Acompanhei o debate do Rio de Janeiro e vale a pena ressaltar alguns pontos.
No primeiro bloco do debate, Eduardo Paes respondeu às perguntas olhando para a câmera. Fernando Gabeira, não.
Paes esteve no ataque. Gabeira se defendeu e se explicou.
Paes conseguiu colar em Gabeira o rótulo de candidato apoiado pelo prefeito Cesar Maia - algo que ele não nega. Gabeira se deu bem quando refutou o principal argumento da campanha de Paes - de que ele deve ser eleito porque governará junto com Lula e Sérgio Cabral.
Gabeira alegou que Lula não discrimina entre aliados ou adversários. Tanto que ajudou com muito dinheiro os prefeitos Gilberto Kassab, em São Paulo, e Beto Richa, em Curitiba.
Paes ganhou o debate no primeiro bloco.
Foi equilibrado o segundo bloco do debate travado pelos candidatos Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV), candidatos a prefeito do Rio.
Gabeira corrigiu o defeito de não falar olhando para a câmera. Paes deu menos estocadas em Gabeira.
Paes gosta de exibir seu conhecimento dos principais problemas do Rio citando números, nomes de bairros e de regiões. Gabeira costuma falar em tese.
Quem prefere um prefeito gerentão votará em Paes. Quem prefere um que parece olhar mais para o futuro votará em Gabeira.
Isso não significa que Paes despreze o futuro ou que Gabeira não ligue para o presente.
No terceiro bloco, nada de extraordinário a destacar.
Paes tentou aplicar uma pegadinha em Gabeira ao perguntar sobre os planos que ele tem para uma determinada área do Rio. Gabeira tinha a resposta na ponta da língua, e ainda se deu ao luxo na sequência de debochar de Paes.
O debate começou com Paes insistindo em colar Gabeira em Cesar Maia. Chegou a dizer que ele entrará pelas portas dos fundos da prefeitura caso Gabeira se eleja.
Paes não voltou mais ao assunto depois que ouviu de volta:
- O deputado Babu (que apóia Paes) tem problemas com a Polícia Federal, mas não é por isso que eu diria que você tem problemas com a Polícia Federal. Babu tem ligações com as milícias, mas não é por isso que eu vou dizer que as milícias entrariam pela porta dos fundos do seu governo.
O deputado e inspetor policial licenciado Jorge Luiz Hauat (PT), o Jorge Babu, foi acusado pelo Ministério Público de chefiar milícias nas Zona Oeste do Rio.
Gabeira parece, agora, mais à vontade. E Paes mais tenso e bem comportado.
Mas quando achei que Paes esquecera Cesar Maia para ele voltar a falar a respeito.
Gabeira respondeu bem: lembrou que Paes é cria política de Maia. Trabalhou com ele. E deve a ele a maioria das obras que realizou. "O senhor parece ter uma fixação em César Maia", respondeu Gabeira.
Portanto, o que fica de um debate na televisão entre candidatos a qualquer cargo são: algumas frases emblemáticas - essas faltaram ao longo dos quatro primeiros blocos do debate travado por Eduardo Paes e Fernando Gabeira.
Empatados nas pesquisas, os dois candidatos não se arriscaram muito.
O debate foi morno.
De resto, essa foi a oitava vez que eles se encontraram durante o segundo turno para debater suas idéias.
Uma tirada genial poderia ter feito a diferença - faltou uma.
O desempenho diante das câmeras pesa nessas horas.
Paes falou o tempo todo olhando no olho do espectador. Mais dispersivo, Gabeira ora olhava, ora não. Respondia a Paes e esquecia quem estava em casa. Em vários momentos cruzou os braços.
A postura sugeriu relaxamento, descaso.
A última fala dos candidatos é sempre a mais importante.
Gabeira teve a sorte de falar depois de Paes. E aí descontou eventuais pontinhos que possa ter perdido para ele ao longo do debate.
A fala de Paes foi convencional, sem brilho, sem imaginação.
A de Gabeira foi uma aula de habilidade, de celebração à inteligência e de ecumenismo político, digamos assim.
Vamos, agora, acompanhar como será no próximo domingo.
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