fonte de lucros era a hiperinflação brasileira e cujos ativos ruíram depois do sucesso do Plano Real, em 1994. “Era um problema localizado em alguns bancos grandes e outros de porte médio”, diz o economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central. “O problema nos EUA é muito mais grave porque todo o sistema financeiro foi contaminado por papéis podres.” O Banco Central brasileiro pôde fazer uma ação de saneamento cirúrgica e relativamente barata – o Proer injetou, entre 1994 e 1997, R$ 20,4 bilhões, cerca de 2,7% do PIB brasileiro médio da época. A retirada dos créditos podres do sistema financeiro nos EUA exigirá uma ação muito mais ampla e cara. Os US$ 850 bilhões do pacote do governo Bush equivalem a 8,5% do PIB americano.

16. Por que alguns bancos são socorridos e outros não?
Aparentemente, o governo americano decidiu usar o dinheiro do contribuinte apenas em instituições financeiras que, se quebrassem, poderiam causar estrago no mercado. Foi o caso da seguradora AIG, das agências de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, mas não do banco de investimento Lehman Brothers, que foi à falência.

17. Será que mais bancos ainda vão quebrar lá fora?
É provável que sim. O pacote de US$ 850 bilhões não vai resolver tudo. Imagine que a crise financeira é como um incêndio de grandes proporções numa floresta. O pacote representa o sucesso da ação dos bombeiros na luta para debelar o incêndio. Mesmo assim, sempre sobram focos isolados de fogo.

18. Quem ganhou e quem perdeu com a crise?
A crise está provocando uma mudança radical na correlação de forças do sistema financeiro internacional. Ninguém ganhou, mas alguns perderam menos. Entre os grandes conglomerados financeiros privados internacionais, é o caso do HSBC, do Reino Unido, e do Santander, da Espanha (que comprou recentemente o ABN Amro Real no Brasil). Eles conseguiram passar praticamente incólumes pela crise e ganharam importância relativa no cenário econômico global. Os grandes perdedores foram os bancos de investimento americanos (leia o quadro nesta página).

19. Por que os bancos emprestavam dinheiro a quem não podia pagar?
A falta de critérios na concessão de empréstimos imobiliários nos Estados Unidos passou a ser a regra do mercado nos últimos anos por várias razões. Uma delas, talvez a mais evidente, foi a ganância. Sobrava dinheiro no mercado, os analistas cobravam ganhos cada vez mais altos dos bancos e os executivos dependiam da alta do lucro e das ações para receber seus bônus. Muitos analistas dizem também que a concessão de empréstimos para quem não tinha condições financeiras de obtê-los não poderia ter ocorrido sem a estreita colaboração dos funcionários da linha de frente, que faziam o corpo a corpo com a clientela. De outra forma, não seria possível imigrantes ilegais conseguirem crédito sem a devida documentação. Diz-se que alguns brasileiros que viviam nos EUA de forma ilegal teriam conseguido obter empréstimos de até US$ 50 mil em dinheiro com lastro em seus financiamentos imobiliários. Eles teriam voltado ao Brasil com o dinheiro no bolso e abandonado os imóveis que haviam financiado lá.

20. O mercado de capitais tinha se transformado em fonte de recursos para as empresas brasileiras. E agora?
Nos últimos anos, houve um salto nas ações e nos outros papéis vendidos por empresas no Brasil. Em 2003, nenhuma empresa abriu capital na Bolsa. Em 2005, foram nove. Esse número saltou para 26 em 2006 e 50 no ano passado. Em 2007, as empresas captaram mais de R$ 32 bilhões no mercado de capitais, R$ 1 bilhão a mais do que havia sido emprestado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Esse movimento parou. Neste ano foram apenas cinco as novas empresas a abrir capital na Bolsa. “Os dois últimos anos foram atípicos, uma verdadeira loucura”, diz um economista de um banco de investimentos. Agora, a atividade só deve ser retomada no segundo semestre de 2009. “A crise pode ser um teste para o Brasil”, diz Ricardo Scavazza, sócio do Pátria Investimentos. “Depois que ela passar, o investidor estrangeiro pode ter mais confiança e injetar mais recursos no país”.

21. As empresas vão manter seus projetos de investimento no Brasil?
Na semana passada, a indústria brasileira de autopeças, que previa investimentos de US$ 2,2 bilhões para o ano que vem, anunciou que poderá rever seus planos. Mas a Fiat, cliente dessas empresas, anunciou que pretende manter seus investimentos de R$ 6 bilhões até 2010. “Os empresários ficam com receio de investir, usam o que têm nos estoques para não comprar mais matéria-prima. Ninguém quer colocar a cabeça para fora”, diz Walter Sacca, presidente da Plastwal, empresa que fabrica chapas de PVC usadas na fabricação de embalagens e cartões de crédito. Os clientes da Plastwal já diminuíram o número de pedidos em 20%. Os grandes projetos, por enquanto, parecem preservados. Na semana passada, o grupo Gerdau anunciou a intenção de manter investimentos de R$ 4 bilhões nos próximos três anos. “É muito difícil que haja postergação ou freio nos investimentos já em andamento em infra-estrutura e na indústria de base”, diz Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib).

22. As exportações serão prejudicadas?
Sim. O mundo deverá crescer menos, portanto, os clientes do Brasil no exterior reduzirão suas importações. A queda no consumo tende a derrubar também o preço das mercadorias brasileiras, entre elas um grupo que andava muito valorizado nos últimos tempos: os alimentos, metais e combustíveis, ou commodities. Os preços desses produtos bateram recordes neste ano. No caso brasileiro, o esfriamento do comércio internacional poderá ser compensado por outros fatores. O mais relevante é a manutenção do crescimento, embora em ritmo menor, de países emergentes. Para a China, grande cliente de produtos brasileiros, imagina-se que o ritmo de crescimento diminua de 10% para cerca de 8% ao ano.

23. Por que o dólar subiu tanto? É hora de comprar?
Com a instabilidade econômica, as multinacionais remetem dinheiro para suas sedes no exterior e os investidores vendem ações para cobrir prejuízos ou colocar o dinheiro em aplicações que consideram mais seguras, principalmente títulos do Tesouro americano. Com a saída do equivalente a R$ 17 bilhões nos últimos quatro meses, a procura pelo dólar aumentou, elevando sua cotação. “Os títulos do governo americano, por mais estranho que possa parecer, ainda são considerados os mais seguros do mundo no meio dessa crise criada pelos EUA”, diz Goldfajn, ex-diretor do BC. Mas comprar dólar para guardar, enquanto as aplicações de renda fixa pagam juros reais (descontada a inflação) de 8% ao ano, pode não ser bom negócio. “Só é aconselhável comprar dólares se você tem dívida em dólar e quer se precaver de possíveis novas altas. Ou, então, se você vai viajar para o exterior em breve”, diz Natan Blanche, diretor da Tendências Consultoria. “Se esse não for seu caso, não compre, a menos que tenha uma equipe de economistas analisando as cotações para você diariamente”.

