Ontem (22), no programa Espaço Aberto apresentado por Míriam Leitão, transmitido pela Globo News, o futuro ministro do Meio Ambiente falou sobre os problemas enfrentados por sua antecessora e futuras ações no novo "serviço". Leia a análise da entrevista.
A cinco dias de ser empossado ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc depara-se com dados perturbadores sobre o desmatamento na Amazônia. A história se repete. E Minc parece atravessar o mesmo percalço que trouxe à luz os entraves à atuação do Ministério do Meio Ambiente – e um dos símbolos de derrota de sua antecessora, a ex-ministra Marina Silva. Os recentes embates entre o futuro ministro e o governador do Estado do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR-MT) – primeiro sobre a guarda ambiental, com a qual Maggi diz que não vai cooperar; depois sobre o desmatamento da Amazônia, do qual 60% dizem respeito ao Mato Grosso – mostram que os desafios que Minc terá de enfrentar estão longe de serem simples.
Além de colocar em prática atributos que demonstra ter para levar adiante uma competente gestão, o futuro ministro terá de estar atento. Quatro meses depois de Marina ter anunciado o registro feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o aumento do desmatamento na Amazônia entre novembro e dezembro de 2007 – e ter irritado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por tê-lo feito sem a sua autorização prévia – Minc veio a público anteontem para falar sobre novas estatísticas do desflorestamento na região. Os números – a serem divulgados pelo Inpe na semana que vem – beiram o assombro: o índice de Mato Grosso cresceu mais de 60% nos primeiros cinco meses deste ano em relação ao mesmo período no ano passado.
Será preciso maestria na articulação com setores distintos para que o constrangimento por qual passou sua antecessora não se repita. Em janeiro, o alerta sobre o aumento do desmatamento na Amazônia – 3.235 km² de floresta nos últimos cinco meses do ano passado – gerou embate entre Maggi e a ex-ministra. Na época, Marina foi chamada de despreparada por ele depois de ter apontado o aumento da produção de soja e carne como responsáveis pelos índices.
Diante de divergências grandiosas, portanto, é imprescindível cooperação entre governo local, Ministério do Meio Ambiente e, não menos importante, o ministro para Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Mangabeira Unger – coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS). Importa dizer que não são poucos os receosos de que tal coordenação reduza a autoridade do Ministério do Meio Ambiente sobre a agenda de desenvolvimento sustentável da Amazônia. Em recente análise publicada no site O Eco, o cientista político Sérgio Abranches avalia que essa atuação é "ameaça ao avanço de idéias que permitam preservação e discussão de uma nova agenda para a região, contemporânea e compatível aos desafios deste século".
Maestria não menos relevante será importante para um dos pontos iniciais da política ambientalista – a decisão do Conselho Monetário Nacional de bloquear o crédito de produtores sem regularização ambiental na Amazônia. Convém compreensão abrangente dos setores do governo para a região. A decisão que entrará em vigor em 1º de julho sofre possibilidade de recuo – teme-se que setores agrícolas trabalhem por sua anulação.
Para pesquisadores, o lamentável índice mato-grossense, segundo dados de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), não chega a ser surpresa. Adalberto Veríssimo, pesquisador da instituição Imazon, observou que os números seguem a tendência de crescimento do índice de desmatamento observada desde agosto do ano passado. "As medidas tomadas pelo governo para combater a devastação ainda são insuficientes", disse.
Que a troca e o tempo de adaptação da nova gestão no Ministério do Meio Ambiente não seja a senha para grileiros, desmatadores, madeireiros, sojeiros e pecuaristas atuarem livremente na região. Investir contra a Amazônia legal, seja por parte de lideranças políticas ou empresariais, é querer autorização para ocupar e desmatar. Inadimissível.
Um comentário:
wala pulos imo blog.
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