Lucia Hippolito
Independentemente de quem venha a ser eleito (ou eleita) presidente em 2010, este ano já entrou para a História.
Isto porquenós, brasileiros, assistiremos a um evento que não acontece no país desde 1926. Isto mesmo.
Há 84 anos ocorreu a última sequência de três presidentes da República eleitos diretamente pelo povo.
Epitácio Pessoa governou entre 1919 e 1922. Passou a faixa ao eleito, Arthur Bernardes, que governou até 1926, quando empossou o eleito, Washington Luís.
De la para cá, jamais o evento se repetiu. A instabilidade política no Brasil vinha sendo uma constante.
Washington Luís foi deposto pela Revolução de 30. Getúlio Vargas, que não foi eleito, governou entre 1930 e 1945, quando foi deposto pelos militares.
Eurico Dutra, eleito em 1945, passou a faixa para Getúlio, eleito em 1950. Mas Getúlio suicidou-se em 1954.
Juscelino Kubitschek, eleito em 1955, recebeu a faixa do presidente do Senado, Nereu Ramos, então ocupando a presidência da República. JK passou a faixa a Jânio Quadros, eleito em 1960. Mas Jânio renunciou depois de apenas sete meses de governo.
João Goulart, empossado na presidência, foi deposto pelo golpe militar de 1964.
Aí veio a ditadura, com sua coleção de generais-presidentes, todos eleitos pelo Alto Comando do Exército.
Com a redemocratização em 1989, Fernando Collor, eleito diretamente pelo povo, recebeu a faixa de José Sarney, que não foi eleito por ninguém, apenas recebeu a presidência de presente depois da tragédia da morte de Tancredo Neves.
Mas Collor foi afastado da presidência, depois de sofrer um processo de impeachment.
Em 1995, Itamar Franco, que não sido eleito, passou a faixa a Fernando Henrique Cardoso, eleito duas vezes. Em 2003, Fernando Henrique passou a faixa a Luiz Inácio Lula da Silva, presidente também por dois mandatos.
Em outubro de 2010, finalmente, teremos novamente a sequência de três presidentes sucessivos, todos eleitos diretamente pelo povo.
O que isto representa em termos de consolidação da democracia no Brasil é uma enormidade.
A democracia é um processo que só se sustenta pela adesão quotidiana e voluntária dos cidadãos. Adesão a seus valores, de eleições livres e diretas, instituições sólidas e independentes, alternância no poder, tolerância com o diferente.
Eu já disse aqui, mas nunca é demais repetir: a ditadura nos dá o direito de sermos iguais. Mas só a democracia nos dá o direito de ser diferentes. De pensar diferente, de falar diferente, de tolerar o outro que não pensa como você.
A democracia é a única causa pela qual vale a pena viver. E morrer.
Em 1985 o país conquistou a liberdade política. A partir de 1994, com o Plano Real, os brasileiros começaram a conquistar a estabilidade econômica, com moeda estável e controle da inflação.
Mas só agora em 2010 estamos conquistando a estabiliade política.
Por isso mesmo, 2010 já é História no Brasil.
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