Artigo extraído de Época desta semana. Fernando Abrucio, colunista e doutor em Ciência Política pela USP e professor da Fundação Getúlio Vargas (SP)
O Brasil é um país onde passado, presente e futuro convivem no mesmo tempo histórico. Resquícios de forte atraso permanecem no trabalho infantil ou no sistema político-administrativo, principalmente nos municípios. Enfrentamos problemas tipicamente contemporâneos, como a questão metropolitana. E o futuro bate a nossa porta, em temas como as células-tronco ou a necessidade de definir como será explorado o petróleo do pré-sal e para quem serão distribuídos seus recursos.
A leitura sobre a simultaneidade dos tempos no Brasil e alhures já apareceu em grandes pensadores. O que me levou a retomá-la foram dois eventos: uma excelente palestra do ministro Mangabeira Unger sobre a gestão pública brasileira e o recente episódio da escuta telefônica envolvendo personagens dos Três Poderes da República.
A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República reuniu um grupo de especialistas para construir uma agenda de longo prazo para a gestão pública. O planejamento de ações futuras, independentemente de quem venha a governar o país, e a riqueza dos debates já valeriam pelo encontro. O mais interessante foi a palestra do ministro, que mostrou como a administração pública brasileira precisa enfrentar, ao mesmo tempo, questões dos séculos XIX, XX e XXI. No terreno do passado, é preciso combater os resquícios do patrimonialismo, que vai muito além do nepotismo. O que nos falta, em boa parte do aparelho de Estado, é a constituição de uma burocracia meritocrática. Esse problema é mais grave nos Estados e, principalmente, nos municípios, exatamente os níveis que executam a maior parte das políticas públicas.
Entre os instrumentos de gestão do século XX, o ministro destacou o papel das técnicas gerenciais. O Brasil teve avanços nesse terreno nos últimos anos, como demonstra o exemplo do governo eletrônico, usado em compras governamentais. Mas milhares de escolas e hospitais públicos ainda funcionam como repartições arcaicas, morosas em sua rotina e com atendimento precário para os cidadãos mais pobres.
Mangabeira ressaltou a necessidade de a administração pública buscar o paradigma do novo século, marcado pela maior importância da democratização do poder público e pelas parcerias com a sociedade. O ministro propôs que todas as dimensões sejam enfrentadas simultaneamente, pois não há como esperar que o passado seja resolvido para atuar no presente, nem pensar o futuro sem combater o legado perverso da História.
Esse raciocínio se encaixa perfeitamente no tema da semana: os grampos contra altas autoridades da República. O que está em jogo é a herança do regime militar: arapongas que ainda não aprenderam as regras do jogo democrático, atuando como se estivessem nos porões da ditadura. No fundo, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) continua muito próxima do velho Serviço Nacional de Informação (SNI). Para derrotar o passado, entretanto, não se podem ignorar os desafios do presente e do futuro. No que se refere à agenda contemporânea, é preciso conciliar a defesa do direito individual de privacidade com o reforço das instituições de investigação. A despeito de alguns escorregões, a Polícia Federal tem prestado serviços relevantes ao país. Primeiro, desbaratando máfias que atuam contra a coletividade e, sobretudo, democratizando a Justiça brasileira.
No século XXI, caberá aos órgãos de investigação e inteligência atuar, por exemplo, contra crimes cibernéticos e experimentos ilegais de engenharia genética. Para cumprir essa tarefa, terão de utilizar técnicas como a escuta telefônica. É bom ressaltar que se, diante do grave escândalo atual, acabarmos com os meios de atuação da PF e da Abin, inviabilizaremos o presente e o futuro dessas instituições. E pior: sem a garantia de que os arapongas treinados pelos militares não continuem suas estripulias fora do aparelho estatal.
sábado, 6 de setembro de 2008
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Eleições em Angola
Em reportagem apresentada pela Globo News, hoje pela manhã, fiz anotações relevantes sobre as Eleições na Angola.
Os angolanos compareceram nesta sexta-feira (5) às urnas para eleger o novo Parlamento, nas primeiras eleições desde a frustrada votação geral de 1992 que marcou uma pausa na guerra civil que devastou a antiga colônia portuguesa a partir de sua independência, em 1975.
A organização do pleito foi muito criticada pela missão de observadores da União Européia (UE).
"O que vimos em três locais de votação em Luanda é um desastre. Ainda não começaram a votar. Não estavam preparados", afirmou a coordenadora da missão européia, Luisa Morgantini.
As ruas de Luanda, habitualmente congestionadas, estavam vazias.
O presidente José Eduardo dos Santos, de 66 anos e no poder desde 1979, votou pela manhã no bairro Cidade Alta da capital, onde fica o palácio presidencial.
A campanha foi qualificada de tranqüila pelos observadores, que no entanto denunciaram a onipresença do Movimiento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que está no poder desde 1975.
Nas últimas semanas, Santos inaugurou muitas obras em todo o país, devastado por 27 anos de Guerra Civil.
As eleições legislativas representam um teste para Santos, já que a votação presidencial está programada para 2009.
Dois terços dos 16 milhões de angolanos vivem abaixo da linha da pobreza em um país que, no entanto, é rico em diamantes e que desde abril é o maior produtor de petróleo da África, superando a Nigéria.
Os angolanos compareceram nesta sexta-feira (5) às urnas para eleger o novo Parlamento, nas primeiras eleições desde a frustrada votação geral de 1992 que marcou uma pausa na guerra civil que devastou a antiga colônia portuguesa a partir de sua independência, em 1975.
A organização do pleito foi muito criticada pela missão de observadores da União Européia (UE).
"O que vimos em três locais de votação em Luanda é um desastre. Ainda não começaram a votar. Não estavam preparados", afirmou a coordenadora da missão européia, Luisa Morgantini.
As ruas de Luanda, habitualmente congestionadas, estavam vazias.
O presidente José Eduardo dos Santos, de 66 anos e no poder desde 1979, votou pela manhã no bairro Cidade Alta da capital, onde fica o palácio presidencial.
A campanha foi qualificada de tranqüila pelos observadores, que no entanto denunciaram a onipresença do Movimiento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que está no poder desde 1975.
Nas últimas semanas, Santos inaugurou muitas obras em todo o país, devastado por 27 anos de Guerra Civil.
As eleições legislativas representam um teste para Santos, já que a votação presidencial está programada para 2009.
Dois terços dos 16 milhões de angolanos vivem abaixo da linha da pobreza em um país que, no entanto, é rico em diamantes e que desde abril é o maior produtor de petróleo da África, superando a Nigéria.
Aeroportos serão privatizados. Isso é bom!!!
Do Portal G1
Os aeroportos de Viracopos, em Campinas, e do Galeão, no Rio de Janeiro, serão operados pela iniciativa privada já no ano que vem, afirmou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que também adiantou que o novo aeroporto a ser construído em São Paulo também será operado pelo setor privado.
"O quarto aeroporto em São Paulo já será no modelo de concessão", disse o ministro a jornalistas no porta-aviões São Paulo, onde participou da cerimônia de transmissão dos cargos de Comandante de Operações Navais e de Diretor-Geral de Navegação. "Esperamos que no que ano vem a gente tenha condições de lançar o edital (de Viracopos e Galeão) e estar com esse assunto resolvido."