24. Qual será o impacto da crise na inflação?
A desvalorização do real tende a provocar um aumento nos preços, já que produtos e matérias-primas importados ficam mais caros e a indústria procura repassar o aumento dos custos. Mas a maioria dos economistas acredita que a inflação não será motivo de preocupação no fim deste ano, nem em 2009. Um dos motivos é que ela está em desaceleração por causa da boa oferta de alimentos. Outra razão é a desaceleração da economia brasileira, causada pela crise financeira global. De acordo com as projeções do economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, a inflação deverá ficar em torno de 5% em 2009.

25. As empresas vão demitir?
Depende muito do tamanho e da duração da crise. Hoje, nada aponta para uma onda de demissões nas empresas. Mais provável que demissões é uma redução nas contratações. “Se um industrial deixa de comprar uma máquina porque não há crédito, ele deixa de precisar de funcionários para operá-la”, diz Alexandre Marinis, economista da Mosaico Consultoria. “O ajuste de pessoal é sempre o último ato a ser realizado, pois envolve custos e a perda de mão-de-obra adaptada à necessidade da empresa”, diz Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

26. O que devo fazer com meus investimentos agora?
O melhor é não ficar pulando de galho em galho no momento e manter o dinheiro onde ele está. Ainda há muita turbulência e o risco de “perder o pé” é grande. É hora de proteger o patrimônio e não de tentar multiplicá-lo. Mesmo quem tem dinheiro aplicado na Bolsa, e não vai precisar dele no curto prazo, deve tentar manter a calma. Vender ações agora significa amargar prejuízo. A História mostra que as oscilações de curto prazo na Bolsa tendem a ser mais do que compensadas no longo prazo. “As ações que estão com os preços baixos agora voltarão a subir”, diz William Eid, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

27. Quando a Bolsa voltará a subir?
Ninguém é capaz de dizer. Alguns economistas afirmam que a situação estará normalizada até o começo do ano que vem. Historicamente, as crises financeiras provocam grandes perdas no curto prazo, mas elas se diluem no longo prazo. Um levantamento da Ibbotson, empresa americana de informações financeiras, revela que alguém que tivesse investido um dólar em ações nos Estados Unidos em 1926 teria US$ 2.634,41 em 30 de setembro de 2008. Isso mesmo depois da crise de 1929, da Segunda Guerra Mundial e de outros momentos de instabilidade.Os ganhos no longo prazo na Bolsa podem ser vistos como tendência universal.

28. Como ficam os juros?
Os tempos em que era possível ganhar no mercado financeiro sem correr praticamente nenhum risco podem estar de volta. O Banco Central voltou a elevar as taxas de juro nos últimos meses, depois de um longo ciclo de baixa. Isso beneficiou aplicações como os CDBs e os fundos DI e de renda fixa, que se tornaram ainda mais atraentes. Hoje, o ganho real dos juros sobre a inflação é estimado em 8%.

29. O ouro não é uma boa opção nos momentos de crise?
Durante muito tempo, o ouro foi considerado uma boa forma de preservar o patrimônio em momentos de turbulências. Hoje, não é mais assim. As cotações oscilam muito e podem provocar grandes perdas. O investimento em ouro não é indicado para pequenos investidores por ser complexo e caro. O metal precisa ficar sob custódia de uma operadora, e o comprador recebe apenas um certificado de compra. “Desde 1994, temos uma moeda forte o bastante para não precisar recorrer a esses recursos”, afirma Blanche, da Tendências. “O pequeno e o médio investidor têm ótimas opções, como os CDBs, os fundos de renda fixa e até mesmo a Bolsa, se quiser correr riscos.”

30. Como ficam minhas dívidas?
Se suas dívidas não foram contraídas com juros prefixados, com o valor das prestações definido no momento da compra, provavelmente elas já estão mais caras. Se você está no vermelho no cheque especial, convém conversar com o gerente do banco para pedir um empréstimo pessoal. As taxas de juro do empréstimo pessoal são cerca de 30% menores que as do cheque especial. A alta recente dos juros desestimula também novas compras a prazo. A taxa média de juros para pessoa física era 7,39% ao mês em agosto e passou a 7,45% ao mês em setembro. Os prazos dos financiamentos também ficaram mais curtos. Até a semana passada, o consumidor conseguia parcelar uma geladeira de R$ 1.500 em 36 vezes, com juros de 6,17% ao mês. Hoje, o prazo caiu para no máximo 24 meses, e os juros passaram para 6,23% ao mês. Isso implica aumento de 16% no valor das prestações.

Drama brasileiro
Como uma típica empresa nacional está sendo atingida pela crise econômica mundial

PONTOS NEGATIVOS

Para instalar uma nova fábrica, a Plastwal, fabricante de chapa de PVC, matéria-prima para embalagens e cartões de crédito, fez financiamento no banco belgo-holandês Fortis, que agora está em má situação, socorrido por governos europeus
A crise também amedrontou os clientes da Plastwal. Os pedidos caíram 20% neste mês na comparação com o mesmo período de 2007. “Na crise, as empresas evitam comprar e esperam esgotar os estoques”, diz Walter Sacca, presidente da empresa

PONTOS POSITIVOS

Mas a crise também tem um ponto positivo. O dólar mais alto favorece a empresa no mercado interno. “As importações diminuem. O dólar baixo me fazia competir com várias empresas estrangeiras”, diz Sacca

31. Os bancos continuarão a financiar as compras de casas e carros?
A princípio, sim. Mas, como nas demais modalidades de crédito, os prazos estão diminuindo e os juros aumentando. Há três semanas, os bancos faziam financiamentos de carros em até 72 meses. Agora é difícil comprar em 60 meses. O crédito já é automaticamente negado a correntistas novos. Ainda assim, o mês de setembro de 2008 registrou 30% mais vendas de carros do que o mesmo mês de 2007, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). “A crise pode não ter afetado o desempenho das vendas de automóveis ainda”, afirma Miguel de Oliveira, economista da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). “Mas isso deve acontecer em maior grau no setor automobilístico e em menor grau no setor imobiliário.” No caso da casa própria, alguns bancos já reduziram o prazo máximo dos financiamentos de 30 para 20 anos. “O porcentual de juros para financiamentos de casas ainda está em torno de 10% a 12% ao ano, o que é um bom negócio”, diz Vitor Bidetti, diretor da companhia hipotecária de financiamento Brazilian Mortgages. “Taxas maiores que essas não são desejáveis”.

