(Leiam a coluna desta quarta-feira) Enviado por Míriam Leitão
Roendo a renda
O aumento da cesta básica nos últimos 12 meses está em 32%; só comparável ao que aconteceu em 2003. A inflação de alimentação no domicílio chegou a 19%, no mesmo período, no INPC. Uma aceleração tão forte terá conseqüências na redução da capacidade de compra do consumidor. O endividamento crescente e a elevação dos juros vão dar mais uma volta no torniquete.
O INPC mede a inflação de famílias com renda menor que as do IPCA. E, nesse índice, a inflação está maior, mostrando que a atual alta de preços atinge mais duramente os mais pobres. Num texto sobre esse assunto, no seu boletim semanal, economistas do Banco Itaú concluíram que, “se tivéssemos um índice de custo de vida específico para a faixa até um salário mínimo, veríamos então um aumento do custo de vida muito maior que o do INPC”. No período de apenas 10 meses, desde o último reajuste do Bolsa Família, os aumentos da cesta básica chegam a 42%, em Belo Horizonte, e a 50%, em Fortaleza. Claramente isso vai tirar renda dos mais pobres e reduzir o nível de consumo e da atividade; principalmente no Nordeste.
Cereais, leguminosas e oleaginosas — item em que estão incluídos arroz e feijão — foi o que teve mais peso em maio tanto no INPC quanto no IPCA. No acumulado em 12 meses, a alta foi de 62%. Também nesse período, os feijões mulatinho, preto e carioca subiram todos acima de 100%.
As altas não são estritas só a arroz e feijão; 14% dos 160 produtos pesquisados subiram acima dos 30% no acumulado em 12 meses. Entre eles, há carnes (30,4%), tomate (71,9%), cenoura (44,6%), farinha de trigo (39,3%). Na cesta básica, há alguns desses. Os 13 itens que a compõem são: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga. Todos subiram; a maioria, bastante. Só o café aumentou bem pouco e o açúcar teve queda. Fora da cesta, caíram também, no acumulado, os preços de vários tipos de peixe, abóbora, abacate, chuchu e repolho.
Esta alta atual dos preços só não é maior do que aquela que ocorreu no começo do governo Lula, quando a economia vivia o choque do câmbio, que elevava os preços de todas as commodities. Agora, o que está acontecendo é o oposto. O dólar, em queda há muito tempo, continua baixo e caindo, mas isso não está tendo mais o efeito de inibir a alta de preços.
A inflação, desta vez, encontra as famílias muito mais endividadas, portanto com partes mais significativas da renda comprometida com o pagamento das dívidas. Fazendo uma conta simplificada, segundo o IPC-C1, índice da FGV para famílias com renda de 1 a 2,5 salários mínimos, os alimentos equivalem a cerca de 40% das despesas. A Fecomércio-SP calcula, para a cidade de São Paulo, que as pessoas que ganham até 3 salários estão com um comprometimento 37% da sua renda total com dívidas. Assim, quase 80% já estão comprometidos. Havendo qualquer aperto, vai ficar difícil dar conta de tudo. Segundo levantamento da Serasa, nos cinco primeiros meses do ano, a inadimplência cresceu 6%.
— Não fazemos pesquisa por renda, mas as classes mais inadimplentes são, normalmente, aquelas que são menos acostumadas com o crédito — comentou Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa.
No resto do mundo, a inflação está acontecendo por pressão dos alimentos e da energia. O Brasil vive numa redoma; aqui os preços dos combustíveis quase não subiram. Nem parece que o preço do petróleo dobrou nos últimos 12 meses. Essa situação artificial não poderá ser mantida para sempre, portanto há uma inflação reprimida na área da energia. Os alimentos também têm um impacto bem menor nos índices de preço no país, mas isso devido à qualidade do nosso setor agrícola.
Quando o presidente Lula afirma que a inflação está sob controle e que aqui ela não deslanchou, deve ser porque ele está olhando apenas o dado do IPCA. É preciso olhar todos os dados da inflação para ver os riscos de ela “deslanchar”.
O professor Luiz Roberto Cunha diz que o IPCA-15, que sai hoje, deve ficar um pouco abaixo do 0,79% do mês passado. No entanto, se o IPCA do final do mês registrar 0,72%, chegará a 6% em 12 meses. E a tendência é continuar subindo:
— A carne está em alta em plena safra; com a quebra de safra de milho nos Estados Unidos, devem continuar em alta milho, trigo e soja. Mas a inflação está também indo além dos alimentos. No último IPCA, 73% dos preços haviam subido.
Os preços da gasolina não subiram, mas isso não significa que a alta do petróleo não está sendo sentida no país. Os produtos que consomem matérias-primas de petróleo, como os petroquímicos, estão encarecendo.
— Material de limpeza é um dos itens que têm subido mais — conta o professor.
A inflação está se dispersando na economia e afetando vários outros produtos, como, por exemplo, material de construção.
O aumento da produção de alimentos certamente ajudará, mas será necessário mais que isso. Para alguns produtos, basta chuva e crédito, como é o caso do feijão, que tem três safras anuais. Mas nas commodities há a pressão da alta no mundo inteiro, a influência de fatores climáticos e de aumento dos custos de produção.