Modelo de concessão
Jobim disse que o governo contará com a ajuda da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na elaboração do modelo de concessão. Anac e BNDES também auxiliarão na criação de uma política de aproveitamento dos funcionários da Infraero em Viracopos e Galeão.
"O que é fundamental na concessão de aeroportos é o edital, não é um edital comum, é um edital que prevê uma série de situações que correspondem à natureza da prestação de serviços", comentou o ministro.
Falando a jornalistas durante evento no BNDES, o presidente do banco, Luciano Coutinho, disse esperar concluir o modelo de concessão de aeroportos no primeiro trimestre do ano que vem e adiantou que a instituição pode vir a financiar interessados em administrar os aeroportos. "Nós podemos ajudar dentro da missão do BNDES, que é de contribuir para o desenvolvimento da infra-estrutura do país", disse.
Abertura de capital
Segundo Jobim, a escolha dos aeroportos de Viracorpos e de Galeão para iniciar o modelo de concessão ocorreu devido às necessidades de desafogar o tráfego aéreo em Guarulhos e Congonhas e adaptar o aeroporto do Rio para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016, que tem a capital fluminense como uma das candidatas a sede.
O ministro também procurou enfatizar que a concessão de aeroportos ao setor privado não invalida as intenções do governo de abrir o capital da Infraero, estatal que administra a maioria dos aeroportos do país. "(A idéia de abertura do capital da Infraero) continua, não prejudica a situação. Temos que, seguramente, remodelar a Infraero", disse.
Os aeroportos de Viracopos, em Campinas, e do Galeão, no Rio de Janeiro, serão operados pela iniciativa privada já no ano que vem, afirmou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que também adiantou que o novo aeroporto a ser construído em São Paulo também será operado pelo setor privado.
"O quarto aeroporto em São Paulo já será no modelo de concessão", disse o ministro a jornalistas no porta-aviões São Paulo, onde participou da cerimônia de transmissão dos cargos de Comandante de Operações Navais e de Diretor-Geral de Navegação. "Esperamos que no que ano vem a gente tenha condições de lançar o edital (de Viracopos e Galeão) e estar com esse assunto resolvido."
Modelo de concessão
Jobim disse que o governo contará com a ajuda da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na elaboração do modelo de concessão. Anac e BNDES também auxiliarão na criação de uma política de aproveitamento dos funcionários da Infraero em Viracopos e Galeão.
"O que é fundamental na concessão de aeroportos é o edital, não é um edital comum, é um edital que prevê uma série de situações que correspondem à natureza da prestação de serviços", comentou o ministro.
Falando a jornalistas durante evento no BNDES, o presidente do banco, Luciano Coutinho, disse esperar concluir o modelo de concessão de aeroportos no primeiro trimestre do ano que vem e adiantou que a instituição pode vir a financiar interessados em administrar os aeroportos. "Nós podemos ajudar dentro da missão do BNDES, que é de contribuir para o desenvolvimento da infra-estrutura do país", disse.
Abertura de capital
Segundo Jobim, a escolha dos aeroportos de Viracorpos e de Galeão para iniciar o modelo de concessão ocorreu devido às necessidades de desafogar o tráfego aéreo em Guarulhos e Congonhas e adaptar o aeroporto do Rio para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016, que tem a capital fluminense como uma das candidatas a sede.
O ministro também procurou enfatizar que a concessão de aeroportos ao setor privado não invalida as intenções do governo de abrir o capital da Infraero, estatal que administra a maioria dos aeroportos do país. "(A idéia de abertura do capital da Infraero) continua, não prejudica a situação. Temos que, seguramente, remodelar a Infraero", disse.
Mercado Finaceiro
As bolsas de valores do mundo todo foram abaladas ontem pelas perspectivas de mais inflação e menos crescimento econômico no mundo. Os temores partiram do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (o banco central do país), que decidiram manter suas taxas de juros inalteradas, argumentando que o controle da alta do custo de vida é mais importante agora.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou com forte queda de 3,96%, para 51.408 pontos. Isso levou o índice de volta aos níveis de 21 de agosto do ano passado, perdendo, portanto, mais de 12 meses de rentabilidade. No ano, o índice já acumula perda de 19,53% e, nos últimos cinco dias, de 8,82%.
Já o dólar voltou a ser negociado acima de R$ 1,70, nível que não alcançava desde 2 de abril deste ano: a moeda fechou a R$ 1,722, em alta de 2,68%. É a maior valorização em um dia desde 26 de julho de 2007. A pressão veio da saída de investidores estrangeiros do país e, principalmente, do movimento mundial de alta do dólar — na verdade, de queda das outras moedas, especialmente o euro.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou com forte queda de 3,96%, para 51.408 pontos. Isso levou o índice de volta aos níveis de 21 de agosto do ano passado, perdendo, portanto, mais de 12 meses de rentabilidade. No ano, o índice já acumula perda de 19,53% e, nos últimos cinco dias, de 8,82%.
Já o dólar voltou a ser negociado acima de R$ 1,70, nível que não alcançava desde 2 de abril deste ano: a moeda fechou a R$ 1,722, em alta de 2,68%. É a maior valorização em um dia desde 26 de julho de 2007. A pressão veio da saída de investidores estrangeiros do país e, principalmente, do movimento mundial de alta do dólar — na verdade, de queda das outras moedas, especialmente o euro.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Ficha suja
AMB divulga lista com mais 37 candidatos
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) divulgou nesta quarta-feira no seu site - http://www.amb.com.br - o levantamento com os nomes dos candidatos que respondem a processos em 47 dos 53 municípios com mais de 200 mil eleitores.
O novo levantamento soma-se ao banco de dados anterior, com os nomes dos candidatos a prefeito e vice-prefeito nas 26 capitais brasileiras . Os nomes estão relacionados no site da AMB por estado.
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) divulgou nesta quarta-feira no seu site - http://www.amb.com.br - o levantamento com os nomes dos candidatos que respondem a processos em 47 dos 53 municípios com mais de 200 mil eleitores.
O novo levantamento soma-se ao banco de dados anterior, com os nomes dos candidatos a prefeito e vice-prefeito nas 26 capitais brasileiras . Os nomes estão relacionados no site da AMB por estado.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
É má informação ou má intenção
Este pré-sal está parecendo a história do cidadão que comprou um bilhete de loteria, foi para casa e tocou fogo nos móveis velhos.
Ou seja, tem gente hipotecando o futuro, gastando por conta.
Segundo dados da própria Petrobras, só em 2014 poderemos ter alguma coisa parecida com produção consistente de petróleo nesses campos de pré-sal.
Mas, assim como já tem gente gastando por conta, também já tem gente botando olho gordo nos royalties do petróleo que são pagos aos estados produtores.
O senador Aloísio Mercadante e a senadora Ideli Salvati já estão propondo redistribuir os royalties do petróleo por todos os estados, a pretexto de que o subsolo pertence à União.
Não quero suspeitar que os dois nobres senadores estejam de má-fé. Prefiro acreditar em desconhecimento, desinformação.
Na Assembléia Nacional Constituinte (1987-88), os legisladores determinaram que todos os produtos teriam seu ICMS recolhido na origem. Exceção: petróleo e energia, além de alguns minerais, que seriam recolhidos no destino (dizem que a emenda é do então deputado José Serra, que pelo visto “adora” o Rio de Janeiro).
