quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Brasil: um país maduro (3)

Com informações do Bom Dia Brasil de hoje

Otimismo, disposição para se divertir, namorar, recomeçar a vida. Os novos velhos estão revolucionando a ideia de inatividade.

“Tai” é o caminho, “chi”, a energia, “chuan”, o movimento. Os gestos lentos revelam que a silhueta ganhou novos contornos com o tempo. Os passos seguem o ritmo de corpos que já atravessaram boa parte do caminho. Esse exercício paciente é fonte de vida.

A praia é só um atrativo - e que atrativo - do bairro com maior concentração de idosos do país: 40 mil deles escolheram Copacabana para morar.

Em relação aos idosos, Copacabana é quase uma sociedade oriental. De cada dez pessoas que vivem aqui, três têm mais de 65 anos. Um índice igual ao do Japão e o dobro do restante do Brasil. Copacabana é a capital brasileira dos cabelos brancos.

O motivo é o mesmo que levou 81% da população brasileira de idosos a se concentrar em áreas urbanas: a proximidade dos filhos, dos serviços de saúde e de outras facilidades para o dia a dia. Como os filhos já cresceram, há apartamentos menores, mais práticos e baratos de manter.

“Aqui nós temos infraestrutura para as pessoas da nossa idade. Temos tudo: temos hospital, tudo que você quer. “Tem pessoas que pagam milhares de dólares para tomar banho em Copacabana, eu tomo todo dia de graça. Que tal? É bom ou não é bom?”, elogia um senhor.

Se envelhecer em Copacabana, ao som do mar e à luz do céu, torna mais suaves as limitações da velhice, ficar velho, claro, não é nenhum parque de diversões. Uma pesquisa feita com idosos de todo o Brasil mostra que a maioria dos idosos (80%) se diz realizada na vida. E não se sente velha.

“Idoso é sempre o outro, isso porque eles renegam, repudiam a imagem que a sociedade faz do idoso”, explica o coordenador da pesquisa José Carlos Libânio

“Faço tudo que a minha filha faz. Faço ginástica, eu canto, eu ando. Tudo que uma jovem faz”, compara uma senhora.

Uma das maiores preocupações é a solidão, que atinge principalmente as mulheres. Com filhos criados...

“Cada qual vai, soltando os laços, vão para uma certa distância e você fica querendo, mas eles têm que viver a vida deles e nós, a nossa. Se você correr atrás, consegue envelhecer com qualidade de vida e alegria, que é isso que importa. Mas não pode é parar. Se por acaso faltar o chão, vou para a academia, fazer ginástica, ioga. Se parar, morre. Que nem bicicleta: se não pedala, vai virar”, analisa a advogada Julita Mourão, de 72 anos.

A aposentada Marly Figueira da Costa decidiu voltar a estudar piano depois de viúva.

De acordo com a pesquisa, as mulheres envelhecem melhor do que os homens.

“As mulheres dão de dez porque não só são mais capazes de manter amigas e amigos que fizeram ao longo da vida, porque lidam com o afeto sempre muito melhor do que os homens, como têm mais capacidade de fazer novos amigos”, compara o sociólogo José Carlos Libânio.

Marly confessa: um namorado não faria nada mal: “Ainda estou em uma busca”.

“Manter a vida sexual ativa apesar do avanço da idade é um indicador de saúde. Elas estão interessadas porque se cuidam, a saúde delas é melhor do que foi a saúde das sexagenárias de algumas décadas atrás”, compara a psiquiatra Carmita Abdo.

Luis resolveu aprender artes marciais. Fernando, caminha na praia, faz trabalhos comunitários. Os dois concordam: o sexo não é o mesmo da juventude, mas sempre dá para entrar em campo e mostrar algum tipo de jogo.

“Não é, naturalmente, aquele dos 30, 40 anos. Mas, está de acordo com a idade. É bom”, avalia Luiz.

“Sem dúvida, o impacto do advento de medicamentos que favorecem a ereção foi muito positivo, porque os homens e as mulheres recuperaram a vida sexual que estava interrompida pela dificuldade de ereção desse homem, que levava a um grande constrangimento na intimidade com sua parceira”, comenta a psiquiatra Carmita Abdo.

“O otimismo é essencial. Pessimismo não faz parte do meu dicionário de vida”, garante Fernando Polônia, da Associação Comercial de Copacabana.

Otimismo, bom astral, energia, cada um chama de um jeito, mas gostar da vida é o melhor ingrediente da fórmula.

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