segunda-feira, 7 de junho de 2010

Os caminhos errados da campanha de Serra

Fernando Abrucio

Os resultados das últimas pesquisas eleitorais abalaram a oposição. Pela primeira vez, todos os institutos mostraram que José Serra e Dilma Rousseff estão empatados nas preferências dos eleitores. A candidata governista foi beneficiada, sem dúvida alguma, pela participação do presidente Lula no programa partidário. Ficou no ar uma grande pergunta: o que está errado com a campanha de Serra?

Para responder a essa questão, a oposição produziu três diagnósticos. Em primeiro lugar, seria preciso radicalizar o discurso contra o governo, pois não haveria como obter votos por meio de elogios ao presidente. Afinal, se é para escolher quem defende Lula, melhor é votar no nome governista. Diagnosticou-se, ainda, que se o uso do tempo da TV por cima da legislação eleitoral gerou benefícios para Dilma, o mesmo teria de ser feito pelos oposicionistas. Metáforas de guerra e futebolísticas foram usadas para justificar esse argumento. Por fim, imaginou-se que, se o ex-governador Aécio Neves aceitasse o posto de vice-presidente na chapa tucana, seria produzido um divisor de águas na campanha.

Essas três reflexões contêm parte da verdade. É óbvio que um candidato oposicionista não pode elogiar todos os dias o presidente, colocando-o num pedestal inalcançável. Também não se pode negar o peso dos programas partidários na TV. E, se Aécio aceitasse naturalmente o posto de vice, seria uma notícia que poderia dar um impulso maior à campanha de Serra. Porém, se levados ao extremo, tais diagnósticos podem resultar, como tudo o que é extremado, em caminhos equivocados.

Serra deve demarcar sua posição em relação à candidatura governista. Mas ele não pode propor medidas ou advogar ideias muito radicais. Cabe lembrar que mais de 70% da população está satisfeita com o governo. Desse modo, é preciso escolher com pente-fino os temas que devem ser abordados de maneira crítica e elogiar o que está no rumo certo, embora não seja necessário citar o nome do presidente.

Devem-se evitar, ademais, críticas muitos extremadas, que lembrariam os piores momentos da oposição nos últimos oito anos. Um exemplo dessa postura foi a frase de Serra sobre o governo boliviano, tachado como o culpado pelo tráfico de drogas. Esse comportamento não é adequado para um candidato à Presidência da República.

A eleição não será fácil para a oposição, mas o radicalismo
e o desespero são maus conselheiros
O uso dos programas partidários para divulgar o nome de Serra também tem de ser feito com cuidado. A propaganda do DEM foi muito além da antecipação de campanha feita pelo PT e pelo presidente Lula. Na verdade, os democratas praticamente não apareceram no programa. Predominou um discurso longo do candidato tucano no lançamento de sua pré-candidatura.

Essa ação vai contra tudo o que a oposição vem falando nos últimos meses, desacreditando-a diante da opinião pública. Que valores poderão ser defendidos depois dessa tática de guerrilha? Essa situação lembra a equiparação feita na eleição de 2006 entre o mensalão petista e o congênere tucano mineiro. Boa parte do eleitorado comprou essa versão e pensou: se todos são iguais no plano ético, vou votar com o bolso. Como naquela época, sabemos quem será beneficiado por essa visão de mundo. Parece-me que a oposição não aprendeu a lição.

A insistência em perseguir o “fator Aécio” é outro caminho equivocado. Aqui, parece-me que José Serra tem uma postura mais parcimoniosa, e seus aliados, nos partidos e na sociedade, é que ultrapassaram o limite do bom-senso. Chegaram a insinuar que o ex-governador mineiro, caso não aceite a missão, estaria atuando contra o PSDB, ou, pior, contra a pátria. Esse comportamento só afastará Aécio da candidatura à Vice-Presidência e negligencia o fato de que ele não teve a oportunidade de participar de prévias democráticas. Mantida a pressão, os eleitores mineiros podem tomar as dores de seu líder, cujo governo teve mais de 70% de aprovação.

A eleição não será fácil para a oposição, mas ela tem de colocar a cabeça no lugar, pois o radicalismo e o desespero não são bons conselheiros – como bem exemplifica a desastrosa campanha do PT em 1994.


FERNANDO ABRUCIO é doutor em Ciência Política pela USP, professor da Fundação Getúlio Vargas (SP) e escreve quinzenalmente em ÉPOCA

Nenhum comentário: