Lucia Hippolito
Em visita ao Casaquistão, o presidente Lula saiu em defesa do senador José Sarney. Segundo o presidente, Sarney tem seu lugar na História e não pode ser julgado como uma pessoa comum.
Espantosa declaração.
Lula, que sentiu na pele o preconceito e a exclusão, tornou-se um conservador, um burguesão, que justifica o injustificável. Privilégios de uma elite decadente, coronelista, patrimonialista, inaceitáveis no Brasil de hoje.
Sarney, Jader Barbalho (cujas mãos Lula beijou), Severino Cavalcanti (a quem Lula defendeu, como injustiçado), Renan Calheiros (aliado e interlocutor do presidente).
O presidente repete comportamentos anteriores, quando passou a mão na cabeça da turma do mensalão. Ou quando passou a mão na cabeça dos aloprados.
O presidente Lula costuma utilizar todo o peso de sua popularidade para absolver quem comete ilegalidades.
Mas o gesto de Lula em relação aos coronéis tem muito de cálculo político.
Os maiores índices de popularidade do presidente encontram-se justamente do Norte-Nordeste, áreas politicamente controladas por esses coronéis, o que há de mais obsoleto na política brasileira.
Nessas regiões, o Bolsa-Família e outros programas federais de transferência de renda contribuíram fortemente para gerar um sólido vínculo entre a população e o presidente Lula.
Boa parte dos moradores dessas regiões, sofrendo sob o jugo de chefetes e de coronéis, vê nos programas do governo Lula uma chance de escapar ao cabresto do coronelismo.
Por isso, cheio de si, talvez Lula não se dê conta de que, ao justificar as ações de Sarney, Jader e companhia, está legitimando ações de quem privatiza o Senado para seus interesses pessoais e familiares.
De quem se apropria de recursos públicos para empregar parentes, cabos eleitorais e apaniguados, impedindo que essas populações tenham acesso a saúde, habitação, saneamento, transporte.
E o presidente Lula é o primeiro líder político do país que tem uma relação direta com essas populações, um vínculo forte e quase instransferível.
Tudo o que essas populações, que vivem sob o jugo do cabresto desses coronéis, querem é a liberdade.
Por isso, quando defende José Sarney, quando beija a mão de Jader Barbalho, quando defende Severino Cavalcanti, em suma, quando defende o indefensável, o presidente Lula está legitimando o mando coronelista sobre estas populações.
Lamentável.
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