Assim, estados que são grandes consumidores de petróleo (leia-se principalmente São Paulo), passariam a contar com um aumento extra de arrecadação, graças ao petróleo.
Para compensar os estados produtores de petróleo e energia, tanto da perda de arrecadação quanto dos efeitos da degradação ambiental e de infra-estrutura gerados pela exploração de petróleo e geração de energia, e assim manter o equilíbrio da federação, os constituintes determinaram que os estados seriam ressarcidos com pagamento de royalties. (Art. 20, XI, §1º, da Constituição de 88)
Como a federação é cláusula pétrea da Constituição (Art. 60, § 4º), nem por emenda constitucional seria possível alterar a distribuição dos royalties.
(Outro dia, um insano chegou a falar em alteração da distribuição dos royalties por decreto presidencial! Neguinho delira.)
Porque uma tal alteração geraria desequilíbrio federativo.
Imagino que os dois nobres parlamentares conheçam a Constituição. É também possível que haja uma interpretação diferente.
Porque, ou muito me engano, ou esta questão vai acabar no Supremo.
Comentário da Lucia Hippolito à CBN.
Ou seja, tem gente hipotecando o futuro, gastando por conta.
Segundo dados da própria Petrobras, só em 2014 poderemos ter alguma coisa parecida com produção consistente de petróleo nesses campos de pré-sal.
Mas, assim como já tem gente gastando por conta, também já tem gente botando olho gordo nos royalties do petróleo que são pagos aos estados produtores.
O senador Aloísio Mercadante e a senadora Ideli Salvati já estão propondo redistribuir os royalties do petróleo por todos os estados, a pretexto de que o subsolo pertence à União.
Não quero suspeitar que os dois nobres senadores estejam de má-fé. Prefiro acreditar em desconhecimento, desinformação.
Na Assembléia Nacional Constituinte (1987-88), os legisladores determinaram que todos os produtos teriam seu ICMS recolhido na origem. Exceção: petróleo e energia, além de alguns minerais, que seriam recolhidos no destino (dizem que a emenda é do então deputado José Serra, que pelo visto “adora” o Rio de Janeiro).
Assim, estados que são grandes consumidores de petróleo (leia-se principalmente São Paulo), passariam a contar com um aumento extra de arrecadação, graças ao petróleo.
Para compensar os estados produtores de petróleo e energia, tanto da perda de arrecadação quanto dos efeitos da degradação ambiental e de infra-estrutura gerados pela exploração de petróleo e geração de energia, e assim manter o equilíbrio da federação, os constituintes determinaram que os estados seriam ressarcidos com pagamento de royalties. (Art. 20, XI, §1º, da Constituição de 88)
Como a federação é cláusula pétrea da Constituição (Art. 60, § 4º), nem por emenda constitucional seria possível alterar a distribuição dos royalties.
(Outro dia, um insano chegou a falar em alteração da distribuição dos royalties por decreto presidencial! Neguinho delira.)
Porque uma tal alteração geraria desequilíbrio federativo.
Imagino que os dois nobres parlamentares conheçam a Constituição. É também possível que haja uma interpretação diferente.
Porque, ou muito me engano, ou esta questão vai acabar no Supremo.
Comentário da Lucia Hippolito à CBN.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Revista Veja 40 anos
Acompanhe " AO VIVO" o debate promovido pela revista VEJA, através do link http://www.veja40anos.com.br/.
Onde tudo começou
Reportagem da revista Veja acusa a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de grampear o presidente do STF, ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva, políticos do governo e da oposição, com base em informações de um servidor anônimo da agência. A publicação traz um diálogo entre Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM), em 15 de julho. Conforme a revista, os ministros de Relações Institucionais, José Múcio, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, também teriam sido grampeados.
Por meio de seu porta-voz, o STF informou que o conselho de ministros "decidiu aguardar as providências exigidas pela gravidade dos fatos".
A Abin encontra-se agora no epicentro de várias denúncias e sob a mira das instituições atingidas. Independentemente de ter ou não participação no recente episódio de escutas ilegais, há na agência uma briga cristalizada. O setor de operações, coração do serviço secreto e área responsável pelas investigações da instituição, é alvo de disputas entre diversos grupos.
Nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Lacerda assumiu a diretoria-geral da Abin no ano passado com a incumbência de exercer mais controle sobre ela. De lá para cá, a agência já foi envolvida em dois casos rumorosos. No primeiro, por ocasião da operação Satiagraha, Lacerda negou o uso de grampos para contribuir com a Polícia Federal. Agora, o tema de escuta ilegal volta à berlinda. Legalmente, a Abin não tem prerrogativa de operar com escutas ilegais.
Por conta da reportagem de Veja, a agência abriu sindicância interna e pediu que o Ministério Público e a Polícia Federal apurem o caso.
E, ontem o presidente Luiz Inácio da Silva, afastou temporariamente a cúpula da Abin.
Agora, vamos ver como segue as investigações e esperar que o sigilo volte a ser preservado entre os Três Poderes.
Por meio de seu porta-voz, o STF informou que o conselho de ministros "decidiu aguardar as providências exigidas pela gravidade dos fatos".
A Abin encontra-se agora no epicentro de várias denúncias e sob a mira das instituições atingidas. Independentemente de ter ou não participação no recente episódio de escutas ilegais, há na agência uma briga cristalizada. O setor de operações, coração do serviço secreto e área responsável pelas investigações da instituição, é alvo de disputas entre diversos grupos.
Nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Lacerda assumiu a diretoria-geral da Abin no ano passado com a incumbência de exercer mais controle sobre ela. De lá para cá, a agência já foi envolvida em dois casos rumorosos. No primeiro, por ocasião da operação Satiagraha, Lacerda negou o uso de grampos para contribuir com a Polícia Federal. Agora, o tema de escuta ilegal volta à berlinda. Legalmente, a Abin não tem prerrogativa de operar com escutas ilegais.
Por conta da reportagem de Veja, a agência abriu sindicância interna e pediu que o Ministério Público e a Polícia Federal apurem o caso.
E, ontem o presidente Luiz Inácio da Silva, afastou temporariamente a cúpula da Abin.
Agora, vamos ver como segue as investigações e esperar que o sigilo volte a ser preservado entre os Três Poderes.
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
A crise nos Mercados Financeiros
Pesquisa feita com a colaboração da BBC Brasil
A Câmara dos Estados Unidos rejeitou nesta segunda-feira, 29, por 228 votos contra 205, o megapacote econômico de US$ 700 bilhões proposto pelo governo americano.
Cerca de dois terços dos deputados republicanos, correligionários do presidente George W. Bush, votaram contra o pacote.
A notícia fez com que as bolsas de valores despencassem.
O índice Dow Jones registrou nesta segunda-feira sua maior queda em pontos em um único dia na história: perdeu 777,68 pontos e fechou com baixa de 6,98%.
As operações da Bolsa de São Paulo chegaram a ser suspensas depois de o índice Bovespa ter caído mais de 10%.
"Decepção"
Os líderes dos dois partidos deverão, nas próximas horas, tentar persuadir congressistas a mudar seus votos e apoiar o pacote.
Tommy Frato, um porta-voz da Casa Branca, disse que o presidente Bush estava "muito decepcionado" com o resultado.
