Otávio Cabral
Senador peemedebista diz que a maioria dos integrantes do seu partido só pensa em corrupção e que a eleição de José Sarney à presidência do Congresso é um retrocesso
A ideia de que parlamentares usem seu mandato preferencialmente para obter vantagens pessoais já causou mais revolta. Nos dias que correm, essa noção parece ter sido de tal forma diluída em escândalos a ponto de não mais tocar a corda da indignação.
Mesmo em um ambiente político assim anestesiado, as afirmações feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos, de 66 anos, 43 dos quais dedicados à política e ao PMDB, nesta entrevista a VEJA soam como um libelo de alta octanagem.
Jarbas se revela decepcionado com a política e, principalmente, com os políticos. Ele diz que o Senado virou um teatro de mediocridades e que seus colegas de partido, com raríssimas exceções, só pensam em ocupar cargos no governo para fazer negócios e ganhar comissões. Acusa o ex-governador de Pernambuco: "Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção".
O que representa para a política brasileira a eleição de José Sarney para a presidência do Senado?
É um completo retrocesso. A eleição de Sarney foi um processo tortuoso e constrangedor. Havia um candidato, Tião Viana, que, embora petista, estava comprometido em recuperar a imagem do Senado. De repente, Sarney apareceu como candidato, sem nenhum compromisso ético, sem nenhuma preocupação com o Senado, e se elegeu. A moralização e a renovação são incompatíveis com a figura do senador.
Mas ele foi eleito pela maioria dos senadores.
Claro, e isso reflete o que pensa a maioria dos colegas de Parlamento. Para mim, não tem nenhum valor se Sarney vai melhorar a gráfica, se vai melhorar os gabinetes, se vai dar aumento aos funcionários. O que importa é que ele não vai mudar a estrutura política nem contribuir para reconstruir uma imagem positiva da Casa. Sarney vai transformar o Senado em um grande Maranhão.
Como o senhor avalia sua atuação no Senado?
Às vezes eu me pergunto o que vim fazer aqui. Cheguei em 2007 pensando em dar uma contribuição modesta, mas positiva – e imediatamente me frustrei. Logo no início do mandato, já estourou o escândalo do Renan (Calheiros, ex-presidente do Congresso que usou um lobista para pagar pensão a uma filha). Eu me coloquei na linha de frente pelo seu afastamento porque não concordava com a maneira como ele utilizava o cargo de presidente para se defender das acusações. Desde então, não posso fazer nada, porque sou um dissidente no meu partido. O nível dos debates aqui é inversamente proporcional à preocupação com benesses. É frustrante.
O senador Renan Calheiros acaba de assumir a liderança do PMDB...
Ele não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido. Renan é o maior beneficiário desse quadro político de mediocridade em que os escândalos não incomodam mais e acabam se incorporando à paisagem.
O senhor é um dos fundadores do PMDB. Em que o atual partido se parece com aquele criado na oposição ao regime militar?
Em nada. Eu entrei no MDB para combater a ditadura, o partido era o conduto de todo o inconformismo nacional. Quando surgiu o pluripartidarismo, o MDB foi perdendo sua grandeza. Hoje, o PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos.
Para que o PMDB quer cargos?
Para fazer negócios, ganhar comissões. Alguns ainda buscam o prestígio político. Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção.
Quando o partido se transformou nessa máquina clientelista?
De 1994 para cá, o partido resolveu adotar a estratégia pragmática de usufruir dos governos sem vencer eleição. Daqui a dois anos o PMDB será ocupante do Palácio do Planalto, com José Serra ou com Dilma Rousseff. Não terá aquele gabinete presidencial pomposo no 3º andar, mas terá vários gabinetes ao lado.
Por que o senhor continua no PMDB?
Se eu sair daqui irei para onde? É melhor ficar como dissidente, lutando por uma reforma política para fazer um partido novo, ao lado das poucas pessoas sérias que ainda existem hoje na política.
Lula ajudou a fortalecer o PMDB. É de esperar uma retribuição do partido, apoiando a candidatura de Dilma?
