O Brasil assistiu, nos últimos dias, a mais uma demonstração da incrível capacidade de, simultaneamente, produzir bons indicadores e dados preocupantes. Ontem, por exemplo, recebia mais um grau de investimento – desta vez pela agência de classificação Fitch. Prevaleceu a tendência de reconhecimento internacional pelo qual vem trabalhando há mais de uma década.
Um dia antes, informou-se que o Brasil obteve o melhor resultado das contas públicas em 17 anos de cálculos: entre janeiro e abril deste ano, gerou-se um superávit de R$ 6,8 bilhões, melhor resultado da história, volume obtido mesmo depois de União, Estados e municípios pagarem todas as suas despesas, incluindo os juros da dívida pública. O superávit primário (que exclui os juros) foi de notáveis 6,82% do Produto Interno Bruto. Nada mal para um país que vê, à distância, outras nações atravessarem mares turbulentos, com forte aumento da inflação e deterioração das expectativas econômicas.
Se os números internos vão bem, as contas externas situam-se em patamares inquietantes. A chamada conta corrente do balanço de pagamento atingiu um déficit de US$ 14,7 bilhões nos quatro primeiros meses do ano – o pior resultado para o período na série histórica do Banco Central. Nessa conta entra o saldo comercial (exportação menos importação), a conta de serviços (transportes, viagens internacionais, pagamentos de royalties e licenças) e a conta de juros (juros e dividendos). Até o fim do ano, prevê-se que esse déficit possa chegar a US$ 20 bilhões.
Com tais números não há crise à vista. Por ora. O déficit em conta corrente, afinal, vem sendo financiado com folga pelos investimentos estrangeiros diretos – no primeiro quadrimestre foram mais de US$ 12 bilhões. Convém sublinhar, no entanto, que o maior problema associado a déficits elevados em conta corrente é a vulnerabilidade externa. Foi esse o grande pesadelo brasileiro nos anos 90 e no início da década atual. A cada mês, os números parecem vir piores. Um dos dados mais graves se encontra, por exemplo, no enfraquecimento da balança comercial. No acumulado do ano, o crescimento das exportações de bens (20%) não chega à metade da taxa de crescimento das importações (49%).
O inquietante é perceber a deterioração contínua dessa conta. Em 2006, tínhamos superávit de US$ 13 bilhões. Em 2007, o superávit caiu para US$ 1,5 bilhão. Agora, repita-se, o déficit está em US$ 14 bilhões. A guinada foi gigantesca: mais de US$ 16 bilhões em apenas quatro meses. Somando todos os fatos e números, eis por que o Brasil costuma desabonar as análises mais extremistas.
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