(Leia a coluna da Ruth de Aquino, diretora sucursal de Época no Rio)
Esse é o nome da facção do tráfico no Morro da Mineira que executou três jovens da favela rival, no Morro da Providência. Os jovens foram entregues de bandeja por soldados que queriam “dar um corretivo” neles. Os militares estavam sob o comando de um tenente de apenas 25 anos. “Amigos dos Amigos” é um nome carregado de simbolismo e ajuda a entender a calamidade moral no Rio de Janeiro. De um lado, temos o presidente Lula e seu amigo, o Bispo Crivella, da Igreja Universal, candidato à Prefeitura do Rio. Do outro, 11 militares do Exército e seus amigos traficantes.
É evidente que os elos não estão todos ligados. Lula ficou indignado com o crime e quer indenizar as famílias dos mortos. Mas muitos equívocos foram cometidos nessa história arrepiante.
A primeira questão é básica, rala, reles, anterior aos nobres debates: uma semana depois do crime bárbaro, nenhum dos traficantes assassinos, amigos dos soldados, foi identificado e entregue à Justiça. Repetindo, nenhum nome, nenhum rosto apareceu. Não é estranho? Não é preciso trabalho de inteligência. Afinal, os militares que faziam a segurança das obras do projeto Cimento Social, de Crivella, na Providência, subiram com desenvoltura, familiaridade e sem medo o Morro da Mineira e entregaram a encomenda humana aos bandidos. O tenente Vinicius Guidetti, um segundo-sargento e dois soldados estão presos. Onde estão os traficantes que deceparam, trituraram e espancaram as três vítimas arrematando o crime com 46 tiros? Quem são eles? É segredo? Os traficantes que ajudaram a manchar a reputação do Exército não podem continuar soltos.
As outras questões são mais complicadas. Envolvem o Palácio do Planalto. E o mau funcionamento das instituições que regem a política, as leis e a segurança.
Com tantas favelas precisando de urbanização no Rio, uma delas, na Providência, recebeu R$ 12 milhões do Ministério das Cidades e foi ocupada pelo Exército desde dezembro do ano passado. Por quê? Os 250 militares garantiam a segurança das obras assistencialistas de Crivella, candidato de Lula à Prefeitura do Rio. As obras são de uma empresa particular. Crivella pertence ao partido do vice-presidente, José Alencar (PRB). E ninguém deu um pio.
"O nome da facção do tráfico, carregado de simbolismo, ajuda a entender a calamidade moral no Rio"
Ali, os soldados, sem aprovação formal do Congresso, mas sob as ordens do general Enzo Peri, comandante do Exército, atuaram como polícia. Envolveram-se em atritos com moradores e não incomodaram o tráfico local. Seis meses de ocupação culminaram nas atrocidades do sábado passado. E, aparentemente, o ônus acabará só nas costas do tenente, como caso isolado de desvio. O inquérito militar concluirá que o tenente agiu por conta própria, contrariando superiores.
O general chamou o episódio de abominável. O ministro Nelson Jobim, da Defesa, subiu a Providência para confortar os parentes. O governador do Rio, Sérgio Cabral, chamou os militares de bandidos, mas lá de Berlim. Suas freqüentes viagens internacionais começam a constranger até seus assessores.
A outra questão é o uso das Forças Armadas como recurso para garantir a segurança no Rio, hoje refém de traficantes encastelados nos morros. A juíza Regina Coeli mandou o Exército desocupar a Providência: “Os militares são formados para a guerra, treinados para matar e, por isso, não poderiam atuar como a polícia, treinada para reprimir e só matar em legítima defesa”.
Senhora juíza, não creio que o Exército seja treinado para entregar jovens a bandidos. Além disso, hoje, no Rio, aparentemente todos são treinados para matar. Assaltantes comuns viraram homicidas, policiais matam duas vezes antes de pensar, milícias aterrorizam e matam, traficantes torturam e matam nas horas de lazer.
Portanto, esse não é o melhor argumento para mandar o Exército embora. Nem para mandar o Exército ficar. Se as leis fossem claras e respeitadas, se amigos não fossem favorecidos, e se criminosos fossem punidos, a realidade seria outra.
O problema é que o Rio de Janeiro está entregue aos Amigos dos Amigos.
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