Não há condições para isso. O PMDB vai se dividir. A parte majoritária ficará com o governo, já que está mamando e não é possível agora uma traição total. E uma parte minoritária, mas significativa, irá para a candidatura de Serra. O partido se tornará livre para ser governo ao lado do candidato vencedor.
O senhor sempre foi elogiado por Lula. Foi o primeiro político a visitá-lo quando deixou a prisão, chegou a ser cotado para vice em sua chapa. O que o levou a se tornar um dos maiores opositores a seu governo no Congresso?
Quando Lula foi eleito em 2002, eu vim a Brasília para defender que o PMDB apoiasse o governo, mas sem cargos nem benesses. Era essencial o apoio a Lula, pois ele havia se comprometido com a sociedade a promover reformas e governar com ética. Com o desenrolar do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética. Também não fez reforma tributária, não completou a reforma da Previdência nem a reforma trabalhista. Então eu acho que já foram seis anos perdidos. O mundo passou por uma fase áurea, de bonança, de desenvolvimento, e Lula não conseguiu tirar proveito disso.
A favor do governo Lula há o fato de o país ter voltado a crescer e os indicadores sociais terem melhorado.
O grande mérito de Lula foi não ter mexido na economia. Mas foi só. O país não tem infraestrutura, as estradas são ruins, os aeroportos acanhados, os portos estão estrangulados, o setor elétrico vem se arrastando. A política externa do governo é outra piada de mau gosto. Um governo que deixou a ética de lado, que não fez as reformas nem fez nada pela infraestrutura agora tem como bandeira o PAC, que é um amontoado de projetos velhos reunidos em um pacote eleitoreiro. É um governo medíocre. E o mais grave é que essa mediocridade contamina vários setores do país. Não é à toa que o Senado e a Câmara estão piores. Lula não é o único responsável, mas é óbvio que a mediocridade do governo dele leva a isso.
Mas esse presidente que o senhor aponta como medíocre é recordista de popularidade. Em seu estado, Pernambuco, o presidente beira os 100% de aprovação.
O marketing e o assistencialismo de Lula conseguem mexer com o país inteiro. Imagine isso no Nordeste, que é a região mais pobre. Imagine em Pernambuco, que é a terra dele. Ele fez essa opção clara pelo assistencialismo para milhões de famílias, o que é uma chave para a popularidade em um país pobre. O Bolsa Família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo.
O senhor não acha que o Bolsa Família tem virtudes?
Há um benefício imediato e uma consequência futura nefasta, pois o programa não tem compromisso com a educação, com a qualificação, com a formação de quadros para o trabalho. Em algumas regiões de Pernambuco, como a Zona da Mata e o agreste, já há uma grande carência de mão-de-obra. Famílias com dois ou três beneficiados pelo programa deixam o trabalho de lado, preferem viver de assistencialismo. Há um restaurante que eu frequento há mais de trinta anos no bairro de Brasília Teimosa, no Recife. Na semana passada cheguei lá e não encontrei o garçom que sempre me atendeu. Perguntei ao gerente e descobri que ele conseguiu uma bolsa para ele e outra para o filho e desistiu de trabalhar. Esse é um retrato do Bolsa Família. A situação imediata do nordestino melhorou, mas a miséria social permanece.
A oposição está acuada pela popularidade de Lula?
Eu fui oposição ao governo militar como deputado e me lembro de que o general Médici também era endeusado no Nordeste. Se Lula criou o Bolsa Família, naquela época havia o Funrural, que tinha o mesmo efeito. Mas ninguém desistiu de combater a ditadura por isso. A popularidade de Lula não deveria ser motivo para a extinção da oposição. Temos aqui trinta senadores contrários ao governo. Sempre defendi que cada um de nós fiscalizasse um setor importante do governo. Olhasse com lupa o Banco do Brasil, o PAC, a Petrobras, as licitações, o Bolsa Família, as pajelanças e bondades do governo. Mas ninguém faz nada. Na única vez em que nos organizamos, derrotamos a CPMF. Não é uma batalha perdida, mas a oposição precisa ser mais efetiva. Há um diagnóstico claro de que o governo é medíocre e está comprometendo nosso futuro. A oposição tem de mostrar isso à população.
