Entenda o que a recessão técnica significa para a economia brasileira
Os dados sobre o PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta terça-feira indicam que o Brasil entrou em recessão técnica, caracterizada por dois trimestres consecutivos de queda (em relação ao trimestre anterior).
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB do primeiro trimestre deste ano caiu 0,8% em relação aos últimos três meses de 2008, quando já havia recuado 3,6% em comparação com o terceiro trimestre.
Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, a queda foi de 1,8%.
Apesar dos números negativos, analistas afirmam que a economia brasileira apresenta sinais de recuperação e que o PIB vai voltar a crescer já neste segundo trimestre, encerrando o período de recessão técnica.
Abaixo, a BBC Brasil responde a algumas perguntas sobre os motivos que levaram a economia brasileira a entrar em recessão técnica e os sinais de recuperação já existentes.
Como o PIB é calculado?
O PIB representa a soma das riquezas produzidas pelo país. Quando o PIB é analisado pela ótica de quem produz essas riquezas, entram no cálculo os resultados da indústria (que respondem por 30% do total), serviços (65%) e agropecuária (5%).
Outra maneira de medir o PIB é pela ótica da demanda, ou seja, de quem compra essas riquezas. Nesse caso, são considerados o consumo das famílias (60%), o consumo do governo (20%), os investimentos do governo e de empresas privadas (18%) e a soma das exportações e das importações (2%). Esses dois cálculos devem sempre chegar ao mesmo resultado.
O PIB é um indicador para medir a atividade econômica do país. Quando há queda de dois trimestres consecutivos no PIB, a economia está em recessão técnica.
O que levou o Brasil a entrar em recessão técnica?
A recessão é caracterizada por uma forte queda no crescimento de uma economia e é definida por um conjunto de indicadores. O termo "recessão técnica" é um jargão usado por economistas para definir um período de dois trimestres consecutivos de queda no PIB.
Os dois trimestres consecutivos de queda no PIB brasileiro foram um reflexo da crise econômica mundial, que se agravou a partir de setembro de 2008 e levou vários países a entrar em recessão.
Que setores foram os principais responsáveis pela queda do PIB?
Indústria e comércio exterior foram alguns dos setores da economia brasileira mais afetados pela crise, segundo economistas consultados pela BBC Brasil.
No primeiro caso, o destaque negativo foi para a indústria de bens de capital, que reflete a intenção de investir, diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.
A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria, afirma que, a partir do quarto trimestre do ano passado houve uma reversão da forte alta nos investimentos que vinha ocorrendo até o terceiro trimestre.
Que setores tiveram desempenho melhor?
Segundo o economista Bráulio Borges, o consumo das famílias foi o que evitou uma queda mais pronunciada do PIB brasileiro. Esse indicador responde por 60% do PIB e considera consumo de bens e de serviços, como educação e saúde, por exemplo.
De acordo com o IBGE, as despesas de consumo das famílias tiveram crescimento de 0,7% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o quarto trimestre de 2008.
O consumo do governo também se manteve em crescimento, apesar da crise.
Quais os sinais de recuperação da economia brasileira?
O consumo familiar deve puxar a recuperação da economia brasileira, segundo economistas entrevistados pela BBC Brasil.
De acordo com Borges, medidas adotadas pelo governo, com redução da taxa de juros e a normalização do crédito a pessoa física deverão impulsionar o consumo.
"A confiança vem se recuperando", diz a economista Marcela Prada. Segundo ela, porém, o consumo interno não é o suficiente para que o Brasil volte a crescer no patamar de antes da crise.
No caso dos investimentos, o economista da LCA afirma que ainda não há sinal claro de retomada, mas isso deve ocorrer ao longo do ano.
"Acho que até o final do ano outros componentes vão mostrar recuperação", diz Borges.
A indústria vem se recuperando, mas ainda em ritmo lento. Borges afirma que dados recentes da indústria indicam que a ociosidade está diminuindo.
"Isso significa que a indústria está produzindo mais, que deve demitir menos e que pode voltar a investir mais à frente", diz Borges.
Quando o Brasil deverá voltar a crescer?
Os números divulgados pelo IBGE se referem ao período de janeiro a março. Segundo os analistas consultados pela BBC Brasil, neste segundo trimestre, que se encerra no final de junho, a economia brasileira já terá crescido.
"Estamos falando de uma situação até março deste ano. O Brasil estava em recessão técnica entre o quarto trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009. Mas já estamos no fim do segundo trimestre, nossa estimativa é de que o país já está saindo da recessão técnica", diz o economista-chefe da LCA.
A previsão dos economistas consultados pela BBC Brasil é de que o PIB vai voltar a crescer nos próximos três trimestres (na comparação com o período imediatamente anterior).
Alguns economistas afirmam que o PIB de 2009 já vai apresentar crescimento em relação a 2008. Outros analistas ainda prevêem um PIB negativo neste ano.
Na última pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central com o mercado financeiro, a previsão era de queda de 0,71% no PIB em 2009.
Todos os consultados pela BBC Brasil, porém, afirmam que em 2010 a economia vai voltar a crescer. A previsão da Focus é de crescimento de 3,5% em 2010.
Um dos fatores apontados pelos analistas é a redução da taxa básica de juros, a Selic, que atualmente está em 10,25% ao ano.
A expectativa dos especialistas consultados pela BBC Brasil é de que o Banco Central mantenha o ritmo de cortes na Selic e chegue ao fim do ano com a taxa em torno de 9%.
Nesta quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central se reúne para decidir o rumo da taxa Selic.
terça-feira, 9 de junho de 2009
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