Christopher Hitchens é escritor, colunista da revista Vanity Fair, autor e colaborador regular do New York Times e The New York Review of Books. Escreve quinzenalmente em ÉPOCA
Eu costumava concordar com quem diz: “Vamos discutir os temas, e não as personalidades”. Parecia óbvio que, em política, fazer a distinção entre ambos eleva o nível do debate. Nos meus tempos de escola, na Inglaterra, havia um ditado esportivo segundo o qual um jogador deve “atacar a bola, não o homem”. Acreditei nisso por algum tempo – na verdade, até as primárias de New Hampshire, em 1992, quando passei a me perguntar se a “personalidade” de um candidato seria por si só um “tema”.
Descobri com Bill Clinton que um candidato pode mudar sua posição sobre temas como a Bósnia ou o acesso à saúde. Mas ele não pode mudar o fato – se for realmente um fato – de que é um mentiroso patológico ou um ignorante orgulhoso.
Nas últimas semanas, os “debates” entre os dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos mostram que há pouca diferença entre as propostas de cada um para enfrentar as questões concretas. Mas a diferença de caráter e temperamento tornou-se evidente. O senador republicano John McCain apareceu como alguém que sofre de um crescente e embaraçoso déficit cognitivo e físico. Os únicos eventos públicos que mostraram sua escolha absurda de ter Sarah Palin como vice exibiram uma mulher enganadora e inescrupulosa, sem nenhuma noção do discurso político necessário, mas facilmente adestrável para mentir. McCain ocasionalmente se lembra de usar argumentos como honra para se livrar de insinuações e calúnias, mas isso apenas faz com que ele pareça mais senil e cínico, uma vez que são exatamente esses – desonra e calúnia – os expedientes usados pela vice que ele mesmo escolheu.
Pode-se dizer que a escolha de palavras excêntricas para descrever McCain, pela campanha de Obama, também seja uma insinuação. Mas é apenas eufemismo. Qualquer um com olhos para ver e ouvidos para ouvir sentiu pena do velho leão em sua última caçada. Eu não sentia tanta pena de alguém desde que o falecido Almirante James Stockdale se humilhou como vice de Ross Perot. E eu me sinto mal por ter de dizer isso, mas Stockdale também se desgraçou na guerra mais desastrosa e vergonhosa da América, e isso não o qualificou naquele tempo, como também não qualifica McCain agora.
A coisa mais insultante que um político pode fazer é obrigar você a se perguntar: “O que ele pensa que eu sou?”. Essa questão é provocada pela escolha da governadora do Alasca, Sarah Palin, como vice na chapa de McCain. Não é correto dar um desconto para ela por ser uma mulher de origens provincianas, sem mencionar sua propensão para usar a sensualidade. Sua conduta tem sido uma desgraça nacional. No fim das contas, suas primeiras reivindicações por mais coragem política não eram baseadas em fatos. Para piorar, muitos dos rumores sobre ela – sua vingança contra o cunhado, suas bizarras afiliações políticas e religiosas – eram verdade. Além do mais, tendo em vista a tarefa abjeta de impressionar os malucos direitistas e de reciclar falácias sobre a posição de Obama diante do Afeganistão, ela teve de se concentrar nos únicos talentos que parece possuir.
Parece que o Partido Republicano convidou não só a derrota, mas também o descrédito neste ano. Parece também que ambos os indicados para os postos mais altos no país deveriam ser repudiados, com quaisquer senadores, deputados ou governadores que os apóiem.
Na minha opinião, Obama é supervalorizado, mas a chapa dele não é a que precisa pedir desculpas, nem a que mostra sinais de querer enriquecer na Casa Branca. Eleger McCain parece que não levará a grandes mudanças. Falar de Palin nessa hora é até covardia. Eu só queria que a eleição acabasse agora e um veredicto digno fosse anunciado, para poupar a democracia da degradação, em vez de ser submetido aos últimos dias de uma campanha baixa e desonesta.
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