SUSTENTÁVEL 2010: CIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Ellyel dos Santos
Foi um evento fantástico!
Passei o dia todo de hoje, 06, no encontro Sustentável 2010: Cidades e as Mudanças Climáticas, promovido pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). A proposta do evento era discutir projetos e soluções ambientais para a cidade do Rio de Janeiro e apresentar projetos que já foram implantados em outras.
Antes de começar o evento, ainda durante o percurso até o Centro de Convenções RB1, no Rio, eu ouvia a programação da rádio CBN e fiquei surpreso com a notícia: completando-se um mês da tragédia que assolou os diversos municípios do Rio de Janeiro, até agora nenhum centavo foi liberado aos reparos de danos causados pelas chuvas. Segundo o prefeito do Rio, Eduardo Paes, se esses recursos não forem liberados pelo Governo Federal o mais rápido possível, a situação sairá do estado de atenção (sinal amarelo) para o estado crítico (sinal vermelho).
O evento, propriamente dito, começou às 9h 30min com a cerimônia de abertura. À mesa, Carlos Alberto Vieira Muniz, vice-prefeito da cidade do Rio de Janeiro; Suzana Kahn, pesquisadora da COPPE/UFRJ; Cláudio Neves, pesquisador da COPPE/UFRJ; Sérgio Besserman, assessor especial da Prefeitura do Rio de Janeiro; Maria Muylaert, COPPE/UFRJ; Branca Americano, do Ministério do Meio Ambiente; Marina Grossi, presidente executiva do CEBDS; Bjorn Stigson, presidente do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e, por fim, Sue Wolter, representante da Petrobras.
Na parte da manhã, um detalhado estudo de vulnerabilidade às mudanças climáticas das maiores cidades brasileiras feito pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), revelou que o Rio de Janeiro, como era de se esperar, é muito vulnerável aos fenômenos das mudanças climáticas. As áreas de risco da cidade incluem: Jacarepaguá, Baixada Fluminense, terrenos de encostas e entorno da Baía de Guanabara. Nesse primeiro momento foram apresentados os projetos que compunham os estudos voltados para projetos e ações que deverão ser adotados pelas cidades que estão em elevado desenvolvimento. Apesar de serem projetos para implantação de custos elevados, porém de resultados positivos e relevantes para desenvolver as cidades, principalmente aquelas que se localizam em regiões costeiras, terá que passar pela burocracia das três esferas governamentais: municipal, estadual e federal, principalmente desta última.
Bjorn Stigson expôs dados de estudos feitos dentro de um cenário atual e futurista. Assinalou o crescimento populacional, a necessidade do investimento para o desenvolvimento sustentável diante do panorama internacional.
Suzana Kahn, em seu estudo Mobilidade e Adaptação, defendeu a interação entre quatro elementos para adequar a sustentabilidade à realidade: mobilidade, consumo de recursos, impacto e adaptação. Para ela, mobilidade dar-se pela tendência de aumento de renda (pessoas e bens), seja por aumento da população ou ainda novas opções, como turismo, cursos, etc. Resultado disso é o consumo de recursos, seja através do espaço, da infraestrutura, combustíveis, gerenciamento de tráfego ou outros. O impacto causado por todo esse cenário é através da poluição sonora, atmosférica, congestionamento, enfim, tudo o que impede o desenvolvimento sustentável de uma cidade. Por fim, a adaptação, esta vinculada diretamente com a tecnologia, ou seja, a capacidade de se desenvolver dentro dos novos cenários.
Cláudio Neves e Sérgio Besserman, pesquisadores da COPPE/UFRJ, em seu estudo Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas, sintetizam que é preciso reavaliar as infraestrutura de algumas cidades, principalmente as que se localizam em regiões costeiras, como Recife, Natal, Rio de Janeiro, porque corre o risco de, dentro do prazo de alguns anos, essas cidades serem penetradas pela água do mar, assim como verifica-se, muitas vezes, na cidade do Rio.
Corroborando a esse estudo, precisa-se investir em propostas de engenharia. Ele ressalta que o Rio, sob o título de Cidade Maravilhosa, foi construída sobre um aterro sanitário. De acordo com os recentes estudos, 70% da população é responsável por 80% do PIB – Produto Interno Bruto. Resumindo: ocorre pressão ainda maior sobre uma população que já é deficitária de recursos assistencialistas. Somado a isso, adverte que as cidades estarão mais vulneráveis ao aumento de temperatura do que às conseqüências das mudanças climáticas. Segundo Besserman, há duas populações submetidas a uma taxa de risco por conta das mudanças climáticas: os pobres e os empresários. Ele afirma:
- Empresas irão nascer e morrer aos borbotões porque vivemos uma transição econômica muito severa. Precisamos que todos cobrem políticas de adaptação, tanto no plano municipal como no estadual e federal.
Foram assinalados quatro pontos relevantes dentro do estudo. São eles: custo/benefício, energia, área sustentável e infraestrutura.
Branca Americano destacou que o papel do governo é criar os incentivos, sinalizar os setores que serão prejudicados ou sairão na frente, caso adiram ao desenvolvimento sustentável. Para ela, existe a oportunidade, a hora é agora.
Na parte da tarde, às 13h 17min, o encontro passou a integrar o painel 2, cujo tema: 1ª Jornada de Construção Sustentável – Sustentabilidade; As oportunidades da Copa e das Olimpíadas. São, de fato, os dois eventos mais pomposos que a cidade do Rio sediará. Até lá, há muito que planejar organizar, dirigir e implantar. São, na verdade, dois paradoxos: de um lado, a construção em alta, empregos em ascensão dará uma aquecida violenta na economia do estado. Do outro, o meio ambiente, as degradações, os investimentos deixados de lado. Este sofrerá. Dessa forma, construções em demasia significa menos áreas verdes, mais degradação, poluição causada pela produção do cimento.
Para tanto, Carlos Eduardo de Almeida, representante do CEBDS, apontou algumas alternativas. Entre elas, destaca-se, determinar como exigência edifícios serem ecoeficientes.
Maria Salette Weber, do Ministério das Cidades, defende a questão da sustentabilidade que antes não era preocupação do Ministério, mas passou a ser. Ou seja, todos os investimentos feitos para esses dois eventos estão focados na perenidade.
Contudo, é sempre bom lembrar, e Branca Americano definiu bem, em vários fóruns quando se chega a questão das mudanças climáticas, estas são vistas como oportunidade, mesmo que na “sala ao lado” haja um apresentador dizendo que elas são restrição. São ou não são paradoxos do desenvolvimento?
Tudo considerado, o Brasil precisa se voltar mais para o tratamento de assuntos com vínculo ambientalista. Não pode apenas ficar no papel, precisa investir. Projetos têm, basta eficiência e eficácia de governos que se comprometam com ações de sustentabilidade. É bom para o Brasil, é bom para o planeta!
O evento encerrou-se às 15h 56min.
Rio de Janeiro, 06 de Maio de 2010
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