sábado, 2 de agosto de 2008
Panorama Econômico
(leia a coluna publicada neste sábado, em O Globo)
Um anúncio na "The Economist" desta semana chamava a atenção: era de uma confecção brasileira que teria vencido na competição internacional e virado moda no Vietnã. Essa empresa pode não existir, mas existem 12.000 micro e pequenas companhias do Brasil que já estão no mercado global. No ano passado, juntas, elas exportaram US$ 3 bilhões. A pauta de vendas traz surpresas, como empresas de alta tecnologia.
Em número, as micro e pequenas já são a metade das empresas que vendem para o exterior. Em valor, ainda são bem pouco do total: não chegam a 2%, mas são aguerridas e já aprenderam a trabalhar em outros países. Algumas só conseguem existir por causa de vendas e parcerias internacionais.
A PHD Soft é um caso desses. Ela faz softwares para manutenção de grandes construções, sobretudo as de petróleo. O programa, complexo, prevê possíveis problemas e danos nessas estruturas. Se ela trabalhasse só no Brasil, ficaria refém de um único cliente, a Petrobras. A internacionalização permite que se expanda. No ano passado, mesmo com o câmbio contra, 1/3 das vendas foi para o exterior. Este ano, está fechando parcerias com China e Índia. Já vendeu para os EUA e está em contato com empresas da Inglaterra.
— Agora vemos grandes oportunidades nos Estados Unidos, por exemplo, adaptando nosso software para a manutenção das pontes — comenta Duperron Marangon Ribeiro, hoje diretor da PHD Soft, mas que, na época em que desenvolveu o sistema, era professor universitário. Atualmente, sua empresa tem 38 funcionários.
A maior vitrine deles têm sido as feiras no exterior, onde Duperron conta que viu exemplos interessantes da globalização:
— Acabamos ficando visíveis ao mundo. Recebemos currículos de pessoas de vários países querendo trabalhar conosco, oferecer nosso produto. A Índia oferece a parte de terceirização da produção. Entramos num círculo virtuoso da globalização.
Quem liga para a Consuldent — outra pequena empresa exportadora, que vende consultórios dentários portáteis — é atendido por uma secretária eletrônica em português, inglês e espanhol. Cerca de 1/3 das suas vendas são para o exterior; para países vizinhos, Estados Unidos e Europa, e também a África. Essa proporção já foi maior; houve ano em que mais da metade das vendas foi para fora, contudo, com o dólar baixo, as coisas mudaram um pouco. De qualquer forma, o mercado internacional continua sendo um dos principais focos.
A maleta que serve de consultório foi criada por Miguel de Lima quando ele teve que atender uma paciente em casa. Ela hoje faz sucesso em países africanos, por exemplo, pois, além do preço baixo — a mais barata está em torno de R$ 2.000 — é compacta, o que faz com que possa chegar a áreas mais pobres. A empresa existe desde 2001 e em 2003 passou a exportar pelos Correios. Hoje vende pela internet.
— Nossa facilidade nas vendas vem do preço e da inovação. Tanto que estamos conseguindo competir com concorrentes do Canadá e dos Estados Unidos — diz Miguel de Lima.
Atualmente a empresa tem representantes no exterior, em Portugal e Espanha, mas o forte das vendas são os EUA. Os angolanos têm vindo comprar aqui o produto e o levam de volta no avião.
Uma pesquisa do Sebrae feita com micro e pequenas empresas mostrou que, desde 2000, aumentou muito o volume das que vendem para o exterior. Das entrevistadas, 55% exportaram todos os anos. Mais da metade está interessada em aumentar a importância das exportações nos seus negócios. E os principais entraves listados são, na ordem: o câmbio, a burocracia e a tributação. Os mesmos males que atrapalham as grandes.
Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, no caso das microempresas, metade das vendas vai para Estados Unidos, Argentina e Itália. Em se tratando das pequenas, a metade vai para EUA e Argentina. Para elas, a China ainda está distante.
Um caso um pouco diferente, mas que também tem se valido do comércio global, é o da ONG Onda Solidária, de comércio justo, que assessora costureiras em Petrópolis (RJ). Elas começaram produzindo exclusivamente para vender para a França. As costureiras ganham três vezes o que normalmente é pago e a roupa é feita com algodão ecológico, plantado por 20 famílias de pequenos agricultores do Paraná. Eles desenvolveram a marca "Tudo bom?", e o valor agregado fica por conta do comércio politicamente correto. Quando começaram, em 2004, eram 8 costureiras e 2.000 peças foram exportadas. No ano passado, já foram 40 mil; e as costureiras agora são 30. A comercialização é feita por uma empresa no Nordeste, financiada pelo BID.