De acordo com o porta-voz, o presidente se reunirá com sua equipe nos próximos dias para "determinar os próximos passos".
O pacote havia sido proposto pelo presidente George W. Bush no dia 20 de setembro.
O líder americano havia defendido que os congressistas precisavam aprovar a proposta com urgência, para evitar que a crise no sistema financeiro se espalhasse por toda a economia.
Bancos
Antes da rejeição do pacote de ajuda a Wall Street, os mercados já operavam em baixa, depois da confirmação de problemas em mais bancos.
Nos Estados Unidos, o Wachovia, quarto maior banco do país, foi comprado pelo Citibank.
Na Europa, o governo britânico nacinalizou o Bradford & Bingley; e os governos de Holanda, Bélgica e Luxemburgo intervieram no Fortis, o 20º maior banco do mundo em faturamento.
Além disso, os bancos centrais dos EUA, o europeu e de oito países abriram linhas de crédito de 330 bilhões de dólares para evitar problemas de caixa em instituições financeiras.
Objeções
Os deputados republicanos levantaram objeções tanto quanto ao conteúdo do pacote como à pressa em que ele foi colocado em votação.
No fim de semana, líderes partidários haviam chegado a um acordo em relação a pontos polêmicos, como mecanismos de supervisão do mercado financeiro, proteção para os contribuintes e limites aos salários de executivos de instituições financeiras.
As concessões, porém, não foram suficientes para convencer boa parte dos congressistas a seguir a orientação dos líderes no plenário.
Depois da votação, líderes republicanos sugeriram que a culpa era dos democratas, que não teriam conseguido mobilizar sua maioria na Câmara.
Em discurso, também depois da votação, o candidato democrata à Presidência, Barak Obama, disse ser ultrajante que cidadãos americanos tenham de limpar a bagunça criada por Wall Street. "Se eu for presidente, vou rever o plano todo no meu primeiro dia, para ter certeza de que eles está funcionando para salvar a economia e para que vocês recebam seu dinheiro de volta".
Obama disse esperar que o Congresso aprove alguma forma de programa de ajuda financeira aos bancos, mas admitiu que o caminho para essa aprovação pode ser difícil.
Cronologia
Entre 2004 e 2006: problemas no subprime
Depois de dois anos, entre 2004 e 2006, quando a taxa de juros subiu de 1% para 5,35%, o mercado imobiliário americano começou a sofrer, com preços dos imóveis caindo e aumento na inadimplência de mutuários.
A inadimplência em empréstimos do tipo subprime – hipotecas de alto risco para pessoas com histórico ruim de crédito – atingiu níveis recordes.
Abril a agosto de 2007: contágio do subprime
Abril
A New Century Financial, especializada em empréstimos subprime, pediu concordata e demitiu metade dos seus funcionários.
Com suas dívidas sendo repassadas para outros bancos, o mercado subprime começou a entrar em colapso.
Julho
O banco de investimentos Bear Stearns diz que seus investidores não conseguirão resgatar o dinheiro investido em seus fundos hedge.
O diretor do Federal Reserve (o banco central americano), Ben Bernanke, diz que a crise do subprime pode custar US$ 100 bilhões.
Agosto 2007: Tamanho da crise é revelado
9 de agosto
O banco de investimentos PNB Paribas diz a seus investidores que eles não conseguirão resgatar seus investimentos, devido à "completa evaporação da liquidez" do mercado.
É um sinal claro de que os bancos estão se recusando a emprestar dinheiro uns aos outros.
O Banco Central Europeu investe 95 bilhões de euros no setor bancário, para melhorar a liquidez. Em seguida, mais 108,7 bilhões de euros são investidos.
Os bancos centrais dos Estados Unidos, Canadá e Japão começam a intervir.
17 de agosto
O Federal Reserve corta pela metade a taxa de juros para empréstimos a bancos, para 5,75%.
Setembro 2007: Corrida aos bancos
13 de setembro
O banco britânico Northern Rock pediu e recebeu ajuda financeira emergencial do banco central britânico. No dia seguinte, os correntistas retiraram mais de US$ 2 bilhões, em uma das maiores fugas de capital da Grã-Bretanha.
18 de setembro
O Federal Reserve corta a taxa de juro em meio ponto percentual, para 5,75%.
Outubro de 2007: perdas começam a surgir
No dia 1º, o banco suíço UBS revelou perdas de US$ 3,4 bilhões. Em seguida, o gigante Citigroup divulgou que perdeu US$ 3,1 bilhões com o mercado subprime – US$ 40 bilhões no acumulado de seis meses.
No fim do mês, o diretor do Merrill Lynch se demite, depois de revelar que o banco tinha US$ 7,9 bilhões de dívidas que incluíam papéis podres.
Dezembro 2007: Ajuda do governo
No dia 6, o presidente americano, George W. Bush, anunciou um plano para ajudar milhões de mutuários com problemas. O Federal Reserve coordenou ao lado de cinco bancos centrais uma ação para empréstimos a outros bancos.
Fevereiro e março 2008: Nacionalizações e compras
7 de fevereiro
Ben Bernanke alerta para os efeitos da crise do sistema financeiro na economia real. Os líderes do G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo) dizem que as perdas com o mercado subprime podem chegar a US$ 400 bilhões. O governo britânico nacionaliza o banco Northern Rock.
Em março, o Federal Reserve disponibiliza mais US$ 200 bilhões para bancos em dificuldade.
No dia 17, o quinto maior banco americano, Bear Stearns, é comprado pelo JP Morgan Chase por US$ 240 milhões (um ano antes, o banco valia US$ 18 bilhões).
Abril 2008: Mais efeitos na Europa
8 de abril
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que as perdas devido à crise financeira internacional podem chegar a US$ 1 trilhão ou até ultrapassar esta marca.
Segundo o FMI, os efeitos da crise estão se espalhando para outros setores como crédito ao consumidor e dívidas de empresas.
Dois dias depois o Banco da Inglaterra diminui sua taxa de juros para 5%, um corte de 0,25%.
21 de abril
O Banco da Inglaterra divulga os detalhes de um plano ambicioso, da ordem de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) para ajudar bancos, um plano que permitiria que estes bancos trocassem dívidas de hipoteca que potencialmente arriscadas por títulos do governo, mais seguros.
Abril a junho de 2008: Bancos tentam conseguir dinheiro
22 de abril
O banco britânico Royal Bank of Scotland anuncia o plano para levantar dinheiro junto aos acionistas, lançando novas ações no mercado, que chegam ao valor 12 bilhões de libras (mais de R$ 41 bilhões), o maior lançamento de ações da história corporativa da Grã-Bretanha.
2 de maio
O banco UBS, um dos mais afetados pela crise financeira mundial, também lança ações no valor de US$ 15,5 bilhões para cobrir parte de suas perdas, que chegaram a US$ 37 bilhões, mais do que qualquer outro banco afetado pelas turbulências do mercado internacional.
19 de junho
O FBI prende 406 pessoas, incluindo corretores e empreiteiros, como parte de uma operação contra supostas fraudes em financiamentos habitacionais, que alcançaram valor de US$ 1 bilhão.
25 de junho
Outro banco britânico, desta vez o Barclays, anuncia os planos para levantar 4,5 bilhões de libras (cerca de R$ 15,4 bilhões) com lançamento de ações.