32. Quem é o culpado pela crise?
O déficit do governo americano precisava ser financiado pelo resto do mundo. Houve um excesso de liquidez em decorrência disso, muito dinheiro girava pela economia. Num ambiente de juros baixíssimos (chegou a 1%), as empresas procuraram ganhos extraordinários em títulos especulativos. O mercado imobiliário se mostrou o porto ideal para essa aposta. Imóveis em Nova York tiveram os preços multiplicados por 12 nos últimos oito anos, numa especulação sem igual na história. Havia fundos alavancados em 48 vezes – como se, para cada US$ 48 emprestados, eles tivessem apenas US$ 1 em caixa. “Essa crise é resultado de dez anos de irresponsabilidade do governo americano, que começou na bolha das empresas pontocom, passou pelo aumento absurdo de gastos públicos na Guerra do Iraque e desaguou nesse colapso de supervisão do sistema bancário”, diz o economista e consultor Renê Garcia, ex-presidente da Susep, órgão regulador do mercado segurador do país. Também houve falhas no sistema americano de supervisão financeira. Há vários organismos se sobrepondo e, ao mesmo tempo, nenhum que responda pelos riscos cruzados. “Quando há vários organismos supervisionando, ninguém é realmente responsável por nada. O poder de fiscalização deveria estar todo concentrado no Fed, mas não estava”, diz o economista e ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo Freitas.

33. Alguém vai para a cadeia?
As chances tendem a zero. Apesar da forte indignação da população americana com a crise financeira, dificilmente dirigentes do governo ou altos executivos de bancos serão trancafiados. De acordo com Fernando Sotelino, de Colúmbia, não houve crime configurado. “Mesmo as operações arriscadas tiveram o amparo legal dos órgãos reguladores americanos. Portanto, não tem sentido que pessoas sejam presas se fizeram tudo dentro da lei”, afirma. Até agora, a punição mais severa prevista aos executivos das grandes instituições financeiras é o corte em seus salários e benefícios.

34. A crise poderia ter sido evitada?
Certamente. Houve uma sucessão de erros do governo americano. O primeiro foi manter a taxa de juros da economia baixa demais, com o objetivo de estimular o crescimento, após a crise de 2001. A isso se somou uma atitude demasiadamente casual em relação à supervisão do sistema. “O descaso na supervisão do governo americano em um momento de euforia foi fundamental para chegar a uma situação de descontrole dos bancos”, diz o economista Roberto Troster, da consultoria Integral Trust. “Havia avaliação precária dos perigos envolvidos nas operações”. As agências de classificação de risco também não cumpriram seu papel. Não mudaram padrões de avaliação para aferir com propriedade a segurança de títulos negociados. A seguradora AIG, estatizada pelo governo americano, foi ao chão com a nota AA em punho, uma das melhores possíveis antes da crise.

35. O sistema financeiro precisa ser mais regulado?
Embora a crise financeira tenha estimulado muitos analistas a dizer que ela aconteceu por falta de controle adequado das atividades dos bancos americanos, é difícil afirmar isso com segurança. O mercado financeiro costuma usar toda a criatividade para contornar as limitações legais, sem necessariamente cair na ilegalidade. Nada indica que, mesmo que o mercado fosse mais regulado, a crise atual poderia ter sido evitada. Apesar de ter havido uma grande desregulamentação da economia americana nos últimos 30 anos, principalmente nos setores de telefonia, aviação e transportes terrestres, nada foi feito no sistema financeiro. Toda a legislação adotada nesse período fez exatamente o contrário: aumentou a regulamentação dos bancos.

No Brasil, a situação é diferente. O sistema financeiro é bastante regulado. Por isso, não há, de acordo com os financistas, necessidade de aumentar ainda mais o controle feito pelo Banco Central. “Os outros países criaram os problemas. Agora, eles que resolvam os problemas que criaram”, afirma o presidente do BC, Henrique Meirelles. “Hoje, o sistema financeiro brasileiro está pronto para crescer”.

36. Quem vai pagar pelos prejuízos?
Os cidadãos americanos já estão pagando parte da conta. É o dinheiro obtido pelo recolhimento de impostos que banca a compra de papéis podres de instituições financeiras falidas. Estima-se, até agora, que cada americano jogará quase US$ 3 mil na tentativa de estancar a crise. “Colocaram os investimentos de risco na mão dos contribuintes. Como nenhum investidor privado quer correr riscos, passaram aos contribuintes. É monstruoso”, afirmou o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz. Com a provável desaceleração econômica, a tendência é haver corte de empregos e diminuição na renda, de Nova York a Pequim. Investidores no mercado acionário também pagam a fatura ao ver o preço de suas ações despencar. Só no Brasil, de acordo com o estudo de uma consultoria econômica, o valor das empresas na Bolsa de Valores caiu R$ 500 bilhões ao longo de 2008.

37. Essa crise pode mesmo significar o fim da hegemonia americana?
A presença americana no mundo é gigantesca. Os americanos geram em serviços e produtos um quarto do PIB mundial. A redistribuição desse poderio econômico ao longo do tempo é vista como inevitável. “Os Estados Unidos já vêm perdendo força nos últimos anos”, diz Freitas, ex-diretor do BC. “O crescimento da China vem mudando o equilíbrio entre os poderes”. Mas a redução aparente do poderio americano tem de ser medida contra sua evidente liderança global. Do presidente Lula ao primeiro-ministro da China, todos olham para os Estados Unidos à espera de uma solução para a crise. O pacote do governo Bush demonstra que os EUA são capazes, como nenhum outro país, de fazer um enorme sacrifício financeiro para manter a sua economia – e a do resto do mundo à tona.

38. O que vai mudar no mundo depois da crise?
O mais provável é a adoção de regras mais rígidas para operações financeiras. “Converso com colegas de governos estrangeiros sobre um novo conjunto de normas com grande freqüência”, diz um importante economista do governo brasileiro. Espera-se, assim, que o mundo saia da crise – quando sair – com um mercado financeiro mais regulado, menos propenso à alavancagem e operando com níveis de endividamento mais baixos. Isso não significa, necessariamente, uma boa notícia para a economia. As taxas de crescimento obtidas nos últimos anos são resultado da abundância de crédito e da abundância de risco. Após a turbulência, o mundo deverá se acostumar a um ritmo de crescimento mais moderado.

E-mail recebido

Ontem por volta das 16h recebi em meu e-mail uma mensagem do Stephen Kanitz, era o artigo inédito, falando sobre a crise financeira: 'O que fazer nesta crise'.

Portanto, quem estiver interessado em receber o mesmo, basta mandar uma mensagem com o assunto 'Artigo Inédito' que eu o enviarei.

O endereço eletrônico é ellyelsantos@hotmail.com

É um artigo magnífico. Vale a pena!!!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Palestra com Sérgio Besserman



Em palestra na Livraria da Travessa, no Rio, o economista e ambientalista Sérgio Besserman analisou a importância das questões ambientais no debate que antecedeu as eleições.