Globalizar-se traz muitas vantagens para as micro e pequenas empresas: expansão de mercados, troca de tecnologia. Quando o câmbio não favorece (como é o caso agora), o importante é recorrer à inovação, ou a estratégias que façam do nosso produto interessante para o mundo inteiro. O ideal é não ficar só contando com a venda de matérias-primas. Uma das queixas dos pequenos exportadores é que, para muitos setores, ainda falta ao Brasil uma boa marca país, a qual, sem dúvida, é capaz de abrir portas.
Quanto ao anuncio da "Economist", ele tratava de uma suposta empresa de fundo de quintal do Rio de Janeiro que fabrica camisetas que são sucesso no Vietnã, país com tradição de confecção. Uma blusa vermelha, com a palavra "maneiro", ilustra a propaganda do HSBC. Quem fez o anúncio, a JWT, não conseguiu nos dizer durante a semana se era ou não um fato real. Mas o Brasil está cheio de fatos reais confirmando que micro e pequenas empresas estão achando o caminho do exterior.
Revista ÉPOCA
Traficantes e milicianos do Rio resolveram entrar para a política. Seus métodos são a violência, a intimidação e a criação de currais eleitorais
Rafael Pereira
ARMADILHA
Faixa no Complexo do Alemão, no Rio, dá boas-vindas aos políticos. Quem apareceu, porém, não foi muito bem recebido Há dois anos, um grampo captou uma conversa entre um policial civil corrupto do Rio de Janeiro e o chefe do tráfico na Favela da Rocinha, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. A conversa de 2006 mostra com clareza como os bandidos começam a fazer uso da política para fortalecer seu poder. Ela está sendo investigada agora pela Corregedoria da polícia:
Policial: “A Rocinha é a maior favela da América Latina e todo mundo quer entrar. Se tu tiver os votos dominados, vale mais do que qualquer bico (fuzil), que qualquer quilo de pó (cocaína)”.
Nem: “Quem manda é a política, né?”.
Policial: “Tu tem de mudar tua mentalidade. Tu é o cara. Tem de se politizar”.
Nem: “Na próxima eleição de vereador já dá pra encaixar”.
O traficante parece ter gostado da idéia. Neste ano, em parceria com lideranças locais, ele usou uma igreja como espaço para reuniões e fechou uma candidatura única em seus domínios. Ele conseguiu “encaixar” no nanico PSDC a candidatura a vereador de Luiz Cláudio de Oliveira, o Claudinho da Academia, presidente da principal associação de moradores da região. Para não deixar dúvidas sobre o assunto, Nem distribuiu até um panfleto para reforçar a indicação: “Todo o empenho para o candidato da Rocinha. Não aceito derrota!!! Ninguém trabalhando para candidato de fora”, afirma num papel apreendido pela polícia.
Os currais eleitorais controlados pelo crime são os sintomas mais recentes da falta de controle do Estado sobre crescentes fatias do território do Rio. Criou-se em algumas favelas uma espécie de coronelismo urbano, onde quem manda é o chefe do crime e quem não apóia seus candidatos morre ou é expulso. Até poucos anos atrás, o problema do coronelismo era mais associado aos municípios pobres do Nordeste, onde o acesso à informação era limitado. Nos últimos anos, as oligarquias nordestinas começaram a dar sinais de decadência. Nesse período, a política da bala começou a dar frutos no Rio, segundo centro urbano do país.
O neocoronelismo carioca não é uma prática exclusiva de traficantes. O fenômeno também tem sido observado nos territórios dominados pelas milícias, grupos armados clandestinos formados por policiais civis e militares, bombeiros e agentes carcerários. Os milicianos costumam proibir a venda de drogas em suas áreas, mas cobram por segurança e fazem controle ilegal sobre serviços públicos, como distribuição de gás e transporte. Na semana passada, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio divulgou um mapa com os principais pontos de atuação de traficantes e milicianos e a influência desses grupos nas urnas. Para garantir a eleição, foi prometida uma força-tarefa contra esses grupos com atuação da Polícia Federal e até das Forças Armadas.
“Só lamento que tenham deixado passar tanto tempo para começar a agir”, diz a antropóloga Alba Zaluar, que estuda a violência nas favelas cariocas desde os anos 80. “Isso existe há mais de 20 anos. No começo, era só uma ingerência do crime na escolha dos presidentes de associação de moradores. Agora, as estruturas estão mais fortes.” Segundo ela, o interesse de criminosos em ocupar cargos eletivos é reforçar e legitimar seu poder: “Em cargos políticos, é mais fácil conseguir melhorias para as comunidades. Isso ajuda a aumentar a popularidade dos bandidos, o que dificulta delações, e ainda valoriza as residências locais. Uma das formas de atuação desses grupos é expulsar inimigos de suas casas e revendê-las”.