Julho de 2008: Grandes financiadores no limite
13 de julho
O banco de hipotecas americano IndyMac entra em colapso e se torna o segundo maior banco a falir na história dos Estados Unidos.
14 de julho
Autoridades financeiras dos Estados Unidos prestam assistência às duas gigantes do setor de hipotecas, Fannie Mae e Freddie Mac.
Juntas, as duas companhias são responsáveis por quase metade das hipotecas dos Estados Unidos e detêm ou garantem cerca de US$ 5,3 trilhões em financiamentos e são cruciais para o mercado imobiliário americano.
Agosto a setembro de 2008: Outros gigantes sofrem
4 de agosto
O gigante do setor bancário HSBC alertou que as condições dos mercados financeiros são as mais difíceis "das últimas décadas", depois de sofrer uma queda de 28% em seus lucros semestrais.
Dos grandes bancos europeus, o HSBC estava entre os mais atingidos pela crise do mercado imobiliário e de crédito dos Estados Unidos.
30 de agosto
O ministro da Fazenda britânico, Alistair Darling, afirma que a economia da Grã-Bretanha enfrenta sua pior crise dos últimos 60 anos em uma entrevista ao jornal The Guardian.
1º de setembro
Dados oficiais do Banco da Inglaterra mostram queda na aprovação de hipotecas em julho.
5 de setembro
Números do mercado de trabalho americano mostram que a taxa de desemprego no país subiu para 6,1%, causando ainda mais turbulência nos mercados financeiros.
7 de setembro
O governo dos Estados Unidos anuncia que está assumindo o controle das empresas de hipoteca Freddie Mac e Fannie Mae, numa operação que foi considerada uma das maiores do gênero na história americana.
O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, afirma que os níveis das dívidas das duas companhias significavam um "risco sistêmico" para a estabilidade econômica e que, se o governo não agisse, a situação poderia piorar.
10 de setembro
O Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, registra perdas de US$ 3,9 bilhões nos três meses anteriores a agosto.
O anúncio ocorre em meio a mais alertas econômicos feitos pela Comissão Européia, afirmando que Grã-Bretanha, Alemanha e Espanha poderão entrar em recessão até o final de 2008.
15 de setembro
Depois de dias em busca por um comprador, o Lehman Brothers entra com pedido de concordata, se transformando no primeiro grande banco a entrar em colapso desde o início da crise financeira.
O ex-presidente do Fed Alan Greenspan afirma que outras grandes companhias também poderão cair.
No mesmo dia, o Merrill Lynch, um dos principais bancos de investimento americanos, concordou em ser comprado pelo Bank of America por US$ 50 bilhões para evitar prejuízos maiores.
16 de setembro
O Federal Reserve anuncia um pacote de socorro de US$ 85 bilhões para tentar evitar a falência da seguradora AIG, a maior do país.
Em retorno, o governo assumirá o controle de quase 80% das ações da empresa e o gerenciamento dos negócios.
25 de setembro
Outro gigante do setor de hipotecas dos Estados Unidos, o Washington Mutual, é fechado por agências reguladoras e vendido para seu adversário, o Citigroup.
28 de setembro
A crise se alastra mais pelo setor bancário europeu com a nacionalização parcial do grupo belga Fortis, para garantir sua sobrevivência.
Autoridades na Holanda, Bélgica e Luxemburgo aceitaram investir 11,2 bilhões de euros na operação.
Nos Estados Unidos, legisladores anunciaram que chegaram a um acordo bipartidário para aprovação do pacote de US$ 700 bilhões para salvar instituições financeiras afetadas pela crise.
29 de setembro
A Câmara dos Representantes (deputados) dos Estados Unidos rejeita o pacote de US$ 700 bi proposto pelo governo americano para socorrer instituições financeiras afetadas pela crise. Os legisladores retomam as negociações para realizar uma nova votação na casa.
O Wachovia, o quarto maior banco americano, é comprado pelo Citigroup, em um acordo de resgate que conta com o apoio das autoridades americanas. Segundo este acordo o Citigroup vai absorver até US$ 42 bilhões dos prejuízos do Wachovia.
Na Grã-Bretanha, o governo confirmou a nacionalização do banco de hipotecas Bradford & Bingley. O governo assume o controle de financiamentos e empréstimos do banco no valor de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) enquanto suas operações de poupança e agências são vendidas para o Santander, da Espanha.
O governo da Islândia assume o controle do terceiro maior banco do país, Glitnir, depois que a companhia teve problemas com fundos de curto-prazo.
A Câmara dos Estados Unidos rejeitou nesta segunda-feira, 29, por 228 votos contra 205, o megapacote econômico de US$ 700 bilhões proposto pelo governo americano.
Cerca de dois terços dos deputados republicanos, correligionários do presidente George W. Bush, votaram contra o pacote.
A notícia fez com que as bolsas de valores despencassem.
O índice Dow Jones registrou nesta segunda-feira sua maior queda em pontos em um único dia na história: perdeu 777,68 pontos e fechou com baixa de 6,98%.
As operações da Bolsa de São Paulo chegaram a ser suspensas depois de o índice Bovespa ter caído mais de 10%.
"Decepção"
Os líderes dos dois partidos deverão, nas próximas horas, tentar persuadir congressistas a mudar seus votos e apoiar o pacote.
Tommy Frato, um porta-voz da Casa Branca, disse que o presidente Bush estava "muito decepcionado" com o resultado.
De acordo com o porta-voz, o presidente se reunirá com sua equipe nos próximos dias para "determinar os próximos passos".
O pacote havia sido proposto pelo presidente George W. Bush no dia 20 de setembro.
O líder americano havia defendido que os congressistas precisavam aprovar a proposta com urgência, para evitar que a crise no sistema financeiro se espalhasse por toda a economia.
Bancos
Antes da rejeição do pacote de ajuda a Wall Street, os mercados já operavam em baixa, depois da confirmação de problemas em mais bancos.
Nos Estados Unidos, o Wachovia, quarto maior banco do país, foi comprado pelo Citibank.
Na Europa, o governo britânico nacinalizou o Bradford & Bingley; e os governos de Holanda, Bélgica e Luxemburgo intervieram no Fortis, o 20º maior banco do mundo em faturamento.
Além disso, os bancos centrais dos EUA, o europeu e de oito países abriram linhas de crédito de 330 bilhões de dólares para evitar problemas de caixa em instituições financeiras.
Objeções
Os deputados republicanos levantaram objeções tanto quanto ao conteúdo do pacote como à pressa em que ele foi colocado em votação.
No fim de semana, líderes partidários haviam chegado a um acordo em relação a pontos polêmicos, como mecanismos de supervisão do mercado financeiro, proteção para os contribuintes e limites aos salários de executivos de instituições financeiras.
As concessões, porém, não foram suficientes para convencer boa parte dos congressistas a seguir a orientação dos líderes no plenário.
Depois da votação, líderes republicanos sugeriram que a culpa era dos democratas, que não teriam conseguido mobilizar sua maioria na Câmara.
Em discurso, também depois da votação, o candidato democrata à Presidência, Barak Obama, disse ser ultrajante que cidadãos americanos tenham de limpar a bagunça criada por Wall Street. "Se eu for presidente, vou rever o plano todo no meu primeiro dia, para ter certeza de que eles está funcionando para salvar a economia e para que vocês recebam seu dinheiro de volta".