Lula decide não fazer campanha onde aliados disputam entre si

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu nesta quarta-feira a coordenação política para avaliar o resultado das eleições municipais e planejar sua participação na campanha do segundo turno. A equipe avaliou que o presidente só deve se envolver -seja pessoalmente ou gravando pronunciamento para os programas eleitorais - nas cidades onde houver polarização entre candidatos da base aliada e da oposição.

Isso significa que Lula não subirá no palanque do peemedebista Eduardo Paes no Rio, já que o PV de Fernando Gabeira, adversário de Paes no segundo turno, também faz parte da base do governo federal. Nesta quarta, Paes recebeu o apoio oficial do PT do Rio , e tinha esperança de contar com Lula em sua campanha.

Além do Rio, as outras cidades excluídas do roteiro de Lula no segundo turno são: Porto Alegre, onde a disputa será entre PMDB e PT; Florianópolis (PMDB x PP); Belém (PTB x PMDB); Salvador (PMDB x PT); Belo Horizonte (PSB x PMDB); Manaus (PTB x PSB) e Macapá (PSB x PDT).

O presidente deve fazer campanha em São Paulo (DEM x PT), São Luís (PSDB x PCdoB) e Cuiabá (PSDB x PR), além de cidades do ABC Paulista. Lula deverá retomar as discussões sobre a campanha eleitoral com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

O presidente incorporou à reunião de coordenação os ministros Geddel Vieira Lima (Integração), Hélio Costa (Comunicações) e Alfredo Nascimento (Transportes) para tratar do segundo turno em Salvador, Belo Horizonte e Manaus, respectivamente.

- Para mim, em Salvador deveria dar empate - afirmou José Múcio, lamentando que Geddel e o governador petista Jaques Wagner, aliados nas eleições de 2006, estejam agora em campos opostos .

Em Salvador, o prefeito João Henrique (PMDB) disputará o segundo turno contra Walter Pinheiro (PT):

- Temos dois aliados nas últimas eleições e seria melhor que eles não dividissem agora esse patrimônio político - disse José Múcio.

Após a reunião da coordenação política, Geddel Vieira Lima declarou que independentemente do resultado em Salvador, o PMDB baiano não tem atrelamento automático com o PT do governador Jaques Wagner para a disputa de governo e Senado no estado em 2010.

A decisão de Lula vale para todos os representantes do primeiro escalão, que não devem participar de campanha fora de seus estados de origem, onde partidos aliados estão em disputa. A intenção é evitar um racha na base governista no Congresso. Essa seria uma saída para barrar, por exemplo, a ida de Dilma Rousseff a Salvador, para reforçar a campanha de Walter Pinheiro.

Após a reunião da coordenação política, Lula ainda conversou separadamente com Geddel e depois convidou Jaques Wagner para almoçar.

- O presidente declarou que, vença quem vencer na Bahia, terá nele um parceiro. Mas que, até lá, não vai se meter. O que o presidente quer é que seja uma eleição da Bahia, sem ministros de fora - disse Geddel.

A terra treme na Bahia

Lucia Hippolito

O mapa do primeiro turno mostra mudanças na distribuição do poder político no Norte e no Nordeste: sai o coronelismo pefelista e entram os coronelismos peemedebista e petista.

Na Região Norte, o DEM emagreceu: elegeu menos 5% de prefeitos. Em 2004 foram 40, em 2008 são 38. No Nordeste, o partido teve desempenho pífio: encolheu 63%. Elegeu 415 em 2004, mas só conquistou 153 prefeituras em 2008.

E quem entrou no lugar? No Norte, o PMDB cresceu 95%: saltou de 62 prefeitos eleitos em 2004, para 121 em 2008. No Nordeste, o PT cresceu 105%: elegeu 65 prefeitos em 2004 e 133 em 2008.

O terremoto ocorreu mesmo foi na Bahia. Desde 2006, quando o PT conquistou o governo no primeiro turno, o estado, que já fora considerado a jóia da coroa da Pefelândia, passou a exibir a decadência do carlismo como força política hegemônica.

A morte política de Antonio Carlos Magalhães foi quase imediatamente seguida da morte física. O desaparecimento do velho coronel escancarou a Bahia a uma renhida luta política.

As hostes petistas são lideradas pelo governador Jaques Wagner. Teve alguns tropeços sérios, como o de proporcionar à ministra Dilma Roussef um passeio pela baía de Todos os Santos num barco de propriedade de Zuleido Veras, aquele mesmo, dono da Gautama, apanhado em mais uma operação da Polícia Federal.

(Mais tarde, soube-se que o articulador do passeio foi o homem de Daniel Dantas na Bahia. Beleza!)

Depois de quase dois anos de governo, muitos baianos afirmam que Jaques Wagner ainda não tomou posse. Só agora, nas eleições municipais, o governador disse a que veio. Veio disputar o espólio de ACM.

O PT aumentou seu número de prefeituras baianas, de 19 eleitos em 2004, para 66. O que não faz uma caneta cheia de tinta...

Na capital, o petista Walter Pinheiro está no segundo turno, com boas chances de se eleger. Sua vitória é vital para o projeto político de Jaques Wagner: reeleição em 2010 ou mesmo candidatura à presidência, se Dilma Roussef não emplacar.

Recentemente, o governador afirmou que “na política tem fila”. Tradução: chegou a vez dele na Bahia.

Beleza! Só falta combinar “com os russos”.

O russo, no caso, é o peemedebista Geddel Vieira Lima, atualmente ministro da Integração Nacional.

Chamado de “agatunado” por Antônio Carlos Magalhães, por sua atuação, digamos, heterodoxa, na política baiana, Geddel fez oposição feroz ao presidente Lula durante o primeiro mandato.

O adjetivo mais mimoso pelo qual Geddel se referia ao presidente da República era “ladrão”.

Mas parece que o presidente Lula não liga para essas bobagens. Mangabeira Unger, por exemplo, declarou que o governo Lula era o mais corrupto da República e também ganhou um ministério. Vai ver, esse é o caminho...

Agora ministro, Geddel encheu a caneta de tinta e foi à luta. Adquiriu a amizade de vários prefeitos do interior. Os 20 prefeitos do PMDB eleitos em 2004 transformaram-se em 57, graças à caneta mágica do ministro Geddel.

Abertas as urnas de 2008, o partido elegeu 113 prefeitos na Bahia. Este é o verdadeiro espetáculo do crescimento.

Mas Geddel pode somar mais um ao seu buquê, porque o atual prefeito de Salvador, o peemedebista João Henrique, também está no segundo turno.

Assim, o embate Walter Pinheiro versus João Henrique é o que menos importa. São laranjas. Os verdadeiros titãs deste duelo são Jaques Wagner e Geddel Vieira Lima.