O modo de operar na política de traficantes é simples: dentro de seus domínios, só faz campanha o candidato escolhido pelo “chefe”. No dia 31, quatro cabos eleitorais do candidato a vereador Alberto Salles (PSC) tentaram colar cartazes na Favela Mundial, subúrbio do Rio. Acabaram cercados por homens armados, foram ameaçados de morte e tiveram o material confiscado. Cinco dias antes, jornalistas que acompanhavam uma comitiva do senador Marcelo Crivella (PRB), candidato à Prefeitura, na Vila Cruzeiro, uma das favelas do Complexo do Alemão, foram ameaçados e obrigados a apagar as fotos que estavam fazendo. Depois do susto, a caminhada foi interrompida. Na Rocinha, a candidata a vereadora Ingrid Gerolimich (PT) foi proibida por Claudinho da Academia de fazer campanha. Só conseguiu subir a favela acompanhada de fiscais do TRE e com escolta da polícia. No Complexo do Alemão, surgiu até uma faixa confeccionada possivelmente pelos próprios traficantes em resposta à repercussão negativa da criação desses currais. A faixa dizia que os candidatos eram bem-vindos à região, mensagem contraditória com as experiências dos últimos dias.
Na luta por postos importantes na política, milicianos estão um pouco mais adiantados que traficantes. Os policiais clandestinos já têm políticos eleitos, como os irmãos Natalino e Jerônimo Guimarães. O primeiro é deputado estadual pelo DEM. O segundo, vereador pelo PMDB. Os dois estão presos atualmente, mas a filha de Jerominho, Carminha Jerominho, foi lançada candidata a vereadora neste ano pelo PTdoB e deverá herdar o curral eleitoral do pai e do tio.
A experiência internacional mostra que as soluções para esse tipo de coronelismo criminoso exigem uma combinação de medidas de repressão e ações sociais. Na Colômbia, foi descoberto em 2006 um esquema ilegal que elegia paramilitares para o Congresso. Mais de 30 envolvidos foram presos. Mas a ação dos criminosos só perdeu força quando o Estado promoveu a recuperação dos territórios intervindo nas favelas e investindo em saúde e educação. Foram políticas como essa que inspiraram as intervenções do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, em quatro favelas do Rio.
O curioso é que até os bandidos sabem disso. Num trecho da conversa entre o policial civil e Nem, o chefe do tráfico na Rocinha, uma das críticas era à ineficiência dos políticos: “Os caras passaram dois governos do (Anthony) Garotinho e não fizeram um restaurante popular dentro da maior favela da América Latina! Isso não existe”, disse o policial. Assim, fica fácil para os bandidos.
1. Elton Babú, irmão do deputado Jorge Babú (PT), suspeito de chefiar a milícia local.
2. Carminha (PTdoB), filha de Jerominho (PMDB) e sobrinha de Natalino (DEM), ambos presos
3. Luiz Monteiro, o Doen (PTC), e Luiz André da Silva, o Deco (PR), teriam ligações com a milícia
4. Nadinho (DEM), homem forte da milícia mais antiga do Rio, e Capitão Queiroz (DEM)
6. Jorginho da S.O.S. (DEM), vereador candidato à reeleição e ex-líder comunitário
Jogos Olímpicos
A China merece que outros chefes de Estado façam como o presidente Bush e aproveite os jogos de Pequim para jogar luz sobre os absurdos da ditadura chinesa. É duro concordar com um Lame Duck ( ou "pato manco" como os americanos chamam os governantes em fim de mandato) e mais duro ainda quando esse governante chama-se George Bush, mas a China abusa da sua importância comercial para os parceiros para tentar calar todos os que falam dos absurdos que acontece no país.
O país censura a internet, proíbe manifestações, prende contestadores, mesmo aqueles que não são exatamente opositores políticos. A militância ambiental é tratada como dissidência política e punida com o mesmo rigor. A promessa feita pelo regime chinês de que deixaria os jornalistas trabalhar em liberdade ficou só na fachada. Hoje um jornalista estrangeiro pode gravar suas "passagens" ( aquele momento em que o jornalista aparece na reportagem) sem pedir autorização ao governo, mas o direito de ir e vir continua cerceado. O correspondente Gilberto Scofield, do jornal O Globo, está numa lista de jornalistas que ainda não tiveram autorização para visitar o Tibete.
