Os governos estão liberando dinheiro em todo o mundo para conter a crise, mas o dinheiro que o Banco Central está disponibilizando aqui no Brasil é totalmente diferente do dinheiro dos EUA e da Europa. Nossa situação é outra, e, por isso, a manobra também. Lá eles usam dinheiro do contribuinte – sai dos cofres do Tesouro. Aqui o que se faz é usar uma ferramenta clássica de política monetária: liberar compulsório.
O compulsório é o seguinte: o cliente põe o dinheiro no banco em aplicação ou na conta corrente. O banco tem que recolher parte desse dinheiro ao Banco Central. Chama-se compulsório porque ele é obrigado a fazer isso. A política monetária usa o compulsório como uma rédea: as vezes solta, as vezes puxa. Agora ele está soltando porque a situação não é normal no mercado de crédito, e o normal é que ele solte a rédea agora.
Assim, o BC controla a quantidade de dinheiro na economia. O que o Banco Central está fazendo agora é liberando parte desse dinheiro de volta para o sistema. O que ele quer? Que os bancos emprestem e o dinheiro circule. Isso derrubaria a taxa de juros bancária e facilitaria o crédito.
O risco é haver o que os economistas chamam de “empoçamento de liquidez”. Em vez de emprestar, o banco usa o dinheiro e compra título do governo. O banco tem que ter confiança na economia para voltar a emprestar e cobrar menos pelo dinheiro.
Sobre o pacote europeu, há um dado político interessante. Os governos da Europa colocaram US$ 2,4 trilhões, o equivalente a um PIB da França, na porta dos bancos para evitar a quebradeira. Mais importante que a montanha de dinheiro em si foi a sensação de que o mundo tem uma liderança. Não é americana. É européia, mais precisamente, britânica.
Gordon Brown fez um plano mais simples que convenceu os mercados. Brown foi ministro das Finanças do carismático Tony Blair. Ele próprio não em carisma: estava com baixa popularidade, mas foi resgatado pela crise.
Nos Estados Unidos, o secretário Henry Paulson deu meia volta volver na idéia de compra de ativos podres e seguiu a Inglaterra. Chamou os bancos ontem e disse que vai comprar ações de milhares de bancos, mas a metade do dinheiro vai para os nove maiores: Citibank, Bank of America, Morgan Stanley, JP morgan Chase e outros.
Ficou claro mais uma vez que a quebra do Lehman Brothers foi uma barbeiragem. E foi a quebra do Lehman que detonou a crise de confiança da qual parece estar se saindo agora.
O plano de Brown pode funcionar, mas é meio grosseiro. Significa, na prática, estatizar os bancos. Ironia: justamente na terra que inventou a última onda de privatização. Isso tem um precedente histórico. Em 1932, por causa da crise de 1929, os Estados Unidos estatizaram os bancos.
O nosso Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional) foi muito mais sofisticado: aqui, os banqueiros perderam seus bancos, e a ajuda do Banco Central foi para quem ficou com o banco quebrado e garantiu os depósitos dos clientes. Mas, vejam só, os que fizeram o Proer aqui respondem hoje a processos na Justiça.
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