(Leia a coluna desta quinta-feira do Jornal O Globo)
Gastar melhor
Ontem a Câmara ressuscitou, com alguma dificuldade, é bem verdade, a CPMF, agora com o nome de CSS. A emenda 29 tem um erro original, foi aprovada no Senado, estabelecendo um aumento da parcela destinada à Saúde, sem dizer de onde viria o dinheiro. A Câmara, então, tentou emendar e fez pior que o soneto: decidiu criar mais um imposto.
O fim da CPMF não significou menor receita para o governo, ao contrário, ela tem crescido sistematicamente. Só que, junto com o aumento da receita, o governo tem aproveitado para gastar bem mais, como se viu no resultado do PIB de ontem. A princípio, a conta até parece fechar, mas o problema está na forma como estabelece seus gastos, aumentando sobretudo aqueles que não podem diminuir depois, como, por exemplo, contratação de pessoal para a burocracia. E deixando de lado programas que poderiam significar melhor uso dos recursos já disponíveis, que, definitivamente, não são poucos.
Sim, existem problemas gravíssimos na saúde no país e, talvez, mais que recursos extras, o governo precise mesmo implantar um sistema mais eficiente. A opção de apenas criar uma nova contribuição para garantir mais gastos adianta muito pouco. É an$. E ocupa um Congresso que já passou meses discutindo o fim desse mesmo tributo.
Para completar, a carga tributária bruta já está pesada, como mostra o gráfico abaixo, elaborado pela Firjan. A trajetória nos últimos anos tem sido sempre ascendente, o que causa uma enorme grita entre a classe média e o setor produtivo, que pagam os impostos diretamente. Mas, além deles, a população de menor renda também é muito sacrificada com isso, pois paga indiretamente uma enorme quantidade de impostos.
Assim como o Senado foi demagogo ao aprovar aumento de repasse sem dizer de onde viria; muitos deputados também o foram ao dizer que disso dependia a qualidade da saúde. O projeto não deve passar pelo Senado. Aí terá sido só mesmo perda de tempo, sem que se tenha discutido como gastar melhor.
Inflação perto do topo em 2008
Anda difícil tirar a inflação do noticiário. Por um tempinho, os índices de preços até saíram do centro da pauta, mas, como todo mundo tem medo do dragão, quando ele começa a aparecer, já é preciso ficar de olho.
Ontem, o dado foi o do IPCA, justamente o índice da inflação oficial. Ele veio acima das expectativas do mercado, em 0,79%. Com isso, vários bancos e consultorias começaram a refazer as suas contas para a alta de preços ao fim do ano. O risco é que ela agora está começando a chegar perto do topo da meta. E tem um complicador: como os juros demoram a surtir efeito, mesmo novas altas nas próximas reuniões do Copom só terão impacto em 2009.
A MB Associados é uma das instituições que reviu para cima a sua expectativa para o IPCA no ano. Estava em 5,5% e alcançou os 6%. E essa pode até ser uma previsão otimista. Para explicar por quê, algumas contas: de janeiro a maio deste ano, em média, o IPCA foi de $0,57% (no ano passado, fora de 0,36%). Para ele fechar nos 6% em 2008, os IPCAs do segundo semestre terão que ficar entre 0,30% e 0,40%.
— Estamos hoje correndo o risco de acabar tendo os 6% como base das previsões — alerta Sérgio Vale, da MB Associados.
Se, por um lado, os alimentos e a demanda continuam pressionando bastante, os preços monitorados — como transporte, contas de luz, água — ainda estão bem controlados. Em 12 meses, eles sobem 1,5%. Os comercializáveis e os não comercializáveis (serviços, por exemplo) é que estão acima de 7% no acumulado.
O Banco Central agora já está atento a 2009, quando esses mesmos preços monitorados, que hoje estão com uma alta tímida, subirão com mais força. Na visão de Sérgio Vale, a demanda começou a dar sinais de desaceleração, mas ainda há a contaminação dos preços do atacado sendo repassada para o varejo.
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