A China é importante parceiro comercial de quase todos os países do mundo, mas usa esse poder para tentar calar as criticas a sua inaceitável política de direitos humanos. Além disso tem sim apoiado governadores tirânicos na África.
A alegria e a beleza dos jogos olimpicos não deveriam fazer com que o mundo esquecesse isso. A festa será linda, as novas construções são impressionantes e foram levantadas em tempo recorde, mas para prepará-la foram feitas vítimas: a liberdade de contestação e o meio ambiente. A China fez absurdos ambientais e depois fez uma rápida maquiagem, limpando lagos e rios próximos a Pequim, fechando temporariamente fábricas, proibindo circulação de veículos para tentar limpar o rarefeito e sujo ar de Pequim.
Quanto ao Brasil, os empresários estão pedindo guerra comercial. E eles têm razão. Sou contra o protecionismo de uma forma geral, mas a relação comercial com a China é desequilibrada pelo câmbio. Eles controlam o câmbio e enquanto o real se valorizou em relação ao dólar todos estes anos, a China manteve o câmbio congelado e depois administrou uma mínima valorização. Isso permite que o preço do produto chinês em dólar chegue artificialmente barato a outros países. Isso é competição espúria e o Brasil deve sim ouvir o que dizem os produtores de sapatos, têxteis e brinquedos. Isso sem lembrar o fato de que, sem um debate livre, é mais dificil controlar a qualidade dos produtos. Os brinquedos chineses com tinta tôxica, como recentemente foi provado, são um enorme risco. Por isso para entrar no Brasil eles devem passar por um rigoroso controle do Inmetro, mesmo que isso seja visto como barreira não tarifária por eles.
De VEJA - A paixão de uma "pit bull"
De Juliana Linhares:
O sentimento que a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti, mais inspira nos seus colegas é o medo. A paulistana radicada em Florianópolis compra todas as brigas do governo Lula. No Senado, esgoela-se contra os colegas da oposição com a jugular e os olhos saltados. É tão aguerrida que é chamada de "pit bull do governo". Quem a vê em ação no Congresso tem dificuldade em acreditar que no peito da senadora também bata um coração. Mas bate. Melhor, suspira.
Na intimidade, Lili, como os amigos a chamam, é só sorrisos. "Estou apaixonada", confessa. O motivo de sua felicidade é um sargento do Exército. Jeferson Figueiredo toca flauta na banda da corporação. Aos 44 anos – doze a menos que a senadora –, o sargento abusou do romantismo para conquistar a parlamentar. Um dos mimos que lhe faz é comprar sabonetes da marca Senador, desenhar uma letra "A" no fim da palavra e deixá-los no toalete da congressista.
A paixão tem feito tão bem a Ideli que, um dia desses, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, comentou que até sua pele havia melhorado. "Eu tinha acabado de voltar de uma viagem de lua-de-mel para a Rússia e estava resplandecente", conta Ideli. Depois de ouvir o relato do passeio, Dilma perguntou: "Ele não tem um irmão?".
A ministra constatou o que está à vista de todos. A líder do PT está cuidando mais da aparência, e essa mudança coincide com o início do relacionamento. O casal se conheceu em 2002, durante a campanha de Ideli ao Senado. Durante uma panfletagem, o sargento se aproximou da parlamentar e pediu que ela anotasse seu telefone em um santinho. Então deputada estadual, Ideli anotou o do escritório de campanha. "Esse não. Eu quero o seu", insistiu Figueiredo.
O militar mostrou não só empenho, mas também sensibilidade para romper as barreiras da senadora. Contaram a seu favor o fato de ele ser um entusiasta da história da Rússia e de ter estudado o idioma russo por conta própria, conhecimento que exibiu na viagem romântica do casal. Quem vê o momento atual não imagina que o namoro demorou a engatar.
Foi entre as muitas separações e recomeços que Ideli redescobriu a vaidade. Há cinco anos, submeteu-se a uma cirurgia de redução de estômago. Na seqüência, perdeu 40 dos 110 quilos que pesava então. Em sua fase mais recente, o namoro operou outras mudanças no visual da senadora. Os cabelos de Ideli estão loiros. Seus terninhos, mais justos e de cores vibrantes. "Até a sexualidade melhorou", conta ela. Assinante da VEJA leia mais em Lili para os íntimos
Jornal do Brasil
Quatro pessoas são responsáveis por fiscalizar a propaganda eleitoral de Nova Iguaçu, uma área de 524 quilômetros quadrados. Estão encarregados de coibir as irregularidades que seis candidatos a prefeito e 461 postulantes a uma vaga na Câmara dos Vereadores espalham pela cidade na forma de cartazes. Os fiscais investigam cerca de 20 denúncias que recebem diariamente. Além da escassez de gente, têm que lidar com a falta de material.
