sábado, 4 de outubro de 2008

A disputa para atrair os aliados de 2010

Revista Época - Fernando Abrucio



A eleição de 2008 não definirá apenas os prefeitos que serão protagonistas por quatro anos em suas cidades. Também está em jogo outra peça-chave do tabuleiro político brasileiro: a definição dos coadjuvantes de 2010. Essa observação tem como base um cenário em que os atores principais do pleito presidencial seriam o candidato do governo – apoiado por Lula, provavelmente do PT – e o pertencente ao maior partido da oposição – o PSDB.

Ambos precisarão de fortes aliados se quiserem vencer. No dia seguinte da disputa municipal, já poderemos ter uma noção mais clara das prováveis parcerias que serão seladas daqui a dois anos.

Antes de montar o quadro de casamentos e amizades que poderão acontecer na eleição presidencial, é preciso explicar o cenário descrito acima e a importância dos coadjuvantes. A aposta num jogo bipolar em 2010 se deve, primeiramente, à dificuldade que os outros partidos relevantes terão para construir uma terceira candidatura eleitoralmente viável. Obviamente, haverá candidatos outsiders. Mas as legendas que disputam o poder, principalmente as maiores ou em ascensão, não têm, hoje, como se apresentar para além do espectro do lulismo versus tucanos. Nenhum grupo ou líder nacional conseguiu, nos últimos oito anos, se apresentar como resposta alternativa tanto ao presidente Lula como ao PSDB. É muito difícil fazê-lo apenas no ano da campanha.

A força da bipolaridade nacional não significa que o lulismo e os pessedebistas possam jogar sozinhos. Ao contrário, suas chances dependem da capacidade de atrair aliados. Isso se deve a três razões. Primeiro, a necessidade de ter bastante tempo no horário eleitoral gratuito. É o que provou o crescimento dos candidatos Márcio Lacerda, em Belo Horizonte, e Gilberto Kassab, em São Paulo, que subiram na preferência do eleitorado depois de aparecer na TV. Segunda razão: as alianças regionais serão decisivas em 2010 – e petistas e tucanos não têm candidatos fortes em todos os Estados. Por fim, conquistar partidos é uma forma de não tê-los junto aos adversários.

Para o “casamento de 2010”, os partidos mais disputados são PMDB e DEM. Quem teve seu passe valorizado foi o “bloquinho de esquerda” (PSB, PCdoB e PDT), que deverá ser estratégico no Norte e no Nordeste.

O que a eleição municipal muda no jogo nacional? Primeiro, o resultado fraco do DEM só pode ser amenizado por uma vitória de Kassab em São Paulo. Se esse cenário se confirmar, o vencedor será José Serra, pois será o principal responsável pelo triunfo. Os democratas ficariam amarrados com o “serrismo”. Isso reduziria as chances de o governador de Minas, Aécio Neves, tornar-se candidato do PSDB à sucessão de Lula.

Do outro lado, o lulismo conseguiu afastar a maior parte do PMDB da oposição. Os governadores do Rio, do Espírito Santo e de Santa Catarina, além do virtual prefeito de Goiânia, estão mais próximos de Lula que dos tucanos. É certo que o condomínio federativo peemedebista normalmente flerte com todos os candidatos. Mas, desta vez, as chances de união estável com os tucanos tornaram-se remotas. No máximo, o PMDB optará por uma amizade colorida com o governo, lançando um nome próprio sem perspectivas eleitorais ou não apresentando uma candidatura. De qualquer modo, os peemedebistas sairão da disputa municipal quase “noivos” de Lula.

Mais importante para o lulismo é a consolidação da aliança com o ascendente “bloquinho”. A despeito de uma ou outra rusga, a aliança com Lula se tornou ainda mais forte, particularmente no Nordeste. O governador Eduardo Campos, de Pernambuco, até foi cortejado por Serra. Mas todos sabem por quem bate seu coração – e o dos líderes dessa frente de esquerda. Se os cenários aqui propostos se confirmarem, os resultados da eleição de 2008 deverão fazer com que Serra e o candidato de Lula, provavelmente Dilma, tenham mais chance de conquistar os coadjuvantes de 2010. Com tais casamentos, eles terão dado um passo decisivo para suas pretensões presidenciais.

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