Ambos querendo se tornar o novo ACM.

Não sei não, mas para quem gosta de coronel, o original era muito mais autêntico.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Eleições Americanas - Debate - Globo News

Foi um debate morno

John McCain precisa desesperadamente virar o jogo se quiser ter alguma chance em 4 de novembro. Ele tem sido incansável ao responder a perguntas de eleitores nos comícios, adotou uma tática mais agressiva ao lado da companheira de chapa, Sarah Palin, a fim de multiplicar as dúvidas sobre a personalidade de Barack Obama e as pessoas que o cercam em sua campanha, especialmente doadores. Mesmo assim, as pesquisas continuam a mostrar que o eleitor americano está cada vez mais inclinado a votar no democrata. Quanto mais se agrava a crise econômica, mais a campanha de McCain perde votos.

Uma nova pesquisa nacional da CNN e da revista "Time" revela que Obama abriu margem de vantagem em três estados-chave: tem mais 3 pontos percentuais em Ohio (50% a 47%), mais 5 em Wisconsin (51% a 46%) e mais 8 em New Hampshire (53% a 45%). Na Carolina do Norte, estado tradicionalmente republicano, Obama e McCain estão agora empatados (49% a 49%).

Faltando 27 dias para a eleição, não apenas o tempo fica apertado para uma virada como também, e mais importante, Obama já atingiu em vários estados-chave margem de intenção de voto superior a 50%, o que, nas pesquisas de opinião nos EUA, costuma ser um número difícil de ser revertido.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Eleições Americanas

Começa daqui a pouco, veiculado pela Globo News, o debate entre os candidatos a presidência nos Estados Unidos.

Será muito emocionante. Isso promete!!!

Estarei acompanhando pelo site www.g1.com.br/globonews.

McCain X Obama, quem será que desta vez levará.

Vamos acompanhar.

Eleições Americanas

Hoje tem debate entre os candidatos a presidente dos Estados Unidos.

McCain e Obama estarão a partir das 22h frente-a-frente para mais um encontro onde explicarão seus projetos de governo.

Uma coisa é certa: o assunto Economia será o tema mais comentado pelos dois.

Por dentro da Política

A construção do segundo turno

Lucia Hippolito

Menos de 20 dias separam os candidatos do segundo turno das eleições. O tempo é curto, as decisões precisam ser tomadas rapidamente.

Por isso, um olho no peixe e outro no gato.

Enquanto parte dos estrategistas de campanha precisam identificar os erros cometidos no primeiro turno e saná-los, outra parte tem partir para o ataque, isto é, tentar capturar o maior número possível de apoiadores.

Começa a busca frenética por aliança com os candidatos derrotados, de olho em seu embornal de votos.

Aí é que o bicho começa a pegar.

Os candidatos ao segundo turno não podem rejeitar voto, mas não podem aceitar qualquer apoio.

Por exemplo, em São Paulo Marta Suplicy está de olho nos eleitores de Paulo Maluf. Mas não quer o apoio ostensivo de Maluf, sob pena de perder votos em sua própria base.

O reverso desta moeda são os elogios públicos feitos por Marta Suplicy a Geraldo Alckmin, de olho nos votos dos “tucanos magoados”.

Alckmin até pode apoiar Marta publicamente (não creio que o faça), mas é muito difícil que seus eleitores votem na petista.

São Paulo tem uma dinâmica política muito polarizada: PT versus anti-PT. Por isso, seria mais fácil para Marta ganhar no primeiro turno do que no segundo, quando as forças anti-PT se unem contra ela.

Como aconteceu em 2004, quando perdeu a eleição para José Serra.

Mas é muito difícil liquidar a fatura no primeiro turno, tendo em vista os altos índices de rejeição a Marta, números que só fizeram crescer às vésperas do primeiro turno.

Enquanto isso, no Rio, o presidente do PDT, Carlos Lupi, já declarou que “as forças progressistas” deverão apoiar Eduardo Paes, do PMDB, que também já recebeu a visita de Benedita da Silva e Jorge Bittar, do PT.

Deve ter gente que considera Lupi, Benedita e Bittar “forças progressistas”. Assim como deve ter gente que acreditava que Brejnev era de esquerda. Tem gosto para tudo nesta vida.

Mas e os eleitores do PDT? E os eleitores do PT? Vão votar com as lideranças “progressistas” ou vão se sentir livres para votar em Fernando Gabeira, que tem história na esquerda carioca?

Da mesma maneira, como vai se sentir o eleitor de Gabeira no primeiro turno, ao saber que César Maia, o prefeito rejeitado pela maioria esmagadora dos cariocas (sua candidata obteve míseros 3,92% dos votos), já deu apoio público ao candidato?

Será o “abraço da morte”?

Finalmente, em Salvador a situação ganha um tempero extra, pois os dois caciques locais – Geddel Vieira Lima (PMDB) e Jaques Wagner (PT) – têm pretensões a herdar o posto de Antonio Carlos Magalhães: o de supremo coronel da política baiana.

Jaques Wagner conquistou o governo da Bahia em 2006, derrotando o carlismo ainda no primeiro turno. Geddel, por sua vez, encastelou-se no interior e adquiriu a amizade de mais de 300 prefeitos – vamos ver quantos aliados ele elegeu nestas eleições.

Mas o fato é que em Salvador, os afilhados dos dois passaram para o segundo turno no olho mecânico: o atual prefeito João Henrique (PMDB) teve 30.97% dos votos, e o deputado federal Walter Pinheiro (PT) teve 30.06%.

Uma diferença de 11.751 votos.

Adivinhem quem vai ser a noiva mais cortejada do segundo turno.

Isso mesmo. ACM Neto, herdeiro político do velho babalorixá, com seu embornal de 346.881 votos (26.68% do total).

Na Bahia, não se fala em outra coisa no Mercado Modelo: quem vai conquistar o coração – e os votos, naturalmente – de ACM Neto?

A caça aos votos já começou. E o tempo é curto

A nossa crise

Míriam Leitão

Nós já temos um subprime. Não é igual ao dos Estados Unidos, mas está assombrando o mercado, como um fantasma. As empresas exportadoras compraram um papel, uma operação no mercado cambial apostando que o dólar não subiria. Quanto mais o dólar sobe, maior o prejuízo de quem apostou neste derivativo. Isso tem potencial para trazer a crise para dentro do Brasil por razões locais.

O problema é que as respostas que o governo deu ontem estatizam parte do risco que as empresas assumiram. A MP anunciada à noite é um amontoado de riscos.