Roendo a renda
O aumento da cesta básica nos últimos 12 meses está em 32%; só comparável ao que aconteceu em 2003. A inflação de alimentação no domicílio chegou a 19%, no mesmo período, no INPC. Uma aceleração tão forte terá conseqüências na redução da capacidade de compra do consumidor. O endividamento crescente e a elevação dos juros vão dar mais uma volta no torniquete.
O INPC mede a inflação de famílias com renda menor que as do IPCA. E, nesse índice, a inflação está maior, mostrando que a atual alta de preços atinge mais duramente os mais pobres. Num texto sobre esse assunto, no seu boletim semanal, economistas do Banco Itaú concluíram que, “se tivéssemos um índice de custo de vida específico para a faixa até um salário mínimo, veríamos então um aumento do custo de vida muito maior que o do INPC”. No período de apenas 10 meses, desde o último reajuste do Bolsa Família, os aumentos da cesta básica chegam a 42%, em Belo Horizonte, e a 50%, em Fortaleza. Claramente isso vai tirar renda dos mais pobres e reduzir o nível de consumo e da atividade; principalmente no Nordeste.
Cereais, leguminosas e oleaginosas — item em que estão incluídos arroz e feijão — foi o que teve mais peso em maio tanto no INPC quanto no IPCA. No acumulado em 12 meses, a alta foi de 62%. Também nesse período, os feijões mulatinho, preto e carioca subiram todos acima de 100%.
As altas não são estritas só a arroz e feijão; 14% dos 160 produtos pesquisados subiram acima dos 30% no acumulado em 12 meses. Entre eles, há carnes (30,4%), tomate (71,9%), cenoura (44,6%), farinha de trigo (39,3%). Na cesta básica, há alguns desses. Os 13 itens que a compõem são: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga. Todos subiram; a maioria, bastante. Só o café aumentou bem pouco e o açúcar teve queda. Fora da cesta, caíram também, no acumulado, os preços de vários tipos de peixe, abóbora, abacate, chuchu e repolho.
Esta alta atual dos preços só não é maior do que aquela que ocorreu no começo do governo Lula, quando a economia vivia o choque do câmbio, que elevava os preços de todas as commodities. Agora, o que está acontecendo é o oposto. O dólar, em queda há muito tempo, continua baixo e caindo, mas isso não está tendo mais o efeito de inibir a alta de preços.
A inflação, desta vez, encontra as famílias muito mais endividadas, portanto com partes mais significativas da renda comprometida com o pagamento das dívidas. Fazendo uma conta simplificada, segundo o IPC-C1, índice da FGV para famílias com renda de 1 a 2,5 salários mínimos, os alimentos equivalem a cerca de 40% das despesas. A Fecomércio-SP calcula, para a cidade de São Paulo, que as pessoas que ganham até 3 salários estão com um comprometimento 37% da sua renda total com dívidas. Assim, quase 80% já estão comprometidos. Havendo qualquer aperto, vai ficar difícil dar conta de tudo. Segundo levantamento da Serasa, nos cinco primeiros meses do ano, a inadimplência cresceu 6%.
— Não fazemos pesquisa por renda, mas as classes mais inadimplentes são, normalmente, aquelas que são menos acostumadas com o crédito — comentou Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa.
No resto do mundo, a inflação está acontecendo por pressão dos alimentos e da energia. O Brasil vive numa redoma; aqui os preços dos combustíveis quase não subiram. Nem parece que o preço do petróleo dobrou nos últimos 12 meses. Essa situação artificial não poderá ser mantida para sempre, portanto há uma inflação reprimida na área da energia. Os alimentos também têm um impacto bem menor nos índices de preço no país, mas isso devido à qualidade do nosso setor agrícola.
Quando o presidente Lula afirma que a inflação está sob controle e que aqui ela não deslanchou, deve ser porque ele está olhando apenas o dado do IPCA. É preciso olhar todos os dados da inflação para ver os riscos de ela “deslanchar”.
O professor Luiz Roberto Cunha diz que o IPCA-15, que sai hoje, deve ficar um pouco abaixo do 0,79% do mês passado. No entanto, se o IPCA do final do mês registrar 0,72%, chegará a 6% em 12 meses. E a tendência é continuar subindo:
— A carne está em alta em plena safra; com a quebra de safra de milho nos Estados Unidos, devem continuar em alta milho, trigo e soja. Mas a inflação está também indo além dos alimentos. No último IPCA, 73% dos preços haviam subido.
Os preços da gasolina não subiram, mas isso não significa que a alta do petróleo não está sendo sentida no país. Os produtos que consomem matérias-primas de petróleo, como os petroquímicos, estão encarecendo.
— Material de limpeza é um dos itens que têm subido mais — conta o professor.
A inflação está se dispersando na economia e afetando vários outros produtos, como, por exemplo, material de construção.
O aumento da produção de alimentos certamente ajudará, mas será necessário mais que isso. Para alguns produtos, basta chuva e crédito, como é o caso do feijão, que tem três safras anuais. Mas nas commodities há a pressão da alta no mundo inteiro, a influência de fatores climáticos e de aumento dos custos de produção.
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