quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A terra treme na Bahia

Lucia Hippolito

O mapa do primeiro turno mostra mudanças na distribuição do poder político no Norte e no Nordeste: sai o coronelismo pefelista e entram os coronelismos peemedebista e petista.

Na Região Norte, o DEM emagreceu: elegeu menos 5% de prefeitos. Em 2004 foram 40, em 2008 são 38. No Nordeste, o partido teve desempenho pífio: encolheu 63%. Elegeu 415 em 2004, mas só conquistou 153 prefeituras em 2008.

E quem entrou no lugar? No Norte, o PMDB cresceu 95%: saltou de 62 prefeitos eleitos em 2004, para 121 em 2008. No Nordeste, o PT cresceu 105%: elegeu 65 prefeitos em 2004 e 133 em 2008.

O terremoto ocorreu mesmo foi na Bahia. Desde 2006, quando o PT conquistou o governo no primeiro turno, o estado, que já fora considerado a jóia da coroa da Pefelândia, passou a exibir a decadência do carlismo como força política hegemônica.

A morte política de Antonio Carlos Magalhães foi quase imediatamente seguida da morte física. O desaparecimento do velho coronel escancarou a Bahia a uma renhida luta política.

As hostes petistas são lideradas pelo governador Jaques Wagner. Teve alguns tropeços sérios, como o de proporcionar à ministra Dilma Roussef um passeio pela baía de Todos os Santos num barco de propriedade de Zuleido Veras, aquele mesmo, dono da Gautama, apanhado em mais uma operação da Polícia Federal.

(Mais tarde, soube-se que o articulador do passeio foi o homem de Daniel Dantas na Bahia. Beleza!)

Depois de quase dois anos de governo, muitos baianos afirmam que Jaques Wagner ainda não tomou posse. Só agora, nas eleições municipais, o governador disse a que veio. Veio disputar o espólio de ACM.

O PT aumentou seu número de prefeituras baianas, de 19 eleitos em 2004, para 66. O que não faz uma caneta cheia de tinta...

Na capital, o petista Walter Pinheiro está no segundo turno, com boas chances de se eleger. Sua vitória é vital para o projeto político de Jaques Wagner: reeleição em 2010 ou mesmo candidatura à presidência, se Dilma Roussef não emplacar.

Recentemente, o governador afirmou que “na política tem fila”. Tradução: chegou a vez dele na Bahia.

Beleza! Só falta combinar “com os russos”.

O russo, no caso, é o peemedebista Geddel Vieira Lima, atualmente ministro da Integração Nacional.

Chamado de “agatunado” por Antônio Carlos Magalhães, por sua atuação, digamos, heterodoxa, na política baiana, Geddel fez oposição feroz ao presidente Lula durante o primeiro mandato.

O adjetivo mais mimoso pelo qual Geddel se referia ao presidente da República era “ladrão”.

Mas parece que o presidente Lula não liga para essas bobagens. Mangabeira Unger, por exemplo, declarou que o governo Lula era o mais corrupto da República e também ganhou um ministério. Vai ver, esse é o caminho...

Agora ministro, Geddel encheu a caneta de tinta e foi à luta. Adquiriu a amizade de vários prefeitos do interior. Os 20 prefeitos do PMDB eleitos em 2004 transformaram-se em 57, graças à caneta mágica do ministro Geddel.

Abertas as urnas de 2008, o partido elegeu 113 prefeitos na Bahia. Este é o verdadeiro espetáculo do crescimento.

Mas Geddel pode somar mais um ao seu buquê, porque o atual prefeito de Salvador, o peemedebista João Henrique, também está no segundo turno.

Assim, o embate Walter Pinheiro versus João Henrique é o que menos importa. São laranjas. Os verdadeiros titãs deste duelo são Jaques Wagner e Geddel Vieira Lima.

Ambos querendo se tornar o novo ACM.

Não sei não, mas para quem gosta de coronel, o original era muito mais autêntico.

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