O que está realmente deixando o mercado nervoso é um derivativo que se espalhou por várias empresas. É uma opção, muitas vezes feita em mercado de balcão, em que, numa ponta, uma empresa se compromete a vender dólar a um preço; de outro lado, um banco, uma corretora, um agente com direito de comprar o dólar naquela cotação. Os bancos estrangeiros que ofereceram o produto financeiro às empresas brasileiras já venderam os papéis e, como o subprime, ele está circulando por aí, ninguém sabe muito bem com quem.

Quando o dólar começou a subir, os detentores do “call” pediram depósitos de mais garantias, e começaram a aparecer os prejuízos brasileiros.

— Tem empresa que vendeu mais de 18 “calls” neste período, a várias cotações da moeda americana. Todas elas acreditavam que o dólar não subiria. Portanto, estavam especulando a favor do real — disse uma das fontes ouvidas pela coluna sobre esse assunto ontem.

Portanto, a falta de dólar traz efeitos mais agudos do que os que o BC está tentando combater, oferecendo dólares das reservas aos bancos para reconstituir as linhas de crédito comercial. Ou, pior, assumindo o risco das dívidas que empresas exportadoras assumiram no exterior, como explicaram ontem os líderes que estiveram com o presidente Lula. O pior é que, mesmo aumentando seu envolvimento com dívidas de empresas, o BC não vai resolver o problema. Parte da crise são estas operações “criativas” com câmbio feitas por inúmeras empresas. A MP que o governo anunciou no fim do dia tem mais riscos que solução.

Ontem foi um dia pior do que parece. No fim, a queda da Bolsa foi de “apenas” 5,5%, mas empresas exportadoras chegaram a estar caindo 20%, como na área da siderurgia e na área da mineração. O presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia, Flávio Azevedo, atribuiu tudo à “histeria internacional”.

— No mercado interno, tanto a construção civil, quanto a indústria automobilística e a indústria de base estão com demanda forte.

Estavam. Duas montadoras, a GM e a Fiat, anunciaram férias coletivas em outubro. Uma das razões, segundo me explicou uma fonte de uma empresa do setor, é que as locadoras já começaram a suspender as vendas. Elas compram 30% dos carros vendidos e depois, com um ano de uso, revendem. As locadoras estão temendo tempos piores agora. No setor imobiliário, as ações caíram e as da Agra derreteram. Um empresário do setor me disse o seguinte:

— São boas empresas, mas o problema é que elas captaram dinheiro demais quando o mercado estava fácil. O Brasil chegou a ter mais empresa imobiliária com ação em bolsa do que os Estados Unidos. Até empresa de venda abriu o capital, apesar de não ter ativo. Com muito dinheiro, algumas fizeram negócios ruins, compraram terrenos por preços muito altos e estão com problemas. Mas o mercado em si não está mal, apenas algumas empresas fizeram maus negócios.

A CSN chegou a estar caindo ontem 20%. Para o presidente da empresa, Benjamin Steinbruch, sem motivo.

— A empresa vende para o mercado interno 93% do que produz na siderurgia e a exportação de minério é apenas 10% do faturamento da empresa. Nós não fizemos operações financeiras na área cambial, a não ser os adiantamentos de contratos de câmbio. O que está acontecendo é “paúra” (medo forte). Nós vamos recomprar as ações da empresa — disse.

A Vale, outra empresa que teve queda forte, está com um bom argumento: ela fez uma captação recente, através de venda de ações, com 55% delas vendidas no exterior, e está com esse dólar em caixa, segundo garantem fontes da empresa.

Falei ontem com várias empresas. Elas negam envolvimento direto com derivativos cambiais. Admitem apenas os ACCs. Mas, de fato, há muito derivativo cambial no mercado assombrando os balanços das empresas que têm parte da receita em dólar.

A crise chegou ao Brasil por vários canais. Primeiro, pelo impacto do arrocho de crédito que interrompeu as linhas de financiamento à exportação. Segundo, pela recessão já instalada dos dois lados do Atlântico. Terceiro, pela valorização do dólar, que pegou muita empresa desprevenida e algumas empresas apostando alto que o real continuaria forte. Uma notícia de fora deu um refresco no fim do dia: a possível queda das taxas de juros nos EUA. O anúncio feito pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, de uso das reservas para irrigar o mercado de dólares, e a informação de que poderá tomar outras medidas também ajudaram a encerrar o dia um pouco melhor do que ele esteve durante a maior parte do tempo. A crise não é mais apenas externa.

Administrando Inteligências Multíplas

Leandro Vieira é Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem MBA em Marketing e Certificado em Empreendedorismo pela Harvard Business School. É também editor do Portal Administradores

Durante muito tempo, o conceito de inteligência foi caracterizado por possuir um padrão único: acreditava-se que as pessoas nasciam com uma determinada quantidade de inteligência; dificilmente essa quantidade poderia ser alterada, em virtude de seu caráter genético; e essa inteligência era mensurável, podendo ser medida através de testes de QI ou instrumentos similares. Em fins da década de 1970 e início da de 1980, Howard Gardner, notório psicólogo e pesquisador da universidade de Harvard, quebrou essa noção desenvolvendo uma nova perspectiva, a qual chamou “teoria das inteligências múltiplas”.

As bases para as conclusões de Gardner envolvem evidências antropológicas e evidências do estudo da mente humana. Através de uma investigação multidisciplinar, o autor chegou à seguinte definição: a inteligência é “um potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados por uma cultura”. A essas capacidades diversas de processamento da informação, Gardner chamou de “inteligências”, no plural. Segundo o autor, existem, pelo menos, sete tipos de inteligências, quais sejam:

1. Inteligência lingüística – envolve a sensibilidade para a língua falada e escrita e tem origem na esfera auditivo-oral. Inclui-se nesse campo a habilidade de aprender línguas estrangeiras, a capacidade de construir narrativas e o uso da língua para atingir determinados objetivos. Podemos, por exemplo, identificar pessoas de inteligência lingüística elevada entre os escritores, poetas, advogados e os locutores.

2. Inteligência lógico-matemática – denota a capacidade de analisar problemas com lógica, realizar cálculos e operações matemáticas, e mover-se no mundo dos números. É a inteligência dos matemáticos, dos físicos, dos engenheiros e de outros profissionais que exercem atividades afins.

3. Inteligência musical – envolve uma especial habilidade na atuação, na composição e, também, na apreciação da música e de padrões musicais. Gardner acredita que essa inteligência tem uma estrutura quase paralela à da inteligência lingüística, não havendo sentido caracterizar uma de inteligência (a lingüística) e a outra de talento.

4. Inteligência espacial – trata-se da capacidade de reconhecer e manipular os padrões do espaço, envolvendo também a criação de representações ou imagens mentais espaciais. É a inteligência dos pilotos de avião, dos arquitetos, pintores, escultores, jogadores de xadrez, entre outros.

