Há boas novidades, enfim, no front da inflação. Cotações do petróleo e de vários alimentos têm caído no mercado internacional. No Brasil, os preços da comida têm pressionado menos fortemente os indicadores de custo de vida. É cedo para dizer se há uma inversão de tendência, mas especialistas do mercado financeiro começaram a refazer suas apostas. Eles elevaram por 18 semanas consecutivas suas projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegando a estimar para este ano um aumento de 6,58%. Na última sexta-feira, a estimativa coletada semanalmente pelo Banco Central (BC) foi reduzida para 6,54%. Foi uma alteração pequena e o número ainda é superior ao teto da meta fixado para este ano, 6,50%. Mas a inversão ocorreu também nas projeções dos outros indicadores de inflação considerados na pesquisa - IGP-DI, IGP-M e IPC-Fipe. No caso dos dois primeiros, houve a inversão de sinal depois de 20 semanas de alta. Esses números foram divulgados na segunda-feira.
Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não há dúvida quanto à nova tendência. "Chegamos ao auge da inflação e começamos a descer a montanha", disse ontem o ministro. Será preciso, acrescentou, examinar com cautela os próximos indicadores, porque os números acumulados em 12 meses darão ainda a "ilusão" - a palavra é dele - de inflação em alta. Mas outra ilusão muito mais perigosa poderá ocorrer, se o excesso de otimismo levar as pessoas a menosprezar a elevação dos preços no atacado. Esses preços aumentaram 19,39% nos 12 meses até julho e só uma parte dessa variação foi passada ao varejo.
Essa pressão não vai diminuir de uma hora para outra e os especialistas do mercado financeiro sabem disso. Apesar de algumas boas notícias, eles ainda projetam inflação elevada para este e para o próximo ano. A alta do IPCA estimada para 2009, 5%, continua 0,5 ponto acima do centro da meta oficial.
O compromisso do BC, declarado na última Ata do Copom e reafirmado por seu presidente, Henrique Meirelles, é conduzir a inflação para o centro da meta em 2009. Mas é preciso realizar o trabalho desde já, principalmente impedir, ou limitar tanto quanto possível, o repasse de aumentos do atacado para o varejo, isto é, para o consumidor final.
Para isso é preciso restringir a demanda, ainda muito aquecida, como reconheceu até o ministro da Fazenda. A expansão do crédito ao consumidor pode ter diminuído, mas não foi interrompida. O bolo de rendimentos continua a aumentar, embora a inflação já comprometa o poder de compra do salário médio. O emprego industrial já se expande há 31 meses, segundo a CNI. Apesar dos investimentos produtivos, o uso da capacidade instalada chegou a 83,3% em junho, o nível mais alto desde o início da série estatística, em janeiro de 2003.
Todos esses fatores têm sido apontados pelos economistas do BC como indicadores de importantes pressões inflacionárias. Talvez os preços do petróleo e de outros produtos básicos tenham batido no teto, nas bolsas internacionais, mas isso não elimina de imediato os desajustes na economia brasileira, até porque a maior parte dos setores já foi contaminada pelos aumentos de custos. Não é hora, portanto, de relaxar a política antiinflacionária.
O Executivo poderia, segundo o ministro da Fazenda, elevar a meta de superávit primário para conter a demanda e reforçar o combate à inflação. Mas ele não demorou a desfazer qualquer expectativa de uma política orçamentária austera: não será preciso mudar a meta fiscal, disse, porque a inflação está diminuindo.
Quanto a isso, portanto, não há novidade no front. O BC continuará cuidando sozinho de reconduzir a inflação ao centro da meta em 2008. O presidente da República e o ministro da Fazenda continuarão discursando a favor da estabilidade, mas sem nada fazer de concreto para conter a gastança e contribuir para o controle da inflação. Na hora certa, o presidente reivindicará para si o mérito de haver preservado o poder de compra dos trabalhadores. Seu único mérito, nesse capítulo, tem consistido em não atrapalhar o BC.
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2 comentários:
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