Obama disse esperar que o Congresso aprove alguma forma de programa de ajuda financeira aos bancos, mas admitiu que o caminho para essa aprovação pode ser difícil.
Cronologia
Entre 2004 e 2006: problemas no subprime
Depois de dois anos, entre 2004 e 2006, quando a taxa de juros subiu de 1% para 5,35%, o mercado imobiliário americano começou a sofrer, com preços dos imóveis caindo e aumento na inadimplência de mutuários.
A inadimplência em empréstimos do tipo subprime – hipotecas de alto risco para pessoas com histórico ruim de crédito – atingiu níveis recordes.
Abril a agosto de 2007: contágio do subprime
Abril
A New Century Financial, especializada em empréstimos subprime, pediu concordata e demitiu metade dos seus funcionários.
Com suas dívidas sendo repassadas para outros bancos, o mercado subprime começou a entrar em colapso.
Julho
O banco de investimentos Bear Stearns diz que seus investidores não conseguirão resgatar o dinheiro investido em seus fundos hedge.
O diretor do Federal Reserve (o banco central americano), Ben Bernanke, diz que a crise do subprime pode custar US$ 100 bilhões.
Agosto 2007: Tamanho da crise é revelado
9 de agosto
O banco de investimentos PNB Paribas diz a seus investidores que eles não conseguirão resgatar seus investimentos, devido à "completa evaporação da liquidez" do mercado.
É um sinal claro de que os bancos estão se recusando a emprestar dinheiro uns aos outros.
O Banco Central Europeu investe 95 bilhões de euros no setor bancário, para melhorar a liquidez. Em seguida, mais 108,7 bilhões de euros são investidos.
Os bancos centrais dos Estados Unidos, Canadá e Japão começam a intervir.
17 de agosto
O Federal Reserve corta pela metade a taxa de juros para empréstimos a bancos, para 5,75%.
Setembro 2007: Corrida aos bancos
13 de setembro
O banco britânico Northern Rock pediu e recebeu ajuda financeira emergencial do banco central britânico. No dia seguinte, os correntistas retiraram mais de US$ 2 bilhões, em uma das maiores fugas de capital da Grã-Bretanha.
18 de setembro
O Federal Reserve corta a taxa de juro em meio ponto percentual, para 5,75%.
Outubro de 2007: perdas começam a surgir
No dia 1º, o banco suíço UBS revelou perdas de US$ 3,4 bilhões. Em seguida, o gigante Citigroup divulgou que perdeu US$ 3,1 bilhões com o mercado subprime – US$ 40 bilhões no acumulado de seis meses.
No fim do mês, o diretor do Merrill Lynch se demite, depois de revelar que o banco tinha US$ 7,9 bilhões de dívidas que incluíam papéis podres.
Dezembro 2007: Ajuda do governo
No dia 6, o presidente americano, George W. Bush, anunciou um plano para ajudar milhões de mutuários com problemas. O Federal Reserve coordenou ao lado de cinco bancos centrais uma ação para empréstimos a outros bancos.
Fevereiro e março 2008: Nacionalizações e compras
7 de fevereiro
Ben Bernanke alerta para os efeitos da crise do sistema financeiro na economia real. Os líderes do G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo) dizem que as perdas com o mercado subprime podem chegar a US$ 400 bilhões. O governo britânico nacionaliza o banco Northern Rock.
Em março, o Federal Reserve disponibiliza mais US$ 200 bilhões para bancos em dificuldade.
No dia 17, o quinto maior banco americano, Bear Stearns, é comprado pelo JP Morgan Chase por US$ 240 milhões (um ano antes, o banco valia US$ 18 bilhões).
Abril 2008: Mais efeitos na Europa
8 de abril
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que as perdas devido à crise financeira internacional podem chegar a US$ 1 trilhão ou até ultrapassar esta marca.
Segundo o FMI, os efeitos da crise estão se espalhando para outros setores como crédito ao consumidor e dívidas de empresas.
Dois dias depois o Banco da Inglaterra diminui sua taxa de juros para 5%, um corte de 0,25%.
21 de abril
O Banco da Inglaterra divulga os detalhes de um plano ambicioso, da ordem de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) para ajudar bancos, um plano que permitiria que estes bancos trocassem dívidas de hipoteca que potencialmente arriscadas por títulos do governo, mais seguros.
Abril a junho de 2008: Bancos tentam conseguir dinheiro
22 de abril
O banco britânico Royal Bank of Scotland anuncia o plano para levantar dinheiro junto aos acionistas, lançando novas ações no mercado, que chegam ao valor 12 bilhões de libras (mais de R$ 41 bilhões), o maior lançamento de ações da história corporativa da Grã-Bretanha.
2 de maio
O banco UBS, um dos mais afetados pela crise financeira mundial, também lança ações no valor de US$ 15,5 bilhões para cobrir parte de suas perdas, que chegaram a US$ 37 bilhões, mais do que qualquer outro banco afetado pelas turbulências do mercado internacional.
19 de junho
O FBI prende 406 pessoas, incluindo corretores e empreiteiros, como parte de uma operação contra supostas fraudes em financiamentos habitacionais, que alcançaram valor de US$ 1 bilhão.
25 de junho
Outro banco britânico, desta vez o Barclays, anuncia os planos para levantar 4,5 bilhões de libras (cerca de R$ 15,4 bilhões) com lançamento de ações.
Julho de 2008: Grandes financiadores no limite
13 de julho
O banco de hipotecas americano IndyMac entra em colapso e se torna o segundo maior banco a falir na história dos Estados Unidos.
14 de julho
Autoridades financeiras dos Estados Unidos prestam assistência às duas gigantes do setor de hipotecas, Fannie Mae e Freddie Mac.
Juntas, as duas companhias são responsáveis por quase metade das hipotecas dos Estados Unidos e detêm ou garantem cerca de US$ 5,3 trilhões em financiamentos e são cruciais para o mercado imobiliário americano.
Agosto a setembro de 2008: Outros gigantes sofrem
4 de agosto
O gigante do setor bancário HSBC alertou que as condições dos mercados financeiros são as mais difíceis "das últimas décadas", depois de sofrer uma queda de 28% em seus lucros semestrais.
Dos grandes bancos europeus, o HSBC estava entre os mais atingidos pela crise do mercado imobiliário e de crédito dos Estados Unidos.
30 de agosto
O ministro da Fazenda britânico, Alistair Darling, afirma que a economia da Grã-Bretanha enfrenta sua pior crise dos últimos 60 anos em uma entrevista ao jornal The Guardian.
1º de setembro
Dados oficiais do Banco da Inglaterra mostram queda na aprovação de hipotecas em julho.
5 de setembro
Números do mercado de trabalho americano mostram que a taxa de desemprego no país subiu para 6,1%, causando ainda mais turbulência nos mercados financeiros.
7 de setembro
O governo dos Estados Unidos anuncia que está assumindo o controle das empresas de hipoteca Freddie Mac e Fannie Mae, numa operação que foi considerada uma das maiores do gênero na história americana.
O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, afirma que os níveis das dívidas das duas companhias significavam um "risco sistêmico" para a estabilidade econômica e que, se o governo não agisse, a situação poderia piorar.