5. Inteligência corporal-cinestésica – essa quinta representação mental acarreta a capacidade, ou potencial, de resolver problemas ou criar produtos utilizando partes do corpo, como as mãos ou a boca. Esse tipo de inteligência é fundamental para artesãos, cirurgiões, mecânicos, atletas, atores e dançarinos, por exemplo.

6. Inteligência interpessoal – é a capacidade de compreender as intenções, as motivações e os desejos dos outros, sabendo, conseqüentemente, trabalhar de modo eficiente com terceiros. É a inteligência do relacionamento social efetivo, da empatia, da liderança, da diplomacia e da influência social. De fato, é a inteligência que encontramos nos bons professores, vendedores, líderes políticos e religiosos, para citar alguns exemplos.

7. Inteligência intrapessoal – complementando a interpessoal, a inteligência intrapessoal dirige-se à própria pessoa, ao seu interior. Trata-se da capacidade de conhecer a si próprio, identificar seus sentimentos, objetivos, medos, forças e fraquezas pessoais e, ao mesmo tempo, ter domínio sobre suas emoções e sobre si mesmo.

Cada pessoa possui uma mistura singular de inteligências. Uma vez que se sabe que as pessoas apresentam enormes diferenças nas formas como adquirem e representam o conhecimento, o grande desafio dos administradores passa a ser o de fazer com que essas diferenças sejam o ponto central na gestão de pessoas. Cada um é inteligente à sua maneira e o respeito às diferentes formas de apreensão cognitiva é a chave para uma liderança eficaz e uma administração bem sucedida.

O maior desafio, entretanto, é o que se coloca à humanidade, proposto pelo próprio Howard Gardner: como aproveitar a singularidade a nós conferida na qualidade de espécie que exibe várias inteligências?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

EUA - Talvez não piore, mas embora demora para melhorar

Carlos Alberto Sardenberg

Sai o pacote e as bolsas despencam?

Como é que pode? O Congresso americano aprova o pacote de resgate do setor financeiro, e a bolsa cai?
O desastre das bolsas no início da semana passada havia sido atribuído à derrota do pacote na Câmara dos Representantes (deputados). Logo, quando a Câmara refez sua posição, assustada com o tamanho da crise, as bolsas deveriam fazer o caminho inverso, certo?
Parece, mas não é simples assim.
Os US$ 700 bilhões de dólares postos à disposição do Tesouro americano, para comprar papéis podres e capitalizar os bancos, constituem uma arma poderosa e essencial. Sem ela, o Tesouro não teria como evitar uma quebradeira de bancos e o desaparecimento, por um longo tempo, do crédito às pessoas e empresas, muitas das quais também quebrariam.
Por isso, a derrubada do pacote levou à porta do inferno.
Mas ter a arma não garante que ela será bem utilizada, nem que seus resultados virão rapidamente. Como disse o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, na última sexta, o pacote é um “passo crítico”, mas um passo.
O problema maior, a recessão, consequência da crise do crédito, mostra sua cara a cada dia nos EUA. Na quarta passada, queda de vendas de casas, a maior em 17 anos. Na quinta, queda de 30% nas vendas de automóveis. Na sexta, a notícia de eliminação de 159 mil empregos em setembro.
Isso quer dizer que mesmo com uma boa administração da crise, o que já se perdeu de crédito e capital no sistema financeiro basta para impor uma forte desaceleração.
De todo modo, a semana terminou melhor, mas muito melhor do que começou. Agora, o Tesouro e o Fed tem instrumentos para atacar a crise de crédito de maneira abrangente.
Mas não espere que sua carteira de ações volte ao que era em poucas semanas. Uma parada nas perdas estará de bom tamanho.

Cortando gastos
O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, foi o primeiro a reagir à crise econômica que se aproxima do Brasil. Baixou decreto congelando os novos gastos. Está proibido criar novas despesas, ou seja, iniciar obras e contratar pessoal.
Qual a lógica?
Governos estaduais, assim como prefeituras e o governo federal, se beneficiaram, de 2004 para cá, de um extraordinário crescimento de arrecadação de impostos. Esse ganho de receita decorreu do crescimento econômico acelerado, combinado com um sistema tributário que pesa sobre os setores mais dinâmicos.
Por exemplo, automóveis. No carro, o consumidor já paga uns 40% de impostos. E mais um tanto no financiamento.
Houve uma explosão na tefefonia celular, cuja carga tributária também passa dos 40%.
Por isso a arrecadação cresce mais que a economia. De janeiro a agosto deste ano, comparado com o mesmo período do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 12,5% em valores nominais (sem descontar a inflação). A receita total do governo federal cresceu 18%.
Essa forte expansão da receita já dava sinais de esgotamento, mesmo antes da explosão da crise financeira americana. Agora, é certo que haverá uma desaceleração do economia mundial, incluindo o Brasil. Menos crescimento, menos receita, com impacto maior no ano que vem.
Para a maioria dos governadores, a ficha ainda não caiu. Todos prepararam projetos de orçamento para 2009 antes da crise. Mas apenas Paulo Hartung adiantou-se e já fez a revisão dos números, proibindo a contratação de gastos novos.
Exagero?
Prevenção, diz ele. Se a queda na arrecadação for muito forte, o governo estará preparado. Se a coisa não for tão feia quanto parece, é mais fácil retomar os gastos.
O desastre é contratar as obras, contratar pessoal e, de repente, cai a receita. O governo será obrigado a buscar financiamento em um momento de dinheiro curto e caro.
Bem vistas as coisas, todo o setor público deveria iniciar já um processo de contenção dos gastos. Na verdade, deveria ter contido o gasto já no período de bonança. Deveria ter feito mais poupança, ter eliminado dívidas e não, como fizeram governos federal e estaduais, ter promovido uma farra de gastos.
O governo federal, por exemplo, contratou pessoal e concedeu aumentos para os próximos anos, contando com uma constante expansão das receitas.
No agregado, eis o ponto. Na crise, o Brasil todo terá de consumir menos, porque terá menos renda. Quanto menos o governo consumir, mais sobra para as pessoas e empresas.

Casas nos EUA
Fiz uma confusão danada no artigo aqui publicado na semana passada, “EUA – seis milhões de casas novas”. Misturei casas prontas com residências em construção e, no total das vendas, misturei novas e usadas.
Eis os dados corretos, com os pedidos de desculpas: as famílias americanas compraram, em agosto, 39 mil casas novas, o que dá um valor anualizado de 468 mil. A construção de novas casas – obras em andamento – bateu 895 mil unidades/ano. O início de obras de novas casas unifamiliares chegou a 630 mil, sempre em valores anualizados. Permissões para a construção de casas e apartamentos (palnatas aprovadas), indicador de atividade futura, foram para 854 mil.
Reparem de novo: a crise financeira, também chamada crise das hipotecas, explodiu em agosto do ano passado. Os preços de casas estiveram em queda, juros em alta, financiamentos restritos, inadimplência – e mesmo assim, as famílias americanas compraram mais de 600 mil casas nesse período. O número de residências em construção esteve acima do milhão. E finalmente, as vendas de imóveis usados estiveram acima dos 5 milhões.
A idéia geral do artigo está de pé. O sistema financeiro produziu abusos, mas também financiou casa para milhões de famílias.