Para o senhor, o governo é medíocre e a oposição é medíocre. Então há uma mediocrização geral de toda a classe política?
Isso mesmo. A classe política hoje é totalmente medíocre. E não é só em Brasília. Prefeitos, vereadores, deputados estaduais também fazem o mais fácil, apelam para o clientelismo. Na política brasileira de hoje, em vez de se construir uma estrada, apela-se para o atalho. É mais fácil.
Por que há essa banalização dos escândalos?
O escândalo chocava até cinco ou seis anos atrás. A corrupção sempre existiu, ninguém pode dizer que foi inventada por Lula ou pelo PT. Mas é fato que o comportamento do governo Lula contribui para essa banalização. Ele só afasta as pessoas depois de condenadas, todo mundo é inocente até prova em contrário. Está aí o Obama dando o exemplo do que deve ser feito. Aqui, esperava-se que um operário ajudasse a mudar a política, com seu partido que era o guardião da ética. O PT denunciava todos os desvios, prometia ser diferente ao chegar ao poder. Quando deixou cair a máscara, abriu a porta para a corrupção. O pensamento típico do servidor desonesto é: "Se o PT, que é o PT, mete a mão, por que eu não vou roubar?". Sofri isso na pele quando governava Pernambuco.
É possível mudar essa situação?
É possível, mas será um processo longo, não é para esta geração. Não é só mudar nomes, é mudar práticas. A corrupção é um câncer que se impregnou no corpo da política e precisa ser extirpado. Não dá para extirpar tudo de uma vez, mas é preciso começar a encarar o problema.
Como o senhor avalia a candidatura da ministra Dilma Rousseff?
A eleição municipal mostrou que a transferência de votos não é automática. Mesmo assim, é um erro a oposição subestimar a força de Lula e a capacidade de Dilma como candidata. Ela é prepotente e autoritária, mas está se moldando. Eu não subestimo o poder de um marqueteiro, da máquina do governo, da política assistencialista, da linguagem de palanque. Tudo isso estará a favor de Dilma.
O senhor parece estar completamente desiludido com a política.
Não tenho mais nenhuma vontade de disputar cargos. Acredito muito em Serra e me empenharei em sua candidatura à Presidência. Se ele ganhar, vou me dedicar a reformas essenciais, principalmente a política, que é a mãe de todas as reformas. Mas não tenho mais projeto político pessoal. Já fui prefeito duas vezes, já fui governador duas vezes, não quero mais. Sei que vou ser muito pressionado a disputar o governo em 2010, mas não vou ceder. Seria uma incoerência voltar ao governo e me submeter a tudo isso que critico.
Transcrito da VEJA de 18/2/2009 - edição 2100
sábado, 14 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Chegou o momento de você votar nas jornalistas que mais se destacaram em 2008 (edição 2009).
Foi dada a largada para a 5ª edição do Troféu Mulher IMPRENSA. Uma realização da revista IMPRENSA, em parceria com a ABERJE e o MaxPress, o prêmio visa homenagear as mulheres que atuam no Jornalismo brasileiro, em seus mais diversos setores.
Nesta quinta edição, a novidade está na série de matérias que serão publicadas, a fim de mostrar qual a atual situação da mulher nas redações e no mercado de trabalho brasileiro.
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O blog declara seus votos:
Lucia Hippolito - Âncora de Rádio, categoria 1
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Míriam Leitão - Colunista de Jornal Impresso, categoria 9
Lucia Hippolito - Comentarista ou colunista de rádio, categoria 10
Mariza Tavares - Diretora de Redação, categoria 11
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O Senado - Jornal do Senado
O Senado é uma instituição que deriva dos antigos conselhos de anciões, criados pelos países orientais da Antiguidade, por volta de 4000 a.C.
