O Estado de S. Paulo - 17/11/2009
Diretor deu entrevista contando corrida aos bancos e saída de R$ 40 bi de pequenas instituições no auge da crise
O Banco Central (BC) informou ontem à noite que o diretor de Política Monetária, Mário Torós, deixou o cargo. Para seu lugar, o presidente do BC, Henrique Meirelles, indicou Aldo Luiz Mendes, que ocupou, entre 2005 e 2009, a vice-presidência de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com Investidores do Banco do Brasil. Atualmente, preside a Companhia de Seguros Aliança do Brasil, subsidiária do BB.
Em nota, o BC informou que a mudança ocorreu "a pedido" de Torós e "por motivos pessoais". A intenção dele de deixar a instituição já havia sido declarada internamente há alguns meses. Mas, como informou o Estado no fim de semana, o processo foi acelerado nos últimos dias após Torós ter concedido polêmica entrevista ao jornal Valor Econômico, na qual revelou os bastidores do combate à crise no País.
Normalmente avesso à imprensa, Torós detalhou à publicação a reação do governo brasileiro à crise e divulgou dados sigilosos. Também afirmou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, contribuiu para a disparada da moeda americana no auge da crise. Segundo Torós, o ministro disse, em uma entrevista, que o Brasil não venderia dólares das reservas. Fontes da Fazenda negam.
Recentemente, outro episódio colocou Mantega e Torós em lados opostos. Preocupado com a forte valorização do real, o ministro queria que o BC intensificasse a política de compra de dólares para as reservas.
Torós argumentava que, em vez de desvalorizar o real, a compra de mais dólares o valorizaria. Isso porque os investidores se sentiriam mais seguros para investir no Brasil por causa de um "colchão" ainda maior.
Embora Torós fosse hierarquicamente inferior a Mantega, tinha voz ativa na administração de reservas porque, dentro do BC, era o responsável por elas.
As declarações de Torós desagradaram ao próprio BC. Houve desconforto porque ele teria divulgado fatos que não poderiam ser levados ao público, como a troca de e-mails com Meirelles.
No mercado, prevaleceu a percepção de que o diretor usou a entrevista como um balanço de sua gestão e uma forma de mostrar sua importância no enfrentamento da crise. Para pessoas do BC, "vender" essa imagem é importante para Torós retornar à iniciativa privada.
Há, agora, a expectativa de que a saída de Torós pode ser a primeira de uma série. Além do próprio Meirelles que pode deixar o cargo em março para disputar as eleições, os diretores de política econômica, Mário Mesquita, e de liquidações, Gustavo do Vale, também teriam informado a intenção de deixar o BC brevemente.
Mesquita, no entanto, assegurou ao presidente do BC que permanecerá no cargo enquanto Meirelles estiver à frente da instituição, ou seja, deixará o cargo se e quando Meirelles se afastar do BC.
Eu publiquei, aqui, a entrevista. Releia em Os bastidores da Crise
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