– Tiramos do bolso o dinheiro para comprar os alicates e cortar o arame dos cartazes ilegais. Mas precisamos de uma escada para alcançar os do alto – conta Danilo Gevegir, coordenador da fiscalização do TRE em Nova Iguaçu.
A maior parte das irregularidades é formada por cartazes maiores que o tamanho determinado pelo TRE (4 metros quadrados) ou que são afixados em distâncias menores do que 1,5 metro um do outro. Muitos também são colocados em locais públicos, o que é proibido
– A gente arranca em um dia e no outro os cabos eleitorais colocam de novo – conta Leandro Gomes Oliveira, chefe do 156º Cartório Eleitoral, de Vila de Cava, Nova Iguaçu, acrescentando que apreende cerca de 50 placas todos os dias.
E vai piorar, avisa Danilo Gevegir. Até o momento, conta Gevegir, quando avisados, os candidatos retiram a propaganda ilegal. Até porque a multa prevista varia de R$ 22.300,00 a R$ 53 mil, segundo o fiscal. Mas a trégua tem data marcada para terminar. Em meados de agosto, quando a propaganda eleitoral estiver liberada na televisão, a disputa por por espaços nas ruas vai ficar feroz.
– Depois que a campanha começar para valer, a quantidade de material irregular que vai para as ruas triplicará. E os candidatos não vão nem querer saber – conta o fiscal.
Jornal do Brasil
Arco do desenvolvimento
Lindberg Farias
PREFEITO DE NOVA IGUAÇU
Pela primeira vez na história, a Baixada recebe de Brasília o tratamento que lhe é devido. Com quatro milhões de habitantes, ou 25% da população do Estado, e índices de desenvolvimento humano abaixo da média, a região como um todo – e Nova Iguaçu em particular – aos poucos perde o estigma de pobre e violenta e ganha investimentos privados de porte, como novos shoppings e condomínios residenciais com o mesmo padrão dos empreendimentos da Barra.
Boa parte disso se deve à fase de crescimento econômico que o País atravessa. Mas os próprios investidores privados reconhecem que são atraídos por conta de investimentos públicos – federal, municipal e estadual - que melhoram a infra-estrutura, aumentam a empregabilidade da população e, consequentemente, o seu poder de compra.
Só em Nova Iguaçu, são mais de R$ 500 milhões em recursos – do Governo Federal, da Prefeitura e do Banco Interamericano de Desenvolvimento - que vão mudar a vida dos moradores de muitos bairros, principalmente ao longo da Estrada de Madureira. As obras incluem redes de água e esgoto, estações de tratamento, pavimentação, calçadas, iluminação e áreas de lazer. Nova Iguaçu é a terceira cidade brasileira que mais recebeu obras do PAC.
Antiga reivindicação da Baixada, a obra é a consolidação de um novo projeto para a região. Há 30 anos no papel, foi preciso um presidente operário, sensível às necessidades do povo, para que finalmente o Arco, que vai ligar a refinaria de Itaboraí ao Porto de Itaguaí, cruzando oito municípios, virar realidade. Lula sabe exatamente quais serão as conseqüências, a médio e longo prazos, desse investimento.
O Arco abre as portas da Baixada para o futuro e consolidará o desenvolvimento econômico local, valorizando a região, atraindo empresas e gerando empregos. Em Nova Iguaçu, a rodovia passará por Santa Rita, que se transformará num grande parque industrial.
Temos nos preparado para receber o Arco promovendo obras estratégicas, executadas com recursos da própria prefeitura em parceria com organismos internacionais. Entres essas obras, destacam-se a duplicação do viaduto da Posse e a ampliação da antiga Estrada da Posse, que ligará o Centro ao Arco. A poucos quilômetros do Porto de Itaguaí, já é grande o interesse de indústrias de se instalar na região.
O Arco era o que faltava para transformar a Baixada numa região de perfil industrial. Com ele, a região será para o Rio o que o ABC paulista é para São Paulo. Cabe aos gestores públicos preparar as suas cidades para esse novo momento. Nova Iguaçu está cumprindo a sua parte.