Publicado em O Estado de S. Paulo, 06 de outubro de 2008

O blog nas eleições

É surpreendente como está a situação de São Paulo. Todos os cenários levavam a um segundo turno entre Marta e Kassab, e quando abriu-se as urnas veio a surpresa: Kassab no segundo turno com Marta. Isso é realmente surpresa!!

Qual a vantagem? Para Kassab, poderá ter um tempo maior para convencer os eleitores.

Qual a desvantagem? Todos os institutos convergiam para um segundo turno, onde a Marta era a mais votada e isso muda tudo.

O segundo turno é uma outra eleição. É mais transparente. E facilita na escolha do eleitor.

domingo, 5 de outubro de 2008

O blog nas eleições

O mapa político de algumas cidades do Rio de Janeiro ficou assim:

Belford Roxo: Alcides Rolim
Campos dos Goytacazes: Rosinha Garotinho
Cardoso Moreira: Gilson Siqueira
Duque de Caxias: Zito
Japeri: Timor
Mesquita: Arthur Messias
Nova Iguaçu: Lindberg Farias
Queimados: Max
Resende: Rechuan
São João de Meriti: Sandro Matos
Vassouras: Renan

O blog nas eleições

No Rio de Janeiro, está certo é o segundo turno: Eduardo Paes, Gabeira.

Em São Paulo, será Kassab e Marta.

Porto Alegre, José Fogaça e Maria do Rosário.

Em Salvador teremos João Henrique e Walter Pinheiro.

Em Belo Horizonte, sem muitas surpresas, Márcio Lacerda e Leonardo Quinhão.

Agora, quem estão eleitos já no primeiro turno é Micarla de Sousa, em Natal; Luiziane Lins, Fortaleza; Norma Ferreira, em São José de Mipibu; George Ney, em Nísia Floresta; e Lindberg Farias, em Nova Iguaçu.

Portanto, vamos afinar as linhas para o segundo turno.

O blog nas eleições

A princípio o número de eleitores previstos para essa eleição era de 128.806.592.

Para uma quantidade de 5.563 municípios com 371.874 seções por todo o país.

Analisando tudo isso, observa-se que 511 ocorrências, por negligência, é pouco.

Portanto, conclui-se que nessas eleições o eleitor está mais inteligente e o candidato mais cuidadoso.

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Segundo Turno é uma eleição diferente, com objetivos diferentes.

Por exemplo, os candidatos em disputa têm o mesmo tempo de propaganda, haverão novas alianças, novos objetivos de propostas. Com isso, fica uma campanha mais clara, mais transparente.

Em suma, consolida as propostas e os segmentos em público e o eleitor adquire uma nova visão para o candidato.

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Segundo a Lei Eleitoral, apenas cidades com mais de 200 mil habitantes poderão ir para o segundo turno.

A situação acontece assim: quando o 'cabeça' dos candidatos, isto é, aquele candidato mais votado e quem tenha uma eleição com quantidade de votos configurando 50% mais 1, então este municípios irá para o segundo turno com o segundo mais votado.

No Brasil, 77 municípios deverão ter segundo turno, isto é, 24 capitais e 53 cidades.

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Embora o eleitorado ter aumentado, embora a população ter aumentado, o voto voluntário, no Brasil, diminuiu 17% e no Rio de Janeiro esse número foi de 35%.

Motivo para isso é o fato de o jovem brasileiro, hoje, enxergar a política como instrumento muito irregular.

O debate político no Brasil, em geral, anda muito burro. Com isso, o desempenho do jovem tem diminuído desde 2004.

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Carlos Ayres Brito, ministro do TSE, está agora dando uma entrevista coletiva na Globo News.

Para acompanhar basta clicar www.g1.com.br/globonews

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Em Nova Iguaçu, o candidato a reeleição, Lindberg Farias (PT), acaba de votar na Igreja São Jorge, no Centro.

E, mais cedo, Nelson Bornnier (PMDB) votou no Instituto Califórnia, no bairro Califórnia.

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A partir das 17h, o blog acompanha as apurações das principais cidades.

E publica na hora que os números sejam atualizados.

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Como não estou em meu domicílio eleitoral, acabo de justificar em uma seção local, aqui, no Rio de Janeiro.

Mas, declaro minha preferência: No Rio, Fernando Gabeira. Em São Paulo, Geraldo Alkmin.

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Segundo números do TSE, divulgados ontem, os candidatos a prefeitos já somam 15.559. Quanto aos vice-prefeitos chegam a 15.898.

Agora, o que surpreende é o número de vereadores, 350.031 candidatos.

O blog nas eleições

Esse será o 'Especial Eleições 2008', desenvolvido por Ellyel dos Santos, moderador deste blog, postando as principais informações das eleições que estão mexendo com a estruturas do Brasil.

Será sua primeira cobertura, toda catalogada, que servirá tanto para informar quanto para formar opinião.

É o 'Blog do Ellyel' nas Eleições 2008!

20 Anos de Constituição Federal

A Constituição Cidadã

No dia 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituição do país. O presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, chamou-a de Constituição Cidadã, numa referência aos avanços na área da extensão dos direitos sociais e políticos das minorias e dos cidadãos em geral.

As disposições do novo texto constitucional estenderam o direito de voto aos analfabetos e aos adolescentes entre 16 e 18 anos, o habeas corpus teve pleno restabelecimento e foi instituído o hábeas data, isto é, assegurar a todos o acesso a informações de interesse geral ou particular registradas em órgãos públicos.

A tortura e o racismo passaram a ser crimes inafiançáveis. Ao capítulo dos direitos individuais e coletivos seguiu-se outro novo, dos direitos sociais. Ele incluía as principais conquistas trabalhistas desde a CLT, estabelecia jornada de trabalho de 44 horas semanais, férias com adicional salarial de 1/3, licença-paternidade, posteriormente fixada em 5 dias, amplo direito de greve, liberdade e autonomia sindical e proibição de intervenção nos sindicatos.

Em suma, foi um grande feito. Não é perfeita, porque nós mesmos somos imperfeitos, mas tornou-se relevante, principalmente nos atuais dias. A Constituição sinalizou uma maneira coerente e estruturante aos direitos e deveres de todos os cidadão brasileiros.

Parabéns aos 20 de Constituição Federal Brasileira!!!

“ A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político.”

Constituição Federal, Art. 1º, parágrafos I, II, III, IV, V.