terça-feira, 16 de setembro de 2008

Bom Dia Brasil

Míriam Leitão comenta no Jornal Bom Dia Brasil, hoje pela manhã

Nervos continuarão à flor da pele

A queda das Bolsas da Ásia hoje é reflexo da queda de ontem nos mercados europeu e americano. Ontem foi feriado em praças importantes como Japão, China e Coréia do Sul, e os preços hoje estão sendo corrigidos para baixo. O mercado só vai se acalmar quando se sentir mais seguro e achar que a crise está contida. Por enquanto, não está, e isso significa que os nervos continuarão à flor da pele.

Agora, todos os olhos estão na maior seguradora do mundo. A AIG foi rebaixada ontem pelas agências de risco. As ações despencaram e ela tenta levantar dinheiro e vender ativos. Mas só o fato de a AIG estar nessa situação já é um sinal de que crise entrou em outra porta: já atingiu as financiadoras imobiliárias e os bancos. Agora chega às seguradoras.

Para acalmar o mercado imediatamente, basta o Tesouro americano fazer o que fez com o Bear Sterns ou com Fannie Mae e Freddy Mac: pôr dinheiro público para cobrir perdas e salvar as instituições, mesmo que seja com outros donos.

Mas este agravamento da crise aconteceu exatamente pela nova postura do Tesouro de dizer não aos pedidos de socorro. O Tesouro fez isso, porque achou que a fila de bancos com o chapéu na mão era interminável. E depois dos bancos viriam as indústrias pedir a mesma coisa. Mas sem o cofre do Tesouro, os bancos estão pisando em areia movediça. Ninguém sabe quem será tragado ou não.

Crise pode afetar o Brasil, mas o pior não está na nossa porta

Nesta crise, o Brasil está mais forte e mais imune, mas isso não significa que não sentiremos efeitos. As exportações vão perder força, porque o mundo vai crescer menos por muito tempo. Mas as importações também devem reduzir o ritmo de crescimento. O Brasil vai continuar crescendo este ano, mas tudo fica muito mais difícil com um cenário tão complicado lá fora.

O primeiro impacto já está sendo sentido: a Bolsa está nesta queda desde maio e vai ficar na montanha-russa. Nos três últimos dias da semana passada, a Bolsa conseguiu se recuperar: subiu 8% e só ontem já caiu 7,5%. A alta não se segura nesse tempo difícil.

Mesmo o país estando bem, o Risco Brasil deu um pulo ontem. O crédito externo ficará mais difícil e mais caro. Com isso, qualquer empresa brasileira grande ou qualquer empresa estrangeira aqui que queira investir vai ter mais dificuldade para ter financiamento externo.

Na economia globalizada, longe é um lugar que não existe. Uma crise no centro da economia mundial nos afeta de várias formas, mas os bancos brasileiros estão sólidos. Portanto, o pior da crise – que é a crise bancária – não está na nossa porta.

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