10 de setembro
O Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, registra perdas de US$ 3,9 bilhões nos três meses anteriores a agosto.
O anúncio ocorre em meio a mais alertas econômicos feitos pela Comissão Européia, afirmando que Grã-Bretanha, Alemanha e Espanha poderão entrar em recessão até o final de 2008.
15 de setembro
Depois de dias em busca por um comprador, o Lehman Brothers entra com pedido de concordata, se transformando no primeiro grande banco a entrar em colapso desde o início da crise financeira.
O ex-presidente do Fed Alan Greenspan afirma que outras grandes companhias também poderão cair.
No mesmo dia, o Merrill Lynch, um dos principais bancos de investimento americanos, concordou em ser comprado pelo Bank of America por US$ 50 bilhões para evitar prejuízos maiores.
16 de setembro
O Federal Reserve anuncia um pacote de socorro de US$ 85 bilhões para tentar evitar a falência da seguradora AIG, a maior do país.
Em retorno, o governo assumirá o controle de quase 80% das ações da empresa e o gerenciamento dos negócios.
25 de setembro
Outro gigante do setor de hipotecas dos Estados Unidos, o Washington Mutual, é fechado por agências reguladoras e vendido para seu adversário, o Citigroup.
28 de setembro
A crise se alastra mais pelo setor bancário europeu com a nacionalização parcial do grupo belga Fortis, para garantir sua sobrevivência.
Autoridades na Holanda, Bélgica e Luxemburgo aceitaram investir 11,2 bilhões de euros na operação.
Nos Estados Unidos, legisladores anunciaram que chegaram a um acordo bipartidário para aprovação do pacote de US$ 700 bilhões para salvar instituições financeiras afetadas pela crise.
29 de setembro
A Câmara dos Representantes (deputados) dos Estados Unidos rejeita o pacote de US$ 700 bi proposto pelo governo americano para socorrer instituições financeiras afetadas pela crise. Os legisladores retomam as negociações para realizar uma nova votação na casa.
O Wachovia, o quarto maior banco americano, é comprado pelo Citigroup, em um acordo de resgate que conta com o apoio das autoridades americanas. Segundo este acordo o Citigroup vai absorver até US$ 42 bilhões dos prejuízos do Wachovia.
Na Grã-Bretanha, o governo confirmou a nacionalização do banco de hipotecas Bradford & Bingley. O governo assume o controle de financiamentos e empréstimos do banco no valor de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) enquanto suas operações de poupança e agências são vendidas para o Santander, da Espanha.
O governo da Islândia assume o controle do terceiro maior banco do país, Glitnir, depois que a companhia teve problemas com fundos de curto-prazo.
domingo, 31 de agosto de 2008
Política Econômica - Carlos Alberto Sandenberg
Esta coluna será publicada apenas amanhã no jornal O Estado de São Paulo, mas o blog já sai na frente publicando hoje, aqui.
O DESAFIO DE OBAMA DERRUBA O PREÇO DO PETRÓLEO
-- Perdendo a freguesia--
Só faltava essa. Nem bem o Brasil tirou o bilhete premiado do pré-sal, vem Barack Obama e lança o novo desafio americano: eliminar a dependência do petróleo importado. Verdade que Obama se referiu à dependência em relação aos paises árabes. Excluiria os amigos da América Latina?
A resposta é não. Outro dia, em debate sobre etanol, o candidato democrata defendeu as tarifas sobre a importação do produto brasileiro com o seguinte argumento: é preciso proteger e desenvolver a produção local, pois não adiantaria nada trocar a dependência em relação aos árabes pela dependência brasileira.
Logo, o ponto é claro: independência energética, produção local. E foi uma ovação na convenção democrata quando Obama apresentou o desafio. Os americanos, pelo menos os democratas, parecem fartos dessas confusões com os produtores externos muy amigos.
A coisa é séria, portanto, e pode trazer repercussões imensas para a economia e a política mundiais.
Os EUA são os maiores consumidores e importadores de petróleo. Usam o óleo não apenas para movimentar a maior frota de carros de mundo, mas também como fonte de energia elétrica. Se eles reduzirem fortemente suas compras externas, o resultado é óbvio: a derrubada dos preços.
E isso ocorreria justamente no momento em que o petróleo brasileiro do pré-sal estaria entrando no mercado, adicionando oferta diante de uma demanda em queda.
Qual a chance do desafio de Obama?
O professor Giuseppe Bacoccoli, da Universidade Federal do Rio, acha que o óleo queimado na produção de energia elétrica (nas térmicas) pode ser substituído por gás, energia nuclear e carvão limpo, três fontes citadas por Obama. Os americanos estão prospectando gás por toda parte, inclusive embaixo de aeroportos, e de fato há novas tecnologias para carvão, reduzindo o dano ambiental, para usinas nucleares, mais seguras.
Para Bacoccoli, as fontes eólica e solar serão apenas acessórias. E para os carros, observa, não há solução no momento. Etanol de milho é caro, ineficiente e seria preciso plantar milho no país inteiro para gerar a quantidade de combustível necessário para substituir parte da gasolina. Carros elétricos e/ou movidos por outras fontes ainda não são comerciais e as tecnologias estão atrasadas.
Portanto, é provável que, numa primeira etapa, os EUA consigam cortar metade do óleo que importam, o que já será um baque no mercado mundial. Quanto aos automóveis, ficam na dependência de uma grande descoberta.
Tudo considerado, restam lições para o Brasil, econômicas e políticas. Na política, fica claro que a diplomacia de hostilidade aos EUA pode passar, digamos, uma sensação de afirmação, mas é um tiro no pé. Algo como torrar a paciência do principal freguês, o que só funciona quando esse freguês não tem alternativa. Mesmo assim estimula o comprador a procurar outros fornecedores.
A Venezuela, por exemplo, vai micar com seu petróleo caso Obama cumpra seu objetivo. Para quem Chavez vai vender? Para Cuba?
Países que tiveram a sorte de descobrir produtos estratégicos para a economia mundial precisam manter uma relação responsável com seus parceiros, claro, mas também com toda a comunidade global. Se não for por sabedoria, que seja por interesse. É preciso dar garantias à freguesia, assim como o vendedor precisa obter garantias de mercado.
Por exemplo: se tivesse sido construída a Alca, a Área de Livre Comércio das Américas, que o presidente Lula se orgulha de ter detonado, estaria garantida a venda de petróleo aos EUA. Idem se o Brasil tivesse um acordo de livre comércio com os EUA, também desprezado pela diplomacia brasileira. Vendedores e compradores estariam seguros no quadro de um acordo formal.
Pelas avaliações atuais, os EUA, mesmo com grande esforço de produção local, ainda vão importar petróleo por bom tempo. De quem?
Além disso, mesmo com as fontes alternativas, o óleo pode continuar sendo mais barato e mais eficiente. Mas os países só o utilizarão se tiverem garantias políticas e comerciais. E não apenas os EUA, mas todos os demais, como Europa e Japão, também importadores. Ou seja, também vai fazer falta um acordo de livre comércio com a Europa.