O início de uma nova era
Nélson Bornier
CANDIDATO A PREFEITO DE NOVA IGUAÇU
O início das obras do Arco Metropolitano do Rio é também o prenúncio de uma nova era para a economia da Baixada. Já durante as obras, milhares de empregos serão oferecidos a quem mora na região, o que significará mais trabalho e renda à população de Nova Iguaçu e de outros municípios da Baixada.
O Arco, que ligará Itaboraí ao Porto de Itaguaí, terá cerca de 145 km de extensão. Na Baixada serão construídos 70,9 km de rodovia, começando em Duque de Caxias , cortando as rodovias BR-040 (Rio-Juiz de Fora), BR-465 (antiga Rio-São Paulo), BR-116 (Via Dutra) e BR-101 (Rio-Santos).
O coração do Arco fica na Baixada. Serão beneficiados principalmente Caxias, Nova Iguaçu, Japeri, Seropédica e Itaguaí. Mas todas as outras cidades da região, inclusive Rio e Niterói, receberão o impacto positivo dessa obra incluída no PAC que custará R$ 800 milhões.
O Arco retira da Avenida Brasil cerca de 8.300 caminhões e 7.200 carros por dia, além de desafogar e tornar mais rápido o tráfego proveniente das regiões Sul e Sudeste que se destina ao Norte e ao Nordeste, contribuindo decisivamente para a melhoria das condições ambientais na região. Com a maior facilidade de acesso, o Porto de Itaguaí terá sua capacidade aumentada em 200 mil containers por ano.
Vários empreendimentos de grande porte serão inaugurados na área, como o Complexo Petroquímico de Caxias, os complexos industrial e siderúrgico de Santa Cruz e o grande complexo petroquímico em Itaboraí. Somente a iniciativa privada investirá R$ 32,8 milhões na área, nos próximos cinco anos.
O Complexo Petroquímico de Itaboraí, que receberá investimento de US$ 8,4 bilhões, vai gerar 20 mil postos de trabalho durante a construção e 3.500 quando entrar em operação. A Companhia Siderúrgica do Atlântico Sul, em Santa Cruz, receberá US$ 3,5 bilhões e será capaz de gerar 18 mil empregos durante a obra e 3.500 após a inauguração, mesmo número de vagas oferecidas pela Companhia Siderúrgica Nacional, em Itaguaí, já em 2009. Só a ampliação do Porto de Itaguaí custará US$ 700 milhões, abrindo 2.200 postos de trabalho para a região.
O impacto na Baixada e, particularmente, em Nova Iguaçu, será enorme. A nova rodovia transformará toda essa região num grande centro de logística. Essa faixa de negócios, entre o Arco e a ferrovia, será geradora de trabalho e renda para a população. Produtos serão distribuídos para o Grande Rio a partir da Baixada, o que mudará a realidade fiscal de quase 30 municípios.
Finalmente, depois de 30 anos nas gavetas, o Arco sai do papel e começa a mudar para melhor a vida de milhões de moradores do Grande Rio e, especialmente, da Baixada.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Panorama Econômico - Míriam Leitão
A ata do Copom tem uma coleção de boas notícias. O investimento cresceu 15% no primeiro semestre; a produção industrial aumentou 6% até maio — a de máquinas, 16%, e a de carros e eletrônicos, quase 14%. No primeiro semestre, foram criados 1,3 milhão de empregos formais; só a agricultura, e apenas em junho, contratou 92 mil. O comércio vendeu 14% mais. A má notícia: os juros continuarão subindo.
A ata empilha também os números ruins de inflação: IPCA em 12 meses a 6,06%, acima do centro da meta; apesar da queda da taxa de câmbio, os bens chamados de comercializáveis — na falta de um nome melhor para produtos afetados diretamente pelo câmbio — subiram 7,78% em 12 meses; no mesmo período, o Índice de Preços do Atacado subiu 17,9%. O IPA agrícola foi de 37,91%; nos 12 meses anteriores, terminados em junho de 2007, havia sido de 8,07%. Em todas as medidas, todos os núcleos, todas as formas de comparação, a inflação está subindo, afastando-se da meta, e mostrando pressões ainda por chegar ao varejo.
Essa má notícia é que faz com que todas as outras sejam vistas meio de lado pelo órgão que tem a ingrata tarefa de manter o olhar fixo na meta de inflação. Na última reunião do Copom, os juros, que vinham subindo a 0,5% a cada 45 dias, foram elevados em 0,75%. Os juros bancários já subiram para aqueles níveis que são impensáveis em outros países do mundo. Juros médios do crédito ao consumidor estão agora na ordem de 50% ao ano. Os para empresas chegam a 26%. Em que país do mundo, consumidor compra com o dinheiro a esse preço, e empresa gira seus negócios a esse custo? O Brasil é mesmo um país diferente.
