Com a campanha eleitoral finalmente nas ruas, é hora de sugerir aos candidatos duas lições capazes de garantir mais seriedade à disputa: abandonem a prática habitual de vender ilusões ao eleitor e recorram à sensatez ao proclamar as próprias façanhas e virtudes.
No caso da Cidade do Rio de Janeiro, os candidatos precisarão exibir, nos próximos três meses, projetos concretos destinados a aplacar os problemas que atormentam os cariocas. Mais do que nunca, as mazelas do Rio exigem um síndico à frente da prefeitura – eficiente, intolerante com o erro, preocupado com os rumos dos últimos anos, ciente da desordem, convicto das mazelas e zeloso com os encantos de uma cidade tão maravilhosa quanto tisnada pela incompetência. São atributos que o prefeito Cesar Maia prometeu alcançar e não conseguiu.
Eis por que estão desde já convocados à essa missão os postulantes das eleições deste ano: Marcelo Crivella (PRB), Jandira Feghali (PCdoB), Eduardo Paes (PMDB), Fernando Gabeira (PV), Chico Alencar (PSOL), Solange Amaral (DEM), Alessandro Molon (PT), Paulo Ramos (PDT), Filipe Pereira (PSC) e Vinícius Cordeiro (PT do B).
Disputarão o comando do segundo maior Produto Interno Bruto municipal do país (R$ 118 bilhões) e uma cidade bonita por natureza mas de auto-estima abalada.
Períodos eleitorais convidam os políticos a viajar pelo campo das fantasias.
A imaginação dos candidatos muitas vezes eleva-se a altitudes inverossímeis. A vida real desaconselha tais equívocos.
Degradação dos bairros, saúde enferma, projetos para melhoria do transporte público engavetados e uma educação reprovada no teste da qualidade são algumas das deficiências identificadas.
O boicote ao IPTU, espalhado por bairros de todas as zonas da cidade, constitui a melhor tradução de um Rio à deriva. Inconformados com desordem urbana e com a falta de transparência na aplicação dos recursos, não foram poucos os cariocas que aderiram a um legítimo movimento de desobediência civil. O próximo prefeito terá não só de mostrar aos cariocas que pode recuperar a confiança perdida na prefeitura como encontrar saídas para reduzir o impacto da perda de arrecadação.
Que os candidatos estejam atentos.
Precisarão colocar o dedo nas profundas feridas que abalam o Rio e dizer o que pensam sobre as fragilidades que deterioram a qualidade de vida dos cariocas – culpa das duvidosas prioridades do atual prefeito.
Em troca de ações como a custosa Cidade da Música, Cesar Maia conduziu o Rio ao abandono de setores essenciais, como educação, saúde pública e habitação. Destes, a calamidade da epidemia de dengue foi apenas o seu mais danoso exemplo. Não o único. A lista completa-se com os problemas de ocupação do solo, o crescimento desordenado de favelas, a negligência habitacional e o deficitário transporte público.
As pesquisas de opinião, que fotografam a percepção do eleitor sobre a administração municipal, não favorecem a imagem de eficácia urdida por Cesar Maia. Esta se dissipou com o tempo e com os equívocos do prefeito. O eleitor carioca saberá cobrar tais erros sem tardança. É um sinal de alerta para uma temporada eleitoral que está apenas começando.
Que os candidatos não se deixem guiar pela tentação de ataques entre si, mas que tenham como norte o jogo limpo com o eleitor, a quem devem uma campanha justa.
Que os candidatos usem a imaginação, recorram a bons exemplos aplicados em outras paragens, procurem parceiros.
O Rio carece de atenção e cuidado à altura de sua beleza e relevância.
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