Os gregos dividiram seu conselho, criando as bases para o bicameralismo moderno, composto por Senado e Câmara dos Deputados.
Mas foi na Roma antiga que o Senado tornou-se assembléia permanente e recebeu as atribuições de fiscalizar o Executivo, controlar o Judiciário, as finanças públicas, as questões religiosas e a política externa.
No Brasil, a primeira sessão ordinária do Senado foi realizada em maio de 1826.
Resultou da promulgação da Constituição de 1824 pelo Conselho de Estado convocado por dom Pedro I após a proclamação da Independência.
Na reunião, foi empossado presidente o senador José Egídio Álvares de Almeida, o Marquês de Santo Amaro. Cinqüenta senadores representavam as províncias em número proporcional à população de cada uma.
Durante o Império, o cargo de senador era vitalício e privativo de brasileiros natos ou naturalizados, exigia idade mínima de 40 anos e renda anual de 800 mil-réis.
Tendo dom Pedro I abdicado é voltado a Portugal em julho de 1840, o Senado, encerrando longo processo de disputa pela Regência, antecipou a maioridade de dom Pedro II e o proclamou imperador aos 14 anos.
Teve início um dos períodos da história em que o Senado influenciou decisivamente as decisões políticas, administrativas e de relações exteriores, entre elas a GUERRA DO PARAGUAI, em 1865.
O Senado foi fechado em quatro ocasiões.
Em 1930, o fechamento decorreu do primeiro golpe de Estado de Getúlio Vargas. A Casa só voltou a funcionar em 1934, com a promulgação da terceira Constituição da República pela Assembléia Constituinte eleita por convocação de Vargas.
De 1937 a 1945, com outro golpe de Estado seguido pela ditadura, ambos comandados por Getúlio.
Já em 1966, a Casa baixa as portas pela terceira vez, resultado do golpe e início do período da ditadura militar.
Por fim, em 1977, para que o governo militar impusesse reformas que haviam sido rejeitadas no Congresso.
Hoje, o Senado está sendo comandado por José Sarney (PMDB-AP).
Os gregos dividiram seu conselho, criando as bases para o bicameralismo moderno, composto por Senado e Câmara dos Deputados.
Mas foi na Roma antiga que o Senado tornou-se assembléia permanente e recebeu as atribuições de fiscalizar o Executivo, controlar o Judiciário, as finanças públicas, as questões religiosas e a política externa.
No Brasil, a primeira sessão ordinária do Senado foi realizada em maio de 1826.
Resultou da promulgação da Constituição de 1824 pelo Conselho de Estado convocado por dom Pedro I após a proclamação da Independência.
Na reunião, foi empossado presidente o senador José Egídio Álvares de Almeida, o Marquês de Santo Amaro. Cinqüenta senadores representavam as províncias em número proporcional à população de cada uma.
Durante o Império, o cargo de senador era vitalício e privativo de brasileiros natos ou naturalizados, exigia idade mínima de 40 anos e renda anual de 800 mil-réis.
Tendo dom Pedro I abdicado é voltado a Portugal em julho de 1840, o Senado, encerrando longo processo de disputa pela Regência, antecipou a maioridade de dom Pedro II e o proclamou imperador aos 14 anos.
Teve início um dos períodos da história em que o Senado influenciou decisivamente as decisões políticas, administrativas e de relações exteriores, entre elas a GUERRA DO PARAGUAI, em 1865.
O Senado foi fechado em quatro ocasiões.
Em 1930, o fechamento decorreu do primeiro golpe de Estado de Getúlio Vargas. A Casa só voltou a funcionar em 1934, com a promulgação da terceira Constituição da República pela Assembléia Constituinte eleita por convocação de Vargas.
De 1937 a 1945, com outro golpe de Estado seguido pela ditadura, ambos comandados por Getúlio.
Já em 1966, a Casa baixa as portas pela terceira vez, resultado do golpe e início do período da ditadura militar.
Por fim, em 1977, para que o governo militar impusesse reformas que haviam sido rejeitadas no Congresso.
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