Panorama Econômico
A visão da Fazenda
Leiam aqui a coluna Panorama Econômico desta sexta:
O Fundo Soberano será constituído com impostos e com compras de dólares pelo Tesouro no mercado de câmbio, contou ontem o ministro Guido Mantega. O fundo vai financiar empresas brasileiras no exterior através do BNDES. O governo anunciará na segunda-feira a política industrial e, em breve, sairá um plano para aumentar a produção agrícola. Ele nega que o governo vá salvar a Gradiente.
Numa entrevista que me concedeu ontem na Globonews, que reprisa hoje às 8h30m e 15h30m, Guido Mantega defendeu a tese de que é com aumento de oferta que se combate a inflação.
— A alta do preço do trigo não vai ceder por causa dos juros. Alguns produtos têm preços que vêm do exterior, estão subindo por razões internacionais, como o aço, e não têm como mudar nem aqui nem na Índia. Não adianta subir juros.
O ministro iniciou o dia ontem no meio de uma polêmica. O jornal “Valor” publicou uma manchete dizendo que ele estava propondo mais “tolerância” com a inflação. No texto, não há uma declaração dele dizendo exatamente isso. Mas quem acompanha a metodologia de metas de inflação sabe que os 4,5% são apenas o centro da meta, e que há um espaço de flutuação para acomodar choques de oferta que elevem os preços temporariamente. Mantega negou que esteja propondo que o país aceite uma inflação maior.
— Nós temos feito um bom trabalho no combate à inflação; outros países estão com taxas maiores do que as nossas — China, 8,5%; Índia, 8,5% e Rússia, 7%. Estamos vacinados, sabemos que a inflação é deletéria, desestabiliza o longo prazo.Se temos uma inflação provocada por preços internacionais que não cederão pelo aumento dos juros internos, então a elevação é inútil ou a política errada?
O ministro respondeu que os juros influenciam outras variáveis, como a redução da demanda agregada.
— Se o objetivo é a redução da demanda agregada, é a política certa. Mas hoje a demanda crescendo é o nosso tesouro. Estados Unidos e União Européia estão com problemas pois a demanda está caindo. Nós criamos um mercado de consumo de massa, há investimentos crescendo forte. Só um setor que me visitou hoje investirá R$ 6 bilhões este ano, o setor automotivo, outros US$ 5 bilhões. Isso vai criar mais emprego, renda e oferta. A demanda está aquecida, mas teremos a resposta do aumento da oferta. O crédito cresce a 30%; talvez fosse melhor ele crescer um pouco menos. Mas a economia é aberta e se pode importar.
A linha de raciocínio é esta. Ainda que o ministro não queira falar diretamente contra o Banco Central, ele acha que, para o tipo de inflação atual, os juros são ineficazes e só funcionaria um aumento de oferta. Mantega acredita que esse aumento está a caminho pela alta do investimento. Outro efeito dos juros seria reduzir a demanda agregada, o que, na opinião dele, não deveria ocorrer.
Na área agrícola, o governo prepara um pacote para incentivar o aumento da produção. O ministro falou do trigo, especificamente, dizendo que, com o aumento do preço mínimo, a produção vai crescer. Esse aumento de produção, acredita ele, seria a melhor resposta para a alta dos preços dos alimentos.
— O feijão foi 10% da inflação no ano passado (0,4 ponto percentual em 4,4% de inflação) e, como se podem produzir três safras, o país tem condições de aumentar a oferta rapidamente.
Sobre o déficit em conta corrente e os saldos comerciais negativos, que têm aparecido nas nossas contas externas, o ministro garantiu:
— O governo não vai deixar desequilibrar a conta corrente. Foi no superávit externo que conseguimos reduzir a vulnerabilidade da economia. É claro que, numa situação favorável, a moeda se valoriza, mas não podemos deixar exagerar.
Tentando “não deixar exagerar” o governo prepara a política industrial que beneficiará 24 setores com redução de impostos e do custo de financiamento. O objetivo é ajudar, sobretudo, as empresas exportadoras. O que se quer, afirma Mantega, é “criar uma nova onda exportadora no país”.
Também na linha de redução de juros atuará o fundo soberano:— Todos os países que têm um bom fluxo financeiro estão constituindo fundos soberanos, como China, Chile, Rússia. O nosso será para ajudar a internacionalização das empresas.
Segundo o ministro, será constituído por duas formas:
— O Tesouro vai comprar dólares no mercado, ajudando a enxugar o excesso de dólares. Ele já faz isso hoje para garantir os recursos de pagamento da dívida externa, mas fará mais para constituir o fundo. A segunda fonte será tributária, serão recursos primários que terão um efeito anticíclico também.
Mantega disse que serão juros abaixo do mercado brasileiro, mas em linha com os juros do exterior. Explicou que o fundo comprará títulos do BNDES, será remunerado por isso com a taxa libor (que está em 2,59%) ou uma remuneração em linha ou maior que as reservas recebem ao serem aplicadas hoje. Com esses recursos da compra de títulos, a subsidiária do BNDES emprestará para empresas no exterior.
O ministro Guido Mantega disse que o presidente Lula não lhe deu orientação de “salvar” a Gradiente e garantiu que “não é nosso hábito salvar empresas em dificuldade, a menos que seja uma crise sistêmica”.
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