Tudo considerado, parece evidente que o governo brasileiro conduziu mal sua diplomacia e está conduzindo mal a questão do pré-sal. Em vez de criar um ambiente favorável aos investimentos privados no setor, está gerando desconfiança. De novo, não precisaria ser por virtude, mas por necessidade. O montante de investimentos no pré-sal está além da capacidade do governo e a Petrobrás.
Considere-se ainda que é preciso correr. O mundo todo está procurando energia. Há prospecção por toda parte e pesquisas intensas. Mesmo no etanol no Brasil corre riscos. Hoje, o país detém a melhor tecnologia desde a plantação da cana até a fabricação das usinas que destilam o álcool.
Mas há pesquisas, por exemplo, de etanol de celulose. E se alguém faz a grande descoberta?
Já no ano que vem começará a se formar o clima de eleição presidencial aqui no Brasil. Será uma boa oportunidade para que estas questões estratégicas sejam apresentadas aos eleitores.
Só 150 bilhões?
Por outro lado, é estranho, no mínimo, que Obama tenha falado em investir US$ 150 bilhões no desenvolvimento de energias alternativas ao petróleo.
É mixaria. Por exemplo: técnicos estimam que a exploração do pré-sal brasileiro exigiria investimentos de US$ 600 bilhões. Na semana passada, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrieli, disse que a estatal vai investir US$ 119 bilhões nos próximos cinco anos. E a economia dos EUA é nove vezes maior que a brasileira.
Ou Obama errou no número ou isso é só um começo. Ou não vai dar.
Será Publicado em O Estado de S.Paulo, amanhã, 01 de setembro de 2008.
O DESAFIO DE OBAMA DERRUBA O PREÇO DO PETRÓLEO
-- Perdendo a freguesia--
Só faltava essa. Nem bem o Brasil tirou o bilhete premiado do pré-sal, vem Barack Obama e lança o novo desafio americano: eliminar a dependência do petróleo importado. Verdade que Obama se referiu à dependência em relação aos paises árabes. Excluiria os amigos da América Latina?
A resposta é não. Outro dia, em debate sobre etanol, o candidato democrata defendeu as tarifas sobre a importação do produto brasileiro com o seguinte argumento: é preciso proteger e desenvolver a produção local, pois não adiantaria nada trocar a dependência em relação aos árabes pela dependência brasileira.
Logo, o ponto é claro: independência energética, produção local. E foi uma ovação na convenção democrata quando Obama apresentou o desafio. Os americanos, pelo menos os democratas, parecem fartos dessas confusões com os produtores externos muy amigos.
A coisa é séria, portanto, e pode trazer repercussões imensas para a economia e a política mundiais.
Os EUA são os maiores consumidores e importadores de petróleo. Usam o óleo não apenas para movimentar a maior frota de carros de mundo, mas também como fonte de energia elétrica. Se eles reduzirem fortemente suas compras externas, o resultado é óbvio: a derrubada dos preços.
E isso ocorreria justamente no momento em que o petróleo brasileiro do pré-sal estaria entrando no mercado, adicionando oferta diante de uma demanda em queda.
Qual a chance do desafio de Obama?
O professor Giuseppe Bacoccoli, da Universidade Federal do Rio, acha que o óleo queimado na produção de energia elétrica (nas térmicas) pode ser substituído por gás, energia nuclear e carvão limpo, três fontes citadas por Obama. Os americanos estão prospectando gás por toda parte, inclusive embaixo de aeroportos, e de fato há novas tecnologias para carvão, reduzindo o dano ambiental, para usinas nucleares, mais seguras.
Para Bacoccoli, as fontes eólica e solar serão apenas acessórias. E para os carros, observa, não há solução no momento. Etanol de milho é caro, ineficiente e seria preciso plantar milho no país inteiro para gerar a quantidade de combustível necessário para substituir parte da gasolina. Carros elétricos e/ou movidos por outras fontes ainda não são comerciais e as tecnologias estão atrasadas.
Portanto, é provável que, numa primeira etapa, os EUA consigam cortar metade do óleo que importam, o que já será um baque no mercado mundial. Quanto aos automóveis, ficam na dependência de uma grande descoberta.
Tudo considerado, restam lições para o Brasil, econômicas e políticas. Na política, fica claro que a diplomacia de hostilidade aos EUA pode passar, digamos, uma sensação de afirmação, mas é um tiro no pé. Algo como torrar a paciência do principal freguês, o que só funciona quando esse freguês não tem alternativa. Mesmo assim estimula o comprador a procurar outros fornecedores.
A Venezuela, por exemplo, vai micar com seu petróleo caso Obama cumpra seu objetivo. Para quem Chavez vai vender? Para Cuba?
Países que tiveram a sorte de descobrir produtos estratégicos para a economia mundial precisam manter uma relação responsável com seus parceiros, claro, mas também com toda a comunidade global. Se não for por sabedoria, que seja por interesse. É preciso dar garantias à freguesia, assim como o vendedor precisa obter garantias de mercado.
Por exemplo: se tivesse sido construída a Alca, a Área de Livre Comércio das Américas, que o presidente Lula se orgulha de ter detonado, estaria garantida a venda de petróleo aos EUA. Idem se o Brasil tivesse um acordo de livre comércio com os EUA, também desprezado pela diplomacia brasileira. Vendedores e compradores estariam seguros no quadro de um acordo formal.
Pelas avaliações atuais, os EUA, mesmo com grande esforço de produção local, ainda vão importar petróleo por bom tempo. De quem?
Além disso, mesmo com as fontes alternativas, o óleo pode continuar sendo mais barato e mais eficiente. Mas os países só o utilizarão se tiverem garantias políticas e comerciais. E não apenas os EUA, mas todos os demais, como Europa e Japão, também importadores. Ou seja, também vai fazer falta um acordo de livre comércio com a Europa.
Tudo considerado, parece evidente que o governo brasileiro conduziu mal sua diplomacia e está conduzindo mal a questão do pré-sal. Em vez de criar um ambiente favorável aos investimentos privados no setor, está gerando desconfiança. De novo, não precisaria ser por virtude, mas por necessidade. O montante de investimentos no pré-sal está além da capacidade do governo e a Petrobrás.
Considere-se ainda que é preciso correr. O mundo todo está procurando energia. Há prospecção por toda parte e pesquisas intensas. Mesmo no etanol no Brasil corre riscos. Hoje, o país detém a melhor tecnologia desde a plantação da cana até a fabricação das usinas que destilam o álcool.
Mas há pesquisas, por exemplo, de etanol de celulose. E se alguém faz a grande descoberta?
Já no ano que vem começará a se formar o clima de eleição presidencial aqui no Brasil. Será uma boa oportunidade para que estas questões estratégicas sejam apresentadas aos eleitores.
Só 150 bilhões?
Por outro lado, é estranho, no mínimo, que Obama tenha falado em investir US$ 150 bilhões no desenvolvimento de energias alternativas ao petróleo.
É mixaria. Por exemplo: técnicos estimam que a exploração do pré-sal brasileiro exigiria investimentos de US$ 600 bilhões. Na semana passada, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrieli, disse que a estatal vai investir US$ 119 bilhões nos próximos cinco anos. E a economia dos EUA é nove vezes maior que a brasileira.
Ou Obama errou no número ou isso é só um começo. Ou não vai dar.
Será Publicado em O Estado de S.Paulo, amanhã, 01 de setembro de 2008.
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