Tão diferente que aquilo que assusta o mundo inteiro não faz uma ruga de preocupação na testa do Banco Central. Segundo a ata do Copom, foi mantido em zero o percentual previsto de reajuste da gasolina este ano. Em outros países, os consumidores vivem apavorados com o preço na bomba, que subiu fortemente, mas aqui tanto faz o petróleo estar a US$ 35, a US$ 146 ou a US$ 124, como fechou ontem, que o preço na bomba não muda.
Mesmo sem essa pressão, a inflação brasileira tem sido uma fonte de dor de cabeça. Pela sua já conhecida linguagem cifrada, o BC avisou que os juros continuarão subindo. “O Copom considera que a persistência do descompasso importante entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta agregadas vem exacerbando o risco para a dinâmica inflacionária.” Ou seja, o Banco Central acha que as coisas não vão nada bem, e que o ritmo de crescimento do consumo precisa ser detido para que a inflação volte ao centro da meta no ano que vem. Este ano é impossível. O BC já trabalha com o olho em 2009, pois os juros demoram um pouco a produzir seu efeito na economia.
No governo cujo programa principal chama-se Aceleração do Crescimento, o Banco Central tem a ingrata e antipática tarefa de desacelerar o crescimento. Entrevistei ontem o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, cujo trabalho é justamente o de tentar acelerar esse ritmo, no comando do banco que financia a economia brasileira a juros baixos. Ele admite que o crescimento pode estar acima do potencial, pressionando a inflação:
— É uma questão de calibragem. A economia acelerou bastante no fim do ano passado, com o consumo das famílias crescendo perto de 9%, um aumento muito forte das importações que ainda persiste. São sintomas de um crescimento um pouco acima do potencial. A inflação, no início do ano, veio muito forte e está produzindo efeito muito preocupante sobre todos os índices de atacado. Isso recomenda uma moderação no ritmo de crescimento.
No entanto, o presidente do BNDES acha que o ajuste deveria poupar os investimentos, porque são eles que garantirão a oferta futura.
— Em moderando o ritmo de crescimento, devemos nos preocupar com a sustentação dos investimentos. Eu defendo que é mais racional que a moderação do crescimento seja feita de maneira mais intensa sobre o consumo do governo e o consumo privado e menos sobre os investimentos. A razão é simples: os investimentos produzem oferta futura, eles são portadores de processos de desenvolvimento. Seria pouco inteligente sacrificar principalmente os investimentos.
Na visão dele, porém, o governo tem apenas que manter o atual ritmo de crescimento das despesas. Ritmo que, pelos dados divulgados esta semana, teve pequena desaceleração. Outros economistas acham que o governo teria de cortar gastos mais fortemente se quiser evitar que, para combater a inflação, seja necessário reduzir drasticamente o consumo privado.
O consumo tem crescido tanto em bens que refletem aumento da renda quanto em bens de maior valor, que refletem a expansão do crédito, de acordo com a ata do Copom. O risco da elevação rápida da taxa de juros é sobrecarregar a família brasileira, atualmente já muito mais endividada que anos atrás. O impacto do aperto monetário será maior no orçamento doméstico.
Por ora, o país vive uma situação estranha: colhendo números excelentes de crescimento de vendas, produção, emprego, investimento, renda e crédito; o BC, no meio de um processo de aperto de juros que vai ainda mais longe, enquanto o mundo caminha para uma forte desaceleração, com a principal economia do planeta estagnada. Tempos desafiadores.
Análise Econômica - Sardenberg
Algo saiu muito errado
Decepcionada com a política econômica de Lula, dita neoliberal, a esquerda depositava toda sua fé na diplomacia lulista, dita progressista. O presidente não se cansou de alimentar essa esperança. Ainda ontem, ao comentar o fracasso da Rodada de Doha, Lula disse que o Brasil fez de tudo para alcançar um acordo favorável aos países economicamente menores e de agricultura mais frágil.
Pobres contra os ricos. Daí nasce a diplomacia Sul-Sul, baseada na tese de que os países pobres são todos igualmente explorados pelos ricos, de modo que só podem ter os mesmos interesses políticos e econômicos. Portanto, parecia fácil: bastaria colocar na rua o bloco dos pobres e enfrentar os ricos de igual para igual.
Assim, a diplomacia brasileira tratou de montar grupos de emergentes, declarou vários destes, como China, Índia e África do Sul, parceiros estratégicos, repetiu em todos os fóruns que os ricos é que deveriam ceder nessa Rodada.
