A construção do segundo turno
Lucia Hippolito
Menos de 20 dias separam os candidatos do segundo turno das eleições. O tempo é curto, as decisões precisam ser tomadas rapidamente.
Por isso, um olho no peixe e outro no gato.
Enquanto parte dos estrategistas de campanha precisam identificar os erros cometidos no primeiro turno e saná-los, outra parte tem partir para o ataque, isto é, tentar capturar o maior número possível de apoiadores.
Começa a busca frenética por aliança com os candidatos derrotados, de olho em seu embornal de votos.
Aí é que o bicho começa a pegar.
Os candidatos ao segundo turno não podem rejeitar voto, mas não podem aceitar qualquer apoio.
Por exemplo, em São Paulo Marta Suplicy está de olho nos eleitores de Paulo Maluf. Mas não quer o apoio ostensivo de Maluf, sob pena de perder votos em sua própria base.
O reverso desta moeda são os elogios públicos feitos por Marta Suplicy a Geraldo Alckmin, de olho nos votos dos “tucanos magoados”.
Alckmin até pode apoiar Marta publicamente (não creio que o faça), mas é muito difícil que seus eleitores votem na petista.
São Paulo tem uma dinâmica política muito polarizada: PT versus anti-PT. Por isso, seria mais fácil para Marta ganhar no primeiro turno do que no segundo, quando as forças anti-PT se unem contra ela.
Como aconteceu em 2004, quando perdeu a eleição para José Serra.
Mas é muito difícil liquidar a fatura no primeiro turno, tendo em vista os altos índices de rejeição a Marta, números que só fizeram crescer às vésperas do primeiro turno.
Enquanto isso, no Rio, o presidente do PDT, Carlos Lupi, já declarou que “as forças progressistas” deverão apoiar Eduardo Paes, do PMDB, que também já recebeu a visita de Benedita da Silva e Jorge Bittar, do PT.
Deve ter gente que considera Lupi, Benedita e Bittar “forças progressistas”. Assim como deve ter gente que acreditava que Brejnev era de esquerda. Tem gosto para tudo nesta vida.
Mas e os eleitores do PDT? E os eleitores do PT? Vão votar com as lideranças “progressistas” ou vão se sentir livres para votar em Fernando Gabeira, que tem história na esquerda carioca?
Da mesma maneira, como vai se sentir o eleitor de Gabeira no primeiro turno, ao saber que César Maia, o prefeito rejeitado pela maioria esmagadora dos cariocas (sua candidata obteve míseros 3,92% dos votos), já deu apoio público ao candidato?
Será o “abraço da morte”?
Finalmente, em Salvador a situação ganha um tempero extra, pois os dois caciques locais – Geddel Vieira Lima (PMDB) e Jaques Wagner (PT) – têm pretensões a herdar o posto de Antonio Carlos Magalhães: o de supremo coronel da política baiana.
Jaques Wagner conquistou o governo da Bahia em 2006, derrotando o carlismo ainda no primeiro turno. Geddel, por sua vez, encastelou-se no interior e adquiriu a amizade de mais de 300 prefeitos – vamos ver quantos aliados ele elegeu nestas eleições.
Mas o fato é que em Salvador, os afilhados dos dois passaram para o segundo turno no olho mecânico: o atual prefeito João Henrique (PMDB) teve 30.97% dos votos, e o deputado federal Walter Pinheiro (PT) teve 30.06%.
Uma diferença de 11.751 votos.
Adivinhem quem vai ser a noiva mais cortejada do segundo turno.
Isso mesmo. ACM Neto, herdeiro político do velho babalorixá, com seu embornal de 346.881 votos (26.68% do total).
Na Bahia, não se fala em outra coisa no Mercado Modelo: quem vai conquistar o coração – e os votos, naturalmente – de ACM Neto?
A caça aos votos já começou. E o tempo é curto
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