(Comentário da Lucia Hippolito à CBN)
O Congresso entrou hoje em recesso, depois de um primeiro semestre medíocre, do ponto de vista da produção legislativa. Parlamentares enredaram-se em CPIs que não deram em nada, disputas entre governo e oposição por conta de dossiês produzidos na Casa Civil e tentativa frustrada (até agora) de recriação da CPMF.
Mas é justo considerar positiva a atuação dos presidentes das duas casas.
Na Câmara, Arlindo Chinaglia é muito superior aos dois presidentes que o antecederam. No biênio 2003-05, o petista João Paulo Cunha foi protagonista de um escândalo a que nem a ditadura ousou: chamou a polícia para dentro das instalações do Congresso Nacional, porque foi incompetente para controlar uma tentativa de invasão do Congresso por baderneiros travestidos de reivindicadores.
(Em 24 de julho de 2003, funcionários públicos inconformados com a reforma da Previdência invadiram a Câmara dos Deputados, promoveram apitaço e baderna. O dep. João Paulo Cunha chamou a polícia para dentro do Congresso Nacional, fato inédito.)
Em seguida, João Paulo Cunha atolou-se até o pescoço no escândalo do mensalão.
Deputado medíocre, presidente de Câmara igualmente medíocre, inteiramente submisso ao tacão do Palácio do Planalto, sobretudo de José Dirceu. Envergonhou o Poder Legislativo do Brasil.
Seu sucessor, Severino Cavalcanti, rei do baixo clero, deputado igualmente medíocre, teve que renunciar para não ser cassado por receber mensalinho de um concessionário de restaurante na Câmara. Outra vergonha!
Arlindo Chinaglia é cuidadoso, move-se com cautela, presta atenção à própria biografia. Tem que se equilibrar entre as ordens do Planalto e a necessária independência da Câmara.
Joga um pouco para a platéia, ameaçando cortar o ponto de deputado faltoso. Quer porque quer contrariar a maioria no segundo semestre, fingindo ignorar que é um ano eleitoral e que o recesso branco é uma realidade.
Já percebeu que a Medida Provisória está matando o Legislativo brasileiro e tenta encontrar um ponto de equilíbrio entre as demandas do Planalto e a autonomia do Legislativo.
Chinaglia tem pretensões a vôos mais altos. Inspira-se mais em Aécio Neves, que saiu da presidência da Câmara para o governo de Minas, do que em João Paulo Cunha, que saiu da presidência da Câmara para o anonimato e para as páginas do procurador-geral da República e hoje é réu no caso do mensalão.
Enquanto isso, no Senado, Garibaldi Alves foi eleito para completar o mandato de Renan Calheiros, que renunciou depois de ter mergulhado o Senado na mais completa desmoralização.
Garibaldi não parece ter amantes, nem filhos fora do casamento, nem bois voadores. Cara de bonachão, tem oratória antiquada. Mas de bobo não tem nadinha de nada.
Com muito mais independência do que Chinaglia, Garibaldi vem alertando seguidamente o governo sobre o excesso de Medidas Provisórias. Avisou que a CPMF não passaria no Senado. Avisou que a recriação da CPMF também não passará. Conhece a casa que preside.
Mas Garibaldi foi crítico também em relação aos senadores. Considerou medíocre a CPI dos cartões corporativos (e seus pífios resultados), alertou para o risco de banalização das CPIs.
E foi o principal responsável pelo recuo da mesa diretora do Senado no caso da última tentativa de trem da alegria na casa (contratação de 97 assessores sem concurso).
Realmente, são dois presidentes muito diferentes de seus antecessores.
Diferentes para melhor.
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