De repente, no momento decisivo das negociações desta semana em Genebra, o Brasil se viu ao lado de EUA, Europa e Japão, os ricos, e da Austrália, tipo classe média alta, os cinco apoiando um texto básico de acordo. Ficaram contra a China e a Índia, que estavam nessa mesa de negociação, compondo a bancada dos emergentes, e que logo receberam a solidariedade da África do Sul e da Argentina, esta sócia principal no Mercosul.
Algo saiu errado, não é mesmo?
Fica a seguinte alternativa: ou bem a decisão de apoiar o acordo estava correta, por atender aos interesses econômicos do país, e nesse caso toda a diplomacia anterior estava errada ou a diplomacia dos pobres era o caminho da luz e, nesse caso, o Brasil não tinha nada que apoiar um acordo com os ricos.
Não admira que o Brasil tenha saído sem nada, sem acordo comercial e sem a liderança sobre o bloco dos pobres e emergentes. Um ex-bloco, na verdade, porque seus principais membros ou declararam-se traídos pelo Brasil (caso da Argentina) ou nem se dignaram a explicar suas posições, como China e Índia.
A liderança brasileira era passiva. Funcionou enquanto o chanceler Celso Amorim dava sua voz às broncas genéricas dos emergentes. Quando chegou o momento da condução ativa, de levar para um acordo, tudo se dissolveu, foi cada um para seu canto.
Resumindo, a diplomacia Sul-Sul não passava de uma bobagem. O mundo econômico não se divide entre pobres (incluindo emergentes) e ricos. Quando se trata de abrir mercados agrícolas da China e Índia, o Brasil, com seu agronegócio moderno e exportador, está ao lado de EUA e Austrália, por exemplo. Quando se trata de derrubar tarifas e subsídios de americanos e europeus, o Brasil está ao lado da Austrália, de novo, e da Argentina, por exemplo.
Será que a retórica diplomática era só para fins políticos internos? Só para se mostrar de esquerda?
Certamente teve esse função, mas durante algum tempo pelo menos o governo acreditou nela. Tanto que causou estragos reais. O governo Lula ajudou a enterrar as negociações sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), praticamente abandonou ss negociações bilaterais, especialmente com os EUA, e desprezou solenemente os países que fizeram acordos de livre comércio com Washington, como Chile, Peru e Colômbia. Eram acordinhos, dizia o chanceler Amorim.
O acordão, claro, era o da OMC, esse que fracassou. E agora?
Agora é a vez de negociar os acordos bilaterais, inclusive com os EUA, diz o governo. Claro, foi o que sobrou. Mas em condições piores. Nesse meio tempo, por exemplo, os EUA fizeram diversos acordos pelo mundo, já não têm tanto interesse, não pelo menos até a definição do novo governo. A União Européia, que já quase rachou por causa de um acordo global, não se empenhará tanto em acordos parciais.
De todo modo, a diplomacia brasileira tem que começar de novo, e começar por jogar fora a retórica pobres x ricos. Ao contrário do que sugeriu o presidente Lula, o acordo global, de abertura do comércio, que interessa muitíssimo ao Brasil, fracassou não por causa dos ricos, mas, no essencial, por causa da resistência de países emergentes que insistiram em proteger seus setores ineficientes. E que deram um alívio aos ricos e subsidiados agricultores de EUA e Europa, que estavam se julgando traídos pelos seus governos.
O mundo não é simples.
Publicado em O Globo, 31 de julho de 2008
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Palestra na Livraria da Travessa
A pauta da palestra consta de assuntos da economia brasileira e atual como, por exemplo, a Inflação e as medidas necessárias para contê-la, as manobras econômicas do governo para evitar um desastre inflacionário e as articulações da política monetária e fiscal.
A palestra começará às 20h e terminará às 21h.
No sábado, às 16h, no programa Show da Notícia apresentado pela Rádio CBN será exibida na íntegra.
No entanto, disponibilizarei, aqui no blog, o áudio e comentários relevantes baseados no conteúdo.
Até daqui a pouco!
Atualização às 20h:
O Sardenberg acabou de chegar à Livraria e já está tudo pronto para o início da palestra.
Atualização às 21h19mim:
Checamos ao fim do Talk Show. Uma conversa esclarecedora e relevante para formadores de opinião econômica e política.
Ele fez uma análise interessante desde os primeiros anos do planos econômicos que antecederam o Real e concluiu com a evolução da moeda que hoje é referência para o bom desempenho da Economia Brasileira.